Review | BUSTAFELLOWS
Gabriel Marçal 
Desenvolvedora: NIPPON CULTURAL BROADCASTING, Extend
Publicadora: PQube
Data de lançamento: 30 de julho, 2021
Preço: US $ 39,99
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela PQube.
Intenso, coeso, profundo e apaixonante, são apenas alguns dos vários e modestos adjetivos que descrevem bem BUSTAFELLOWS. O jogo que não deve em nada para nenhum outro que fiz analise anteriormente é uma das melhores experiências que eu já tive em meu Nintendo Switch.
BUSTAFELLOWS trata-se de uma visual novel de investigação e romance, cujo a experiência pode ser atribuída ainda mais especificamente ao subgênero de Otome Game já que tem como um de seus objetivos o desenvolvimento amoroso com uma das opções do jogo. Dito isso a obra entraga uma experiência bastante única em relação a outras do gênero e explicarei em detalhes os motivos nesta análise, mas antes…
Nota: Ao iniciar BUSTAFELLOWS, o jogador sempre irá se deparar com um aviso que solicita que nenhum tipo de spoiler ou imagem além do primeiro capitulo seja postada na internet.
Portanto, para manter a experiência pensada para esse jogo que é basicamente totalmente focada na história, qualquer spoiler será focado somente nesse período do jogo, mas ainda assim tentarei abordar conceitualmente as decisões que o jogo toma e a sensação de jogá-lo.
O que BUSTAFELLOWS promete
Como dito anteriormente, BUSTAFELLOWS é centrado no romance e investigação, logo metade de tudo que esse jogo tenta de vender, se não mais, são os belos rapazes.
A primeira vista para alguém que resolva jogá-lo apenas após uma breve olhada para sua arte de capa, como eu fiz, BUSTAFELLOWS não parece muito diferente de qualquer outra experiência de VN nesse sentido. É até fácil começar a imaginar qual tipo de tropo cada um dos rapazes encarna apenas pela sua aparência, e isso é basicamente o que eles são. O jogo não tenta ser subversivo ou quebrar suas expectativas nesse sentido, na verdade seguindo o exato caminho oposto.
A experiência aqui é sobre como estes personagens são bem escritos, os diálogos são quase sempre naturais e recheados de uma honestidade que vai muito além de seus estereótipos. As mentes criativas por trás abraçaram essas pré definições e gostos populares, e tentaram transformá-los em personagens mais humanizados e acessíveis, o que torna muito fácil a conexão com todos eles.
Relacionamentos além do romance
Outra coisa pra lá de interessante em BUSTAFELLOWS é a naturalidade com que os laços entre a protagonista e seus pretendentes se forma. É tudo surpreendentemente natural, e todos eles criam laços de ternura e amizade com a personagem principal durante um longo período antes de realmente engrenar na possibilidade de um relacionamento.
Protagonista essa que também é uma personagem muito interessante, com princípios e ideais, colocando o jogador em uma posição mais de preencher o espaço em branco que resta (como por qual cara ela se apaixonaria) do que de realmente criar aquela personagem. E eu nem preciso dizer como isso enriquece a história, já que não precisamos ter medo de ir fundo por depender de escolhas do jogador até certo ponto. Os criadores conseguiram fazer com que as escolhas que o jogador faça impactem a rota da protagonista, sem fazer com que as mesmas definam a essência de quem ela é.
O outro lado da moeda
Se metade do jogo é sobre os personagens, a outra metade é sobre a investigação. Sei que pode parecer inusitado para o gênero e proposta, mas BUSTAFELLOWS me deixou por vezes, e ainda agora, pensativo tentando entender se a história é “character driven” ou “plot driven”—, ou seja, se seria focada nos personagens ou na trama respectivamente.
Enquanto vemos o grupo de personagens principais se desenvolvendo e tomando decisões, assim conseguindo conhecer cada vez mais deles, o que move a história é sempre a trama principal. Trama esta com o maior destaque e desenvolvimento colocando os personagens como peças que precisam reagir. Ao mesmo tempo que cada detalhe da história principal se entrelaça com perfeição com as conflitos internos dos personagens, costurando paralelos perfeitos e situações ideais para o desenvolvimento dos mesmos. Por isso eu diria que a experiência é perfeitamente balanceada e não abandona nenhum aspecto em detrimento do outro.
Os mistérios são bem desenvolvidos, as situações bem criadas e estabelecidas, os ganchos entre um capitulo e outro fazem com que a experiência coesa e de fácil engajamento. Os temas sombrios da história são muito bem encaixados, Enquanto o relacionamento com os personagens do jogo torna a experiência agradável como um todo, deixando a jogatina uma explosão minuciosamente pensada de sentimentos.
Conteúdo
Bem, nem só de uma estrutura interessante vive uma boa história.
BUSTAFELLOWS se passa na cidade fictícia de New Sieg, e segue nossa protagonista que tem o nome escolhido pelo jogador. Pela simplicidade da analise irei me referir a ela como Mizu, nome escolhido por mim durante minha campanha.
