Desenvolvedora: Granzella
Publicadora: NIS America
Gênero: Simulação, Aventura
Data de lançamento: 07 de abril de 2020
Preço: U$59,99
Formato: Físico, Digital

Por coincidência do destino, este jogo, que fala sobre desastres naturais, foi lançado exatamente num período onde o mundo passa por uma pandemia, e foi um paralelo muito curioso jogar o título: enquanto no game você deve sair da cidade para sobreviver, no mundo real, estamos em quarentena dentro de nossas casas para evitar contato com um agente biológico, ainda sem cura. (Diego Almeida, 02 de abril de 2020)

Disaster Report 4: Summer Memories, com o nome já sugere, é o quarto jogo de uma série, e o primeiro a dar as caras numa plataforma da Nintendo. Antes, porém, de falar sobre o título em si, é preciso um pouco de contexto.

A série Disaster Report, ou Zettai Zetsumei Toshi, como é conhecido no Japão, teve o seu primeiro título lançado em 2002 no Japão para o então PlayStation 2 e no início era desenvolvido pela Irem. A premissa do jogo, de todos eles, é que acontece algum desastre natural em uma cidade do Japão e você controla o protagonista que deverá sobreviver em meio ao caos e sair ileso. Não joguei os três primeiros títulos, mas no quarto jogo, há diversas opções de escolha do que você faria, ou como reagiria ou o que diria em certa ocasião e as suas escolhas irão afetar diretamente no curso da história, e em como os NPCs irão reagir. Você pode ser uma pessoa que se preocupa com o próximo e quer sempre ajudar, como pode ser indiferente ou até mesmo um completo sem noção tentando extorquir as pessoas por dinheiro ou benesses.

Em 2006, ainda para o PlayStation 2, foi lançado o segundo jogo da série, que no ocidente, por algum motivo recebeu o nome de Raw Danger! Em 2009, um terceiro jogo foi publicado, este nunca tendo sido lançado no ocidente. Zettai Zetsumei Toshi 3: kowareyuku Machi to Kanojo no Uta foi lançado na época para o PSP.

Tudo corria bem com a série, até que em 2011, a Irem se preparava para lançar Disaster Report 4. Foi então que uma série de eventos ocorreu. O jogo, que seria lançado para o PlayStation 3, tinha a data de lançamento prevista para o dia 10 de março de 2011, porém, o lançamento sofreu um atraso para algum momento da prima-vera. Um dia depois, um grande terremoto seguido de tsunami ocorreu no Japão, levando ao incidente nuclear de Fukushima. Em 14 de março de 2011, ou seja, 3 dias após o terremoto seguido de tsunami, o jogo foi cancelado. Junto com este jogo, outros projetos da Irem foram cancelados e a desenvolvedora parou de trabalhar com softwares para videogames, fazendo com que alguns funcionários saíssem para formar uma nova desenvolvedora, a Granzella.

Em dezembro de 2014 a Granzella veio à público anunciar que havia adquirido os direitos da propriedade intelectual Zettai Zetsumei Toshi/Disaster Report. Anos mais tarde, em 2018, Disaster Report 4 Plus: Summer Memories finalmente foi lançado para o PlayStation 4, recebendo um ano mais tarde pelas mãos da Granzella uma versão para o Nintendo Switch. Ainda em 2019, a NIS America anunciou a localização do jogo para o ocidente, que ocorreu agora em 2020.

O Jogo

Disaster Report 4: Summer Memories, logo no início, possibilita que o jogador escolha entre jogar com um homem ou uma mulher, mas esta escolha não afetará o curso do jogo. Logo no início, um grande terremoto ocorre, deixando um rastro de destruição pela cidade. Cabe a você, jogador, passar por diversos desafios, puzzles e tomar uma série de decisões para sobreviver ao desastre e sair vivo de toda esta situação.

No decorrer do jogo, você encontrará pessoas que poderá ajudar, ou não, e isto influenciará nos elementos do gameplay apresentados ao longo da aventura. Escolhas politicamente corretas lhe bonificarão com pontos de moral, enquanto escolhas menos ortodoxas lhe concederão pontos de imoralidade.

