O final de janeiro trouxe um grande jogo para os donos do Nintendo Switch. Trata-se de Pokémon Legends: Arceus. O título passou a figurar em acalorados debates nas redes sociais antes mesmo de seu lançamento. O foco dos sommeliers de gráficos, como já virou praxe, é justamente a qualidade duvidosa do visual do jogo apresentado nos trailers.
A Game Freak, na verdade, vem há tempos sofrendo duras críticas pela falta de ousadia, inventividade e qualidade técnica nos jogos dos pequenos (e grandes) monstrinhos. No final dos anos 90, com o lançamento dos primeiros jogos para o finado Game Boy, a desenvolvedora encontrou uma espécie de fórmula. O sucesso absurdo não só no portátil, mas também brinquedos e diversas outras mídias, colocaram a Game Freak num “porto seguro”. Sabem aquela expressão “não se mexe em time que está ganhando”? Para quê mudar?
Precisa mudar?

Jogo após jogo, Pokémon vende. E vende muito! Não importa a qualidade visual, técnica, mecânica. Mas, essa inércia criou uma barreira invisível que dividiu a base de jogadores. De um lado temos os fãs incondicionais. Do outro uma galera que apesar de curtir os novos títulos, deseja, com todas as forças, que a série saia de sua zona de conforto e passe a abraçar novas possibilidades. Afinal de contas, lá se vão quase trinta anos desde que o primeiro título – Pokémon Red e Pokémon Green – foi lançado no Japão.
A Nintendo sempre buscou atrair uma nova base de jogadores para seus consoles e jogos. O modelo de mercado da gigante japonesa foge da tendência monocromática balizada por Sony e Microsoft. Ela possui seu próprio “mundinho” e faz uma senhora limonada com os limões que tem à disposição. O Wii foi prova disso. Em meio a uma geração de consoles pautada por jogos em alta definição, a Nintendo mira num produto que amplia e democratiza a experiência de se jogar um videogame.
A chegada do Nintendo Switch deu continuidade a essa tendência. Acredito que todo mundo conhece ao menos uma pessoa que não liga para videogames ou para os produtos da Nintendo e que se interessou pelo híbrido. Desde o seu lançamento, em 2017, os jogos do console passaram a arrebentar muitas amarras, apresentando uma experiência nova que acaba atraindo o consumidor.
Democratizando “os Pokémon tudo”

A grande questão é: por que não fazer isso com uma das maiores (se não a maior) marcas do mundo? Vimos a primeira iniciativa antes mesmo do lançamento do Nintendo Switch. A Nintendo ousou romper seu tradicionalismo e levou os monstrinhos para os celulares. Quando lançado, em 2016, Pokémon Go — feito em parceria com a Niantic — foi um fenômeno, fazendo com que ainda mais pessoas passassem a conhecer Pikachu e sua trupe. O que mais vimos foram pessoas, de todas as idades, que não possuem o hábito de jogar em consoles, experimentado o joguinho, caçando Pokémon pelas ruas.
O próximo passo foi fazer com que os donos do Switch, que não se interessam muito pela franquia (sim, eles existem) passassem a desejar jogar um título Pokémon no console. Para atrair os fãs, a Game Freak e a Nintendo apostaram na nostalgia. Para ganhar os corações de novos jogadores, eles apostaram na acessibilidade que Pokémon Go trouxe. Assim, surgiu Pokémon Let’s Go, Pikachu! e Pokémon Let’s Go, Eevee!. O resultado? Um sucesso!
Mas, aí começaram alguns problemas. O fã mais conservador não gostou muito do rumo que a série estava tomando. O receio era de que a nova geração de monstrinhos mantivesse a pegada casual vista em Pokémon Let’s Go. Criou-se uma expectativa muito grande em cima de Pokémon Sword & Shield. E isso à revelia de qualquer promessa que a Nintendo ou a Game Freak tenham feito. No imaginário dos donos do Switch, este seria o “Breath of the Wild do Pokemón”. Não foi! Mas, vendeu pra caramba.
Novas polêmicas

O anúncio dos dois novos jogos abriu espaço para novas confabulações e polêmicas. Os remakes de Pokémon Diamond e Pokémon Pearl – para o bem ou para o mal – parecia ser o aceno de que o verbo “inovar” não se conjuga dentro da série. Ao menos Pokémon Legends: Arceus manteve a esperança daqueles que desejam novos ares. Mas, os trailers apresentavam um produto com uma qualidade técnica muito abaixo do esperado.
Como não se julga livro pela capa (ou qualidade de um jogo por um trailer) eu, pelo menos, esperei o lançamento do mais novo título da franquia Pokémon, para de fato saber como o jogo está. Mas, reconheço que nem todo mundo está disposto a isso pelo preço que os jogos estão custando no país. O visual, de fato, está aquém do que a série merece. Mas isso é secundário aqui. É importante, claro. Mas não define a experiência. Pokémon Legends: Arceus não é revolucionário. Mas, as inovações estão lá!

Por mais que não tenhamos um mundo aberto ao estilo de The Legend of Zelda: Breath of the Wild (as comparações sempre serão inevitáveis), a área que temos contato com Pokémon selvagens é muito melhor e maior do que a Wild Area vista em Pokémon Sword & Shield. As mecânicas de exploração, batalhas e capturas foram refinadas. Uma mudança na fórmula após décadas! Viva! As batalhas ainda são efetuadas em turnos, mas é tudo menos engessado.
Podemos escolher com qual Pokémon lutar (nada de batalhas randômicas contra os monstrinhos selvagens), fugir se for necessário e por aí vai. Pela primeira vez na série, a gente consegue movimentar nosso personagem livremente enquanto a luta está acontecendo e inclusive podemos ser atacados pelos Pokémon selvagens. Venceu a luta? O Pokémon é recolhido para o Poké bola e os itens e pontos de experiência adquiridos são mostrados no canto superior esquerdo da tela. É tudo muito mais rápido. É muito mais fácil, nesse sentido, treinar nossos Pokémon (fazer grind).
Não é um Breath of the Wild Pokémon
Para todos os efeitos, Pokémon Legends: Arceus – assim como Pokémon Sword & Shield – não é um The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Longe disso! O visual datado, o pop in de elementos de cenário e personagens, entre outros problemas de nível técnico, deixam evidente que a Game Freak precisa ser mais caprichosa aos detalhes de seus jogos. Salvo a falta de polimento, queria muito que o nosso personagem e os NPCs emitissem algum tipo de som ao dialogar. Guardo ainda a esperança de ver em algum momento nossos amados monstrinhos com suas respectivas dublagens – como o Pikachu e Eevee, em Pokémon Let’s Go – mesmo que para isso os números de Pokémon no jogo seja reduzido.
Enfim, tudo que foi apresentado em Legends: Arceus parece acenar para o futuro. Assim como The Legend of Zelda: Breath of the Wild (ó ele de novo) mudou a forma como The Legend of Zelda é concebido, esse novo capítulo da série parece ser o caminho natural que os novos títulos devem seguir. As novidades vistas não descaracterizam a identidade da franquia e inova de forma segura uma fórmula já envelhecida. De toda forma, o certo é que o jogo – assim como seus antecessores – continua divisivo.
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