Desenvolvedora: Tose
Publicadora: Square Enix
Data de lançamento: 01 de dezembro, 2023
Preço: R$ 299,90
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Square Enix.
Revisão: Paulo Cézar
O Nintendo Switch já está em seu 7º ano de vida, e durante esse tempo, é inegável que ele adquiriu para si um imenso catálogo de RPGs. Mas um dos tipos de RPGs que são abundantes no console híbrido — e quase sempre de ótima qualidade — são os jogos ao estilo Monster-Tamers, a exemplo de Pokémon, Shin Megami Tensei e Digimon.
Embora eu tenha ressalvas quanto a franquia Pokémon atualmente, acredito que ela ainda tenha fatores de sucesso inegáveis que fazem com que os fãs voltem para a série sempre que um novo jogo sai, um deles sendo: os designs das criaturas, as vezes fofas, mas quase sempre carismáticas. E que outra franquia de Monster-Tamer você acha por aí que tem criaturas tão carismáticas como Pokémon? Shin Megami Tensei? Óbvio que não, são muito sombrios na maioria das vezes. Digimon? São bons, porém humanoides ou mecânicos demais. Indies Pokémon-like? Geralmente usam designs mais “genéricos” e pouco inspirados; bem, acho que deu para entender o meu ponto.
Porém, e se eu dissesse que existe uma franquia que até hoje utiliza de incríveis designs feitos pelo pai do gênero shounen em mangás modernos, Akira Toriyama, e que os monstros dessa franquia variam de gosminhas fofas para zumbis horrendos, mas todos com muito carisma, você acreditaria em mim? Provavelmente sim, já que vocês clicaram em uma review de Dragon Quest, então sem mais delongas, vamos analisar o último jogo novo da subsérie Monsters e ver se o mesmo é um RPG de peso a se adicionar na biblioteca de seu Nintendo Switch!
Introdução a série Monsters
DRAGON QUEST MONSTERS: The Dark Prince é o sétimo jogo da subsérie Monsters de Dragon Quest, porém o terceiro da linha central dos jogos de Game Boy. Focando menos nas histórias heroicas e mais nos monstrinhos da mesma — com uma base de fãs surpreendente para um spin-off de Dragon Quest, diga-se de passagem —, a série Monsters segue o infeliz padrão da franquia principal de ser mais popular no Japão do que no resto do mundo.
The Dark Prince foi lançado como uma celebração à série Monsters, já que ela faz 25 anos agora em 2023! Mas será que alguém que nunca tocou antes em Dragon Quest Monsters, ou até mesmo em Dragon Quest, poderia começar na franquia por The Dark Prince? A resposta é uma mistura complicada de “sim” e “não”, mas em um geral, recomendo experimentar a demo tanto de Dragon Quest XI S quanto de Dragon Quest Monsters, ambos já disponíveis no Switch.
Falando da demo, só gostaria de deixar um adendo: o jogo menciona que o progresso da mesma é carregado para o jogo completo, mas isso só é “meio verdade”, pois o que é transferido da demo para o jogo são apenas os monstros! Stats, itens e até o progresso da história são resetados para o começo… Então é, essa foi uma das críticas que tive quando comecei o jogo, porque tinha feito algumas coisas a mais durante a demo.
A incrível narrativa do jogo
Já se tornou um padrão alguns spin-offs de Dragon Quest se inspirarem em jogos antigos ou aprofundar em narrativas passadas: DRAGON QUEST TREASURES é uma prequel de Dragon Quest XI, com foco no Erik e na Mia; Dragon Quest Builders e Builders 2 são histórias alternativas de Dragon Quest I e II respectivamente; Dragon Quest Heroes 1 & 2 são musous com personagens de diferentes jogos para celebrar a franquia. Acho que dá para entender aonde quero chegar, não é?
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Nesse sentido, The Dark Prince tem uma narrativa que é baseada em Dragon Quest IV! Mais especificamente no vilão central da história daquele jogo, Psaro, explorando mais de seu passado e origem, enquanto introduz novos personagens à franquia e trabalha em cima de outros já pré-estabelecidos.
A história começa com uma introdução ao jovem Psaro, que vivia em uma vila com sua mãe humana e sofria preconceito por ser “diferente”: Psaro é na verdade filho de Randolfo, o líder de Nadiria, o reino dos monstros. Com sua mãe sofrendo de uma doença, Psaro busca seu pai na tentativa de pedir para o mesmo curá-la, e o mesmo aceita, na condição que Psaro o vença em combate… Bem, o Psaro ainda era uma criança, então faz sentido que ele tenha perdido, não é mesmo?
Após uma longa sessão de ̶v̶i̶o̶l̶ê̶n̶c̶i̶a̶ ̶i̶n̶f̶a̶n̶t̶i̶l̶, Psaro é salvo por um personagem icônico na trilogia que Dragon Quest IV se passa, o Zenith Dragon. O dragão informa a Psaro que o mesmo foi amaldiçoado por Randolfo e que não pode mais atacar monstros, e pergunta ao jovem o que ele gostaria de fazer a seguir; com o garoto desejando vingança pelo seu pai ter deixado sua mãe falecer, o mesmo segue seu caminho e acaba na cidade de Rosehill, que é onde vamos passar o começo da história.