Confesso que no início comecei jogando como um bom moço, para ganhar pontos de moral, mas em certo momento da história, eu já estava agindo de forma completamente oposta, e isto gerou momentos muito divertidos.

Em praticamente todas as ocasiões há uma opção de escolha para que você peça um emprego, dinheiro, alguma vantagem, ou dar cantadas em cima das personagens. Você pode se solidarizar com as pessoas, como pode agir com indiferença e até mesmo dizer que tal pessoa lhe deixa irritado.

Uma coisa que me deixou um pouco impressionado, e não sei se isto é por causa do roteiro, ou se é realmente desta forma como pensam os japoneses, é que em muitas ocasiões os NPCs estavam mais preocupados com a entrevista de emprego que foi adiada por causa do desastre, ou coisas do tipo, praticamente ignorando toda a calamidade que ocorria. Eu naquela situação ficaria desesperado e tentaria de todas as formas sair dali, e ir para um local seguro. Compromissos e reuniões seriam a última coisa que eu me preocuparia. Enfim.

Uma das coisas mais interessantes, porém, que no início eu fiquei com raiva, mas depois já estava rindo da situação e curioso para saber o que aconteceria em seguida, é que há um personagem apresentado logo no início do título, se passando por um vendedor de uma loja de conveniências, que tenta lhe extorquir. Este personagem de alguma forma consegue sempre sobreviver aos acontecimentos e aparece em diversos momentos do jogo, sempre de forma muito inusitadas, sempre tentando passar a perna em alguém.

Inclusive em certo momento do jogo, há uma parte onde você se dá de cara com este personagem, e uma das reações que você pode ter é dizer “mas você não deveria ter morrido?”, e foi exatamente a escolha que utilizei, resultando numa conversa hilária!

Tecnicamente Falando

Disaster Report 4 é um jogo feito por uma desenvolvedora quase indie com poucos funcionários e um baixo orçamento, e é um jogo ambicioso com grandes cenários e muitos efeitos ocorrendo ao mesmo tempo. Como cereja do bolo, o jogo foi desenvolvido na Unreal Engine 4.

Dito isto, não há como suavizar. Tecnicamente, o jogo faz jus ao nome: é um desastre. Algumas áreas do jogo, principalmente as iniciais sofrem SÉRIOS problemas de frames por segundo, devendo correr em uma taxa entre 15 e e20 fps. A resolução do jogo é dinâmica e muito baixa, ficando bem abaixo dos 720p nativos da versão portátil (eu joguei o título no Nintendo Switch Lite). Em algumas cenas pré-renderizadas, como as partes em que você abre e atravessa portas, a resolução fica nativa e há anti-aliasing, entregando uma imagem de excelente qualidade. Porém, imediatamente após isto, volta a baixa resolução – mas não pense que a versão de PlayStation é melhor. Pesquisei em fóruns e os comentários sobre o título é que ele é muito mal otimizado também no PS4 base, só rodando um pouco melhor no PS4 Pro.

Eu já havia jogado a demo japonesa em 2019 e já tinha visto que o jogo sofre com muitos problemas técnicos. Esperava que a NIS America corrigisse isso para o lançamento ocidental, o que não ocorreu (não sei se o título receberá algum patch pós-lançamento). Entendo que a NISA não tem obrigação de concertar o trabalho da desenvolvedora original, mas lá no fundo eu tinha esta esperança, porque já vi acontecer com outros jogos. Não foi o caso.

As texturas também estão em baixíssima resolução, algumas vezes parecendo um jogo de N64, e isto não é exagero. E olha que eu estou falando do Nintendo Switch Lite. Na versão dock, quando joguei a demo japonesa, era perceptível que todos estes problemas já estavam lá, e a resolução parecia no máximo em 720p, na TV, com muitas ocasiões indo abaixo disso.

