Desenvolvedora: Route 59
Publicadora: Coconut Island Games
Data de lançamento: 11 de agosto, 2021
Preço: R$ 112,15
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Coconut Island Games.
Contextualizando
Considerando o fato de estarmos em 2021, é bem provável que você tenha ouvido a palavra visual novel ao menos uma vez em sua vida. Porém caso você seja uma das três pessoas que nunca ouviram falar no gênero aqui está uma breve explicação: Visuals Novels são jogos com sua narrativa baseada em texto, na maioria das vezes estruturada como um gênero literário, na maioria das vezes usando algum elemento visual como auxílio.
Quase surpreendentemente o Necrobarista é uma visual novel!! — imagine sons de espanto aqui —. Ironias completamente desnecessárias a parte, Necrobarista é uma visual novel completamente em 3D, que explora de maneira bem humorada um os assuntos que circulam a atmosfera post mortem.
Narrativa / Jogabilidade
A narrativa de Necrobarista é centrada no The Terminal, uma cafeteria, de qualidade duvidosa devo acrescentar, que recebe tanto vivos quanto mortos, porém os mortos podem ficar apenas 24 no local, já que correm o risco de terem suas almas corrompidas, deterioradas ou honestamente qualquer outro adjetivo que você quiser utilizar.
Antes de tudo, uma observação, a introdução do jogo não é particularmente boa, a visual novel praticamente só te joga toda essa informação e você é obrigado a aceitar que o mundo é assim, sem mais nem menos, porém ao decorrer do tempo de maneira as vezes até gradual demais o jogo vai sanando as dúvidas que muito provavelmente foram despertadas no jogador.
Retomando, boa parte do jogo é focada na relação entre três personagens principais, Maddy uma jovem que além de necromante é dona da cafeteria, Chay o antigo dono da cafeteria e Ashley que é uma criança trabalhando no papel de auxiliar na cafeteria. Como dito anteriormente, tudo isso pode parecer um contexto meio jogado na sua cara em que você é obrigado a engolir e aceitar sem muita explicação, o que de certa forma realemente é, porém essa sensação vai se esvaindo ao decorrer do jogo.
Socialmente, o debate que circunda o tema da morte é pode ser considerado como um tabu até hoje. Na literatura brasileira, por exemplo, temos excelentes obras que abordam o tema de certa forma, tenha Memórias póstumas de Brás Cubas o romance de Machado de Assis como exemplo, e mesmo assim, o tema parece cada vez mais frequente, o que não é uma surpresa, já que inevitavelmente a morte sempre esteve presente em qualquer sociedade que já existiu e em qualquer sociedade que venha existir.
A morte já é fascinante por si própria como um evento, porém existem inúmeras maneiras de usar a mesma como ferramenta narrativa, em Necrobarista a morte é um tópico persistente que é essencial a história do jogo. Apesar de muitas vezes ser visto de maneria melancólica e dramática, a morte no jogo é tratada com um certo humor e leveza, já que os personagens do jogo estão constantemente fazendo piadas que de certa forma se relacionam com o tema.
Pessoalmente, creio que a parte mais interessante do jogo seja o debate entre os vivos e os recém mortos, é interessante ver a maneira que assuntos que para alguns são tão complexos serem tratados de maneira tão clara e coesa. A maior parte da história é absorvida através dos diálogos dos entre os personagens, porém, ao decorrer dos capítulos o jogador é livre para perambular pelo The Terminal que permite ler algumas histórias que são estruturadas como um romance, o que honestamente é uma boa quebra pra o ritmo brincalhão e razoavelmente agitado do jogo.
No geral a narrativa de Necrobarista é interessante o suficiente para manter o jogador interessado em seu universo, porém sua estética ajuda consideravelmente nesse papel. Necrobarista, e a maioria dos jogos indies que adotaram para si um estilo 3D devo adicionar, tem um estilo visual consideravelmente limpo e claro, os personagens são muitas vezes simplesmente arranjados de cores sólidas juntos, o que honestamente é admirável se considerarmos o quão expressivos eles conseguem ser.
A história é contada com cortes rápidos e brutos entre personagens, o que ajuda consideravelmente no dinamismo que não torna o jogo monótono demais. O maior problema do jogo talvez seja o fato do jogador ser um objeto completamente passivo na história, já que este não tem nenhuma escolha ou influência sobre os eventos que ocorrerão na história, o que revela uma história única, sem qualquer fator replay com a finalidade de se desbloquear cenas inéditas.
O jogo também possuiu alguns modos extras, com destaque ao modo estúdio, que permite o jogador criar sua própria cena do jogo, apesar desse modo existir, ele se demonstrou complexo demais para eu me aventurar no mesmo. Vale a pena citar que apesar de disponibilizar Português com um idioma disponível, na nossa versão de análise todas as palavras acentuadas estavam simplesmente ausentes, o que não permitiu que jogassemos o jogo em português.
Conclusão
Necrobarista é um jogo com uma ideia singular, que é consideravelmente bem executada, apesar de alguns pequenos problemas. Sua maior falha é o quão passivo o jogador é ao decorrer de toda a história, não sendo permitido a ter qualquer influência na mesma. Seu maior mérito no entanto provavelmente é tratar um tema delicado de maneria respeitosa e interessante sem perder o bom humor, o que é um trindade no mínimo respeitável.
Prós:
- Jogabilidade fluída e funcional.
- Narrativa interessante e bem escrita.
- Estética e atmosfera que acrescentam a narrativa do jogo.
Contras:
- Introdução consideravelmente confusa e mal estruturada.
- O jogador não tem nenhum poder de decisão sobre os eventos da história.
- A história é única, sem qualquer vertente ou finais alternativos, o que é exatamente comum em Visuals Novels.
- Problemas com a língua portuguesa.