
Desenvolvedora: Kai Graphics, Game Studio
Publicadora: Square Enix
Data de lançamento: 28 de Setembro, 2023
Preço: R$ 319,90
Formato: Digital
Análise feita no PC (Steam) com cópia adquirida pelo redator.
Revisão: Paulo Cézar
Publicado pela Square Enix e desenvolvido com estúdios parceiros, como Kai Graphics e Game Studio, sob a direção geral de Yuji Horii (criador da série Dragon Quest), Infinity Strash: DRAGON QUEST The Adventure of Dai é um RPG de ação 3D que adapta a história de fantasia do anime DRAGON QUEST The Adventure of Dai, produzido pela Toei Animation e lançado entre 2020 e 2022. Tal série animada é uma readaptação da série Dragon Quest: The Adventure of Dai (1991–1992), a qual, por sua vez, foi baseada em um mangá de mesmo nome, escrito por Riku Sanjo e ilustrado por Koji Inada; trata-se de um clássico serializado na Weekly Shōnen Jump entre 1989 e 1996.
Análise de Conceito
Assim como procedi em minha última análise (Sea of Stars), novamente começarei esta review com uma análise do conceito da obra para depois propriamente analisá-la em seu mérito. Esse procedimento parte do pressuposto de que uma análise adequada pressupõe uma boa interpretação prévia do que a obra “tenta fazer” e para qual público. Desse modo, este primeiro tópico serve para dar transparência aos aspectos que estarão no foco da crítica, bem como para antecipar o que se pode esperar do game.
Vale observar que muitas vezes o conhecimento da proposta de um jogo pode bastar para alguém considerar que “não é para ele”, independentemente de se tenha sido bem ou mal executada. Por outro lado, caso se julgue que a proposta é interessante, convém ler o tópico seguinte, a fim de saber se a execução também lhe parece satisfatória.
Fidelidade de adaptação do anime
Embora o subtítulo possa induzir ao erro, Infinity Strash: DRAGON QUEST The Adventure of Dai não é um jogo usual da série “Dragon Quest”, nem mesmo para os padrões de um spin-off. Isso pode ser observado facilmente nos três níveis de design (narrativa, audiovisual e gameplay). O que era esperado, já que, diferente dos demais Dragon Quest, este não possui envolvimento de nomes importantes por trás dessa série. Não há, por exemplo, nenhuma música de Koichi Sugiyama, e nem ilustração de personagens de Akira Toriyama.
Claramente esse jogo é voltado menos para os fãs dos jogos de Dragon Quest e mais para a base de fãs do anime e/ou do mangá. Fãs de Dragon Quest podem sentir falta de muitas coisas nesse jogo, além de achá-lo significativamente limitado. Por outro lado, os desenvolvedores dedicaram seus esforços para criar uma adaptação fiel ao anime, sobretudo em música, dublagem, roteiro e cenário. Isso deve agradar mais facilmente aos fãs do anime e/ou do mangá que queiram revisitar essa história de uma forma dinâmica e imersiva.
Desafio de ação e praticidade narrativa

Como o jogo foi proposto principalmente como uma adaptação imersiva e dinâmica do anime, seguindo fielmente a sequência de seus eventos principais, então os desenvolvedores procuraram harmonizar esse conceito com uma seleção de capítulos, em vez de em um mundo aberto.
Além disso, os desenvolvedores projetaram um sistema de ação prático e fácil de aprender, mesmo para aqueles não habituados a videogames, bem como desenvolveram um modo específico para quem prefira apenas acompanhar a história; trata-se do modo de dificuldade Storyteller. Por outro lado, é nítida também a preocupação em criar artifícios para adicionar desafios para jogadores mais engajados em combate em tempo real, especialmente na luta entre chefes e em um modo “rogue-lite” opcional, o Challenge Mode.
Análise de Game Design
Como vimos, o jogo em questão parece almejar uma adaptação fiel do anime e também entregar uma experiência com alguns desafios de ação, mas que essencialmente seja prática para todo aquele que queira acompanhar a trama do anime da Toei em sua versão mais recente.
Passemos para a análise das escolhas de design de Infinity Strash: DRAGON QUEST The Adventure of Dai. A partir daqui descreveremos algumas das principais escolhas para narrativa, audiovisual e gameplay, bem como julgaremos quando foram positivas e quando foram negativas para as propostas mencionadas anteriormente.

