Em 31 de janeiro de 2001, a SEGA anunciava sua retirada do mercado de hardwares. A gigante japonesa decretou o fim da produção de novas unidades do Dreamcast, seu console de 128-bits, terminando assim uma era de altos e baixos no qual disputou o mercado dos consoles com a Nintendo.
Junto com a sua retirada da disputa, a empresa de Sonic passou a produzir software para suas antigas rivais. Apesar da forte presença nos consoles da Sony e Microsoft, a relação mais peculiar da Sega nos últimos anos tem sido com sua principal ex-adversária, a Nintendo. As duas companhias já colaboraram juntas em projetos como F-Zero GX para o GameCube e mais recentemente fazem parceria para a produção da série Mario & Sonic.
E foi justamente a SEGA que deu o primeiro passo para essa amizade florescer ainda no início dos anos 2000s. Com o fracasso do Dreamcast, a companhia decidiu reaproveitar alguns títulos do catálogo do seu finado console para servir de ponte de ligação com as suas antigas rivais. Em relação a Nintendo, o GameCube foi a principal casa desses relançamentos. Vamos relembrar os títulos que receberam uma nova versão na caixa roxa da empresa de Mario.
Sonic Adventure 2: Battle & Sonic Adventure DX: Director’s Cut – O ouriço azul chega com tudo – 20/12, 2001 JP / 12/02, 2002 NA (SA2B) 19/06, 2003 JP / 17/06, 2003 NA (SADX)
Quando o anúncio da retirada do mercado de hardware foi feito, Sonic Adventure 2, o game que marcaria o aniversário de 10 anos do ouriço azul, ainda estava em produção. Após seu lançamento, o Sonic Team recebeu a ordem de porta-lo imediatamente para o GameCube para recuperar um pouco do dinheiro investido no título, e assim, Sonic deu as caras no GameCube ainda em 2001, abrindo o caminho para que a Sega começasse uma parceria de sucesso com sua antiga rival.
Os dois jogos da saga Adventure do ouriço azul foram portados com novidades para o Cube e são, talvez, os mais conhecidos ports do Dreamcast no console. Enquanto Sonic Adventure 2 adiciona novos mapas no modo multiplayer, Sonic Adventure DX: Director ‘s Cut, muda completamente o visual do original, algo que não agradou os fãs veteranos, e adiciona todos os games 8-bits do ouriço azul como desbloqueáveis.
A aparição de Sonic no GameCube foi algo que pegou muitas pessoas de surpresa na época. Era quase impossível de imaginar o ouriço azul em consoles da Nintendo. Junto com o port de Sonic Adventure 2, Sonic também chegou ao Game Boy Advance com o primeiro game da trilogia Advance, que utilizava a conexão entre o console de mesa e portátil da Nintendo para transferir os chaos que podiam ser criados nos games.
O sucesso do ouriço azul no GameCube continuou por anos e serviu como um ponto principal para a parceria das duas companhias e o lançamento no futuro de títulos exclusivos para plataformas da Nintendo como os dois jogos da série Storybook. No console de 128-bits, Sonic Adventure 2: Battle ajudou o Sonic Team a se sentir confortável com a plataforma e portar outro título famoso do Dreamcast para a caixa roxa.
Crazy Taxi – Acelerando do Dreamcast até o GameCube – 15/11, 2001 NA / 30/05, 2002 JP
Crazy Taxi foi um divertido jogo de arcade desenvolvido pelo estúdio Hitmarker da SEGA em 1999. O game ganhou notoriedade ao ser lançado no Dreamcast em 2000 e foi um dos primeiros lançamentos da empresa no GameCube, abrindo o caminho para Sonic e companhia.
Em Crazy Taxi, os jogadores assumem o controle de um motorista de táxi e tem como objetivo juntar o máximo possível de dinheiro dentro de um limite de tempo. Com uma jogabilidade simples e muito rock and roll, o game foi um sucesso para a empresa, recebendo sequências e até sendo copiado por outras companhias.
