Revisão: Davi Sousa
Com a existência de Pokémon Legends: Z-A é apenas normal que reflitamos um pouco sobre o jogo que foi a origem de Lumiose City, a grande metrópole onde a nova aventura vai se passar, e da tão amada mecânica de Megaevoluções que estrearam em Pokémon X e Pokémon Y. A sexta geração já tem 12 anos desde seu lançamento inicial, e depois de todo esse tempo queremos parar para observar um pouco sobre quais foram os impactos que o título teve para a franquia e como a aventura se sustenta atualmente.
O primeiro de muitos aspectos
Pokémon X e Y são jogos muito marcantes para mim, já que foi a primeira vez que acompanhei o lançamento de um jogo da franquia, desde seu anúncio, vendo cada trailer novo com as revelações de novos Pokémon, mecânicas e Megaevoluções, e pela primeira vez tendo a experiencia de comprar um jogo no dia de lançamento, com toda aquela ansiedade no caminho de volta para a casa com a caixinha e o cartucho em mãos. Por conta disso tudo, sempre que me lembro de X e Y, diversas memórias afetivas vêm à tona.

Além da forte nostalgia pessoal com os títulos, a sexta geração é um marco para a franquia por diversos motivos, já que ela foi a primeira em muitos aspectos, como ter estreado gráficos 3D nos jogos principais e criar uma mecânica gimmick para batalhas na forma das Megaevoluções, algo que viria a acontecer em todas novas gerações após ela na forma de Z-Moves, Terastal e mais. Mas não só de mudanças boas vive Kalos: também é aqui onde muitas das futuras críticas à franquia começavam a surgir, na forma mapas mais lineares, uma história mais simplificada e outros aspectos que vamos discutir durante o texto.
Megacharmoso
Ao começar uma nova jornada em Kalos, o primeiro aspecto que se nota nestes títulos é como eles são charmosos. Desde a introdução com Sycamore até sermos recebidos por um Fletchling em casa, é muito gracioso de ver Pokémon em 3D pela primeira vez. Por mais que não sejam gráficos revolucionários para o que o próprio 3DS já havia feito na época em que X e Y saíram, o estilo visual “chibi” com proporções apenas um pouco mais realistas foi um grande salto comparado à quinta geração, que finalmente nos deixava ver os personagens e as criaturas da maneira que foram imaginadas.

Pokémon X e Y possuen uma apresentação extremamente confortante, as cidades são bonitas e compactas, os modelos de personagens são bem-feitos, e com o adicional da ótima customização de roupas que Kalos trouxe, os protagonistas são únicos e podem ser montados de acordo com o estilo e vontade do jogador. Talvez o ponto mais controverso na mudança para o 3D esteja na própria modelagem dos monstrinhos, já que, num curto período de tempo, foram criados modelos para as mais de 700 criaturas existentes até então, e nem todas tiveram a mesma sorte na transição que outras.

Não levem a mal: os modelos são, em sua maior parte, competentes, até bons, mas nem sempre conseguem transmitir a personalidade única de cada criatura que os sprites faziam anteriormente, e como foram produzidos em larga escala, a maioria teve que manter movimentações genéricas em suas idle animations e ataques. Agora, um ponto que, revisitando Kalos, eu não posso criticar de maneira alguma, é sua trilha sonora. As músicas de X e Y, seja por fator nostálgico ou apenas pela própria qualidade de suas composições, são extremamente marcantes, e mesmo uma década depois sem ouvir algumas dessas músicas, apenas de iniciar o tema já me vem a melodia completa na memória.
Uma geração de Meganovidades
A Pokédex de Kalos é curiosa, pois saímos de Unova, a geração com a maior adição de criaturas novas até o momento e que passou por diversas polêmicas por obrigar o uso de novos Pokémon para quem quisesse fazer a campanha principal de Pokémon Black e Pokémon White, e vimos a The Pokémon Company ceder às críticas em sua sequência fazendo uma Dex mais variada. E então chegamos a X e Y com o oposto de B/W acontecendo, tendo até hoje a menor quantidade de novos Pokémon introduzidos em uma região (a menos que conte Hisui), e um grande incentivo de se usar Pokémon de outras regiões em sua jornada, seja um dos iniciais de Kanto que são distribuídos durante a história, ou na forma de um dos vários Pokémon que ganharam uma Megaevolução.
E apesar desta variedade ser muito boa, facilitando que os jogadores possam criar times com suas criaturas favoritas, sejam novas ou velhas, acredito que isso foi feito com um pouco de excesso em X e Y, fazendo com que Kalos perca um pouco de sua identidade própria, pois mesmo que existam alguns novos Pokémon marcantes como Greninja, Sylveon e Aegislash, tivemos poucas novas adições realmente marcantes para a franquia, e infelizmente vimos aqui o começo do que ficou conhecido como o “Kanto Pandering”, onde a Pokémon Company claramente favorecia a escolha de Pokémon da primeira geração para aparecer nos jogos, ganhar novas formas e Megaevoluções nos jogos.

