Desenvolvedora: BeXide Inc.
Publicadora: PQube
Data de lançamento: 12 de Agosto, 2022
Preço: R$ 99,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela PQube.
Mais do que uma mecânica de jogo e claro, uma forma das empresas gerarem seu lucro, Gacha Games já se tornou basicamente uma cultura própria. Cada vez mais expansivo, o modelo — abusado principalmente em dispositivos móveis — já domina a Ásia há muitos anos e vem emplacando cada vez mais no ocidente também. Grandes títulos responsáveis por isso são adaptações de franquias famosas para o formato como Fate/ Grand Order, mas também temos nomes vinculados á Nintendo como Pokémon Master Ex e o primeiro jogo mobage 100% da companhia a alcançar 1 bilhão em lucro, Fire Emblem Heroes.
Além disso, temos Genshin Impact, um dos jogos online mais populares da atualidade que não para de surpreender com números absurdos de receita gerada, que embora não seja mais o zeitgeist do momento, segue vivo, muito forte e continua crescendo. Por fim, dessa cultura expansiva cheia de nuances bem peculiares e problemáticas que é o Gacha, nasce de forma bem ambiciosa, meio que como uma sátira e ao mesmo tempo uma celebração, estou falando de Super Bullet Break.
O jogo, que trata-se de um Deckbuilder, pega diversos atalhos em hábitos da cultura gamer, clichês de jogos, e estereótipos da indústria, tendo como centro de tudo o gacha. E mais que isso, de forma genial coloca em destaque o quanto o gacha em si casa bem, e está quase que naturalmente ligado com a ideia de deckbuilding.

Monochrome Tactics, Seasons of Love e Princess Stage

Super Bullet Break possui muitos elementos interessantes, mas não é possível começar de outro lugar, precisamos começar falando dos jogos e das Bullets que percorremos. A trama do jogo gira em torno do nosso grupo de protagonistas, garotas gamers, que precisam lutar contra bugs dentro de seus jogos favoritos para que eles voltem a funcionar tranquilamente.
Enquanto me refiro a Bugs de maneira mais genérica, não é tão simples assim. A origem da corrupção dos jogos é alguém que está ativamente sabotando os softwares. Com isso em mente e munidos dos elementos dos diversos jogos abordados, nossas heroínas partem nessa missão virtual para corrigir as anomalias.
Isso dito, os estilos de jogos sim, emprestam muito desse inconsciente coletivo do jogador de gacha e jogos no geral. Claro quando eu digo isso na verdade estou me referindo mais aqueles acostumados ou imersos na cultura “Weeb” do que gamer no sentido mais genérico. É muito mais provável alguém bem antenado na indústria dos animes se relacionar com Super Bullet Break do que alguém que joga FIFA e Forza, ou até mesmo fica só nos RPG ocidentais, por exemplo.
Além disso, os jogos que temos que concertar são os que abrigam às temáticas variadas de “Bullets”, o nome dado pelo jogo aos personagens que obtemos; entre elas temos Idols, princesas guerreiras, garotas colegiais estereótipos de Dating Sim, mascotes fofos genéricos e até garotas atiradoras com ostensivas armas de fogo. Existem mais de 100 Bullets que o jogador pode receber durante as partidas, e cada um dos tipos funciona como um arquétipo no seu deck.
Não tire os olhos do mapa
—Saindo da estrutura mais básica, vamos abordar o funcionamento mais específico do jogo.

Em Super Bullet Break, o jogador deve selecionar um dos jogos que já liberou, sendo necessário terminar o anterior antes de embarcar na próxima jornada, e então escolher a heroína que irá jogar, sendo essa na prática uma espécie de skill passiva para a aventura que segue. Então, o jogador será colocado no início de um mapa com caminhos variados que podem conter as seguintes tipos de casas:
- Combate: o mais óbvio entre as casas, essa opção coloca o jogador em um encontro aleatório. Os encontros do jogo podem ter dois objetivos: eliminar os inimigos ou derrotar o Boss. Isso é importante, pois alguns Bosses do jogo podem invocar aliados, tornando uma possibilidade mais proveitosa focar no chefe dependendo da situação. Quando o jogador vence um combate é concedido a ele a opção de escolher entre 3 Bullets escolhidas aleatoriamente, com exceção de alguns Bosses, que permitem ao jogador escolher uma bullet do próprio boss com três opções de passiva/borda diferentes.
- Descanso: a casa de descanso, simbolizada pelo café, dá ao jogador três opções: o descanso rápido capaz de recuperar 30% da vida máxima do jogador, o longo que cura 50% mas é pago, e a troca de borda gratuita. Toda bullet que você consegue possuí uma borda. As bordas são como habilidades passivas da bullet. Por exemplo, uma bullet pode ter menos custo como passiva, conceder escudo, curar o usuário ou com sorte a passiva lendária do seu arquétipo. Como as bordas são aleatórias, caso você alcance essa casa com a vida cheia é uma boa tentar emplacar uma melhor para suas Bullets favoritas da run.
- Loja: a loja permite ao jogador comprar coisas, como já era de se esperar. Mas o mais importante de fato da loja é que, nela o jogador é capaz de trocar os tickets de gacha adquiridos pela aventura por novas bullets. Embora isso funcione numa temática de gacha, o jogador deve escolher dois traços dentro 6 aleatórios para sua personagem invocada, facilitando um pouco para manter uma coesão de deck. Isso também recompensa o jogador, pois quanto mais conhecimento de suas bullets ele tem, mais consegue controlar o resultado do gacha.
Na loja o jogador também pode adquirir o bilhete de gacha, mas só um por visita. Outra função que pode ser comprada na loja é a de descartar Bullets. Dependendo da rota que o jogador escolher ele pode terminar com mais bullets do que gostaria, algumas podem travar o desenvolvimento do deck, ou até mesmo a velocidade e eficiência com que ele funciona. Por conta disso o jogador pode pagar uma taxa na loja para se livrar das indesejadas, mas também só pode ser ativado uma vez por visita a loja.
- Cidade: o jogador pode escolher seguir para uma cidade para dar início a um evento aleatório. O jogo ostenta uma excelente variedade de eventos, podendo te dar uma Bullet nova, tickets de Gacha, um item, cura ou outras coisas. Tudo isso através de escolhas de diálogo, quiz, sorte e por ai vai.
- Presente: nessa casa o jogador deve escolher entre três caixas e receberá o item da escolhida. Essa é a casa mais simples e os itens dentro da caixa costumam ser uma Bullet, dinheiro e um item consumível.

