Os jogos de Nicho são piores que os mais Populares? | Especial Coelho no Japão

Este artigo é uma parceria do NintendoBoy com o canal Coelho no Japão, e uma adaptação do vídeo original “Verdade difícil pra muitos, mas que precisa ser ditas sobre Jogos de Nicho e da Nintendo”; assista aqui.

“Jogo de Nicho”. Você com certeza já ouviu essa expressão várias vezes se referindo a títulos como Doki Doki Literature Club, Hollow Knight, e até Xenoblade Chronicles, e geralmente tratado como se fosse algo ruim, certo? Mais do que isso, talvez até sobre Animal Crossing ou mesmo Fire Emblem, que são duas franquias GIGANTESCAS da Nintendo com toneladas de fãs e sucesso absoluto de vendas. Então eu te pergunto, o que exatamente é um jogo de nicho, e será que isso é uma coisa ruim?

Você já deve ter esbarrado por ai com comentários tratando com desdém jogos de nicho, como se eles fossem inferiores aos famosos AAA. Até mesmo em vídeos de recomendação do canal Coelho no Japão surgem comentários como “O Coelho fica recomendando esses jogos, mas é tudo jogo de nicho… tudo jogo pequeno… não tem jogo bom, mano”. Como claramente essas pessoas não sabem do que estão falando, vamos do início: O que de fato define um jogo de nicho?

A definição de “Nicho”

Por partes. Nicho é uma seção, um pedaço, um espaço dentro de outro conjunto maior, normalmente pequeno e desatendido. Está na moda agora aquelas estruturinhas de madeira, que são basicamente uma moldura para um pequeno espaço na parede que você acaba transformando numa prateleira decorativa.

Ampliando um pouco, existe o conceito de nicho de mercado, que já é quando um espaço que ainda não é atendido, ou focado, acaba tendo atenção dedicada. Por exemplo, um setor de mercado é o pet shop, mas se eu fizer uma marca só focada em gatos, por exemplo, já é um nicho que estou perseguindo, mas de forma bem suave, afinal, gatos já têm produtos no mercado geral. Por outro lado, vamos pensar em pessoas que fazem miniaturas, aquela galera do aeromodelismo, ou mesmo dos que gostam de pintar bonecos de chumbo e fazer cenários e dioramas da segunda guerra mundial. Isso sim é um baita nicho, extremamente específico, e que não há mercado dedicado a isso, nem tintas próprias, nem uma loja que só venda soldadinhos, entende?

E os jogos de nicho?

Aí extrapolando um pouquinho, chegamos no jogo de nicho, uma expressão que vai atender um público a princípio muito restrito, com features, mecânicas e estilo de jogo não muito populares na grande maioria dos jogos. Geralmente isso vem acompanhado de um tom pejorativo, mas na verdade vocês estão confundindo qualidade com gosto. Um jogo “não ser pra você”, seja porque não é do seu gosto mesmo, ou você acha muito difícil, ou até o tema não te interessa, não o torna ruim, apenas te torna o público errado.

Muitas vezes, o correto é o oposto. Voltando para Xenoblade Chronicles, inclusive eu [Thomas Mertens] como exemplo, não gosto do jogo, porque realmente não é meu estilo. Mas é inegável que seja um baita jogo para quem sabe o que está fazendo. Idem para Animal Crossing, ou Story of Seasons também.

Aliás, um exemplo interessante seria Detroit: Become Human. Um jogo que foi aclamado pra caramba por ser diferente etc e tal. É um jogo como foco na narrativa, quase sem ação, toda a sua gameplay praticamente se resume a tomar decisões dentre as opções fornecidas, como nós vemos em Visual Novels! O que diferencia Detroit: Become Human de um Life is Strange ou Sakura Succubus então? (ok, isso foi uma piada forte)

E esses nichos podem crescer o suficiente, deixando de serem algo a parte, ganhando proporções incríveis e se tornando uma fatia de mercado considerável, como é o caso de souls-like. Começou muito difícil e a maioria desdenhou, ficando só pra quem realmente queria esse desafio insano, e agora é um dos estilos mais populares que se têm. Lá no lançamento do Dark Souls 1, eram os fãs do Demon Souls só jogando, e aí eles recomendando Dark Souls, e Bloodborne e o pessoal só no “ah não, muito difícil”, e aí o pessoal recomenda, e recomenda, e aí Sekiro: Shedows Die Twice ganha jogo do ano na TGA! Até que chegou no ponto de Elden Ring vender mais de 12 milhões em um mês.

Xenoblade Chronicles é um JRPG muito único, com alto foco em estratégia em seu combate dinâmico, visuais deslumbrantes e narrativa estilo orientais, como um anime de fantasia por assim dizer, e claras travas da cultura japonesa. Todos esses aspectos direcionam o público, mas ainda é um RPG, portanto quem gosta do gênero pode dar uma chance e dizer “nossa, não é que é maneirinho?”. Mas aí que tá, os jogos de nicho sabem que são de nicho (geralmente) e sabem o público que têm. Não espere que um deles vai te dar tiro, porrada no x1 ou pular na cabeça dos bonecos só pra você se sentir mais convidado a jogar. Eles vão focar no seu elemento único que os torna especiais, e tá tudo bem se isso não for pra você, desde que eu cative o meu público e alcance mais alguns fãs.

Imagem: Xenoblade Chronicles Definitive Edition (2020)

Algo parecido vale para jogos indie, que naturalmente têm um orçamento incrivelmente menor (além do time de desenvolvimento), então algo tem que ser limado para poder entregar um produto diferente que aposta em um aspecto único. Geralmente cortamos os gráficos e vemos muitos títulos em pixel art nos dias de hoje. Novamente, isso não é algo ruim, aqui no NintendoBoy inclusive, temos toneladas de recomendações (minhas inclusive) como Dandara, que é fantástico, mas não é nem um pouco o 3D, ou o full HD, ou mesmo usa sprites super polidos. Isso também faz parte de dar o charme pro negócio. Então senhor hater, pense direitinho quando for criticar.

Por fim…

Pra finalizar, quando um jogo te for apresentado que fuja um tanto do seu padrão, se alguém que você gosta e acompanha disser que ele é um jogo bom, tier S, um dos melhores, se faça um favor e escute, tente, se divirta. Você pode se surpreender! Desse jeito, você joga jogos melhores, mais diversificados, conhece séries novas, e para de depender de lançamentos repetidos da mesma coisa de sempre pra aproveitar o seu console, seja ele o Nintendo Switch ou qualquer outro.