Após um timeskip, começamos a verdadeira jogatina, com Rosehill sendo invadida por lacaios de Randolfo e Monty, um dos habitantes do vilarejo, se pondo a defender o local e mostrar a Psaro como age um Monster Wrangler! Com Psaro incapaz de ferir monstros por conta própria, ele precisará “domar” monstros selvagens e fazê-los batalharem contra seus inimigos, dando início a sua grande aventura pelos reinos de Terrestria e Nadiria.
Semelhanças com Dragon Quest IV:
Pelo jogo ser uma prequel de “canon ambíguo” do primeiro jogo da trilogia Zenith (que engloba Dragon Quest do IV ao VI), Monsters 3 utiliza muitos nomes, personagens, cidades e conceitos introduzidos nesses jogos, com as cidades/vilas de Rosehill e Endor em Terrestria sendo um exemplo maior, mas também vemos personagens bem menores sendo utilizados.
O grande herói de Dragon Quest IV, Solo, também faz sua aparição durante a história central, sendo um pequeno obstáculo para Psaro durante um momento que acontece no IV também, não é um Spoiler tão grande porque resolveram mostrar ele no trailer, então se forem culpar alguém, culpem a Square Enix.
O jogo além de prestar muita homenagem ao IV, também se dá ao trabalho de dar nome à personagens não-nomeados ou até a locais que não precisavam; apesar de não ser 100% canônico, são esses detalhes que fazem o jogo ser mais do que só mais um Monster-Tamer, sendo perfeito para amantes da franquia Dragon Quest, que nem eu.
Combate, exploração e além
Eu posso dizer que a gameplay central de The Dark Prince é dividida em três partes: a exploração das áreas em aberto, bem semelhante a Pokémon Legends: Arceus; o combate, que já é mais próximo do padrão de Dragon Quest; e por fim, o manuseio com os diferentes monstros diferentes que você subjuga e funde uns com os outros, com esse último aspecto me lembrando mais Shin Megami Tensei.
Os combates normais, que você verá mais em encontros com monstros selvagens, são os mais simples, com uma série de comandos que você pode dar diretamente para seus monstros, ou uma estratégia que ele pode seguir, que varia de “só ataque” para “focar em curas”, por um exemplo… Porém eles não são os únicos combates que você terá!
Durante o jogo, você precisará ir aos Coliseus que existem tanto em Terrestria quanto Nadiria, o combate neles é algo especial no sentido que você não pode comandar ataques específicos, ao invés disso, o jogo automatiza tudo e pede para você exigir dos seus monstros uma estratégia específica durante o combate; é divertido, mas é chato pois os monstros nesse modo não costumam usar golpes com risco maior como “Frenzy”, uma habilidade de dano físico crítico que pode atingir um de qualquer monstro da arena, incluindo um da sua Party.
Mas por que você lutaria no Coliseu? Bem, para progredir a história, mas tem uma outra vantagem: os monstros se tornam mais fáceis de subjugar! Subjugar um monstro envolve geralmente três fatores, o HP dele, o rank de seus monstros (que varia numa escala de G para A) e por fim, a sua reputação, que é definida pelas suas vitórias no Coliseu e progressão pela história.
Quanto mais monstros você subjuga, mais difícil fica para decidir qual manter em sua Party, com cada um tendo uma habilidade que facilita bastante o combate, e é por isso que o jogo não hesita em pedir para você usar a “Synthesis”, que é o método de fusão de monstros do jogo. Funcionando como as “Fusions” de SMT, você pode fundir dois monstros diferentes para gerar um novo, esse monstro novo vai carregar algumas skills de sua escolha dos monstros parentes, mas também vai poder carregar skills novas, com esse método, todos os pontos de skill que você gastou em ambos os pais voltam para o monstro novo, permitindo que você dê a ele habilidades “apelonas” já no Lvl 1!
Como último ponto que eu gostaria de falar aqui, por ser o mais simples, a exploração do jogo é por subáreas diferentes, com viagens podendo ser feitas por uma torre de Rosehill ou pela magia “Zoom” de Psaro; o jogo apresenta várias áreas para Psaro explorar, cada qual com uma fauna diferente que difere ainda mais com o passar das estações climáticas pela região. Ditas variações da fauna indicam quais monstros você pode adquirir numa área em determinado período das estações, além de quais monstros aparecem.
Os pontos mais altos
Como um jogo da série Dragon Quest, é esperado um certo nível de qualidade que vai com um nome já histórico para os JRPGs, mas será que esse spin-off em específico consegue entregar a qualidade? A minha resposta é um sonoro “sim”, The Dark Prince não só consegue entregar uma experiência digna para os amantes do quarto jogo, como se supera em ser uma história que, ainda “boba”, é divertida de se jogar.
