Desenvolvedora: DOKIDOKI GROOVE WORKS
Publicadora: Square Enix
Gênero: RPG
Data de lançamento: 4 de dezembro, 2025
Preço: R$ 284,90
Formato: Físico/Digital
Plataformas: Nintendo Switch 2, Nintendo Switch, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Desenvolvedora:
Publicadora:
Lançamento:
Preço:
Formato:
Gênero:
Plataformas:
DOKIDOKI GROOVE WORKS
Square Enix
4 de dezembro, 2025
R$ 284,99
Físico/Digital
RPG
Nintendo Switch 2, Nintendo Switch, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Square Enix.
Revisão: Manuela Feitosa
Em um anúncio surpresa na Nintendo Direct de julho de 2025 a Square Enix anunciou o mais novo lançamento da franquia OCTOPATH TRAVELER, porém, ao invés de uma entrada completamente nova, vimos uma adaptação para consoles de Octopath Traveler: Champions of the Continent, a entrada mobile gacha da franquia, prometendo adaptar o título de maneira que o jogo funcione de maneira offline e sem microtransações.
Familiar, mas único
Octopath Traveler 0 se passa no continente de Orsterra, a mesma terra do primeiro título e algumas décadas antes da trama principal deste jogo. Apesar de algumas referências diretas, revisitarmos locais do primeiro jogo, e até mesmo ter aparições de certos personagens, a trama de Octopath Traveler 0 pode ser considerada totalmente independente, continuando a tendência da franquia de manter as experiências únicas, sem precisar jogar outros títulos para entender o que está acontecendo no mundo e com os personagens.

Pela primeira vez na linha principal de jogos da franquia é abandonada a premissa de 8 protagonistas simultâneos em uma história sutilmente interconectada. Desta vez criamos nosso personagem principal, e vemos toda a história girar em volta do protagonista, onde depois de ter sua vila natal, Wishvale, atacada, entra em uma série de missões em busca de reconstruir seu vilarejo, se vingar dos responsáveis, e coletar os anéis divinos pelo continente, artefatos que dão extremo poder para quem os possui.
Apesar de termos apenas um único personagem principal, a progressão continua similar aos títulos antigos da franquia, onde temos diversas linhas de missões principais para realizar ao mesmo tempo, decidindo qual queremos explorar primeiro, e em que ordem fazer os próximos capítulos. Porém, desta vez, ao invés dos capítulos focarem em diferentes protagonistas, eles focam nos antagonistas, que certamente são o destaque na narrativa de Octopath Traveler 0, trazendo vilões extremamente detestáveis, porém, que ainda são divertidos de acompanhar, e mostrando muito bem o efeito que eles estão causando para a população e indivíduos locais, sempre aumentando nossa ânsia de finalmente podermos trazê-los à derrota.

Como já citado, além de lidar com os vilões da trama e coletar os anéis divinos, outra grande parte da narrativa de Octpath Traveler 0 é reconstruir Wishvale em sua própria linha de missões principais, onde buscamos por outros residentes da vila que se perderam por Orsterra e coleamos recursos para construir prédios, lojas, e decorações pela cidade.
E admito que de início, achava que a construção do vilarejo seria apenas um resquício do jogo mobile, se tornando uma parte da experiência que não encaixaria com a adaptação para um jogo de console. No entanto, retornar para Wishvale sempre que recrutamos novos habitantes ou quando nos tornamos capazes de construir uma nova instalação tem se tornado um ótimo alívio entre os momentos mais sérios da trama principal, e logo percebi que Wishvale se tornou para mim exatamente o que a vila significa para o personagem principal: uma casa que quero ver crescer cada vez mais, onde posso ir para relaxar e conversar com outros personagens de uma maneira mais relaxada.
Outro ponto importante a destacar que foi mudado na adaptação de CotC, é justamente como ele deixou de ser um gacha. Além de personagens que se juntam a nós por meio de quests principais. Nós temos também os personagens opcionais, que antes precisavam ser invocados por sorte, mas agora estão espalhados pelo continente, e ao encontrarmos com eles fazemos uma rápida quest que os apresenta rapidamente, e então os convidamos para que se juntem a nossa party, que dessa vez pode conter até 8 personagens simultaneamente.
De certa forma essa adaptação me lembra muito do que aconteceu em Xenoblade Chronicles 2, onde no segundo jogo tínhamos diversas Blades atreladas às invocações aleatórias, enquanto no Xenoblade Chronicles 3 os Heroes também são recrutados por meio de side quests nas colônias que residiam.

