
Desenvolvedora: Vanillaware
Publicadora: Atlus
Data de lançamento: 12 de Abril, 2022
Preço: R$ 250,79
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Atlus.
Por vezes, pode ser desafiador dizer o que torna um jogo com foco narrativo como uma visual novel ou um ADV qualquer em uma boa experiência narrativa. Um bom livro convertido para a mídia não necessariamente gera um bom jogo, assim como uma boa visual novel não necessariamente gera um bom livro. É necessário haver um equilíbrio entre a estética geral, para não cansar o jogador-leitor, diálogos com timings e estruturas impecáveis, além de algum elemento de interação com aquele que tem o controle em mãos, não bastando-lhe apenas a tarefa de apertar o mesmo botão para avançar a fala.
Felizmente, ao jogar 13 Sentinels: Aegis Rim, todas suas escolhas narrativas e sua execução sempre me fizeram o considerar como algo além do “bom”, levando-me ao superlativo de elogios… mas, é claro, vamos por partes.
Uma História fragmentada
São vários os artifícios utilizados por contadores de história para confundir o público. Mudanças de perspectiva, saltos temporais ou meras mentiras dispersas em meias verdades, encontradas em sugestões de personagens. A questão, contudo, é que para ser capaz de enganar é necessário um domínio muito grande da técnica, se não caímos em uma situação em que a tentativa de subverter cria algo sem coesão e sem interesses.
13 Sentinels: Aegis Rim, nesse sentido, pode ser visto tanto como um exemplo a ser seguido quanto como algo próprio dentro de seu gênero, disruptivo pelos motivos certos. O jogo abre em um Japão sendo invadido por Kaijus, armas biomecânicas colossais, causando devastação e morte por onde passam. Servindo como a última linha de defesa, encontramos uma jovem que, com um mero gesto de mãos, convoca uma gigantesca máquina, um “sentinel”, um típico robô gigante construído para derrotar os temíveis Kaijus. Aqui, tecer comparações com Neon Genesis Evangelion ou Pacific Rim é inevitável, tanto pela escala da destruição quanto pelo cenário cibernético convocado pela estética aqui presente.

Em meio ao caos, não tarda a aparecer um novo personagem, um jovem pilotando sua própria máquina, desenvencilhando-a de uma emboscada. A partir do estranho vínculo ali criado, vemos um corte. Em uma mudança brusca de cenário, somos levados a um colégio, ainda em 1985, com o mesmo personagem, Juro, vivendo uma vida comum.
Assim somos apresentados ao aspecto visual novel do jogo, com sprites detalhados passando em um ambiente em duas dimensões, onde podemos interagir com outros personagens a partir de diálogos, recolhendo informações que podem ser analisadas internamente na nuvem de pensamentos do personagem ou que podem ser compartilhadas com outros personagens, criando novas árvores de diálogo. Juro, aqui, é um entusiasta de filmes de ficção científica, sempre carregando fitas cassetes para compartilhar com seus colegas. Ao fim do dia, contudo, enquanto desfruta a tarde com seus amigos, acaba esbarrando em uma figura misteriosa, que caminha pelas ruas dizendo palavras sem sentido, por acidente fazendo aparecer um gigantesco sentinel. Um novo corte.
Somos transportados novamente para o campo de batalha. Dessa vez, no entanto, vemos novos personagens, novas máquinas. Aos poucos, conforme vão se relacionando com o que acontece ao redor e com eles mesmos, eles ganham personalidade e força, até um outro corte nos levar ao passado uma vez mais, dessa vez pela perspectiva de outro personagem. São pequenos fragmentos de história que recebemos de forma bem vagarosa, até começarmos a montar um quadro mais robusto. Aos poucos, presenciamos viagens no tempo, complôs alienígenas e serviços secretos governamentais cercando tais personagens de diversas formas, até o longo prólogo por fim terminar, deixando o jogador-leitor respirar, analisar tudo o que foi apresentado e, enfim, mergulhar em seu esplendoroso conteúdo.