Hora do duelo!
—Claro a parte mais importante de um jogo como esse é o “combate”.
Embora interaja com diversos elementos de RPG, como barras de vida e itens consumíveis por exemplo, Super Bullet break opera mais na lógica de um cardgame. O jogador deve começar o jogo com 5 Bullets escolhidas aleatoriamente. Toda vez que gastar um poderá comprar uma nova podendo ter até 30 no deck. As bullets “usadas” irão para uma espécie de cemitério e quando o jogador utilizar todas do deck, elas serão embaralhadas de novo de uma maneira que não existe uma mecânica de deck over. Toda bullet possui um custo, um efeito, o passivo da borda e uma quantia de dano.

O custo se traduz em tempo como uma barra de RPG de turno dinâmico, onde cada Bullet demora um certo tempo para performar. Quanto menos tempo ela consumir mais bullets você pode usar no seu turno, para todos os feitos antes do inimigo atacar. O efeito das cartas são bem variados, elas podem curar a barra de vida do jogador (o que é sempre bem vindo já que ela não cura sem uso de itens ou descanso mesmo entre uma batalha e outra), podem conseguir escudo, ignorar buffs, descartar cartas, aumentar o dano condicionalmente ou infligir status, além de muito mais. Por conta disso as diferentes estratégias de cada deck são bem variadas.


Para vencer o inimigo você deve zerar a barra de vida dele sem perder a sua completamente. O grande problema é que basta perder uma partida, que perderá sua run completada. Cada jogo contém um número de mapas que podem demorar um tempo até serem completados, o jogo funcionando como uma espécie de partida. Por exemplo, caso eu comece uma partida e chegue no boss final de um jogo e perca, sou obrigado a retornar desde o início desse jogo.
O jogo pode ter 3, 4 ou mais mapas, que devem demorar cerca de 10 minutos cada. Isso pode tornar a experiência bem maçante tendo em vista que as batalhas são de fato bem desafiadoras. Eu demorei tranquilamente por volta de dez horas para concluir o primeiro jogo disponível a título de exemplo, o que pode levar o jogo a dezenas de horas como alguns JRPGs costumam ser. Isso somado ao fato de que cada vez você deve começar com as cartas básicas do deck, e adquirir uma estratégia semi aleatoriamente pode tornar a experiência como um todo frustrante.

Mas isso é um problema situacional já que a estrutura do jogo de partidas pode ser jogada aos poucos e ser devidamente apreciada, mas para o jogador que gosta de jogatinas mais longas pode ficar cansativo mais rapidamente.
Vamos ao festival comigo?

Super Bullet Break é, acima de tudo, uma celebração, com bastante conteúdo e muitas referências que o jogo tenta agradar um público bem específico que vai se sentir acolhido. O visual abusa de pixels e chibis, e até o modelo 3D da protagonista abusa de uma estética limpa bastante usada nos jogos ocidentais de menor orçamento, independentes ou da década passada.
No entanto, o jogo possui problemas de balanceamento, alguns arquétipos foram bem difíceis de fazer funcionar enquanto outros são hiper consistentes e resolve quase tudo. Ainda assim, Super Bullet Break faz questão que cada um deles sejam bem divertidos e únicos, e que estejam atrelados a temática daquelas personagens e do tipo de jogo em que elas são inspiradas. Você precisa encher um coração para ganhar efeitos bônus das garotas de Dating Sim, e fazer combos de cartas com as idols, por exemplo.
De qualquer forma, o Super Bullet Break é realmente uma linda festa que contempla jogadores como eu, mas se algo nessa review te fez torcer o nariz sugiro que pense com carinho, ele é o que é, um jogo simples com um objetivo simples, mas bastante charmoso. Ele pode gerar dezenas de horas de entretenimento mas ele tem problemas bem característicos e ai vai de cada jogador encarar se vale a pena.
Prós:
- Estilo artístico divertido e coeso com a proposta;
- Divertida celebração da cultura otaku-gamer e da indústria gacha;
- Gameplay divertida e bastante variada.
Contras:
- Balanceamento questionável;
- Difícil demais, poderia contar com um Easy mode;
- Pode se tornar repetitivo.
