
Revisão: Paulo Cézar
O novo jogo estrelado pela Princesa Peach é um show de criatividade e é marcado por um momento de experimentação. O anúncio do título lá em 2023 pegou a muitos de surpresa e abriu incríveis precedentes, que já se mostram como tendências no recente anúncio de The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom.
A heroína da franquia mais tradicional de videogames do mundo ganharia um jogo após quase duas décadas da primeira entrada no Nintendo DS, e dessa vez em uma pegada diferente, bem mais dela assumindo o papel de protagonista e com muitas novidades no horizonte.
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O jogo em si foi, de certa forma, divisivo em seu lançamento, esbanjando o carisma, criatividade e atenção ao detalhe que a Nintendo sustenta em seus first parties na maioria das vezes como seu maior ponto positivo, enquanto sua duração e facilidade foi vista como motivo para diminuir a experiência para alguns jogadores mais hardcore.
Independente do desdobramento, Princess Peach: Showtime! sempre foi uma pedida certa para mim, que só pude efetivamente me concentrar nele agora — tenham paciência é difícil ser universitário, reviewer, podcaster, Garota Mágica e professor tudo ao mesmo tempo. Mas enfim, finalmente pude me aventurar no que se vem colocando ao lado de Persona 3 Reload e agora também junto se Mario & Luigi: Brothership como um dos jogos mais esperados do ano.
E honestamente que surpresa boa, para um apreciador de videogame em seu estado natural mais simples, Princess Peach: Showtime! é uma primor de forma e conteúdo e eu aqui abordarei o porquê.
Hora do show
Bem vamos contextualizar, sei que o jogo já não é mais um lançamento extremamente recente, e que já temos uma impecável review do mesmo feita pelo Thomas, mas alguns leitores talvez estivessem vivendo embaixo de uma pedra, ocupados como eu, ou apenas não são woke o suficiente para colocar as mãos nesse jóia!

Princess Peach: Showtime!, se passa no Teatro do Esplendor, onde os atores das peças, que aqui são chamados de Esplendistas, são sequestrados por uma vilã para lá de teatral chamada Ruby, que quer os holofotes somente para si.
A premissa do jogo é bem simples: Peach vai precisar entrar em cada uma das peças em cartaz, assumir o papel da protagonista e derrotar Ruby para restabelecer a ordem, junto de sua parceira Estela, um lacinho carismático capaz de ajudar Peach a purificar as peças e se transformar. A partir disso, Peach precisa salvar cada um dos Esplendistas e desbravar cada andar, peça e ato do teatro até alcançar a vilã final de forma bem direta ao ponto.
O primor narrativo de Princess Peach: Showtime!
O que mais me encanta no jogo é de longe o domínio narrativo absurdo que os roteiristas exercem. Num primeiro momento, por nenhuma das histórias se aprofundarem demais já que ficamos na estrutura de fases temos a impressão que nenhuma estória muito interessante está sendo contada, de que tudo é somente background para as coisas acontecerem, mas isso está longe da verdade.

Se eles quisessem algo simples para servir de premissa poderiam ter escolhido qualquer outro conceito, como por exemplo colocar o Mario como o raptado dessa vez, mas não, aqui eles escolheram brincar com a narrativa em todos os níveis. Para escrever uma história para cada gênero, eles foram obrigados a entender como cada gênero narrativo funciona, como histórias com temáticas diferentes se desenvolvem e como isso poderia caber em um jogo do estilo.
Vamos pegar de exemplo a história de mistério que temos no segundo andar do jogo. Nela, um crime de roubo inexplicável é posto a prova para a detetive Peach, sem nenhuma saída plausível para o ladrão o jogador é colocado na posição de investigador. Para conseguir reunir as provas necessárias, o jogador acaba se deparando com dois mistérios menores que aconteceram simultaneamente.
Após resolver esses dois mistérios, o jogador recebe pistas e informações o suficiente para juntar as pessoas, o que é feito mas não sem a presença de um grande plot twist no final. Por mais que na superfície tudo seja bem simples, isso em essência exemplifica como todas as histórias de mistérios são escritas, uma teia de mistérios menores que entrega ponto a ponto as informações necessárias para o jogador resolver o verdadeiro mistério.
Destrinchar todos os estilos e gêneros escolhidos até o que é mais essencial da estrutura do tipo de história e reproduzir isso em sua versão mais minimalistas em uma fase side-scrolling 2D é algo insano de se imaginar como roteirista e não deve ser menosprezado em sua ambição ou genialidade.
Uma experimental feira de jogos
Ao tentar reproduzir e contar uma história de cada gênero os desenvolvedores foram colocados na posição de ter que fazer com que cada história escolhida funcionasse como um side-scrolling 2D, e claro, nem sempre o jogo se resume a isso, mas isso torna ele um dos jogos First Party mais experimentais do Nintendo Switch.

Um adventure de investigação, como Detetive Pikachu, um platformer de habilidade como as dezenas que temos no Switch e temos aqui na fase inspirada na cultura de Kaitou (o Persona 5 do Mario). Um jogo de patinação no gelo cartunesco como seria? Bem, sua pergunta é respondida aqui.
E o que mais me impressiona em tudo isso é que eles poderiam ter ficado no básico, qualquer uma dessas fases conceituais que eles tivessem escolhido daria um excelente jogo que não correria tantos riscos, mas seja por questão de experimentação ou de ousadia, toda essa variedade imensa de estilos foram desenvolvidos e compõem esse título, é por isso que eu considero Princess Peach: Showtime! um verdadeira masterpiece incompreendida.
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