Desenvolvedora: Otomate
Publicadora: Idea Factory International
Gênero: Otome Game
Data de lançamento: 8 de abril de 2025
Preço: R$ 293,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Idea Factory International.
Revisão: Paulo Cézar
Quando se perde tudo, é quando nos abrimos para as maiores mudanças, sejam elas forçadas ou não. Não são todos que aguentam o peso de ter sua vida virada de cabeça para baixo de forma tão drástica, ainda mais quando essa mudança vem acompanhada de uma responsabilidade ainda maior do que os seus problemas pessoas.
É em um cenário parecido que acompanhamos Lan em Battlefield Waltz, o mais novo Otome Game localizado pela Idea Factory International, maid de uma década após o seu lançamento original no PS Vita que acabou não sendo lançado no Ocidente até o momento.
Tensão politica em Ortesia

Battlefield Watz se passa no continente ficticio de Ortesia, uma terra dividida no meio por um cinturão de montanhas, onde cada uma das regiões Leste e Oeste desenvolveram-se independentemente uma da outra. Enquanto todo o Leste é governado sob a bandeira do império de Romua, o oeste é dividido em pequenos países, mas que dentre todos eles destacam-se Azul, Milveria e Daigroth respectivamente. Apesar de cada um dos países do Oeste possuir seus costumes e crenças levemente diferentes, as três bandeiras se unem para formar o Nirvana — onde a maior parte da história se passa.

Nirvana nada mais é do que uma academia militar formada pelo Oeste com o intuito de não só intimidar nações menores que ameaçam a soberania das três maiores, mas como também, proteger toda a região de possíveis ataques do Leste, que apesar de possuírem um acordo de paz assinado por ambas as partes, nunca deixou de haver um certo estranhamento entre as duas metades do continente. Enquanto o Oeste é conhecido por possuir os mais diversos tipos de riquezas, descobrimos logo cedo que o Leste sofre bastante com a escassez de recursos, e que por conta disso, uma possível invasão do império de Romua torna-se cada dia mais próxima da realidade.
É nesse cenário caótico que somos apresentados a protagonista, Lan. que logo no prólogo da história tem a sua vila massacrada em um ataque, o que a fez perder seu pai além de todos de sua terra natal, com exceção de sua mãe e irmã mais nova. Enquanto lutava para defender o pouco que ainda lhe restava naquela situação, Lan acaba misteriosamente despertando uma espada amaldiçoada, que com seu poder acaba salvando a sua vida e de sua família.

Após o ocorrido, Lan é praticamente forçada a frequentar o Nirvana, onde supostamente estaria em segurança além de supervisionada pela força militar do Oeste, até que seja capaz de dominar os poderes da espada que agora habita dentro de si, casualmente tomando a forma de um garotinho rebelde chamado Wilhelm que convenientemente é dublado pela Yuichi Nakamura, a mesma dubladora do Naruto — voz que coube no personagem como uma luva.
Desta forma, acompanhamos Lan aprendendo aos poucos a lidar com a sua nova vida que havia mudado de uma hora para outra em um piscar de olhos, sendo forçada a viver em uma realidade completamente diferente da de uma garota do campo comum enquanto faz amizades e inimizades com o mais diverso tipo de pessoas que frequentam a academia militar.
O amor pode florescer no campo de batalha
Battlefield Waltz é um jogo um tanto quanto longo, com seus 5 capítulos de rota comum e mais 5 cada os interesses amorosos. Cada capítulo entrega bastante informação sobre o mundo e como é a vida escolar no Nirvana, além de dar umas pinceladas aqui e ali do que cada um dos possíveis amores de Lan terá que lidar em sua rota. A rota comum é possivelmente a parte mais arrastada do jogo, abrindo plot points que não dão em lugar nenhum.

A construção de mundo acaba sendo de longe o aspecto mais fraco de Battlefield Waltz, o jogo até tira um certo momento para apresentar cada uma das nações individualmente, mas também acaba não aprofundando muito nisso, assim como a grande ameaça também não é muito bem elaborada. Apesar disso, o jogo faz um bom trabalho estabelecendo a relação entre o grupinho de amigos que acaba se formando ali em volta da protagonista
Talvez o maior ponto positivo de Battlefield Waltz seja o elenco de personagens, não só os personagens romanceáveis por si só mas também os personagens secundários, que acabam sendo tão e as vezes até mais interessantes que os interesses amorosos. O jogo também acerta muito no desenvolvimento dos personagens como um grupo de amigos, a rota comum é recheada de encontros em grupo, onde Lan divide a atenção de 2 ou 3 personagens ao mesmo tempo, construindo não só uma dinâmica interessante entre Lan e os personagens mas também de todos eles entre si. Ao final do capítulo 5, já havia comprado 100% a ideia de que aquele era um grupo de pessoas que se gostavam bastante e tinham um laço de amizade relativamente forte.