Mizu possui uma habilidade muito especial, ela é capaz de voltar no tempo, mas não em seu corpo e sim no de outra pessoa. Em resumo, toda vez que ela volta no tempo para arrumar algum problema, acorda no corpo de uma pessoa aleatória e é obrigada a enfrentar situações adversas para mudar o curso de ação dessas coisas. Em uma dessas situações, nossa heroína conhece seus futuros pretendentes.
O grupo dos protagonistas masculinos é composto por influentes e talentosos jovens em diversas posições de destaque da sociedade. Seu objetivo por baixo dos panos é entregar a sua justiça, fazer o que acreditam ser certo, aplicando golpes em pessoas importantes que abusam de seu poder. Esses golpes normalmente geram algum lucro, mas tem como objetivo prender ou destruir de alguma forma essas figuras corruptas influentes da sociedade.
Com essa premissa heróica, BUSTAFELLOWS surpreende ainda mais por ser uma obra tão intimista, ao mesmo tempo que lentamente aborda temas tão extremos e pesados. O jogo avança gradualmente trazendo discussões de ética e moral, além de questionamentos pertinentes e sensíveis sobre desigualdade social.
O contraste da esperança que o grupo principal representa com a sociedade engolida pela escuridão é algo que poderia facilmente ser trabalhado de maneira rasa. No entanto funciona muito bem nessa obra, pois lentamente é mostrado como os rapazes não são algo alheio e sim parte importante e natural daquele ecossistema. Nossos virtuosos heróis só existem pela lacuna social criada por uma sociedade apodrecida, sociedade essa que reflete nos mesmos e em seus pesados de formas únicas e diversas.
Os arredores de New Sieg
O jogo é muito bonito. Falo com tranquilidade que caso não seja “A”, é uma das visual novels mais lindas que já joguei ou vi.
Os personagens possuem diversificadas expressões faciais que funcionam com muita fluidez, o design deles em si embora não seja inovador é bem pensado e possui atenção ao detalhe, tornando os personagens únicos o suficiente. As paisagens abordadas no jogo são quase sempre de tirar o fôlego, elas possuem muita qualidade além de serem muito esteticamente coesas entre si. A cidade fictícia de New Sieg é, em minha interpretação, basicamente uma mistura de Nova York, Tokyo, e Londres, e o jogo consegue criar e vender muito bem a ambientação dela como algo muito único.
Além de que, tanto os personagens quanto as paisagens possuem pequenos movimentos, o piscar de olhos, o trem passando e a água jorrando da fonte por exemplo. Isso garante um tom extra de vivacidade que nem todo jogo do gênero costuma passar. Claro que em parte já se imagina que o orçamento para tal produção foi maior que o usual, no entanto ainda assim a atenção ao que importa demonstra muita competência da Staff de desenvolvimento.
A trilha sonora também acerta muito, variando entre seus Jazz mais tranquilos, suas musicas mais divertidas e animadas e outras faixas com mais peso e suspense, nenhuma das músicas do jogo quebra a imersão, na verdade pelo contrário, estão em completa harmonia com o que o jogo propõe a cada momento. Além disso o jogo inteiro conta com dublagem em japonês, com um elenco com nomes fortes e renomados no Japão.
Fins e Meios
BUSTAFELLOWS possui um fator replay muito alto devido as diversas escolhas feitas durante a jogatina que te levam a caminhos diversos. Ele também possui seleção de capítulos facilitando para quem quiser faz as diferentes rotas. Muitos capítulos extras podem ser desbloqueados dependendo da sua rota, além de diferentes finais.
O jogo ocasionalmente te fará perguntas em momentos chave da história que servem para resolver problemas importantes com informações previamente adquiridas. É uma maneira fácil e divertida de manter a tensão durante toda a experiência já que tudo que você ouve pode ser útil futuramente de modo geral.
Além disso toda a experiência do jogo é muito suave para novatos no gênero, e muito confortável para veteranos. Seus menus organizam com maestria informações que você precisa. O “save” pode ser feito em basicamente qualquer momento. As cenas podem ser repetidas por completo ao abrir o registro de falas, além de outros pequenos detalhes de menu que tornam toda a experiência bastante agradável.
Filie-se aos “Fixers” hoje mesmo
Os fixers, como se auto denomina nosso grupo de protagonista, compõe um dos elencos mais interessantes de jogos com sistema de relacionamentos que eu já joguei. A maneira leve com que os temas profundos e chocantes são tratados me deixaram encantado com a experiência do começo ao fim. O ritmo é impecável e a obra como um todo é muito imersiva.
No mais, BUSTAFELLOWS é uma experiência virtualmente perfeita e deve ser jogado por todos que tem o mínimo interesse pelo gênero.
Prós
- Elenco de personagem incrível;
- Ritmo excelente e trama muito bem escrita;
- Arte visual com alta qualidade;
- Trilha sonora.
Contras
- O jogo acaba.
10
