Desenvolvedora: Square Enix, Tose
Publisher: Square Enix
Lançamento: 1 de Dezembro, 2023
Prévia feita com versão demo disponível na eShop do Nintendo Switch.
Revisão: Davi Dumont Farace.
Dirigido e publicado pela Square Enix (sob a supervisão de Yuji Horii e em parceria com a Tose), Dragon Quest Monsters: The Dark Prince (Switch) é o terceiro título principal da subsérie de fantasia Dragon Quest Monsters. Esse spin-off de Dragon Quest tem estado em todos os portáteis da Nintendo e é o principal concorrente de Pokémon no Japão no que diz respeito ao subgênero de “domar monstros” (monster-taming game) dentro dos JRPGs.
Em comemoração aos 25 anos desse que é o spin-off mais tradicional e popular de Dragon Quest, Dragon Quest Monsters: The Dark Prince, ou Dragon Quest Monsters 3 (como chamado no Japão), surge com a difícil tarefa de tentar mais uma vez ganhar o público ocidental ao mesmo tempo em que busca celebrar as raízes de Dragon Quest e aperfeiçoar seus sistemas clássicos.
Esses objetivos vêm acompanhados de uma alta expectativa dos fãs, pois embora essa série seja longeva em subséries paralelas, como a trilogia Dragon Quest Monsters: Joker (para DS e 3DS), ela não recebia um título principal numerado desde o Game Boy Color. Além disso, esta será a primeira vez em que um Dragon Quest Monsters é projetado para um console que não seja apenas portátil, o Nintendo Switch.
Como talvez você já me conheça de outros textos por aqui sobre a Square Enix, eu (Vivi/@thegamelogicist) sou um dos brasileiros mais ativos na ainda pequena comunidade de fãs de Dragon Quest no Ocidente, a qual praticamente despertou só após o lançamento de Dragon Quest VIII no PS2 e tem crescido nos últimos anos, graças a Dragon Quest XI. Como fã, crítico de RPGs, e alguém atento aos objetivos e às expectativas em relação ao próximo Dragon Quest Monsters, joguei sua versão demo para compartilhar o que estou achando do desenvolvimento.

Contudo, antes de começar propriamente minha prévia, vale destacar que já publiquei dois artigos aqui no NintendoBoy descrevendo a construção de mundo e os sistemas de Dragon Quest Monsters: The Dark Prince. Portanto, nesta prévia vou me concentrar em tecer comentários críticos e comparativos, abstendo-me da responsabilidade de explicar outra vez como o jogo funciona em sua base. Caso queira mais detalhes sobre as mecânicas e o background desse game, sugiro que dê uma olhada nos seguintes textos:
Meus comentários abaixo estão divididos em três tópicos. O primeiro deles é dedicado ao jogo enquanto um Dragon Quest; em seguida (segundo tópico), analiso sua evolução em relação aos outros Dragon Quest Monsters; e no tópico final comento sobre se esse novo título está ou não parecendo um jogo promissor dentro do nicho de monster-taming game, do qual fazem parte franquias como Pokémon e Shin Megami Tensei.

Dragon Quest Monsters: The Dark Prince é um bom Dragon Quest?
Vamos começar do básico. O que é um Dragon Quest? Eu gosto de pensar essa questão por meio da seguinte analogia: Dragon Quest é como um “Super Mario dos JRPGs”. Esta série de certa forma tem as escolhas de design que basicamente são o coração do que é um JRPG tal como Super Mario estreou as bases dos jogos de plataforma como os conhecemos hoje. Da mesma forma, ambas as séries (Dragon Quest e Super Mario) são projetadas para funcionarem para todas as idades.
Em comparação a outras séries de JRPG (como Final Fantasy e Persona), raramente Dragon Quest possui visual e narrativa voltados ao público adolescente. Em vez disso, os títulos da franquia investem em personagens com um carisma único e ingênuo, desenhados por Akira Toriyama (mangaká de Dragon Ball), junto de uma estética mais colorida, um humor infantil, um som de música clássica de Koichi Sugiyama (geralmente majestoso ou dançante) e uma trama de fantasia leve (geralmente escrita por Yuji Horii) que guarda alguns momentos trágicos e tristes, tal como nos clássicos contos de fada.