Battlefield Waltz apresenta um cenário politico um tanto caótico, pronto para ser desenvolvido em uma boa história cheia de batalhas e reviravoltas. No entanto, não é bem o que acaba acontecendo no jogo de fato, na realidade acabamos passando mais tempo “brincando de escolinha” que muitas vezes acabamos até esquecendo que de fato uma tensão politica e uma guerra eminente está prestes a acontecer. Apesar de o jogo dizer que muita coisa está em jogo, e que as consequências das ações da protagonista possuem um alto risco, mas não é o que acaba transparecendo de fato — o que faz com que qualquer diálogo minimamente expositivo pareça uma grande perda de tempo.
No fim das contas, o cenário de fantasia medieval nada mais é do que uma estética. Tanto o mundo, como a magia, as guerras, o Nirvana, tudo isso não acrescentam em praticamente nada para o que o jogo se dispõe a contar de fato com esses personagens, especialmente considerando que o jogo muitas vezes perde tempo pra situar o jogador de todo o conflito politico ali presente. Em muitos momentos me vi pensando no que essa guerra trás de ruim pra vida desses personagens? por que eles deveriam se importar com isso? e por que o jogo está perdendo tempo me contando tudo isso se não vai ser usado para nada no fim das contas? Talvez Battlefield Waltz fosse um jogo bem melhor se soubesse no que focar.
Os candidatos à valsa

Abel é um guerreiro solitário, possivelmente o estudante mais forte dentre todos no Nirvana. Com sua habilidade implacável em combate, Abel consegue bater de frente até mesmo com os seus professores, sua dedicação reflete muito em sua personalidade, levando todos os seus deveres, treinos e estudos extremamente a sério, por conta disso, acaba não sendo muito bom com interações sociais e muitas vezes aparenta ser muito sério. No entanto, Abel tem um grande coração, que transparece vez ou outra em forma de algum ato de gentileza que mostra o quanto ele se importa com seus amigos e que apesar da grossa camada de frieza, é uma pessoa gentil.

Lustin é um garoto de espirito livre, possivelmente por vir de uma linhagem real que lhe permite fazer o que quiser praticamente sem consequência. Lustin possui hábitos noturnos um tanto quanto estranhos, pode parecer que o garoto gosta de vadiar por ai, dando em cima de qualquer garota que vê pela frente, mas tem algo sobre esse aspecto de sua vida que ainda é um grande mistério. Apesar de parecer desleixado, as habilidades física de Lustin rivalizam com os melhores do Nirvana, chegando até a bater de frente com Abel em alguns momentos.

Pash é o típico garoto que é um pouco obcecado demais com a sua masculinidade, tentando sempre parecer confiante e o mais forte a todo momento. Em determinados momentos, Pash demonstra uma insegurança no que diz respeito a relacionamentos com mulheres, dado o fato de que todas as mulheres que havia convivido em sua terra natal, Daigroth, eram mulheres guerreiras mais fortes do que ele. No fundo, Pash, é um jovem inseguro de si, e acaba sofrendo tanta pressão por parte de si mesmo quanto por seus instrutores.

Nike é um garoto gentil e tímido. Apesar de não ter gosto algum pela luta, o rapaz é bastante habilidoso e dedicado a área médica, onde atua com bastante entusiasmo e paixão, por conta disso, acaba sofrendo preconceito dos demais, visto que em uma academia tão militarizada quanto o Nirvana, as habilidades militares de combate são o que é tipicamente mais valorizado.

Possivelmente o interesse amoroso mais bonito do elenco, Tifalet acaba atraindo naturalmente qualquer garota facilmente, o que acaba atraindo para si também alguns rivais como o próprio Lustin, que inveja fortemente a forma com que Tifalet consegue conquistar qualquer uma sem nem se esforçar. Tifalet é um dos personagens mais interessantes de se conversar, nem sempre é óbvio o que se passa na cabeça dele então descobrir a sua história e o que faz chegar até certas conclusões é sempre envolvente.

