Revisão: Paulo Cézar
A franquia escrita por J.K. Rowling dispensa apresentações, sendo uma das obras literárias mais famosas das últimas décadas. Os livros da série introduziram muitos jovens ao mundo da leitura, dando início a uma grande série de filmes que adaptaram o material dos livros.
É muito improvável que alguém não conheça nada sobre a obra que fez sua estreia nos cinemas do ano de 2001. Durante aquele ano, o rosto de Harry estampava os mais diversos produtos; na verdade, mais de vinte anos depois, isso parece não ter mudado tanto assim. Mesmo depois de o volume de novas peças dentro do universo ter diminuído ao decorrer dos anos, Harry Potter continua muito popular, inclusive com um novo jogo desse universo chegando esse ano conquistando os usuários e a crítica.
No meio da enorme gama de merchandising lançada junto do primeiro filme os jogos foram inclusos, o primeiro filme ganhou inicialmente adaptação para três plataformas: PlayStation, PC e Game Boy. anos depois também ganhando adaptações para PlayStation 2, Xbox e Game Boy Advance. Os primeiros jogos foram desenvolvidos de forma paralela ao filme que por sua vez possuía um enorme esforço por parte do estúdio para não ter vazamentos, os desenvolvedores não poderiam receber cópias do roteiro, ou fotos de qualidade para usar como referência, essa ocultação de informações acabou gerando divergências entre os filmes e os jogos, tonando os jogos mais fies aos acontecimentos dos livros em alguns momentos.
Um dos pontos mais interessantes dos primeiros jogos de Harry Potter é e sua diversidade, cada plataforma recebeu um jogo diferente com o mesmo nome e a mesma história, mas com jogabilidades distintas que refletem sua plataforma. Existe um total de cinco versões diferentes do primeiro jogo, a versão de Game Boy Color deu início para uma trilogia de RPGs.
A Pedra Filosofal
Ao iniciar o jogo somos surpreendidos com a quantidade de idiomas possíveis para serem escolhidos, com um total de treze idiomas, que incluem o português brasileiro. Esse jogo de Game Boy apresenta uma variedade de idiomas invejável até mesmo para futuros títulos da franquia.
O jogo realmente começa com a missão de comprar os materiais escolares no beco diagonal, onde temos o primeiro contado com Draco Malfoy. Esse encontro acaba sendo mais fiel aos livros se comparado ao filme, essa similaridade aos livros é comum nos primeiros jogos que possuem personagens e eventos que foram cortados dos filmes, como o poltergeist pirraça e a motivação do trio principal ir parar no corredor do terceiro andar.
Sendo um RPG de turno, os combates são bem básicos, os feitiços aprendidos no decorrer do jogo podem receber um upgrade quando são muito usados onde vão ter aumento de dano, área e custo de MP. Os inimigos possuem fraqueza ou resistência a certos feitiços, mas não chega a ser um sistema funcional e instintivo quanto os da série Pokémon. Infelizmente temos muitos inimigos genéricos como ratos, morcegos, aranhas e armaduras, é óbvio que um mundo mágico poderia oferecer uma variedade maior de criaturas magicas.
Apesar das óbvias limitações do portátil o jogo é bonito e com sprites bem animados, mas o mesmo não pode se dizer da arquitetura de Hogwarts, existem áreas com objetos sem sentido como bolha gigante que existe no meio do andar onde fica o dormitório da Grifinória ou a sala que possui uma televisão. Em geral explorar o castelo é recompensador, existem muitos atalhos e itens espalhados para serem descobertos e como todos os andarem possuem estilos diferentes e fácil ter uma ideia por onde se procurou antes.
Os desenvolvedores colocaram boa parte de seu esforço nas animações e cutscenes, elas claramente poderiam ser menos trabalhadas e possuir menos variedade dada as limitações da plataforma, o mesmo vale para os mini-games, eles quebram a monotonia e divertem apesar da simplicidade. Mesmo com alguns problemas, o jogo é bem competente em tudo que se propõem, além de poder ser aproveitado por crianças pequenas sendo uma boa introdução ao gênero de RPG e ao mundo de Harry Potter.