Nesses pontos, até onde pude experimentar pela versão demo, tudo indica que Dragon Quest Monsters: The Dark Prince corresponde ao que esperamos de um Dragon Quest, contudo, com algumas particularidades. Algumas delas dizem respeito à subsérie Dragon Quest Monsters; outras, à esse jogo em particular. Vejamos:
Em primeiro lugar, vale dizer que os spin-offs de Dragon Quest raramente possuem foco narrativo, possuindo tramas mais simples e diretas, bem como tendem a ter um level design de mundo bem mais limitado. Tudo isso também é válido para Dragon Quest Monsters: The Dark Prince, de modo que eu recomendo que você venha para esse jogo com uma expectativa baixa nesses dois aspectos e não espere encontrar aqui um bom parâmetro para a experiência narrativa e de exploração de um Dragon Quest convencional.
Em segundo lugar, apesar de vermos em Dragon Quest Monsters: The Dark Prince os traços de Toriyama, os personagens possuem contornos mais arredondados e, de modo geral, um jeito mais gracioso e infantil. Em comparação a Dragon Quest XI, os cenários também são muito menos detalhados e polidos. Isso se explica, é claro, por esse jogo ter um menor orçamento em relação ao último jogo numerado, bem como por usar o mesmo motor de Dragon Quest Treasures, aperfeiçoando-o um pouco.

Aliás, tanto Dragon Quest Treasures quanto Dragon Quest: The Dark Prince estão mostrando os primeiros sinais de mudança musical na série Dragon Quest. Koichi Sugiyama foi desde sempre o responsável pela composição e regência orquestral de todas as músicas da franquia, mas após sua morte em 2021 os últimos lançamentos tem experimentado timidamente arranjos e peças novas com estilos que não estamos acostumados a encontrar em Dragon Quest.
As músicas clássicas de Sugiyama ainda estão presentes e compõem a maior parte da OST, mas você também vai encontrar algumas coisas novas nesses jogos. Pessoalmente não gostei de alguns sons novos de Dragon Quest Treasures, como comentei em minha análise (no link acima), justamente porque não acho que combinou quando alternada com o estilo clássico. Por outro lado, os arranjos com um toque moderado de rock em Dragon Quest Monsters: The Dark Prince me parecem bons e adequados à alguns momentos de combate, bem como servem para dar um frescor à melodias conhecidas pelos fãs (confira um pouco no trecho de vídeo abaixo).
Os fãs de longa data notarão que as músicas de Dragon Quest IV estão muito presentes em Dragon Quest Monsters: The Dark Prince. Isso não é por acaso, o protagonista é Psaro, o antagonista do quarto Dragon Quest; e o vilão favorito de muitos fãs da série, inclusive deste que vos escreve. Aliás, os cenários que podemos visitar na demo remontam à regiões que existem no mundo de Dragon Quest IV, mesmo que o enredo não dependa dele para se sustentar.
Dadas essas observações, eu devo dizer que a princípio eu não recomendo esse jogo como uma entrada para quem nunca jogou um Dragon Quest, pois há um custo-benefício muito maior em adquirir primeiro Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age (Switch), com mais conteúdo e uma experiência mais rica e apropriada do espírito da franquia. Por outro lado, se você já gosta de Dragon Quest e está atrás desse jogo como uma experiência complementar, confira o tópico a seguir. E caso você não esteja atrás dessa obra por ser Dragon Quest, mas sim por ser um monster-taming game, então você, se preferir, pode pular diretamente para o tópico seguinte (terceiro).