É claro que devido à natureza de serem personagens opcionais, a maioria dos novos personagens jogáveis em Octopath Traveler 0 não tem uma personalidade tão desenvolvida quanto nos outros títulos numerados. Nem mesmo comparado aos personagens que fazem parte das missões principais, se destacando mais apenas nos banters opcionais em tavernas e nas suas poucas side quests durante a aventura.
Seu apego com eles vai estar muito mais atrelado à como eles vão se encaixar nas suas estratégias de combate do que em suas personalidades. Porém, também vale citar que Octopath Traveler 0 tem um mundo bem grande, e como os personagens ficam em locais fixos agora, pode ser que demore um bom tempo até que encontre um membro para sua equipe que contribua de forma efetiva para as builds que queira montar.
O jogo apresenta uma história surpreendentemente emocionante e trágica em volta de seus capítulos, cheias de reviravoltas em cada canto, e que às vezes me surpreendem com o quanto podem entrar em uma área mais sombria, envolvendo assuntos como escravidão, drogas e manipulação emocional. Você se apega aos personagens e suas histórias muito rapidamente, e começa a odiar os vilões ainda mais rápido, e em especial na linha da reconstrução de Wishvale, direto passamos por momentos de dar nó na garganta devido a natureza mais emotiva e trágica dessa história.

Acredito que Octopath Traveler 0 possa ser o melhor exemplo para quem não gosta da maneira de contar histórias da franquia principal, com o protagonismo compartilhado entre diversos personagens que interagem muito pouco. Aqui, temos uma história que gira em torno de um só personagem, que apesar de ser um avatar mudo, ainda tem uma boa backstory com toda a narrativa girando em volta dele e os personagens que ele encontra pela jornada.
Maior e menos customizável
E agora, entrando mais na parte da gameplay do jogo, Octopath Traveler 0, apesar de ser bem familiar para quem já jogou alguma das outras entradas principais da franquia, traz algumas grandes diferenças na fórmula.
Temos a tradicional fórmula Break & Boost, onde a cada turno recebemos um BP para aumentar a quantidade de ataques ou de dano que realizamos no turno, e temos que explorar as fraquezas dos inimigos, usando-as repetidas vezes até que eles quebrem e fiquem vulneráveis por um turno a grandes quantidades de danos com defesa reduzida. Como sempre, essa fórmula é extremamente prazerosa, sendo sempre divertido descobrir as fraquezas dos oponentes e ver os grandes números de dano quando o inimigo finalmente fica vulnerável.

Uma grande mudança, porém, é o número de participantes dos combates que foram de 4 para 8 membros simultâneos em uma luta. Trabalhamos aqui com 2 fileiras de combatentes, os da frente e os de trás. Os personagens que estão na frente são os que ficam vulneráveis a ataques nos turnos dos inimigos, porém no turno deles, podem sem nenhuma consequência trocar de lugar com o personagem que está na mesma posição que ele na fileira traseira, sendo um bom momento de retirada quando estão em situação de risco sem uma boa oportunidade para curar.
E pelo menos nesse início do jogo, a maior quantidade de personagens na party quebra um pouco do desafio que Octopath Traveler costuma trazer ao jogador, já que por termos muitos personagens ganhando BP ao mesmo tempo, é relativamente mais rápido quebrar seus escudos, mesmo que eles tenham mais escudos agora para compensar, e ainda ter energia suficiente para causar grande dano imediatamente. Os inimigos também atacam mais forte do que nos jogos passados, mas podendo alternar rapidamente entre os personagens das duas fileiras. Foram raros os momentos até então que realmente me senti penando em algumas das lutas, mesmo quando estava abaixo do nível recomendado.