O port de GameCube chegou após o lançamento de sua sequência e trouxe todas as adições da versão de Dreamcast. Infelizmente, algumas mudanças foram feitas no game, como a remoção de lojas licenciadas e os efeitos sonoros foram modificados pelos presentes em Crazy Taxi 2. Ainda assim, a versão de GameCube é considerada um bom port pelos fãs do game.
NBA 2K2 – Uma cestinha muito bem feita – 26/03, 2002 NA
Durante a metade dos anos 90s, a SEGA perdeu o apoio da EA após os problemas envolvendo o lançamento do SEGA Saturn. Para preencher o vazio no gênero dos jogos de esportes, deixado pela desenvolvedora, a gigante japonesa escolheu um estúdio próprio para ficar responsável por recriar virtualmente diferentes modalidades esportivas, a Visual Concepts.
A desenvolvedora foi responsável por criar as séries NBA 2K e NFL 2K no Dreamcast. Quando a Sega passou a desenvolver games para outras plataformas, a Visual Concepts decidiu portar NBA2K2, lançado em 2001 para o Dreamcast, para os consoles das três principais empresas.
Além de atualizar os gráficos, a versão de GameCube do game de basquete oferece algumas mudanças visuais bem legais. Uma nova intro foi produzida, além de efeitos visuais novos. O jogo ainda teve sua sequência, NBA 2K3, lançado no console no ano seguinte. Após ficar de longe dos consoles Nintendo, a franquia retornou nos últimos anos no Nintendo Switch.
Phantasy Star Online Episode I & II / I & II Plus – O GameCube entra na internet – 12/09, 2002 JP / 27/11, 2003 JP (Plus ver.) / 29/10, 2002 NA / 2004 NA (Plus ver.)
Phantasy Star Online foi originalmente lançado em 2000 para o Dreamcast. O game foi criado pela Sonic Team a pedido do presidente da SEGA of Japan à época, Isao Okawa, que acreditava que jogos online seriam o futuro. Por conta de todo o trabalho em criar algo que não existia, o game acabou sendo bastante rushado e lançado com muitos bugs, o que forçou a produção de uma nova versão com patchs de correção.
Ao mesmo tempo em que a versão 2.0 do game estava sendo desenvolvida, a SEGA anunciou a sua mudança para Third-Party. Um dos primeiros títulos anunciados pela empresa seria um port de PSO para o GameCube, o que acabou afetando o desenvolvimento que já estava sendo feito pelo Sonic Team. Assim, a caixa roxa da Nintendo acabou recebendo o seu game online apenas em 2002.
Phantasy Star Online Episode I & II marcou o GameCube ao ser um dos poucos games do console com capacidades onlines. O título era baseado na versão 2.0 do original, incluindo todo o conteúdo original do lançamento de Dreamcast. Contudo, o jogo foi muito mais do que um port e adicionou um segundo episódio que continha nova história, itens, missões e a possibilidade de multiplayer para até quatro pessoas no mesmo console.
Infelizmente, um erro foi encontrado no modo online do game, onde era possível se conectar a um PC e enganar o modem do GameCube, abrindo as portas para Homebrew e pirataria. A Sega logo tratou de produzir uma nova versão, intitulada Phantasy Star Online Episode I & II Plus, que além de corrigir este sério problema, também trouxe mudanças no conteúdo que estava disponível offline.
Phantasy Star Online Episode I & II também utilizava a conexão do GameCube com o Game Boy Advance de uma forma muito interessante. Após completar certas quests, era possível baixar pequenos jogos para o portátil como uma demo de Chu Chu Rocket, o Tiny Chao Garden, presente em alguns dos games de Sonic, uma versão personalizada de Nights para o aparelho e um Chao baseado em Tails.
A SEGA fechou os servidores do game em 2007, assim, Phantasy Star Online Episode I & II só pode ser aproveitado oficialmente pelo seu modo offline. Phantasy Star Online Episode I & II Plus adiciona diversas quests, antes disponíveis apenas online, em seu modo offline, se tornando a melhor versão para aqueles que desejam experimentar o jogo original em uma plataforma que não seja o PC. O sucesso do game no GameCube ainda fez com que a SEGA produzisse um novo título intitulado Phantasy Star Online Episode III: C.A.R.D. Revolution.