Esse lançamento é um bom Dragon Quest Monsters?
No tópico anterior, procurei deixar claro que Dragon Quest Monsters: The Dark Prince possui em grande parte o espírito de um Dragon Quest, mas está longe do nível de refinamento de um título principal para que seja recomendável a quem está atrás de um bom jogo para conhecer a série. E além dos motivos que citei, também se poderia argumentar o fato de que possui sistemas diferenciados de combate e gerenciamento de monstros, típicos da subsérie Dragon Quest Monsters.
Contudo, o fato desse jogo ter diferenciadas mecânicas pode ser justamente um atrativo para fãs de Dragon Quest que estão atrás de uma experiência complementar dentro do mesmo mundo da franquia (e esse é justamente o público em que estou). Sendo assim, vamos dar uma olhada no que os Dragon Quest Monsters têm de interessante para esse público e o que The Dark Prince traz de vantagem em relação aos demais dessa subsérie.

A subsérie Dragon Quest Monsters está inserida no contexto da história da segunda trilogia de Dragon Quest, a Zenithian Trilogy, na qual se encontram os Dragon Quest IV, V e VI. Em particular as mecânicas são derivadas de Dragon Quest V, o qual mesmo antes de Pokémon, introduziu um sistema de capturar monstros e utilizá-los como party members ao lado de nosso herói e alguns outros humanos. Essas criaturas podiam evoluir como os demais personagens e tal sistema enriqueceu consideravelmente a customização da party.
Desenvolvido tradicionalmente em parceria com a Tose, Dragon Quest Monsters fundou seu gameplay nesse sistema e o ampliou. Além disso, essa IP também se apropriou do sistema de Dragon Quest IV de customização de IA, permitindo que configuremos nossos monstros para lutar sozinhos dentro de certos padrões de comportamento (o que faz todo sentido quando estamos treinando criaturas). Nos jogos dessa subsérie passamos a ter acesso a muito mais monstros a cada novo título, bem como a um sistema de fusão de monstros (uma versão simplificada do que encontramos em Shin Megami Tensei), batalhas em coliseu contra outros domadores de monstros e uma série de minigames e sistemas próprios relacionados aos portáteis da Nintendo.

Depois de vários jogos em pixel art no GBC e GBA, Dragon Quest Monsters: Joker (DS) trouxe finalmente da série principal o carismático traço de Toriyama, sendo o primeiro jogo 3D de Dragon Quest Monsters e o começo de uma trilogia que acabou no 3DS, cujo último título (lançado no Japão em 2016) até hoje não chegou ao Ocidente. Depois desse clássico do DS, podemos dizer que Dragon Quest Monsters: The Dark Prince é o maior salto gráfico na série, mas ele pode não corresponder às expectativas daqueles que já viram o potencial do Switch ser melhor aproveitado em outros JRPGs.
O principal diferencial do novo Dragon Quest Monsters, além das questões do motor de Dragon Quest Treasures, está em sua maior complexidade em termos de tática de combate e em seu sistema de alternância de estações. As estações mudam em tempo real, alterando significativamente os cenários. As estações mudam rápido demais (espero que mudem isso na versão final), mas de todo modo enriquecem a exploração do jogo.
Podemos encontrar diferentes monstros de acordo com a estação, e em cada uma delas há coisas diferentes para interagirmos. Aqui estão alguns exemplos: podemos encontrar um rio que pode congelar no inverno para o atravessarmos, ou também no inverno pode uma cachoeira congelar e revelar uma caverna atrás dela, ou plantas trepadeiras podem crescer no verão para as usarmos para escalar pequenos morros. Esse sistema parece de fato bastante promissor e já indica que talvez esse jogo terá uma exploração mais rica e interessante do que a de todos os seus antecessores.




Entretanto, eu não me senti satisfeito com o polimento de todos os cenários. A região inicial da demo é linda em todas as estações, mas quando avançamos um pouco descobrimos outros terrenos com texturas inferiores e um trabalho mal acabado para a água e outros elementos do cenário. Eu espero que tenhamos mais regiões bonitas e bem trabalhadas em todas as estações e que os desenvolvedores até dezembro ainda consigam polir alguns locais desse jogo.
Além disso, assim como em Dragon Quest Treasures, em mapas mais abertos incomoda-me um pouco o alcance em que os elementos do cenário surgem. Felizmente não chega ao nível das “pipocagens” dos monstrinhos de Pokémon. Tecnicamente, em termos visuais, é claramente superior aos títulos de tal “concorrente” no Switch, mas sinto que poderia ser ainda melhor, dado o potencial do híbrido da Nintendo.