Outra grande mudança de jogos passados, e um resquício da natureza gacha de CotC, é que desta vez os personagens são bem menos customizáveis. Desta vez não temos personagens podendo aderir a duas classes simultaneamente, sendo designados apenas aos seus jobs iniciais e sua seleção de skills pré-determinadas.
A exceção da regra é o protagonista, que apesar de ainda só poder ter uma classe por vez, pode alternar entre elas com o decorrer do jogo para ir liberando mais ataques e habilidades passivas para customizar ao gosto do jogador. E apesar de ainda haver algumas customizações para os personagens individuais como o equipamento de habilidades extras que podem ser encontradas durante a jogatina abrindo baús, apendendo com NPCs ou ao derrotar chefes, é necessária uma quantidade bem alta de JP (Job points) para liberar mais espaços para equipar estas habilidades extras, precisando abusar um pouco das instalações que fornecem JP quando desbloqueadas para não acabar caindo no grinding.
À primeira vista, o alto custo para evoluir personagens, ter uma party bem grande, e eles serem menos customizáveis que nos jogos anteriores torna Octopath Traveler 0 um jogo que não incentiva tanto a experimentação de builds como em Octopath Traveler 1 e 2, quando encontramos uma composição de time satisfatória podemos ficar sem mudar nada por um tempo bem confortável e continuar progredindo pela história e pelo mundo sem grandes dificuldades. Mas para os jogadores que tiverem a paciência de esperar para encontrar, e treinar os personagens que melhor encaixam com sua maneira de jogar, ainda há aqui um sistema bem maleável e divertido.
Revisitando Orsterra
Por último, vamos falar um pouco de Orsterra. Como supracitado, Octopath Traveler 0 se passa no mesmo continente do Octopath Traveler original, portanto, quem já jogou este título vai estar bem familiarizado com vários dos locais que visitaremos durante a jornada. Não que não haja novidades, pelo jogo se passar algumas décadas no passado, algumas cidades estão bem diferentes do jogo original, e visitamos alguns locais que são totalmente inéditos para o jogador.

Octopath Traveler 0 continua com a natureza aberta dos jogos anteriores. Podemos ir a qualquer canto do mapa a qualquer momento —desde que não sejam calabouços relacionados à alguma história futura—, embora ainda haja rotas de níveis bem mais altos que o nosso tentando nos impedir.
Porém, considerando que desta vez a história é um pouco mais “linear” que os títulos anteriores, liberando suas missões principais em uma ordem específica ao invés de já termos todas logo de cara, apesar de ainda ser divertido termos esta liberdade toda na exploração, não usufruímos dela tanto quanto antes. Antes tínhamos motivos para começar norte do mapa e ir ao extremo sul para encontrar um personagem específico ou fazer o próximo capítulo que você quer ver, agora ficamos mais concentrados em certos locais até o jogo liberar a missão para nos incentivar a ir a uma área nova.

