Desenvolvedora: Crim
Publicadora: Crim
Gênero: Plataforma
Data de lançamento: 28 de abril, 2024
Preço: R$ 55,00
Formato: Digital
El Shaddai ASCENSION OF THE METATRON HD Remaster traz de volta um clássico cult do PS3 e Xbox 360. Desenvolvido pela Ignition Tokyo sob a direção de Sawaki Takeyasu, o jogo ficou conhecido por seu estilo visual impactante. Não era para menos considerando que a equipe contava com ex-membros da Clover Studio que haviam trabalhado em Okami e queriam explorar mais elementos artísticos em jogos. Dez anos depois, temos o retorno do jogo em um console moderno, mas será que a obra ainda vale a pena?
Luzes e sombras
A primeira coisa que chama a atenção em El Shaddai é definitivamente o seu aspecto visual. A obra alterna frequentemente entre sequências 3D e 2D e em ambos os casos há elementos psicodélicos e de visual impactante. O uso de cores, luzes e sombras é feito de uma forma muito chamativa que dá a sensação de que estamos de fato vivenciando um mundo sobrenatural.
Geleiras extremamente brancas, abismos escuros como piche com olhos e estruturas indecifráveis, áreas que parecem pinturas ou afrescos e brincam com a posição do nosso personagem no escuro. Trata-se de um tipo de experimentação visual bem expressiva e ousada que é até difícil de ver no mercado nessa magnitude.
A atmosfera espiritualizada também é reforçada pela trilha sonora. Em alguns momentos temos percussões tribais elevando o dinamismo do combate, em outros músicas que usam vozes como instrumento evocando coros angélicos. As escolhas são ótimas e se encaixam bem com a ambientação.
Para o jogo, esses elementos são importantes para apresentar a jornada de Enoque. Inspirada nos textos apócrifos, a história mostra como o rapaz lutou contra os anjos caídos para impedir um dilúvio. Com elementos de mitologia judaico-cristã e uma passagem de tempo por vezes complexa, vale destacar que a obra pode ser bastante abstrata de vez em quando e é importante ter isso em mente antes de jogar.
Plataformas e saltos
El Shaddai é um jogo de plataforma que alterna entre momentos 2D e 3D com câmera fixa. O enfrentamento de inimigos complexos, como chefões, são realizados em 3D, enquanto os trechos 2D são geralmente mais focados em plataforma ou em uma apresentação narrativa em paralelo com combates simples.
Para avançar pelas fases, precisamos saltar por plataformas, evitando vários obstáculos no caminho. Enoque conta com pulo duplo desde o início, o que é necessário para avançar em alguns momentos. Temos também alavancas para ajustar plataformas, espinhos que devem ser evitados, platafomas que caem e outros elementos que são básicos do gênero.
Uma das principais dificuldades que o jogo proporciona vem da questão da câmera e do estilo visual do jogo. Em algumas ocasiões pode ser difícil distinguir a profundidade em que se encontram alguns objetos, por exemplo. Porém, pessoalmente diria que esse desafio é bem vindo dentro da proposta.
Vale destacar que temos áreas que são corredores bem simples e outros momentos com trechos escondidos. Certas localidades trazem textos adicionais que explicam elementos mitológicos da trama que podem ser depois relidos no menu Library a qualquer momento. Também temos um sistema de pontuação que recompensa essa exploração com chamas que valem mais pontos que as vistas nos caminhos normais.
Os ângulos do combate
Para enfrentar as criaturas em seu caminho, Enoque precisará utilizar ataques básicos, se defender e desviar. Idealmente o jogador deve esperar o inimigo abaixar a guarda para atacar, abusando dos seus momentos mais vulneráveis logo após um combo mal sucedido ou uma defesa com timing perfeito que deixa o oponente desnorteado.
Porém, o mesmo também pode ser usado contra ele. Os ataques de Enoque não formam combos de encadeamento perfeito e possuem brechas que o inimigo pode abusar. Caso seja atingido nesses momentos, o dano pode ser enorme e uma defesa mal empregada pode ser quebrada.
Inicialmente, o protagonista só pode usar seus próprios punhos para atacar. Porém, isso logo muda e temos a liberação gradual de três armas divinas: Arch (espada), Gale (“flechas”) e Veil (escudo). Porém, elas não são simplesmente obtidas para sempre; é necessário roubá-las dos oponentes em combate após causar uma certa quantidade de dano.
Dessa forma, devemos avaliar bem as condições de combate e calcular se focamos em um inimigo ou em outro tendo em vista as nossas preferências de combate e a sutil relação de vantagens entre elas. Minha preferência ao longo do jogo foi usar mais o Gale, aproveitando o fato de poder atacar à distância, porém nas vezes em que eu não desviava a tempo, os inimigos conseguiam se aproximar e causar danos brutais.
Além do que já foi falado, vale destacar que as armas devem ser purificadas de tempos em tempos para continuarem funcionais. A realização dessa prática deixa o jogador vulnerável a ataques, sendo ideal ficar distante dos inimigos nesses momentos. Armas roubadas são purificadas instantaneamente e o nosso personagem fica invulnerável enquanto faz isso, valorizando o sistema ainda mais.
Após carregar uma barra invisível de energia, nosso personagem também pode usar a técnica Overdrive. Com ela, recuperamos nossa vida inteira e passamos a contar com o apoio de Uriel. Além de melhorias de ataque e não sermos arremessados pelos inimigos, temos a nossa disposição um ataque especial poderoso que deve ser idealmente usado como um finalizador do Overdrive.
Na prática, o que temos é um combate sólido em que vale a pena entender como cada arma funciona para enfrentar os inimigos. Porém, mesmo com as variações das armas e a questão de roubá-las, a experiência de combate tende a ficar muito repetitiva rapidamente.
Vale destacar que podemos escolher entre as dificuldades Easy e Normal no início do jogo e que ao morrer podemos pressionar os botões rapidamente para reviver Enoque. Isso não pode ser utilizado ao perder todas as vidas para um desafio de plataforma, mas o jogo ainda conta com um sistema de Continue limitado, fazendo com que seja necessário voltar só um pouquinho e tentar novamente lidar com os desafios.
Um ponto pequeno, mas potencialmente negativo, é a falta de indicações visuais para indicar o inimigo que está sendo considerado alvo dos ataques. Dá para ver que os ataques fazem uma espécie de “lock in” tendo em vista a sua execução, mas não temos nenhuma forma de vê-lo e às vezes nossos ataques acabam desviando para outro inimigo ou uma área vazia à nossa frente.
Questões técnicas
Um ponto importante a mencionar sobre o jogo é que há quedas notáveis nas taxas de quadros por segundo do jogo. Especialmente quando há muitos elementos na tela, dá para sentir que tudo fica mais lento de uma forma muito nítida. Também foi possível notar alguns momentos de cutscene nas quais a sincronia labial falhou jogando em inglês.
Porém, em termos visuais, a aposta na estilização fez com que El Shaddai envelhecesse muito bem. O estilo vibrante, colorido e ousado ainda chama a atenção hoje em dia e a experimentação visual faz com que aspectos mais técnicos de textura, resolução e serrilhados importem muito pouco.
Também gostaria de destacar que é possível ajustar os controles para um modo customizado, delegando botões específicos para cada tarefa. Com essa opção, é possível até mesmo transformar em um único botão o que exigiria apertar dois no controle padrão. Esse sistema me ajudou muito pois estou com os Joy-Con em uma situação ruim no momento e a mudança dos botões me permitiu usar todos os recursos do jogo.