É difícil falar sobre Wilhelm sem entregar muito a história, visto que a rota dele só fica disponível bem no final e pede um entendimento geral de tudo que acontece no jogo. Dentre todos os personagens, Wilhelm é o mais misterioso de todos, sua origem é desconhecida, juntamente com as circunstâncias do seu aparecimento repentino.
Sistemas
No inicio Battlefield Waltz limita o jogador a escolher somente entre 3 rotas, sendo estas a de Pasch, Lustin e Abel — isso acabou me frustrando um pouco pois tinha pouquíssimo interesse em qualquer um desses três personagens enquanto tinha caído completamente nos encantos de Nike, Tifalet e Asaka (que nem se quer tem romance). Ao finalizar uma das rotas, outra vai ser desbloqueada, fora a rota secreta só fica disponível após a conclusão de todos as demais rotas.

O jogo também possui o famoso love catch, que indica se aquela determinada opção de diálogo aumentou o nível de afeição que o interesse amoroso tem pela protagonista. Em Battlefield Waltz, a notificação de love catch é representado por uma flor neon, que desabrocha a cada vez que a opção correta é selecionada. Além disso o nível de afeição também pode ser verificado no menu a qualquer momento. É de suma importância prestar atenção nesse menu, pois é isso que vai ditar qual rota vai ser desbloqueada.
Apesar de tudo isso, Battlefield Waltz foi um tanto frustrante para mim em alguns aspectos relacionados a sua progressão, além do fato de que a rota que eu mais queria fazer estava bloqueada. Em alguns momentos do jogo, o jogador pode se dar de cara com um bad ending, especialmente nos capítulos 4 e 5 que marcam o final da rota comum. Talvez tudo isso tenha sido apenas um caso grave de “skill issue” da minha parte, mas acabei tendo uma experiência um pouco negativa com a progressão do jogo.
Na minha primeira vez jogando, queria muito pegar a rota do Abel, então acabei repetindo a rota comum pelo menos umas 3 vezes até conseguir progredir para o capítulo 6 com o dito cujo, o problema está no fato de que o jogo não deixa muito claro o que precisa ser feito para não acabar pegando o final ruim de surpresa, o que me fez acabar desbloqueando todas as opções de diálogo com todos os personagens na esperança de conseguir progredir e ainda assim, sem sucesso.

Foi então que eu me rendi e acabei usando o “Chronicle Mode” do jogo que permite com que o jogador escolha qualquer ponto do jogo e desbloqueie cenas que ainda não viu anteriormente, então selecionei um momento perto do final do capítulo 5, desabilitei a opção de acionar o bad ending e ativei a opção de ter o máximo possível de afeição do Abel até aquele momento.
Battlefield Waltz possui todos os sistemas básicos de visual novel, como avançar diálogos automaticamente, ver histórico de falas, pular cenas e retroceder. Porém, Battlefield Waltz vai um pouco mais além do que o convencional nesse sentido. O jogo possui um flow chart bem detalhado, que mostra cada ponto em que a narrativa se bifurca, além de quais diálogos e CGs forma desbloqueados em cada cena jogada.
O sistema de Chronicle é ótimo e o flow chart é muito interessante, principalmente para aqueles que gostam de ver 100% do jogo, desbloqueando todas as rotas, diálogos e CGS. A parte ruim disso tudo é que jogo acabar por não deixar muito claro o que precisa ser feito para avançar organicamente, sem que seja necessário um sistema a parte.
O Chronicle Mode também acaba sendo extremamente útil considerando que o jogo também apresenta a loja secreta do Xiaolei, onde o jogador utiliza uma moeda que é desbloqueada quando se completa uma rota para comprar os mais variados tipos de extras, como artes, audios dos personagens e até mesmo esboços e artes conceituais.

A caminho do Nirvana
Construção de mundo é algo realmente sensível e se não for tratado com o devido cuidado acaba arruinando uma história inteira. A partir do momento que qualquer história se dispõe a apresentar um mundo minimamente complexo, sendo muito maior do que aquele pequeno espaço em que toda a narrativa se passa, a escrita deve acompanhar a grandiosidade nesse mundo, caso contrário o ritmo inteiro da história acaba sendo comprometido e o final se torna frustrante por não ser recompensador o suficiente.

Por conta disso, Battlefield Waltz acaba caindo no clichê de uma história de fantasia medieval genérica, que eu só consigo recomendar pra quem tem um certo nível de paciência para acompanhar esses personagens que salvam o jogo em um cenário maçante e pouco inspirado.
Pros:
- Ótimos elenco de personagens;
- Chronicle mode extremamente útil e interessante;
- Personagens secundários tão interessantes quanto os interesses amorosos.
Contras:
- O jogo parece não saber bem no que focar;
- Muitas rotas bloqueadas;
- Mundo muito mal desenvolvido;
- Ritmo maçante.
Nota
7