A Câmara Secreta
Como continuação esse jogo fez tudo certo, mantendo a mesma formula do anterior, é inevitável que se repita muita coisa pela forma que a história segue, é o segundo ano de Harry na escola de Hogwarts sendo assim não existe motivo para o jogo ter um mapa completamente novo afinal ainda é a mesma escola, o mesmo ocorreu com as versões de outros consoles.
Ter o castelo praticamente igual acaba ajudando na locomoção e dá uma sensação similar ao chegar na escola depois das férias. a grande novidade desse jogo acabou sendo a inclusão de Rony e Hermione como personagens jogáveis, como todos são estudantes do mesmo ano todos possuem as mesmas magias tendo como único diferencial a habilidade única, Harry mantêm o sistema dos cards de sapo de chocolate com novas adições de combinações e cards, Hermione pode dar alguns buffs em forma de broncas e lições de moral enquanto Rony pode lançar seu amado rato de estimação nos inimigos e também possuiu uma chance dos seus feitiços se voltarem contra ele.
Graficamente o jogo não possuiu uma evolução considerável, mas os personagens e cenários estão mais coloridos e polidos, a interface de combate também melhorou deixando de ser opções em texto para um sistema de ícones com descrição, o auxílio visual ajuda na associação das magias com seus efeitos.
As animações em geral são mais trabalhadas tornando a história mais divertida de se acompanhar, contar por meio de textos e diálogos deixavam muitas cenas sem graça. Os animadores deram muita atenção aos acontecimentos marcantes fazendo com que pequenos amontoados de pixels fossem bem expressivos. Momentos como Rony vomitando lesmas, Dobby batendo a cabeça no armário do Harry, a fênix entrando em combustão ao morrer e o Harry com o braço sem osso são momentos memoráveis mesmo em uma tela de Game Boy Color.
Apesar de possuir uma maior variedade de inimigos eles ainda sofrem do mesmo problema do anterior, possuindo muitas colorações e inimigos genéricos, com essa variedade de colorações acaba sendo fácil confundir as fraquezas e resistências dos inimigos, porém agora é possível consultar o bestiário no meio dos combates.
Infelizmente a batalha final contra o Basilisco é péssima, no quesito gráfico ela é linda, o Basilisco e a fênix estão muito bons assim como todo o cenário da câmara secreta, o real problema é o seu combate onde você depende muito de sorte, nesse combate devemos usar a espada de Godric Gryffindor ao invés das magias comuns para atacar o Basilisco enquanto a fênix é controlada pela CPU. Ficar à mercê da sorte por causa da mecânica de “rebote” do Rony e da boa vontade da Fênix e frustrante, apesar desses pontos negativos fizeram um bom trabalho adaptando a história de Harry Potter e conseguiram um jogo que superou seu antecessor em todos os quesitos.
Prisioneiro de Azkaban
O terceiro ano do Harry não chegou ao Game Boy Color, fazendo com que fosse necessário migrar para o seu sucessor: o Game Boy Advance, caso os jogadores quisessem continuar as aventuras nas plataformas portáteis, embora o console possuísse jogos adaptando os dois primeiros filmes/livros eles não são RPGs de turno como no console anterior, o formato escolhido para as primeiras adaptações do GBA foram o de Aventura/Ação sendo esse um dos motivos pelo qual considero o “Prisioneiro de Azkaban” de GBA uma continuação direta dos jogos de GBC.
O jogo traz a mesma formula dos RPGs anteriores com algumas mudanças na forma de explorar os mapas. A grande diferença fica sendo pelos gráficos, a troca de plataforma permitiu uma mudança significativa em toda parte visual, os cenários são bem mais detalhados e ficam mais próximos da versão cinematográfica, algumas miniaturas dos personagens lembram seus atores mesmo possuindo um ar mais cartunesco. O terceiro filme contou com um diretor diferente dos primeiros dois filmes, e essa troca resultou em um filme mais sombrio com cores frias que combinou muito com a trama, o jogo parece ter seguido o mesmo pensamento escolhendo cores mais sérias e realistas, em contraste as cores vivas que davam um ar mais infantil aos jogos anteriores.
Seguindo as versões de PC e consoles a versão portátil também fez de Rony e Hermione personagens mais ativos durante a aventura, agora cada personagem possui magias exclusivas, algumas delas podem ser usadas fora de combate para solucionar puzzles, essas magias exclusivas fazem alguns mapas possuírem mais de uma rota das quais se deve escolher por meio da escolha de parceiro, por mais que eu ache a ideia de múltiplas rotas boas para um possível fator replay acho que nesse jogo é um erro.