18 Wheeler: American Pro Trucker – Seguindo a vida de caminhoneiro – 12/09, 2002 JP/NA
Outro game originário dos fliperamas, 18 Wheeler: American Pro Trucker foi desenvolvido pelo estúdio AM2, responsável por clássicos como a série Virtua Fighter. Após o lançamento original no Dreamcast em 2000, o jogo chegou ao PlayStation 2 em 2001 e ao GameCube em 2002.
O objetivo do jogador em 18 Wheeler: American Pro Trucker é entregar a sua carga o mais rápido possível. O game é bastante arcade, com jogabilidade mais simples e focando bastante na diversão. Assim como foi o caso com Crazy Taxi, o port de GameCube só oferece visuais melhorados e não possui nenhuma nova adição.
Skies of Arcadia Legends – O RPG voador que buscou seu espaço ao sol – 26/12, 2002 JP / 28/01, 2003 NA
Se comparado ao seu rival direto, o PlayStation 2, o GameCube não possuía muitas opções no seu catálogo quando o assunto era JRPG. Entre os títulos disponíveis, um chamava a atenção por ser um relançamento direto do Dreamcast, Skies of Arcadia.
O game, desenvolvido pela equipe que mais tarde produziria Valkyria Chronicles, foi um título bastante interessante. Introduzindo os jogadores ao pirata dos céus, Vyse. A principal diferença entre o jogo e seus rivais do gênero, era a possibilidade de utilizar a aeronave do protagonista no combate.
Apesar de Skies of Arcadia ser lembrado com carinho pelos donos de Dreamcast, a versão original era repleta de problemas de performances. Ao ser relançado para o GameCube, o game recebeu uma melhoria no seu visual, algumas adições que ajudaram sua experiência geral, novas armas e sidequests. Todas as melhorias fazem com que a versão da caixa roxa seja considerada a melhor para aqueles que desejam experimentar o título.
Puyo Pop Fever – Quebra cabeças na plataforma da Nintendo – 24/03, 2004 JP / 20/07, 2004 NA
Puyo Pop Fever foi o primeiro título da série Puyo Puyo desenvolvido pela SEGA, após o desenvolvedor original, Compile, declarar falência. Como tal, o jogo é quase que um reboot da franquia, descartando todos os personagens anteriores por um novo elenco. Puyo Pop Fever também marca o último lançamento oficial da SEGA para o Dreamcast, tendo sido lançado no console alguns meses antes da versão de GameCube.
O game também foi um dos primeiros da franquia Puyo Puyo a serem totalmente localizados para o ocidente. A versão de GameCube oferece partidas para até dois jogadores, gráficos mais bonitos e alguns efeitos especiais extras.
Puyo Pop Fever é um jogo de puzzle que funciona de maneira similar a Tetris, mas utilizando os adoráveis Puyos. Além de disputas contra amigos, o game oferece um robusto modo história, onde jogadores assumem o controle de um dos muitos personagens disponíveis e precisam completar uma série de desafios. Infelizmente, a sequência do título, Puyo Puyo Fever 2, não chegou ao GameCube.
Por fim…
Os ports de Dreamcast ajudaram a SEGA a preparar o terreno para uma série de games que fizeram sucesso na plataforma da Nintendo, além de servir como a ponte para aproximar as antigas rivais. Estas versões, em alguns casos, também se tornaram a escolha ideal para aqueles que desejavam experimentar tais títulos, uma vez que incluíam boas adições para torná-las superiores aos originais.
Hoje, vemos a SEGA e a Nintendo colaborando em diversos projetos, principalmente aqueles que envolvem suas mascotes juntas. Sem sombra de dúvidas, o resultado de um longo trabalho entre as duas empresas para confiarem em si, algo que teve início na geração do GameCube e o sucesso dos títulos da companhia de Sonic nele.