Outro diferencial que vale a pena mencionar é o da narrativa. Embora tudo indique que não será algo comparável ao que encontramos de enredo nos Dragon Quest principais, em The Dark Prince temos uma boa razão para utilizarmos apenas monstros: o protagonista sofre de uma maldição que o impede de ferir seres com sangue de monstro. E por si só controlar o vilão de Dragon Quest IV já adiciona uma camada interessante para essa história. Creio que pode se tornar um ponto narrativo alto dentro de Dragon Quest Monsters e dos spin-offs em geral de Dragon Quest.
Isso dito, e mesmo sem ter em mãos ainda a versão completa, eu já posso ver que esse jogo tem um forte potencial para agradar fãs de Dragon Quest que estejam atrás de uma experiência complementar da série, especialmente se for alguém que gosta da Zenithian Trilogy. A possibilidade de Dragon Quest Monsters: The Dark Prince não satisfazer todas as nossas expectativas não tira seus méritos e não obscurece o fato de que ainda provavelmente será o melhor Dragon Quest Monsters em vários aspectos.


Posso esperar desse jogo um bom JRPG de monster-taming game?
Finalmente, restam algumas palavras para aqueles que estão atrás desse jogo unicamente por ser um monster-taming game. Será Dragon Quest Monsters: The Dark Prince por si só um bom jogo desse subgênero de JRPG focado em domar monstros? Bem… essa é a questão mais difícil de avaliar apenas com uma demo, mas pelo que vi até agora ele pode sim ser uma boa experiência nesse nicho mesmo para quem não se importa com a marca Dragon Quest.
Atualmente, eu acredito que o melhor monster-taming game no Nintendo Switch seja Shin Megami Tensei V e não acredito que um outro jogo desse subgênero venha a superá-lo nesta plataforma. Esse game possui uma atmosfera e uma OST excelentes, além de um visual muito superior em relação ao de Dragon Quest Monsters: The Dark Prince, e nem se fala dos Pokémon. Além disso, Shin Megami Tensei V é muito mais complexo, dinâmico e desafiador em suas mecânicas, e mesmo com um level design e uma escrita questionáveis em relação à alguns de seus antecessores, ainda eu diria estar em vantagem quanto aos “concorrentes”.
Entretanto, Shin Megami Tensei V não é um jogo voltado para o público casual. Penso que jogadores que estejam atrás de um monster-taming game casual podem se sentir melhor servidos com algum Pokémon ou com o próximo Dragon Quest Monsters. Embora certamente com um competitivo mais fraco que o de Pokémon, o novo Dragon Quest parece não só tecnicamente superior aos últimos monstros de bolso, mas também parece ter uma narrativa mais interessante. Um level design especialmente promissor para exploração, um bom protagonista e criaturas cheias de carisma, mesmo que se possa argumentar que sejam menos fofos que os tradicionais monstrinhos de bolso da Game Freak.





Para encerrar este último tópico com convicção, preciso avaliar Dragon Quest Monsters: The Dark Prince em sua versão final, mas desde já digo que as chances são grandes para a aventura se tornar uma das melhores recomendações para jogadores casuais de monster-taming game. Se isso se consumar do ponto de vista do design, torço para que esse título ganhe uma popularidade merecida também aqui no Ocidente desta vez para que não corramos o risco de no futuro termos suas sequências lançadas exclusivamente no Japão.
Dragon Quest Monsters: The Dark Prince será lançado para Nintendo Switch no dia 1 de dezembro de 2023. O título está em pré-venda e possui versão demo na eshop. Caso inicie o jogo por ela, poderá continuar de onde parou na edição completa do game.
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