
Desenvolvedora: INDICAVA
Publicadora: CFK
Gênero: Adventure, FMV
Data de lançamento: 30 de novembro, 2023
Preço: R$ 103,05
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela CFK.
Revisão: Lucas Barreto
Uma das expectativas da vida é a de relacionamentos, já que as coisas não são as mesmas para todo mundo. Enquanto alguns indivíduos já arrumam namoradinhas ou namoradinhos na escola, para outros isso pode demorar bem mais para acontecer.
Na Ásia, há inclusive uma piada na internet de que quem mantém a virgindade até os 30 anos se torna um “mago”. MOTESOLO, nesse sentido, mostra a história de um rapaz que está próximo dessa idade e nunca teve uma namorada. Em um encontro às cegas, seria ele capaz de conquistar o coração da garota ou apenas irá fazer papel de palhaço?
Levado pelas ondas da vida

MOTESOLO conta a história de Kimo Kang, um jovem rapaz que nunca teve uma namorada, o que é chamado de “Motesolo” na Coreia do Sul. Tendo sempre estudado em turmas apenas ao lado de outros rapazes, tendo servido ao exército e depois focar totalmente em entrar no mercado de trabalho, ele não teve muitas oportunidades de interagir com mulheres.
Agora, próximo dos 30 anos, o peso da idade faz com que ele sinta que precisa rapidamente “dar um jeito” na sua vida amorosa. Desesperado, ele começa a tentar vários encontros, estudando o jeito certo de flertar em vídeos do YouTube, além de contar com a ajuda dos amigos.

O jogo acompanha a história de um desses encontros no qual o rapaz conhece a bela Yumi Kim. A jovem também é uma mulher de negócios bastante focada em sua carreira. Porém, a vida dela está em um momento conturbado, levando-a a alguns problemas de auto-estima.
No fim das contas, o que chama a atenção na trama é a forma como ela retrata a sensação de vergonha e estranheza dos personagens. Conhecer alguém é complicado se torna fundamental fazer escolhas para interagir com o outro, sem saber se as repercussões dessas ações serão positivas ou negativas a princípio.
Dilemas morais e escolhas que levam a situações constrangedoras são parte da experiência. Tudo isso é pincelado com um tom geral bem leve e cheio de humor, com o protagonista em particular tendo reações e atitudes bem exageradas.
FMV e a performance humana

Uma das coisas que se destacam em MOTESOLO é o fato de que o jogo foi feito usando um formato de live-action, o que geralmente chamamos de FMV em jogos. Esse estilo de “filme interativo” está longe de ser novo, tendo sido criado na década de 80, mas continua sendo pouco usado. Alguns exemplos no Switch incluem The Centennial Case: A Shijima Story e os títulos da Wales Interactive.
O conceito desse tipo de jogo é fazer com que o jogador escolha as ações dos personagens, explorando as potenciais ramificações. No caso de um encontro, podemos escolher o que falar e de que forma agir para tentar chamar a atenção da Yumi, o que às vezes leva a situações engraçadas que ressaltam a estranheza do protagonista.

Em termos gerais, temos um fator importante aqui que é a performance dos atores. Embora o uso de seres humanos possa parecer algo mais “realista” para algumas pessoas, é fundamental ter em mente que o estilo de atuação deles é bem exagerado. Os personagens fazem caras e bocas para ressaltar as emoções, especialmente o tom de vergonha, da experiência.
Infelizmente, isso também acaba dando uma sensação de artificialidade em alguns momentos. É especialmente ruim a forma como o protagonista age nas cenas em que uma “garota mais sensual” entra em cena e rouba a sua atenção. Era para ele representar a sua atração por ela, mas o ator Chanho Park acaba parecendo mais estar com vontade de ir ao banheiro ou tendo algum surto.
O lado técnico

De forma geral, o jogo é visualmente agradável. Há várias cenas gravadas, os ângulos de câmera capturam bem as emoções dos personagens e fazem boas transições com os ambientes. Além da história principal e suas várias ramificações, temos também uma galeria de materiais adicionais com making-of, vídeos complementares explorando a história dos personagens e fotos variadas.
Durante o jogo, além de escolhas de diálogo, temos algumas opções de interação com o ambiente. Como em um point-and-click, movimentando o cursor até um objeto ou pessoa, abrindo assim um vídeo referente àquela ação. No início do jogo, antes de Yumi chegar, podemos vasculhar a área, encontrando flores abandonadas em uma cadeira e conhecendo um pouco do ambiente.

Há ainda alguns minigames modestos, como apontar as linhas das mãos da personagem e desenhar as suas feições em um guardanapo de papel. Para o segundo, temos uma espécie de roleta com várias opções de traço. Por si só, a ideia é boa, mas temos que fazer isso três vezes seguidas, deixando a experiência bem inconveniente por demandar muita sorte.
Outro problema é a navegação pela tela. Temos que movimentar o analógico esquerdo como uma espécie de mouse para clicar nas escolhas e outros elementos interativos (que incluem ícones de smartphone em momentos específicos do encontro). Esse esquema é um tanto inconveniente e é uma pena que não podemos usar a tela de toque no lugar.

O texto em inglês também conta com vários erros, especialmente de digitação. Mesmo se tratando de uma trama simples, o resultado é uma leitura menos agradável do que o ideal. Curiosamente, em alguns pontos, o jogo faz carregamentos de vídeos, travando a tela momentaneamente. Isso acontece especialmente na galeria antes mesmo do jogador escolher um vídeo para ver, o que acaba desestimulando o seu uso.
Um dia de esforço

Com uma boa dose de humor, MOTESOLO mostra como um encontro às cegas pode trazer à tona várias coisas vergonhosas para pessoas com dificuldades sociais desesperadas pela oportunidade de se conectar com alguém. Embora tenha vários aspectos técnicos que enfraquecem a experiência, trata-se de um jogo FMV curioso que vale a pena conhecer se a premissa te atrai.
Prós
- Consegue retratar a vergonha de um encontro às cegas de pessoas com dificuldades sociais;
- Boa quantidade de gravações faz com que o jogo seja visualmente agradável;
- Material extra em imagens e vídeo que complementa a trama.
Contras:
- A atuação dos personagens é pouco convincente em vários momentos;
- Erros de digitação muito graves em inglês;
- Momentos de carregamento;
- Navegação pela tela é ruim, usando o analógico como um “mouse” e não permitindo o uso da tela de toque;
- O minigame de desenhar envolve ter muita sorte.
Nota Final:
6,5