Não é segredo para ninguém que Pokémon é a franquia mais lucrativa na indústria do entretenimento. Arrecadando bilhões desde sua estreia em 1996 no Japão com os jogos Pokémon Red e Pokémon Green, o gigante multimídia conquistou o feito de se manter no topo da indústria pelos últimos 25 anos. Seja através da série animada, longa metragem, brinquedos, jogos, cards colecionáveis ou qualquer outro conteúdo, Pokémon inspirou, influenciou e marcou gerações de treinadores a essa altura, e não tem dado nenhum sinal de enfraquecimento dessa onda.
Ainda assim, não se chega aonde Pokémon chegou apenas com um bom trabalho de marketing, a franquia tem histórico bastante consistente de qualidade nos produtos que entrega. E embora tenha enfrentado reações adversas nos lançamentos dos jogos desde a sétima geração — por motivos que vão desde quebra na estrutura até qualidade gráfica e redução da lista de monstrinhos disponíveis —, seu último titulo, Pokémon Sword e Pokémon Shield, já fugura entre os mais vendidos da série principal.
Como próximo lançamento oficial da franquia Pokémon, teremos os remakes Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl, feitos em parceria com a ILCA cujo a proposta é recriar fielmente a experiência dos jogos de Nintendo DS, época em que ainda tínhamos a perspectiva de visão de cima com personagens chibi. Contudo, tais jogos vem colecionando polemicas desde seu anúncio, indo desde a estranheza quanto ao estilo artístico adotado até a indícios de um trabalho incompleto — uma vez que foram vazados antes do lançamento e uma gama de pessoas já estão jogando via outros meios.
Baseado nas informações que temos até agora, e tendo em mente que elas podem mudar, visto que foi anunciada uma atualização “Day One” [mais detalhes aqui], vamos então revisar nossas expectativas e frustrações com os jogos Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl.
Remakes
Para os menos familiarizados com a franquia, talvez não seja tão simples entender a grandiosidade de um remake para os fãs mais ávidos de Pokémon. Com uma tradição bastante sólida de relançar regiões periodicamente os fãs de uma região anseiam para poder retornar ao que chamam de casa desde o momento em que uma nova geração é anunciada.
Ainda no relativo início da franquia Pokémon, mais precisamente na terceira geração, recebemos o que é até hoje o consenso de melhor versão da aventura vivida na região de Kanto, os jogos Pokémon Fire Red e Pokémon Leaf Green. Sendo versões otimizadas e polidas dos originais de Game Boy, além de adicionando Pokémon e mecânicas da geração vigente, os primeiros remakes de Kanto é até hoje a forma mais acessível de reviver a nostálgica experiência que deu inicio a franquia.
Pulando para quarta geração, recebemos o que é considero por muitos até hoje o melhor jogo/remake de toda a franquia Pokémon, os jogos Pokémon Heart Gold e Pokémon Soul Siver, que recontava os eventos da região de Johto. Recheado de conteúdo, com gráficos atualizados e muito polimento no geral, Heart Gold e Soul Silver é uma das raras entradas que agrada até mesmo os mais exigentes e excêntricos fãs da franquia.
Mas apesar dos consistentes acertos dos remakes de Pokémon até a quarta geração, nada teria preparado os fãs para o que estava por vir, o remake que revolucionou as expectativas para o futuro da franquia, estou falando de Pokémon Omega Ruby e Pokémon Alpha Sapphire!
Pokémon Omega Ruby & Pokémon Alpha Sapphire
A sexta geração de Pokémon revolucionou uma franquia que começava a mostrar sinais de estagnação. Sendo os primeiros jogos mainline de Pokémon feitos para o saudoso Nintendo 3DS, Pokémon X e Pokémon Y subiu o próximo degrau e trouxe para série uma mecânica que os fãs não poderiam imaginar, a Mega Evolution. Embora introduzida ainda nos jogos X e Y, a sexta geração, bem como a Mega Evolution alcançou seu pico durante os remakes da terceira geração que vieram por volta do final de 2014.
Pokémon Omega Ruby e Pokémon Alpha Sapphire traziam uma versão bem atualizada da região original usufruído do poder do Nintendo 3DS, com novos monstrinhos através ganhando Mega Evolution, mudanças na história, além de um pós-game totalmente novo estrelandoa misteriosa mulher Draconida Zinnia. Embora não contasse com todos os pedidos dos fãs, Omega Ruby e Alpha Sapphire revolucionou as expectativas para os remakes futuros.
Justamente por isso, falar sobre expectativas quando falamos de Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl é bem complicado. Enquanto a proposta do atual game é ser um remake em escala 1:1, o que é coerente tendo em vista que Sinnoh já é uma das regiões mais amadas do público, a expectativa que se criou durante os anos após a reimaginação mais ambiciosa que a franquia já teve foi o suficiente para deixar muitos fãs receosos no anuncio original. Isso somado ao fato de que pela primeira vez um remake não seria feito pela Game Freak, que faz os jogos principais de Pokémon, gerou uma sensação de ansiedade entre os fãs desde o primeiro anuncio.
Ainda assim, separando as expectativas da proposta, vamos analisar desde o primeiro ponto o porque da necessidade de um remake para começo de conversa.
