Desenvolvedora: Lyrebird Studio, Starlike Inc., Magical Works
Publicadora: CFK
Data de lançamento: 16 de Março, 2023
Preço: R$ 127,68
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia gentilmente cedida pela CFK.
Revisão: Marcos Vinícius
Durante o começo do século 21, uma revolução na cena musical acontecia de forma sútil – a criação de softwares sintetizadores de voz avançava rapidamente e culminou no projeto Vocaloid. Hoje, quase 20 anos depois, uma cultura que engloba alguns gêneros e estilos musicais foram cultivados através das influências que Vocaloid já amalgamava e também veio a inspirar.
De diversos artistas e compositores que ficaram famosos com o software, a uma comunidade imensa de fãs de alguns gêneros musicais como o Future Funk por exemplo, Vocaloid foi responsável por moldar uma subcultura principalmente na internet. Alguns anos depois do lançamento dos primeiros vocaloids – e em simultâneo a sua ascensão – foi lançado o jogo de ritmo Osu!, que também ajudou a perpetuar e moldar essa subcultura, de músicas fortemente inspiradas e intrínsecas à cultura do otaku, com referências, trechos e estilos voltadas a esse nicho.
A partir desses dois fenômenos ao mesmo tempo musicais e intrinsecamente ligados ao mundo dos jogos e dos animes, fecha-se um triângulo bem específico dos três formatos de arte que embora bem tangenciais são distintos e surge uma grande onda de derivações. Os muito populares jogos de Idol acompanhados de seus animes, a grande presença no imaginário coletivo de idols virtuais que inspiraram diversos jogos, a livre associação de ficção aos estilos eletrônicos que frequentemente acompanham as composições de vocaloid e dão fundo para que Osu! possa acontecer, e a criação de entusiastas desse gênero bem específico, como eu.
Sixtar Gate: STARTRAIL, parece olhar diretamente para os membros dessas subculturas e contemplá-los, com os visuais que remetem a um estilo fofo e futurista como Steven Universe e Bee and Puppycat, mas com a presença do anime ainda mais forte do que os citados anteriormente. As músicas pegam o melhor e mais no cerne dessa cultura “Otacore” como define o Spotify em relação às músicas com forte influência da cultura pop asiática.
Não é como se Vocaloid tivesse passado a existir no vácuo, ele já era em sua estética inspirado pelos animes da época, e também influenciado pela cultura Idol oriental. Mas Sixtar Gate: STARTRAIL é mais interessante ainda por isso, como se todas as referências que vocaloid tivesse juntado seriam agora uma apropriação sua. O jogo não necessariamente se comunica com Idols do J-pop, mas sim com Vocaloid, Osu!, Snail House, e outras produções que nasceram dessa explosão cultural, é como se fosse um marco de uma volta completa na roda cultural. E por isso considero ele um título que contempla seu público com uma produção bastante carinhosa. Então, de coração aberto, entrem na nave, eu os convido a conhecer o planeta Sixtar Gate: STARTRAIL!

Adventure
Sixtar Gate: STARTRAIL é repleto de visuais agradáveis, tons pastéis e uma estética futurista porém bastante confortável. O primeiro modo recomendado – e inclusive modo que chega primeiro na versão de Switch – é seu modo história, onde você assume a posição de capitão de uma nave com suas duas assistentes, com a típica estética de anime onde uma usa roupas claras e tem uma personalidade positiva enquanto a outra usa roupas pretas e tem uma personalidade travessa.

A história é curta e simples, no entanto agradável e bem construída. As músicas da aventura podem ser tocadas em geral em qualquer dificuldade se adaptando ao jogador, e o modo história ainda te recompensa com algumas faixas exclusivas. O ponto negativo dele é o quão curto ele é, mas dá a entender que é possível que novos capítulos cheguem, eu demorei por volta de 2-3 horas para completá-lo.
Por fim, a maneira que o jogo de ritmo é introduzida na história, como a tarefa das auxiliares de se livrar de um elemento desconhecido disparando contra ele, é criativa e complementa o senso de ação da história. Esse modo história não é exatamente excepcional ou inédito mas certamente é algo pouco popular em jogos de ritmo como foco neste nicho, então considero uma adição valiosa.
Travel Mode
Esse sendo o modo principal, aqui você pode se divertir livremente com as músicas do jogo. Contando com mais de 100 músicas, inclusive algumas do supracitado Vocaloid e outras da franquia Touhou Project (a qual honestamente não sou familiarizado), confesso que são boas e se encaixam bem com o tipo de música que esse nicho costuma apreciar.
Por fim, o mais importante para um jogo que é sua jogabilidade, Sixtar Gate: STARTRAIL não é exatamente revolucionário, mas certamente é divertido e competente. Ele traz um estilo de jogo já bem difundido onde um as notas vem em uma espécie de esteira, similar a clássicos como Guitar Hero, D4DJ Groovy Mix, DJMax e até o modo keyboard do Osu!.
No entanto o diferencial é sua “Lane do meio” que abre e fecha em momentos específicos da música variando bastante a gameplay, além de que em sua versão de Nintendo Switch ele possui uma nota especial que precisa da utilização do analógico.