Narrativa
Escrito por Riku Sanjo (originalmente para mangá), o enredo de DRAGON QUEST The Adventure of Dai gira em torno de Dai, um jovem órfão que vive em uma pequena ilha habitada por humanos e monstros que se tornaram amigáveis após um malévolo feiticeiro chamado Hadlar ter sido derrotado por Avan, um Herói e seus companheiros. O mundo fantástico da trama faz coexistirem humanos como Dai e monstros como Hadlar, os quais possuem também seu próprio lugar: o reino dos monstros.
O sonho do órfão é se tornar também um herói, e um pequeno monstro usuário de magia (agora seu pai adotivo) ajuda-o a alcançá-lo, assim como o faz o lendário guerreiro conhecido como Avan, o qual se torna seu mentor. No entanto, a vida de Dai muda dramaticamente quando o malévolo Hadlar ressuscita e ameaça mergulhar o mundo na escuridão com a ajuda de outros seres do submundo ainda muito mais perigosos do que ele.

Dai se junta a um grupo de heróis, incluindo a princesa Leona e o divertido mago Popp (além de Hyunckel), em uma jornada para derrotar Hadlar e seu novo grupo misterioso de seres malévolos que assumiu o controle dos monstros que vivem no mundo. Tendo que enfrentá-los também pelo caminho, um dos argumentos mais interessantes dessa trama envolve o fato dos monstros não serem em si mesmo maus, mas serem manipulados pelos demônios que os chefiam.
Alguns dos monstros do mundo de DRAGON QUEST The Adventure of Dai não podem sequer existir sem que seus mestres estejam também vivos (como é o caso dos esqueletos), enquanto outros tornam-se livres do estado de transe (com olhos vermelhos) apenas se seus mestres não estiverem no mundo dos humanos.

Sem querer entrar em spoilers para aqueles que não conhecem essa história pelos animes ou pelo mangá, podemos apenas dizer a mais que se trata de uma história com ênfase em ação e um pouco de comédia cheia de clichês típicos de produções japonesas voltadas à demografia shounen (garotos de 12 a 18 anos), desde a atuação até o estilo de batalha e o ritmo direto da narrativa, com ênfase em ação.
Por outro lado, isso não significa que não se trata de uma trama com questões interessantes e marcas únicas. Uma delas, como mencionado acima, é a relação entre humanos e monstros, a qual, aliás, é também costumeiramente explorada nos jogos da série Dragon Quest, mas raramente de forma tão dramática como na história de Hyunckel, um chefe que eventualmente alia-se a Dai e seus amigos.

Nessa versão de RPG de ação a história de estilo shounen se tornou ainda mais voltada para ação (quase que exclusivamente). O roteiro, a atuação (japonês e inglês) e a linha dos eventos é fiel (talvez até demais) ao material original, pois consiste muitas vezes de literalmente assistir trechos do anime ou de falas selecionadas já conhecidas com ilustrações ao fundo.
Os melhores momentos da narrativa estão em cutscenes de animação em 3D que recriam momentos-chave da trama da segunda versão do anime da Toei. O problema é que o design narrativo é muito fragmentário: não há uma boa fluidez entre as cinemáticas e o combate e nem entre os momentos de narração e a simplória exploração no mundo (alguns poucos cenários fechados, geralmente em side quests).

No Story Mode, a história do game prolonga-se até o Capítulo 7 e não abrange todo o enredo do anime, mas quase metade dele (o anime tem 100 episódios). Àqueles que gostariam de ver eventos novos ou reimaginados nesse jogo, infelizmente não é o caso, e não há qualquer conteúdo suplementar relevante em termos de expansão da narrativa.
No fim, para aqueles que seguirão essa história pela primeira vez, apesar de em alguns aspectos a trama poder ser apreciada de forma mais dinâmica nesta versão de RPG de ação, acredito que a animação ou o mangá são mais apropriados para se ter um ritmo mais cadenciado dos eventos da história. E para aqueles que já acompanharam as aventuras de Dai, acredito que, do ponto de vista narrativo, tenham pouco a ganhar neste spin-off para além das cinemáticas em 3D.
Gameplay

Takayuki Shimizu e Kota Ikarashi lideraram o projeto de game design com escolhas compreensíveis, mas talvez excessivamente limitantes para os potenciais do game, tanto em termos de controles quanto de customização e de exploração.
Basicamente podemos controlar alternadamente de um a quatro personagens em tempo real (quando assumimos o controle de um, o outro é controlado por uma IA não personalizável). Cada personagem pode usar ataques comuns com suas armas, três habilidades normais e duas especiais. As habilidades requerem tempos diferentes de carregamento.
A customização se dá sempre fora das missões, e pode ser encontrada em três níveis de design. Primeiramente, temos a personalização puramente estética de conjuntos de roupas dos personagens (mais opções são desbloqueadas conforme jogamos e ao adquirir a DLC).

