
Revisão: Paulo Cézar
Não é segredo algum para quem acompanha o NintendoBoy a algum tempo o fato de que temos nossas franquias queridinhas, seja através da minha cobertura constante de Persona e Danganronpa ou das reviews incrivelmente detalhadas sobre a franquia Atelier do Marcos.
E Atelier, justamente nas mãos do Marcos é uma das franquias que mais recebe esse carinho e atenção aqui, então vocês podem imaginar como todos os redatores são constantemente incentivados e̶ ̶a̶t̶é̶ ̶a̶m̶e̶a̶ç̶a̶d̶o̶s para que joguem tal franquia. Dito isso, a partir de agora já me considero parte da milícia que acredita que Atelier é um título obrigatório do Switch, ou de qualquer um dos outros consoles em que a série habita.
Nesta coluna, vou compartilhar aqui com vocês, minha primeira experiência com esta franquia, não somente porque tenho a parca esperança de que isso inspire alguém a jogar, mas também porque eu realmente precisava falar dela, que, pasme, alugou um ateliê na minha cabeça.
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Afinal, o que é Atelier?

No primeiro momento, acreditei que Atelier se trataria principalmente de um RPG Slice of Life com elementos de “moe”, o que para mim, um ávido fã de K.ON, já seria o suficiente. Mas, na verdade, Atelier tem mais bases que o fundamentam. Portanto, vamos falar aqui das três bases que sustentam a franquia, pelo menos em minha percepção.
Começando pelo fator Slice of Life, que é sim parte disso, ainda mais em outros titulos do que em Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout, titulo que usarei de base para esse texto. Inclusive, nosso querido Marcos escreveu a análise dele e do toda trilogia, então clique nos destaque abaixo fazendo um favor para si mesmo:
Quando digo Slice of Life em um RPG, isso poderia consistir apenas dos personagens da party realizando atividades mais casuais e compondo sua rotina — o que de fato acontece em Atelier, mas aqui, isso é só uma parte desse conceito.
O que mais me interessou é como Atelier se preocupa em criar cuidadosamente uma pequena e afetuosa comunidade de pessoas da cidade: a guarda da cidade durona mas preocupada com as crianças aventureiras; o jovem rapaz extremamente disposto em busca de trabalho; alguns vendedoras, entre outros personagens compõem esse elenco que torna a vida urbana uma das coisas mais vivas que eu já presenciei.
Ao contrário da maioria dos jogos de Atelier onde essas progressões se dão em cutscenes conforme o personagem passa pelo local, em Ever Darkness & The Secret Hideout, no entanto, isso está intimamente atrelado a completar as side-quests. Isso inclusive, foi uma mudança polêmica entre os fãs pois torna a experiência um pouco mais mecânica, mas que encontrou um equilíbrio melhor nas aventuras subsequentes de Reisalin Stout, embora não deixe de ser um caminho bastante interessante que a série tomou. Além disso, as longas tardes intermináveis compõem essa sensação pacata da cidade rural onde vivem esses personagens, e dá a eles um espaço para criar um senso genuíno de grupo.
O verdadeiro Atelier são os amigos que fazemos no caminho!
Se na cidade onde se passa essa história já temos todo o espaço para essa construção na party, temos algo que valorizo ainda mais aqui: a sensação de que esses personagens são realmente amigos.

Ever Darkness & The Secret Hideout é essencialmente um coming of age, onde esses personagens chocam suas ambições e sonhos, e tudo que significa viver nesse lugar, com o escopo reduzido da cidade, os tabus sociais daquele lugar, e juntos devem efetivamente se tornar quem querem ser. E isso é tudo feito de maneira muito orgânica, pois os personagens tem objetivos distintos, bem construídos e trabalhados que na maioria das vezes não tem a ver com combate. Além disso, conflitos antigos com os moradores da cidade, feridas pessoais ou até mesmo uns com os outros, os personagens de Atelier Ryza são densos assim é um dos principais pontos positivos da aventura.
Eu realmente acho impossível sair desse jogo sem sentir que você ganhou novos amigos, e isso é algo que valorizo muito em meio a tantos RPGs nos quais tenho a sensação que os personagens são amigos porque precisam, e preciso inferir mais interações entre eles do que é mostrado.
Uma jovem alquimista prodigiosa
O segundo pilar que compõe a experiência “Ateliercore” é o sistema de alquimia, o Synthesis. Nele, temos um denso e complexo sistema de alquimia que, embora não seja impossível zerar estando na superfície dele, é muito recompensador de se masterizar. Aqui os status vem mais dos itens do que até mesmo do level, sendo uma parte essencial e feita com muito cuidado.