Em relação a sua versão de PC, ele perdeu o seu Lunar mode que permite jogar sem as notas vermelhas, isso porque aqui elas são tocadas com os gatilhos traseiros e soam mais naturais e essenciais na gameplay, e também o modo Unity que permite a jogatina online. Em compensação ele é mais completo com todas as músicas já lançadas, que não precisam ser desbloqueadas com pontos do jogo como na versão de PC. Ele também perde em personalização do menu já que o jogo de PC em seus dois anos já recebeu diversos eventos, mas as opções de customização do gear, sua interface de jogo, ainda são bem diversas, o que é o mais importante. Fora isso, o jogo ainda dá a impressão de que continuará a ser atualizado, tendo inclusive um espaço destinado a futuras DLCs.
Sixtar Gate: STARTRAIL é bastante divertido, as dificuldades tem uma excelente progressão e as notas são variadas o suficiente. Isso dito, minha única crítica à experiência no Nintendo Switch como um todo é a configuração de botões. Veja bem, não é como se isso não fosse algo que se acostuma jogando, mas não gostei da configuração de botões o que é bem pessoal, mas infelizmente não temos a opção de alterar. Isso porque em jogos de ritmo de consoles, quando usamos o eixo de setas ou os botões de comando, criasse um senso de horizontalidade e verticalidade.
Por exemplo, na franquia Persona Dancing, da Atlus, os botões laterais fazem com que a posição da nota reflita a altura do botão a ser apertado, enquanto no project diva do vocaloid os botões têm uma relação espelhada, de forma que os botões de cima são o mesmo. Já em Sixtar Gate: STARTRAIL os botões superiores são representados lado a lado na esteira, o que é bem pouco intuitivo, isso serve para que os dois botões entre eles, (Y e seta direita) possam ser usados para a Lane extra central que se abre, mas confesso que achei pouco intuitivo. É algo que poderia ser facilmente corrigido caso pudéssemos alterar os controles, mas também não destruiu minha experiência, fez apenas com que eu demorasse um pouco mais para pegar o jeito.
Outer Space
O último modo da versão de Switch é o Outer Space. Nele podemos jogar sequências predefinidas de música separadas em faixas de dificuldade. Ele também funciona como uma excelente progressão, além de ter um senso maior de processo para jogadores novatos no jogo e no gênero.

Por fim, um dos fatores mais importantes para um jogo de ritmo são as músicas, e Sixtar Gate: STARTRAIL tira isso de letra! Na presença de alguns clássicos como Morimori Atsushi – Pupa e CROSSING DELTA – t+ Palizolite X Hommaruju X Ginkiha, bem como algumas pérolas pouco conhecidas como Stay, Dance – Studio 3Tone (Feat. Renko), a obra faz a mistura perfeita de músicas divertidas e empolgantes, populares e novas que prometem entreter o jogador por horas.
Sixtar Gate é os amigos que fazemos no caminho
Os gráficos cativantes, o estilo de jogo bem trabalhado e a quantidade de carinho e atenção sendo colocada nesse título é bastante evidente, ainda por um preço acessível, Sixtar Gate: STARTRAIL é com certeza uma das maiores surpresas de 2023 para mim. O jogo não é especificamente super polido e nem perfeito, mas se comunica comigo de um jeito bastante pessoal, então caso algo que eu disse nessa análise tenha clicado especificamente com você, sugiro que dê sim uma chance!

Pros:
- Ótima seleção de músicas com foco no seu nicho;
- Bom senso de progressão;
- Visuais agradáveis e conquistadores.
Contras:
- Gameplay divertida mas pouca inovadora;
- Comandos pouco intuitivos não podem ser modificados.
Nota Final:
9