Acredito que a Granzella pudesse ter usado outra engine para o desenvolvimento, como a Unity, e a utilização da Unreal Engine 4 aqui talvez não tenha sido a melhor das escolhas. Não estou dizendo que a Unreal Engine 4 seja ruim, muito pelo contrário, jogos como Octopath Traveler,Dragon Quest XI S e Trials of Mana estão aí pra mostrar que dá pra fazer um excelente trabalho quando bem utilizada a engine. Mas para uma desenvolvedora quase indie, com um projeto tão ambicioso como Disaster Report 4, talvez essa tenha sido uma má escolha.

Trilha sonora

Exceto em situações onde há certa tensão, que toca uma música que ambienta bem esse clima, quase não há musicas no jogo. Geralmente você escuta os passos dos personagens, falas dos NPCs, barulhos dos tremores, enfim, efeitos sonoros. Há sim música, em algumas cutscenes há belas músicas pop cantadas, mas estes momentos são meio raros de acontecer.

Curiosidade

Disaster Report apresenta uma curiosidade que eu nunca havia visto em nenhum outro jogo. Você tem que ficar de olho não só no nível de vida do protagonista, mas também no nível de estresse do mesmo e ainda, há outras coisas que pra mim são inéditas.

Você tem que ficar de olho no nível de fome do protagonista, e também no nível de sede. E quando você come certo tipo de comida, isto pode aumentar a sede, então sempre que for dar algum tipo de comida, é bom ter também uma garrafa de suco. Agora uma coisa bastante inusitada, que eu nunca tinha visto antes, é que você tem que gerenciar a necessidade de ir ao banheiro, e há bastantes banheiros espalhados pela cidade.

Conclusão

Disaster Report 4: Summer Memories é um jogo interessante. Para escrever este ponto, tenho que tomar muito cuidado. Vocês perceberam que praticamente não toquei no enredo do jogo, pois este é o filé mignon do título. Mas há algo que eu tenho que comentar: Neste títulos, parece que há dois jogos no mesmo pacote. O primeiro, é a parte em que você está no epicentro do terremoto, prédios desabam a qualquer momento, incêndios podem lhe atingir, e você deve sobreviver a qualquer custo. Nesta parte do título, há uma certa urgência de sobrevivência e é eletrizante saber o que irá acontecer em seguida.

Porém, a partir de certo ponto, eu diria que, da metade para o fim do título, quando você está passando pelas conseqüências do terremoto e vendo como as pessoas estão lidando com tudo o que está acontecendo, você é posto em diversas situações que eu, enquanto jogava, não poderia me importar menos. Inclusive, no início do jogo, eu defini o meu protagonista como alguém que “não se importa”, “que quer explorar e se aventurar enquanto tenta sobreviver” e que “só quer voltar pra casa”. Entretanto, eu fui obrigado a passar por situações, às vezes até um tanto irritantes. Eu não tinha a opção de simplesmente ignorar porque os eventos seguintes só se desencadeariam se eu seguisse o curso traçado.

Ficou parecendo que da metade para o fim, o roteiro mais enrolava para aumentar a duração do título do que investia em “o que acontece quando você é pego no meio de um grande terremoto que destrói toda a cidade”.

Dito tudo isto, o jogo tem uma demo na eShop, e eu recomendo antes de mais nada, que jogue a demo para ver se os problemas técnicos não serão o suficiente para impedir que você prossiga. Caso não seja, e você não se importe tanto com isto, eu recomendaria Disaster Report: Summer Memories nas seguintes condições: se você é fã de jogos e filmes de desastre natural, se você já conhece a série e quer jogar a continuação, ou se você procura algo diferente para jogar.

* Jogo avaliado com código cedido pela NIS America

Avaliação: 5,5

Significado das notas de 1 a 10

1 – Melhor vomitar do que jogar isso
3 – Vai fazer outra coisa.
5 – Só jogue se você for MUITO fã mesmo…
6 – Jogo legal pra se divertir e se distrair.
8 – jogo bom, vale bem seu tempo e dinheiro!
9 – Jogo excelente que vai deixar uma marca em você!
10 – Jogo obrigatório!