
Desenvolvedora: BattleBrew Productions
Publicadora: XSEED Games
Gênero: Simulação, Dungeon Crawler Roguelike
Data de Lançamento: 27 de janeiro, 2025
Prévia feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela XSEED Games.
Revisão: Marcos Vinícius
Em Cuisineer, desenvolvido pela BattleBrew Productions, você assume o papel de Pom, uma jovem herdeira do restaurante “Palácio da Batata”. Mas, como tudo na vida de um millennial dentro de um simulador de capitalismo tardio, as coisas não são tão simples.
Seus pais decidiram vender tudo — até os móveis do restaurante — para financiar uma viagem ao redor do mundo antes de aposentarem. Agora, Pom não só precisa reconstruir o negócio do zero, como também lidar com dívidas que não foram dela para começar.
Entre Monstros e Panelas
A jogabilidade de Cuisineer combina de forma engenhosa o dinamismo de um dungeon crawler roguelike com a complexidade de um simulador de negócios. Você não apenas administra pratos, suprimentos e o atendimento aos moradores da vila, mas também se aventura por calabouços cheios de monstros – que, curiosamente, podem se transformar em ingredientes para as suas receitas. Esse ciclo de “lutar para cozinhar e cozinhar para lutar” é o coração do jogo, onde cada escolha na cozinha reflete diretamente no sucesso das suas incursões.
Embora o conceito de coletar materiais em masmorras para criar itens e cumprir missões não seja exatamente uma novidade – com exemplos de sucesso como Atelier, Rune Factory, Harvestella e até títulos menores e mais recentes como Fae Farm e Coral Island – Cuisineer traz um diferencial ao incorporar um combate de ação frenético no estilo de Hades. O jogo não apenas adota esse formato, mas o executa com competência, especialmente no que diz respeito ao desafio apresentado nas masmorras.

Os calabouços do jogo oferecem uma dificuldade equilibrada, com inimigos básicos aparecendo em grande número, permitindo que você colete materiais com certa facilidade. No entanto, o verdadeiro teste de habilidade vem com os inimigos mais fortes e raros, que aparecem em grupos acompanhados de hordas adicionais.
Esses encontros exigem que o jogador estude o padrão de ataque dos adversários e utilize essa compreensão para derrotá-los de forma eficiente. Esse aspecto torna os combates envolventes e gratificantes, adicionando uma camada de “metagame” interessante: a lógica estratégica necessária para lidar com os inimigos nas masmorras reflete diretamente na forma como você planeja e gerencia o restaurante. Essa conexão inteligente reforça o vínculo entre a exploração dos calabouços e a administração do negócio, criando uma experiência tematicamente coesa.
Interações que “Alimentam” o Jogo
A ambientação e os personagens de Cuisineer transbordam charme e personalidade. Com um adorável toque furry, os moradores da vila, clientes e NPCs são representados por carismáticos animais antropomórficos que enriquecem o mundo do jogo. Cada um deles tem uma identidade própria, com missões, preferências gastronômicas e histórias únicas. Entre os destaques estão os amigos de infância de Pom, os comerciantes locais, os nobres da cidade e os sábios anciões.
Interagir com esses personagens aprofunda a narrativa e recompensa o jogador com novas receitas que ampliam o repertório culinário do jogador. Mais do que rostos simpáticos, os conterrâneos de Pom se destacam por seus comportamentos únicos no restaurante. Crianças, por exemplo, fazem pedidos rapidamente e depois correm e brincam pelo salão antes de irem embora. Nobres, por sua vez, têm demandas mais pomposas, esperando ser pessoalmente atendidos para se sentirem devidamente valorizados. Já os anciões são extremamente exigentes, frequentemente solicitando pratos que dependem de ingredientes raros e difíceis de obter.

Essas nuances não apenas dão vida à vila e ao restaurante, mas também tornam cada interação uma peça fundamental na experiência de Cuisineer, conectando o gerenciamento do restaurante com o desenvolvimento dos relacionamentos na comunidade.
As vezes o sabor azeda
No entanto, nem tudo é tão saboroso na gestão do “Palácio da Batata”. Um dos principais pontos passíveis de crítica está relacionado às frequentes telas de carregamento. Apesar de os loads serem relativamente rápidos, sua abundância pode frustrar. A transição entre áreas que, no papel, são praticamente adjacentes – como subir as escadas do restaurante para o quarto de Pom – acaba sendo interrompida por uma tela de carregamento. Esse excesso de interrupções, embora tecnicamente bem executado, quebra o ritmo da jogatina e pode ser especialmente incômodo para jogadores que preferem uma navegação mais fluida e imersiva.
Outro ponto que merece atenção está no texto de Cuisineer, que, apesar de charmosa e envolvente, apresenta problemáticas em alguns aspectos. Um exemplo notável surge nas primeiras horas de jogo, quando o único personagem de pele escura na vila é apresentado como um misterioso vendedor de temperos. Embora o design do personagem pareça buscar um ar de mistério e exotismo, ele acaba recaindo em estereótipos problemáticos que associam pessoas racializadas a figuras místicas ou sexualizadas. Essa representação, ainda que provavelmente não intencional, destoa do tom acolhedor e diversificado que o jogo parece buscar em outros momentos.

Embora esses pontos não comprometam o coração da experiência de Cuisineer, que reside no seu brilhante ciclo de jogabilidade e na atmosfera charmosa, são aspectos que merecem atenção. Pequenas melhorias na fluidez técnica e na representação narrativa poderiam elevar o jogo.
Um Calabouço Saboroso ?
Cuisineer é uma aventura divertida e única que combina ação intensa com gestão bem-humorada. Apesar de tropeços pontuais, especialmente na representação de certos personagens e nos frequentes loads, a criatividade e o coração do jogo se destacam. Se você procura um roguelike que tempera batalhas com um toque de humor culinário, ao que tudo indica, este jogo é uma pedida certeira.
- Review | Date Everything! - 12/06/2025
- Review | Pipistrello and the Cursed Yoyo - 28/05/2025
- Review | Kemono Heroes - 27/03/2025