O suspense da incerteza
Após a introdução intrigante e recheada de mistérios, somos levados a tomar uma escolha. Não uma, na verdade, mas sim várias; afinal o jogo se abre de uma forma estonteante, revelando treze personagens prontos para terem suas histórias narradas, seja uma atleta que encontra um objeto alien no vestiário de seu colégio, seja um veterano da Guerra do Pacífico sendo levado para um futuro quarenta anos após a explosão das bombas atômicas. Mesmo sem um aparente vínculo no início de cada história, eventualmente cada jornada se conecta com a de algum outro, revelando segredos e libertando novos caminhos a serem seguidos. Paralelo ao aspecto “novel”, temos a opção de lutar contra os Kaijus em campos de batalhas urbanos, em uma vã tentativa de salvar a humanidade.

Embora o jogador tenha liberdade em escolher seu caminho, muitas opções precisam ser desbloqueadas a partir de ações de outros personagens ou pelo campo de batalha. Essa escolha narrativa acaba por segurar grandes revelações até um momento propício, criando um equilíbrio de relevância entre cada personagem e fazendo-nos a cada instante conhecer diferentes facetas de cada um. Em termos de narrativa, não há nada para se criticar aqui, com diálogos engenhosamente bem escritos, com uma dublagem de ponta para pontuar os efeitos dramáticos e uma história com reviravoltas com sentido e bem desenhadas. Os belíssimos gráficos apenas acentuam esse interessantíssimo universo, com cenários que mesmo repetitivos não são capazes de se tornar enjoativos.
Mas é claro, ainda existe o aspecto “jogo” que não deve ser deixado de lado. As várias hordas que enfrentamos no modo paralelo servem para nos contextualizar em relação às consequências das histórias que vivenciamos no modo principal, quando todos os personagens se juntam e interagem de formas distintas. Nesse sentido, podemos escolher seis integrantes para combater os Kaijus, com máquinas que podem ser melhoradas a partir de pontos adquiridos ao longo do tempo.
O combate em si felizmente não se apresenta como uma barreira, servido como uma distração da leitura, com um sistema de estratégia em turnos rápidos, rendendo-nos pontos que podem ser trocados por certos arquivos secretos em um menu especial. Com um catálogo cheio de perguntas, o que escolhemos desbloquear pode nos auxiliar a entender a narrativa principal, até chegarmos em uma conclusão digna para todos os personagens aqui apresentados.
O looping narrativo
Algo me assustou à primeira vista quando iniciei o jogo. Logo após o fim dos prólogo, dei prosseguimento à história de Juro. Acordei na sala de aula, após o término do dia, e fui chamado por um amigo a procurar Shu Amiguchi, um colega descolado e rico, com um apartamento luxuoso e tentador de se visitar. Passei por alguns diálogos acerca dos sonhos que ambos estavam tendo, sobre a estranheza das similaridades, e então o capítulo se encerrou. Quando vejo, percebo que há uma série de bifurcações que levam a resultados completamente diferentes do original.
Confesso que suei frio pensando que seria necessário realizar vários saves para ver cada detalhezinho da narrativa, mas felizmente aqui esse não é o caso. Além de fragmentada, a narrativa segue um plano geral de looping temporal, com cada capítulo começando sempre da mesma forma, mas sempre com algo diferente e único que compensa prosseguir com a história.

Em suma, 13 Sentinels: Aegis Rim é um deleite. Enquanto o elemento de Visual Novel, acerta em tudo o que se propõe a realizar, com uma narrativa encantadora com seus vários mistérios e com personagens que fogem do padrão a partir do aprofundamento de suas narrativas e de seus relacionamentos. Posso dizer que, para alguns, a história talvez se arraste um pouco além do necessário, mas acredito que essa impressão depende muito do vínculo que se cria com esse universo e com esses personagens, que pessoalmente são incrivelmente cativantes. Muito mais do que uma recomendação, o título é uma necessidade aos fãs do gênero.
Prós:
- Escrita e direção narrativa impecáveis;
- Modos de jogo envolventes e diferenciados;
- Estética e apresentação magnânimas.
Contras:
- Por conta de sua proposta, certas cenas podem se tornar repetitivas.
Nota:
9,5
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