Para realizar a alquimia devemos descobrir os componentes chave de uma receita e fortalecemos o processo com outros itens que podem adicionar efeitos diversos. Traços de itens também podem ser herdados pelos seus subprodutos, tornando a experiência bem densa.
Claro, cada jogo de Atelier conta com seu próprio sistema de Synthesis, que embora seja similar, é bem único. Isso na minha concepção se dá pela grandiosidade desse processo, que é arte e ciência ao mesmo tempo.
Conhecer os materiais e suas possibilidades, explorar exaustivamente tudo que existe e entender a essência das coisas, tudo isso catalisado pelo processo de pensamento individual de cada heroína em cada momento da vida —já que os jogos da franquia em geral são trilogias que podem contar com passagem de tempo— é o que torna cada sistema único, pois estamos realizando alquimia através dos corações e mentes dessas garotas.
Por vezes nosso progresso no jogo é interligado com descobrir possibilidades de materiais diversos para ajudar pessoas, ficar mais forte, ou até mesmo realizar vontades. E a forma que isso é integrado ao arco da Ryza de ser respeitada como alquimista, e se conectar ainda mais com o mundo em que vive e as pessoas que as rodeiam é simplesmente genial e muito satisfatório.
O vasto, vasto mundo

Quando eu iniciei Atelier, achei que devido ao foco no slice of life, ele entregaria pouco como RPG, e eu não poderia estar mais enganado. Claro, o jogo tem um sistema de combate de charge turn impecável com seu próprio toque especial, e combates realmente desafiadores que vão manter entretido os jogadores que preferem testar seus itens em batalhas e explorar esse lado. Mas o que mais me encantou em Atelier Ryza e o que eu considero o terceiro pilar como um todo, é a exploração.
Em um certo momento, eu saí completamente da minha mentalidade comum de RPG onde eu tento descobrir forças e fraquezas e quão forte é cada inimigo, e derrubava os inimigos o mais rápido possível para saber quais materiais novos e divertidos eles poderiam me dar.
E o mundo todo é assim, Ever Darkness & The Secret Hideout possui dezenas de áreas com suas próprias músicas, visuais completamente distintos e energia. O que mais me surpreendeu em ambição neste jogo é o tamanho e quantidade das áreas exploráveis e a quantidade de material encontrado. Em Atelier Ryza, conforme avançamos recebemos diferentes armas de coleta, começando apenas com o cajado de Ryza, eventualmente recebemos foice, machado, varinha explosiva, marreta, vara de pescar e até sapatos voadores para acessar novas áreas.
Diversos itens do jogo podem ser coletados de forma diferente, se você coleta um arbusto com a marreta vai receber essência de planta, com a foice, suas folhas e frutos, e com o bastão por exemplo seus galhos. Com uma quantidade imensa de itens para serem coletados de maneiras diferentes, o mundo de Atelier Ryza, e vasto mundo devo dizer, é um playground gigantesco.
Síntese quando tudo se alinha

O mais impressionante de tudo isso, é como todos os elementos do jogo estão intimamente interligados. Personagens ganham novas aptidões e habilidades ao completar suas aspirações pessoais que tem mais foco na parte Slice of Life da aventura.
As aspirações podem ser realizadas em combate, ao coletar coisas, explorar novas áreas ou qualquer outra atividade que você possa imaginar, ajudar os aldeões, coletar dinheiro, tudo é recompensador em dobro pois aqui tudo é crescimento pessoal para os nossos personagens.
A alquimia e o combate se retroalimentam, o combate abre dezenas de novas possibilidades de materiais para a alquimia, que realiza as vontades dos personagens e avança na história, os tornando mais fortes no combate. Ainda assim o próprio combate é extremamente único, tematicamente amarrado com foco no trabalho em equipe.
Em Atelier Ryza, você pode controlar qualquer um dos personagens da party, mas só um por vez, ao trocar para um personagem ele vai receber um pedido de outro personagem, como me cura, me de um buff, ou use um item, e ao cumprir, irá ativar uma order skill.
As Orders Skill são a principal fonte de dano além de serem virtualmente gratuitas quando nesse jogo o custo das coisas é unificado no valor de Tactics, que eu não vou entrar em detalhes pois o combate é realmente muito denso e redondinho pra explicar inteiro aqui. Meu ponto com isso é mostrar como esses três pilares se retroalimentam e são completamente coesos em proposta, gameplay e temática e isso é algo tão genial que oblitera qualquer expectativa que eu poderia ter para esse jogo antes do início.
Joguem Atelier (qualquer um), eu suplico!
Tem tanta coisa que eu jamais conseguiria encapsular em um texto sem parecer pedante nessa aventura que eu imploro a vocês que deem uma chance, e me agradeçam depois. Eu nem sequer falei da trilha sonora extremamente diversa, coesa tematicamente, e feita com carinho desse jogo. Eu nem sequer falei, dos visuais de um RPG colorido e vivo que parece que saiu diretamente dos meus sonhos.
Eu nem sequer falei do contraste divino entre as folhas vermelhas de floresta de outono em contraste com o tom de azul quase hipnotizante da caverna com cristais. Eu nem falei como eu amo os arcos individuais que abordam conflitos densos entre pais e filhos e amigos do passado, entre ambição sonhos, limites e juventude. E ainda assim, eu não quero falar mais nem uma palavra, pois quero que vocês vejam por si mesmo, assim como eu vi, a capacidade de mudar vidas dessa franquia!
Obrigado!
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