Em segundo lugar, temos os itens que podemos levar conosco para as missões: geralmente itens de cura ou para alguma forma de suporte. Por fim, podemos também equipar diferentes cartas que mudam as habilidades passivas e ativas dos personagens, bem como é possível aperfeiçoá-las, a custo de certos itens especiais que ganhamos tanto no Story Mode quanto no Challenge Mode.
No Story Mode, jogamos missões avulsas selecionadas diretamente em um mapa. Essas missões são agrupadas em capítulos que correspondem a subarcos (por assim dizer) do anime que dá a base desse jogo. Em geral, essas missões costumam ser de dois tipos: ou lutas contra chefes em alguma arena simples ou uma curta aventura linear em um cenário limitado em que o objetivo é derrotar criaturas e/ou chegar a um ponto específico do mapa.


No Challenge Mode, entramos em uma dungeon com salas pequenas fechadas onde lutamos contra hordas de monstros e chefes e passamos para as salas seguintes (sempre podendo escolher entre uma de três portas). Há uma pequena aleatoriedade nas salas possíveis em cada nível da dungeon e a cada novo andar dela encontramos criaturas mais poderosas (em geral, seguindo a ordem em que aparecem no Story Mode).
Esses dois modos são separados: o nível dos personagens no Story Mode é progressivo, enquanto que no Challenge Mode seus personagens sempre começarão a dungeon no nível 1. Contudo, os recursos que você obter no Challenge Mode (como cartas) podem ser usados no Story Mode. Eles podem ser muito úteis, pois, apesar da simplicidade de controle e exploração, não se trata de um jogo fácil, a não ser que você esteja jogando na dificuldade Storyteller.

A dificuldade do jogo se concentra sobretudo nas lutas contra chefes. Eles costumam ter bastante vida e golpes poderosíssimos. Para enfrentá-los, você precisa ter uma certa paciência e prever bem seus movimentos. De modo geral, suas habilidades de ação são muito mais valiosas do que o nível de seus personagens ou seu gerenciamento de recursos, habilidades e equipamentos.
Isso é algo que deve agradar mais aos fãs de ação do que aos fãs de RPG. Porém ele também tem seus problemas como jogo de ação. Tanto seus personagens quanto seus inimigos possuem movimentações simples, então as batalhas podem se tornar muito mecânicas, repetitivas e cansativas.
Além disso, a IA também não é muito boa, nem para os aliados nem para os adversários. Aconselho especialmente cuidar de Dai, que é o principal personagem tanker e alternar quando preciso para sua personagem de suporte (Leona) para usá-la de forma mais eficiente para curar seu grupo.
Audiovisual

O jogo conta com a direção de arte de Nao Amano (da Unidade II da Square Enix, onde costumam-se desenvolver os Dragon Quest), o qual contribuiu para um aspecto colorido e simpático que deve agradar aos fãs em geral de Dragon Quest, e talvez aos fãs de Dragon Quest Heroes, pela combinação do estilo com o combate de ação; valendo salientar que a exploração na subsérie Dragon Quest Heroes é bem mais satisfatória.
Por outro lado, justamente por ter um time muito diferente de desenvolvedores, as escolhas de design de personagem, ambientação, animação, efeitos e trilha sonora são significativamente diferentes e podem não os agradar.
O design de personagens, liderado por Kenetsu Tsukamatsu, acompanha o estilo do artista original do mangá, Koji Inada, o qual possui traços ligeiramente semelhantes aos do conhecido Akira Toriyama (de Dragon Quest e Dragon Ball), como para desenhar alguns estilos de cabelo e vestimentas, mas de resto possui um estilismo próprio que dá vida a personagens com um comportamento bem menos ingênuo e espontâneo que aquele que os fãs estão acostumados em jogos de Dragon Quest.