Pokémon Diamond e Pokémon Pearl…
Embora tradicionalmente os remakes sejam parte de Pokémon, o caso desse é bem diferente de seus irmãos. Capacidade de hardware limitavam muito as possibilidades da primeira geração, e até mesmo da terceira geração. Além disso os sistemas competitivos de Pokémon sofreram um grande avanço da quarta geração em diante. Todas essas questões tornaram os jogos originais rapidamente obsoletos e mesmo que ainda fossem excelentes dentro da sua proposta a necessidade dos remakes existia por si só, tornando o lançamento dos mesmos um passo natural.
Sinnoh no entanto inaugura a passagem da franquia para o Nintendo DS, um console bem menos limitado em relação aos anteriores. E veja bem, eu entendo que o o portátil de duas tela a essa altura já era um hardware extremamente obsoleto, embora ainda assim dado as escolhas artísticas de recriar o jogo com a estética chibi, somado ao fato de manterem o jogo extremamente fiel ao original, me faz questionar a real necessidade de Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl ser o que é.
Eu sei que ainda assim temos bons pontos para que ele seja feito. As pessoas querem jogar Sinnoh atualmente e isso por si só já é o suficiente. O jogo não poderia simplesmente ser portado com facilidade devido a mecânica de duas telas do Nintendo DS e o caminho natural é um remake de alguma forma. Porém se o único objetivo era tornar a aventura de Sinnoh jogavel para os dias de hoje, não consigo compreender a escolha de adaptar fielmente a pior versão dela.
…e Pokémon Platinum
Ainda na quarta geração de Pokémon, recebemos uma versão definitiva da região de Sinnoh, o Pokémon Platinum!
Com melhorias gerais, um balanceamento melhor nos times da região e dos Pokémon disponíveis, conteúdo adicional relacionado a mudanças na história e atualização da interface, Pokémon Platinum sem duvidas a experiência definitiva de game de expansão (ou revisão) que Pokémon já teve.
E de um modo geral, essas mudanças empregadas por algum motivo foram descartadas em Brilliant Diamond e Shining Pearl, ou seja, os games não somente desconsiderou mecânicas atuais do meta como Mega Evolução, Z-Moves e o Dynamax, como também não implementou as próprias melhorias que foram feitas na versão definitiva de dez anos atrás. É uma decisão muito difícil de se entender, como se dez anos atrás eles entregassem essa versão admitindo e concertando os erros da versão original, mas agora voltassem atrás e tratassem esses erros, como escolhas.
Em resumo, o jogador é deixado com a difícil decisão de jogar uma versão moderna com acesso aos recursos do jogo atual e algumas melhorias pertinentes, que sim existem, ou a versão antiga que é definitiva nas questões de conteúdo. Eu sei que ainda podemos receber conteúdo por meio de atualizações futuras, mas mesmo que eventos tragam pedaços da história ou acontecimentos do Pokémon Platinum, o balanceamento geral e a Battle Frontier — que é pedida pelos fãs desde o Omega Ruby e Alpha Sapphire — não ter entrado na versão remake é uma desperdício que não consigo compreender.
O brilho
Embora nem todo o conteúdo que gostaríamos esteja presente no jogo aparentemente, a justiça tem que ser feita, Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl parece trazer melhorias relevantes e pertinentes para a obra.
A principal que posso citar são as melhorias nos Contests, modo de jogo mais casual introduzido na terceira geração que permite ao jogador participar de uma série de mini-games e competir com outros jogadores ou NPC’s por prêmios. Os mini-games parecem modernizados e essa sempre foi uma área do jogo que precisava de mais atenção e que muitos fãs amam.
Além disso, a adição dos Pokémon no overworld, embora não necessária, ainda é extremamente bem vinda. Esta é uma das funções introduzidas de forma rudimentar ainda na primeira geração com Pokémon Yellow, porém aprimorada e aclamada em Pokémon Heart Gold e Pokémon Soul Silver. Portando, faz todo sentido que agora seja implementada na própria região de Sinnoh, uma vez que até Pokémon Sword e Pokémon Shield receberam através da DLC da expansão.
— Além disso, o estilo chibi particularmente me agrada bastante, uma modernização gráfica é bem-vinda.
O sonho ainda vive
Vale lembrar que com a promessa do patch Day One, e a possibilidade de atualizações futuras e DLC’s, ainda podemos receber bastante conteúdo adicional legal que irá tornar essa uma versão definitiva equiparável ao Platinum. Por isso ainda estou otimista quanto aos reamkes Pokémon Brilliant e Pokémon Shining Pearl. Contudo, confesso que ainda é um pouco desanimador a perspectiva de que problemas estruturais na região de Sinnoh, como o uso excessivo de HM’s que é algo que a franquia trabalhou muito nas ultimas gerações, não serão alteradas ou melhoradas.
Por fim, concluo que estou sim ansioso para colocar as mãos na versão completa desse jogo que será uma excelente entrada mesmo que seja completamente fiel, uma vez que Sinnoh é uma das melhores regiões para se explorar no mundo Pokémon. Ainda que isso possa deixar um gosto amargo e um mal presságio de certa forma para os próximos remakes e entradas principais. Peço também que continuem nos acompanhando pois traremos uma review completa dos jogos após o lançamento oficial no dia 19/11/2021.