Como disse antes, dos mais fofos aos mais grotescos, todos os monstros do jogo são carismáticos, e isso incentiva mais o jogador a subjuga-los ou cria-los através de síntese, esse último caso inclusive sendo o mais recomendado, por ser mais favorável ao RNG do jogo em te entregar uma variante “shiny”, que diferente dos shinies de Pokémon, é apenas uma variante com brilho ao redor (como na 2ª geração dos monstrinhos de bolso, para dar um exemplo melhor).
A gameplay de combate, embora mais “restritiva” que um Dragon Quest tradicional, ainda é estratégica o bastante para você pensar no seu próximo movimento dependendo da ação do inimigo.
Com Buffs e Debuffs sendo praticamente obrigatórios durante boa parte do combate, a automatização do mesmo também é um ponto positivo, pois muitas vezes a AI do jogo desenvolve estratégias interessantes com base nos comandos que você pede para monstros específicos priorizarem, lembrando: não dependam muito da AI, ela é boa, mas ela não altera as preferências que você dá, então um combate 100% automatizado, além de não ser divertido, também é mais favorável na sua derrota. Bom, isso sou eu falando dos positivos que The Dark Prince tem, mas afinal…
O que há de errado com o jogo?
A esse ponto, acho que falar que o hardware do Switch está “datado” já é repetir uma frase muito repetida. Os jogos que saem para o console possuem desvantagens enormes, sem falar de quedas de frames e problemas do tipo, mas eu não acho que essa desculpa poderia ser usada para Dragon Quest Monsters: The Dark Prince, porque o jogo não é tão graficamente impressionante.
Não me levem a mal, o jogo é lindo em diversos pontos, a direção de arte embora inferior a Dragon Quest XI, conseguiu entregar cenários que pareciam uma pintura simplista, e isso é bom, combina com o jogo… Mas não justifica o jogo começar a engasgar logo no 2º Círculo de Nadiria, que é uma área com um vulcão em erupção, os frames chegam a cair dos 20FPS e a esse ponto, o jogo roda pior até do que o último The Legend of Zelda, que teve algumas reclamações esse ano por ter quedas de frames no começo desse ano.
Isso não é 100% culpa dos desenvolvedores, mas é triste ver um outro spin-off de Dragon Quest saindo esse ano (e um spin-off de qualidade inferior, devo adicionar) ter tido um orçamento um pouco maior na área gráfica e de polimento do que um jogo inteiramente pensado no Switch, de uma série que costuma vender bem para um spin-off da franquia! Mas quem dera se gráficos e estabilidade fossem os únicos problemas desse jogo…
Desde DLCs com conteúdo que costumava ser padrão da franquia, agora presos por uma paywall, a até um grind que é de certa forma necessário para concluir o jogo, esse é um daqueles jogos onde os pontos fortes são realmente fortes, mas os pontos fracos são difíceis de ignorar, tornando-o um jogo muito chato de se recomendar, pois sabemos que esse tipo de coisa acaba afastando alguns jogadores!
Um jogo feito para fãs de Dragon Quest
Se você é um ávido fã de Dragon Quest como eu sou, provavelmente vai amar esse jogo… Se o seu personagem de Dragão Jornada favorito for o príncipe demônio emo, você vai amar esse jogo ainda mais. Os problemas dele são uma constante lembrança de que essa franquia nunca quebrou o nicho fora do Japão, o que é uma pena, pois como falei, acredito que essa é a única IP capaz de bater de frente com o monstro que é Pokémon, ao menos quando o assunto é “carisma” dos monstrinhos.
O jogo constantemente lembra que essa é uma história alternativa do IV, com diversos paralelos com a trilogia Zenith, além do uso regular de personagens da mesma, até os menos importantes. Ver “Toilen Trubble” um NPC de importância média de Dragon Quest V ser um dos personagens principais desse jogo foi uma surpresa genuína, e algo que demonstra que sim, os desenvolvedores e roteiristas tiveram um carinho pelo material base.
Conclusão
Apesar dos pontos negativos, ainda acho que essa é uma experiência perfeita para entusiastas de Monster-Tamers do Switch, mas assim como peço quando recomendo o XI para alguns amigos, eu novamente aconselho a jogarem a demo antes de pensarem em comprar o jogo; não só ela tem bastante conteúdo para divertir quem quiser experimentar as diferentes possibilidades possíveis nas três primeiras áreas, como também é um indicativo se você vai ou não gostar do jogo.
Resumindo, caso você seja um fã de Dragon Quest, não tenha medo de tentar essa experiência genuína que o príncipe trevoso, Psaro, pode oferecer!
Prós
- Mais de 500 monstros diferentes, com incríveis variedades;
- Combate simples, mas estratégico;
- Vários cenários que utilizam de cores mais claras para pintar uma bela imagem;
- História e personagens que são familiares, mas que ainda são únicos;
- É Dragon Quest.
Contras:
- Infelizmente ainda há o uso de música MIDI ao invés de orquestras;
- Altas quedas de FPS, às vezes até abaixo dos 20;
- Alto “grinding” para quando você reinicia o nível de seus monstros;
- DLC de R$ 150,00 já lançando no primeiro dia do jogo.
Nota Final:
9