Como esses jogos seguem a história dos livros/filmes quando um personagem fica ferido ou incapacitado em algum momento o mesmo ocorre no jogo. na reta final desse jogo o Rony deixa de ser um personagem jogável, sabendo disso sempre preferi escolher a rota da Hermione para deixá-la o mais forte possível para o final, no jogo anterior fiz algo parecido dando os piores equipamentos para Hermione por saber que o Rony chegaria mais longe.
O uso de cutscenes no jogo anterior foi ótimo e infelizmente foram reduzidas nesse jogo, mas as cenas existentes são muito boas, com a melhor sendo a transformação do professor Lupin em lobisomem. A história também é contada por meio de textos e ilustrações estáticas, apesar desse recurso não ser muito chamativo o artista possuía um ótimo traço e fez ótimas ilustrações que acabaram sendo destruídas na conversão para o GBA, embora não seja prejudicial ou incomodo em um portátil quando se joga em uma tela grande elas ficam bem feias e até decepcionam porque é possível perceber que elas são bonitas e não receberam o tratamento merecido.
O único grande problema desse jogo e sua luta final por um simples motivo, ela não faz sentido algum. A reta final do jogo é ótima e segue bem a história original. Enfrentamos o salgueiro lutador, lobisomem e espantamos uma horda de Demetadores para chegar ao último mapa em que Dementadores avançam junto dando um ar de corrida contra o tempo para nos depararmos com um último inimigo… Draco Malfoy. E uma escolha ridícula em tantos quesitos, pensar que o último obstáculo é um personagem mais fraco que todos os inimigos anteriores, um personagem que foi derrotado no filme com um soco da Hermione. Poderiam ter usado mais a imaginação, mesmo que para colocar um inimigo mais genérico, mas que tivesse postura de boss final.
Diferentes versões de uma única historia
Os três primeiros anos de Harry Potter nos games são especiais, a variedade entre as versões é algo que nunca mais será visto, não só pela variedade, mas também pela qualidade que esses jogos possuem. Comparando o mesmo jogo em diversas plataformas conseguimos distinguir que algumas versões são melhores que outras, mas quando cada versão é um jogo único, fica difícil falar que um é superior ao outro como um todo. As versões de portátil tendem a ter os piores ports por causa das limitações, tentar uma abordagem diferente parece ser a melhor saída nesses casos. Sempre que joguei algo em uma plataforma e depois fui testar o mesmo jogo em uma plataforma mais fraca eu tinha a sensação de jogar algo obsoleto e inferior, felizmente o mesmo não ocorre com esses jogos de Harry Potter, eu posso jogar eles depois de ter jogado suas contrapartes de console e PC e não vou sentir que estou consumindo uma versão piorada de outro jogo.
Infelizmente com a chegada do quarto ano, a abordagem de jogos diferentes para cada plataforma foi abandonada, não seria um problema tão grande unir esforços e focar em um jogo que vai ser portado para outras plataformas, o problema foi o jogo ser mediano, fomos de jogos variados e divertidos para uma única opção mediana. O mais triste foi perder a possibilidade de outros RPGs como os da família Game Boy, essa linha ainda tinha potencial. seria ótimo ter jogos onde pudéssemos adicionar outros estudantes ao grupo, cada um com suas habilidades únicas como Seamus Finnigan com magias de Fogo/Explosão e Neville Longbottom com seus conhecimentos de Herbologia utilizando plantas durante o combate. um grande RPG tendo toda história da saga seria fantástico, contando os acontecimentos com mais detalhes e dando espaço para mais personagens.
Mesmo com a chegada do reboot de Harry Potter em formato de série seria inviável reproduzir essa variedade de jogos como aconteceu com os primeiros filmes, esse tipo de possibilidade ficou no passado, esses primeiros anos ganharam jogos divertidos que transportavam as crianças para um mundo magico, um mundo que pareceu perder sua magia à medida que os jogos avançavam. Ainda não joguei Hogwarts Legacy mais acredito que ele consiga trazer a sensação de mundo magico que os primeiros jogos e filmes de Harry Potter me passaram.
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