
Desenvolvedora: Sonnori
Publicadora: PQube
Data de lançamento: 09 de Setembro, 2022
Preço: R$ 145,99
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela PQube.
Revisão: Marcos Vinícius
Na indústria dos jogos, demonstra-se interessante observar ao decorrer das décadas como, e quais, tendências se formam. Apesar de algumas destas mostram-se meramente passageiras, outras tornam-se uma espécie nicho por si mesmo, algo que pode ser comprovado com a persistência de inúmeros remakes representando uma das maiores, se não a maior, tendências dos últimos anos.
Antes de tudo, não é difícil perceber o papel que os remasters, relançamentos e em especial os remakes tem em tornar mais acessíveis títulos que de outra forma muito provavelmente se tornariam vítimas de um natural esquecimento pelo tempo. Isso se demonstra mais notável em títulos que tiveram um sucesso moderado, ou que tiveram a maior parte de seu alcance restrito apenas a um pequeno nicho específico que é altamente passional acerca de seus gostos, dessa forma dando origem ao fenômeno que chamamos de clássicos cults.


White Day: A Labyrinth Named School é talvez um dos maiores clássicos cults dentro subgênero de survival horror. A versão de White Day presente no Nintendo Switch, na verdade, é a terceira geração do jogo coreano, que após sua versão original lançada exclusivamente para Windows em 2001, teve adaptações para plataformas mobile em 2009, sendo esta versão completamente 2D, e em 2015, sendo este o lançamento em que o port para plataformas modernas se baseou.
Afinal de contas, o que é o White Day?

White Day, ou literalmente Dia Branco, é um feriado oriental comemorado no dia 14 de março, exatamente um mês após o Dia dos Namorados. No “Dia Branco” é tradicional o ato de retribuir presentes dados no feriado anterior, como uma demonstração de gratitude a pessoa amada.
A história do jogo se correlaciona com a festividade quando o protagonista, Lee Hee-min, tenta entrar na noite da véspera do feriado em seu colégio para fazer uma surpresa a garota em que possui certo interesse romântico, Han So-young, e assim acaba ficado preso na instituição, dando início a trama do jogo. Um fato que não fica claro é se o protagonista já tinha alguma forma de relação com Han So-young, já que o feriado em tese existe como uma forma de retribuir o afeto de forma simbólica, neste caso através de algum presente.
Desde o primeiro momento que o controle total do jogo é dado ao jogador, qualquer visão depreciativa criada pela origem mobile do jogo é rapidamente esvaída. O jogo que é inteiramente apresentado em primeira pessoa, com breves exceções das cutscenes, apresenta visuais surpreendentemente concretos para um jogo com origem nos smarthphones, não só se equiparando com jogos da plataforma, como notavelmente superando muitos destes.

Os visuais do jogo passam longe de serem algo de última geração, mas dentro do propósito de ambientar um clima de hostilidade que catalisa a sensação de terror sentida pelo jogador estes demonstram-se extremamente eficientes. A percepção de terror do jogo começa de verdade quando o jogador se dá conta que em White Day não existe qualquer sistema de combate, implicando que a única possível reação a alguma ameaça é correr até encontrar algum possível esconderijo, ampliando a sensação de medo por tornar o jogador altamente indefeso contra qualquer ameaça que se faça presente.

A trama que é ocorre no ambiente escolar toma forma de algumas maneiras diferentes, mas em especial pela inexatidão das informações que são dadas ao jogador. Em momentos diferentes do jogo rumores acerca do passado do colégio, e sua papel durante a ocupação da Coreia por parte do Japão. Enquanto existem rumores de que o colégio serviu como um hospital durante o período, o jogador também fica ciente de boatos que o lugar na verdade era usado como um centro de tortura para para presos políticos contrários a ocupação japonesa na península.
Com isso os personagens do jogo fazem suposições acerca da ocorrência de fenômenos estranhos no ambiente escolar, os correlacionando com causas sobrenaturais, que seriam derivadas do passado sombrio sobre o qual o presente do colégio tentam se sobrepor.
O colégio como um labirinto

Após a imersão no universo do título, o jogador é apresentado a mecânicas de jogos de survival horror consideravelmente padrões. Dentro de White Day, a maior parte da progressão é feita através da exploração e dos frutos que esta proporciona, bilhetes, recados, rumores, literalmente qualquer pedaço de informação encontrado ou acrescenta na narrativa ou funciona como parte essencial na progressão do jogo, seja dando informação sobre a localização de uma chave ou conhecimento necessário para a resolução de um dos puzzles, os quais são na maioria das vezes intuitivos e bem pensados, os tornando mais atrativos ao jogador.
Toda essa progressão não ocorre sem o inquietante medo de ser encontrado por um dos faxineiros do colégio, que literalmente espanca o protagonista até a morte caso este não consiga se esconder ou fugir de um destes. Sob tal ameaça, o jogador sempre quando possível deve evitar atividades que chamem atenção, como abrir portas, acender luzes, correr e etc. Assim durante todo o período do jogo um clima de tensão e terror é construído, forçando o jogador pensar cuidadosamente em seu próximo passo, se colocando quase que inteiramente no lugar do protagonista, o que é extremamente benéfico para um jogo de terror.

As mecânicas do jogo no geral são simples, o que beneficia diretamente a imersão do jogador nos aspectos atmosféricos e narrativos do jogo, porém quando tais mecânicas são recrutadas, em especial os controles, estas podem deixar a desejar, por sua natureza desajeitada e inatural, mas nada que funcione em detrimento do pacote inteiro.
Audiovisualmente o jogo cumpre exatamente o papel que um remake deveria cumprir, compreender a visão artística de seu título de origem e tentar expandir ao seu potencial máximo com tecnologias mais atualizadas. Apesar de não ser nada comparável a um Triple A a parte estética de White Day durante toda sua trama foi coerente e aditiva ao objetivo narrativo que o jogo buscava realizar, o que sempre deveria ser o objetivo final de qualquer jogo.
Concluindo
O status de clássico cult de White Day: A Labyrinth Named School definitivamente não existe por acaso. O jogo traz com sigo uma trama única, recheada de elementos de culturas que apesar de extremamente ricas, raramente são aproveitadas em todo seu potencial no mundo dos jogos. Sua natureza como um jogo de 2001 continua evidente em seu level design levemente datado que apresenta em um número de idas e vindas um pouco maior do que eu chamaria de agradável.
Apesar disso, White Day ainda prova ser um ótimo jogo quando o assunto é terror, o que o torna uma experiência especialmente única dentro de um mercado saturado com jogos de terror com predominância de visuais fotorealistas, que muitas vezes ao invés de criar experiências únicas como o da trama coreana, tem por parte de suas equipes de desenvolvimento preferência na alocação de montantes absurdos de recursos na parte visual de deus jogos.
Com isso, tenho certo orgulho de dizer que sim, White Day: A Labyrinth Named School é uma experiência que vale a pena.
Prós:
- Narrativa única, que abrange elementos subexplorados na maioria das peças midiáticas na atualidade;
- Exploração do gênero de terror executada corretamente, ligando os elementos mecânicos, estéticos e narrativos com harmonia.
Contras:
- Controles e level design se mostram levemente datados em alguns momentos, podendo levar a alguma frustração momentânea.
Nota:
8