Mas não foram só novos Pokémon que X e Y trouxeram à franquia, já que vimos, pela primeira vez desde Gold e Silver, a adição de um novo tipo: o tipo Fada, que chegava principalmente para balancear um pouco a clara vantagem que as criaturas do tipo Dragão possuíam, com diversos dos novos Pokémon de Kalos adotando esta tipagem, e até mesmo antigos rostos conhecidos ganhando ou substituindo seu tipo antigo pela novidade. Acredito que essa adição foi um grande acerto não só por questões de balanceamento, mas por ter aberto as portas para vários novos designs criativos que antigamente só se encaixariam no tipo Normal por falta de outra opção. Não surpreendentemente, muitos torcem para que eventualmente possamos ter um novo tipo na franquia, embora não haja mais buracos de balanceamento tão óbvios quanto antes.
E a última, e talvez até a maior adição da sexta geração, são as Megaevoluções, onde alguns seletos Pokémon podem ser equipados com uma Mega Stone, um item que permite que evoluam além de sua forma final, atingindo stats ainda maiores, às vezes mudando de tipo, desbloqueando novas habilidades e possuindo um novo design (que por sinal costuma ser muito bom). As Megaevoluções foram uma febre na comunidade, pois além de trazerem uma nova evolução à diversos dos Pokémon favoritos da comunidade, e colocando novos holofotes em alguns Pokémon que talvez não fossem muito olhados, foram uma completa revolução no cenário competitivo, mudando totalmente como alguns Pokémon agiam e criando diversos cenários onde devemos supor qual e quando o Pokémon do adversário vai megaevoluir para podermos nos planejar de acordo.

Por conta dessas mudanças no cenário competitivo e os novos designs superinteressantes para as Megas, não é à toa que, desde Omega Ruby & Alpha Sapphire, os últimos jogos a terem novas Megas antes de Z-A, os fãs sempre pedissem pelo retorno da mecânica, e mesmo que a cada geração tenhamos recebidos novas gimmicks que funcionam de maneiras similares, a popularidade das Megas nunca foi batida, o que torna um deleite para os fãs verem o desejo sendo finalmente atendido no novo título.
Na verdade, é Megasimples
Voltando a falar mais da experiência single player de X e Y, a jornada que temos durante a campanha infelizmente não envelheceu tão bem quanto eu lembrava.
A quinta geração foi marcada por ter um grande foco na narrativa, embora fosse um pouco mais linear que o de costume. Já a sexta geração se mantém relativamente linear em sua história principal, porém, desta vez, com bem menos rotas e cidades que são realmente interessantes ou únicas. A história num geral é muito mais fraca que antes, e o fato é ainda mais doloroso, pois vemos alguns sinais de uma grande história ambiciosa querendo ser contada envolvendo a grande guerra do passado e Kalos com o AZ. Fica a impressão de que durante a produção o time foi barrado de abordar esses temas mais maduros e tiveram que deixar tudo superficial.

O pacing de X & Y também é um pouco estranho. Temos um começo relativamente rápido. Não demora para termos nosso inicial e já estarmos enfrentando o primeiro ginásio, mas, depois disso, a progressão se arrasta MUITO, e passamos por muitas rotas e diálogos inúteis até finalmente termos nossa segunda insígnia. A partir daí, o jogo parece que começa a correr para pegar todas o mais rápido possível, enquanto a história que se desenvolve com o Team Flare sempre fica superficial, até de repente já estarmos enfrentando seu chefe.
Também há um excesso de personagens que não são bem explorados entre o núcleo de amigos de nosso protagonista. Os Líderes de Ginásio, em sua maior parte, perdem qualquer relevância para o plot que a geração anterior havia introduzido muito bem, se tornando apenas pontos de “desafio” durante a jornada para conquistarmos as insígnias da região.

E se você estiver se perguntando o motivo da palavra “desafio” estar entre parênteses, é porque essa é outra coisa que X e Y abriram mão completamente em sua campanha principal, sendo o par de títulos que acredito que até hoje sejam os mais fáceis da franquia. Os times dos adversários, em especial dos Líderes de Ginásio e a Elite Four, são muito mal montados, com poucas medidas contraofensivas às suas fraquezas. Se você vai enfrentar o ginásio de gelo (que por sinal é o último ginásio) apenas com um Pokémon de fogo, você está mais que garantido a vencer, aumentando o sentimento de que X e Y apenas incentiva o jogador a utilizar o sistema de vantagens de tipos da franquia para vencer, descartando qualquer complexidade que a franquia tem.
Isso é uma pena, já que, como citado anteriormente, esta é a geração que introduziu as Megaevoluções, uma das gimmicks mais divertidas de toda a franquia, e que só vemos durante a história principal do jogo — umas 3 ou 4 vezes, se não me falha a memória. Fica a sensação de que as Megaevoluções foram pensadas realmente para o competitivo, ainda mais quando a maioria das Mega Stones só podem ser encontradas no pós-game.
Uma geração marcada por falhas, porém ainda é cativante

Apesar dessa revisita a Kalos fazer parecer que eu agora odeie Pokémon X e Y, na verdade ainda tenho muito apreço pelas entradas, mesmo que sejam cheias de problemas que poderiam ter sido resolvidos em um Pokémon Z, que nunca foi lançado, como colocar alguns dos óbvios conteúdos excluídos do jogo, melhorando aspectos de balanceamento para uma experiência mais desafiadora e recompensante e dando mais conteúdo para a experiência. É inegável que estes são jogos muito charmosos até hoje, tendo visuais e mecânicas que, para a franquia, foram revolucionárias. Na minha opinião, o que mais faz um jogo Pokémon ser marcante e valer a pena ser jogado é a vibe que ele passa para o jogador e o quão imerso ficamos na jogatina, e, apesar de tudo, Kalos é uma região que me deixa altamente imerso, e por isso não posso desvalorizá-la completamente.
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