E dentro das cidades temos incontáveis NPCs com os quais podemos interagir utilizando dos Patch Actions, podemos questionar os personagens para aprender mais sobre suas histórias, adquirir itens deles, recrutá-los parra prestar assistência em batalhas ou até convidá-los para morar em Wishvale. Só que dessa vez as interações disponíveis não dependem dos personagens que utilizamos e sim do NPC em si, determinando se ele é alguém que só renuncia a seus itens por dinheiro ou através de um combate, por exemplo.
E assim como nos jogos passados, se falharmos em excesso tentando realizar estas ações, nossa reputação na cidade é prejudicada, tendo que pagar à taverna local para restaurar nosso nome. Os Path Actions, conforme nos jogos passados, dão muita personalidade ao mundo, pois sentimos que todos NPCs tem uma história e personalidade, suas porcentagens de sucesso falam o quanto são flexíveis ou atentos, e os itens que eles carregam costumam dizer algo sobre eles, desde uma criança levando um brinquedo, ou até um homem suspeito que anda com uma garrafa de veneno e uma erva de antídoto ao mesmo tempo.
Uma nova mecânica presente em Octopath Traveler 0 é que agora temos certos valores atrelados a nosso nome, Riquezas, Poder e Fama. Estes valores são aumentados conforme progredimos nas histórias, construímos Wishvale, fazemos side quests, ou se recrutamos NPCs ligados a estes valores.
Os valores geralmente estão atrelados às porcentagens de sucesso ao realizar Path Actions, por exemplo, se somos uma pessoa de maior fama, há mais chance que habitantes da cidade irão ceder certos itens para nós. É um conceito interessante atribuir às ações a esses valores, pois faz todo sentido dentro do 9universo, mas ao mesmo tempo não sinto que é algo tão bem desenvolvido quanto poderia, fazendo sentir mais que são só mais “barras extras” de experiência do que realmente como o nosso protagonista é visto no mundo.
Continua lindo de ver e ouvir
E por último, preciso falar um pouco da apresentação de Octopath Traveler 0. Não é segredo o quanto eu sou fã do estilo HD-2D que a Team Asano adotou para a franquia, sendo uma ótima modernização da pixel art que víamos da empresa na época do SNES e PS1, e apesar de vê-lo também sendo muito bem utilizado fora da série em jogos como Triangle Strategy e os remakes de Dragon Quest I & II e Dragon Quest III, eu ainda acredito que Octopath Traveler é onde esse estilo mais brilha.
A maneira que os efeitos, a iluminação e a câmera atuam com os sprites e os modelos 3D cria uma linda apresentação que remete aos famosos “Pop-up Books”, tanto que a edição de colecionador do primeiro jogo era realmente um livro desses apresentando um cenário de cada personagem.

É lindo e prazeroso admirar este jogo, mesmo na versão de Switch 1 que conta com uma resolução que sinceramente considero abaixo do esperado, ainda é fácil de apreciar o trabalho entregue aqui. E não só visualmente, mas sonoramente o jogo também é uma obra de arte, embora algumas pessoas possam ter um certo criticismo com a trilha sonora, já que ela é quase inteiramente reciclada do primeiro jogo.
O Octopath Traveler original tem a minha trilha sonora favorita de qualquer jogo, então poder ouvir novamente as músicas dele em um jogo novo está longe de ser um problema para mim, já que faz acertar uma nostalgia muito forte, até reforçando que estou explorando o mesmo continente que já conheci antes.
Toda a trilha é emocionante e marcante, e junto com a apresentação visual impecável, e o trabalho de dublagem que é muito bem executado, cria uma imersão que poucos jogos conseguem me proporcionar de maneira parecida. Ainda há trilhas novas também, é claro, principalmente atreladas aos novos antagonistas e temas de batalha únicos, e todas elas estão no mesmo nível de qualidade da trilha sonora original.
Mas apesar de eu estar totalmente tranquilo com a decisão, não tiro o direito de crítica de quem achar problemático a reciclagem de quase toda a OST do jogo original, sem nem mesmo terem sido feito rearranjos para os temas.
Uma adaptação necessária

Octopath Traveler 0 é uma excelente adaptação do jogo mobile da franquia para consoles de mesa. É um jogo que mesmo tendo bastante aspectos da gameplay e do jeito de contar a história sendo diferentes, ainda consegue se apresentar como parte da série de uma maneira familiar.
Com uma história cheia de reviravoltas e antagonistas marcantes, um sistema de combate que continua superdivertido e um mundo que é lindo, essa conversão só me faz refletir como diversas experiências excelentes estão “presas” em jogos mobile e definitivamente mereceriam um tratamento parecido com o que CotC teve, abolindo qualquer tática predatória para criar uma experiência completa do início ao fim.
Prós:
- Sistema de combate continua satisfatório;
- Apresentação visual e músicas excelentes;
- Construção da cidade simples e divertida;
- Antagonistas marcantes.
Contras:
- Menor nível de customização no combate;
- Demora para desbloquear novos personagens e habilidades;
- Trilha sonora em sua maior parte é reciclada do primeiro jogo.
Nota
9
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