As escolhas visuais no motor UE4 unem aspectos esperados com novidades. Os monstros, enquanto criações conceituais de Toriyama, guardam o carisma esperado da série, enquanto que os vilões surpreendem pelo quão diferente são. Além de serem escritos de forma mais complexa e terem visuais mais atraentes do que de costume, cumprem um papel importante e contínuo na trama. Diferente da maioria dos jogos conhecidos da série, em DRAGON QUEST The Adventure of Dai eles são mais presentes e interativos do começo ao final da história, considerando todas as versões (jogo, animes e mangá).
O ponto mais alto do design visual do game possivelmente está nas animações, cujo trabalho foi liderado por Naoya Takahashi e Hajime Taira. Elas costumam ser fluidas e imersivas, especialmente após lutas contra chefes, e durante as batalhas são fugazes, mas marcantes.

O problema está na transição delas tanto fora quanto dentro das batalhas. Cinemáticas em 3D são pouco presentes durante a narrativa, a qual é muito mais exposta por narração e falas com ilustrações ao fundo e excertos do anime. Ademais, durante o combate, não estou certo se as animações para habilidades várias especiais foi uma boa escolha, pois o ritmo é por um momento quebrado para mostrar uma cena do personagem usando um poder. E tais especiais são usados com frequência.
Um problema semelhante ocorre com o design de ambientação (Kei Konagaya e Yu Yamaguchi). Embora haja alguns cenários bonitos, especialmente em contexto natural, como floresta, ele é subaproveitado. Além da repetição temática, a maior parte das batalhas se dá em uma arena plana, artisticamente simples e pouco interativa com alguns poucos baús ou caixas nas quais podemos obter itens ou algum recurso.

Por fim, a composição ficou por conta de Takao Saitoh. Trata-se da mesma trilha sonora do anime. O célebre compositor da série Dragon Quest desde sempre, Koichi Sugiyama (falecido em 2021), divide opiniões na fanbase da série, embora eu particularmente seja um grande apreciador de sua obra. Contudo, Saitoh se saiu muito bem em seu trabalho. Dá para ver que ele usa uma instrumentação mais acústica e orquestral, mas de resto tende a ter escolhas muito diferentes daqueles de Sugiyama.
Acredito que o estilo de composição de Saitoh, mais imersivo, romântico, simples, uniforme, heróico e dramático, combinou com o tom shounen de DRAGON QUEST The Adventure of Dai voltado para uma aventura mais direta, épica e juvenil com traços distintos daqueles encontrados na série principal ou mesmo em outros spin-offs.

Conclusão
Apesar da simplicidade em alguns aspectos (como em IA e cenografia), de nenhum conteúdo narrativo novo, e a despeito das limitações de game design em muitos aspectos (incluindo exploração, controles e customização), as quais especialmente não devem agradar aos fãs de RPG, Infinity Strash: DRAGON QUEST The Adventure of Dai possui alguns pontos altos, como na trilha sonora (tal qual a do anime) e nas animações em 3D.
Ademais, considerando as propostas modestas e específicas desse game, é provável que agrade aos fãs do anime que gostem de ação, mas que não sejam tão exigentes com sua jogabilidade. De fato, esse é o principal público para o qual eu poderia indicar esse jogo. No final do dia, é um jogo divertido, e é possível que também fãs em geral de Dragon Quest possam gostar dele, mas eu poderia mais facilmente indicar-lhes antes outros spin-offs da série com combate em tempo real; e os fãs mais assíduos de action-RPG podem achá-lo muito limitado tanto em termos de RPG como de ação.
Prós
- Boa e apropriada trilha sonora para o tom de ação do jogo;
- Boas adaptações de cenas do anime em animação 3D;
- Bons vilões para os padrões da série;
- Adaptação altamente fiel ao anime;
- Sistema de combate razoável para a proposta casual de ação e com controles simples e prático.
Contras:
- Muito limitado em termos de opções de missões e em exploração dos cenários e do mundo;
- Baixa customização para um RPG de ação;
- IA simplória demais e um pouco problemática;
- Algumas batalhas contra chefes podem ser um pouco repetitivas, bem como o Challenge Mode e as side quests;
- O recorte da trama foca-se demais na ação e a experiência narrativa não explora o potencial do videogame para trazer uma experiência mais interessante do enredo, geralmente limitando-se a exposições de cenas de animação ou de narração com ilustração derivadas do anime.
Nota Final:
6,5
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