Desenvolvedora: CAPCOM Co., Ltd.., Marvelous
Publicadora: CAPCOM
Gênero: RPG
Data de lançamento: 14 de Junho, 2024
Preço: R$ 159,90
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia gentilmente fornecida pela Capcom.
Revisão: Lucas Barreto
Antes da febre de Monster Hunter: World, a Capcom já tinha tentado expandir os horizontes da franquia Monster Hunter ao adaptar a estrutura de caçar monstros para uma fórmula com requintes de Pokémon. O resultado foi Monster Hunter Stories, um spin-off que não está à altura da obra principal, mas que é diferente o bastante para se justificar à comunidade, inclusive despertando a curiosidade dos fãs mais céticos.
Lançado para o Nintendo 3DS em 2016, um portátil que era considerado a “casa” dos JRPGs da época, Monster Hunter Stories foi mais um ambicioso jogo do gênero a drenar dezenas de horas do nosso escasso tempo livre nas duas telinhas. Seu principal chamariz era a possibilidade de domar os monstros icônicos da série original, recrutando-os para uma party, ao invés de o jogador simplesmente caçá-los sem um grande propósito por trás.
Quase oito anos após ter sido lançado no Japão, Monster Hunter Stories chega ao Nintendo Switch e demais plataformas embalado pelo hype das últimas revelações de Monster Hunter Wilds, com visual repaginado e todas as atualizações contempladas no pacote, para mostrar que o tempo não foi capaz de desgastar suas qualidades. Pelo contrário: Monster Hunter Stories envelheceu como um bom vinho e ficou ainda mais charmoso com o passar dos anos.
Mudança de tom bem-vinda
Convenhamos, não é nada fácil mudar o tom de uma franquia já consolidada no mercado. Dá para dizer que a Capcom teve bastante coragem de não só transformar Monster Hunter em um RPG por turnos, mas também de renovar o seu estilo artístico, adotando uma estética de anime mais convidativa a públicos jovens.
A empresa japonesa estava realmente empenhada em expandir o alcance de Monster Hunter, tanto que recorreu a uma parceria com a talentosa David Production, conhecida sobretudo pela adaptação de JoJo’s Bizarre Adventure, para produzir o anime Monster Hunter Stories Ride On, atualmente disponível na Crunchyroll.
Em Monster Hunter Stories, você assume o papel de um treinador de monstros, morador da Vila Hakum, que embarca em uma jornada de autodescoberta para se tornar um grande Montador – qualquer semelhança com Pokémon é mera coincidência –, num mundo em que humanos e monstros, diferentemente da premissa da série principal, coexistem em relativa harmonia.
Ao longo da aventura, nosso protagonista se alia aos caçadores para impedir a proliferação do Miasma Sombrio, um misterioso fenômeno capaz de infectar e alterar o comportamento dos monstros, aqui apelidados de Monsties. O ponto alto da trama é poder presenciar como grupos com diferentes perspectivas sobre os monstros se unem por uma causa em comum.
Ritmo inconstante, burocracias e diálogos intrusivos
A versão de Nintendo Switch não faz nenhum ajuste fino na história, que se desenrola de forma mais lenta que o normal para os padrões dos RPGs de hoje. Ainda que reserve ótimos momentos, a narrativa requer uma certa paciência do jogador – especialmente no início –, que vez ou outra se vê obrigado a acompanhar diálogos longos, muitas vezes estendidos sem necessidade.
Creio que a principal ressalva em relação ao título seja o seu ritmo moroso e inconstante. Desde a dinâmica de pegar ovos até a exigência de retornar à aldeia para completar tarefas básicas, algumas melhorias de qualidade de vida teriam revitalizado o jogo. Recursos de acessibilidade, como uma opção para acelerar os turnos do combate, por exemplo, ao menos foram considerados e podem ser ativados ao alcance de um único botão.
Combate simplificado e a divertida dinâmica de captura
Capturar, evoluir e colecionar são ações que fazem parte do DNA de Pokémon e, portanto, também de Monster Hunter Stories. A dinâmica de captura, porém, exige mais que o arremesso de uma Pokébola; ela requer que nosso herói se aventure por Tocas de Monstros para surrupiar ovos dos ninhos, o que cria uma tensão crescente para evitar ser pego no flagra pela criatura que toma conta do lugar.
O mecanismo de batalha, por sua vez, é pautado no esquema de pedra, papel e tesoura, ou seja, prever os golpes do inimigo é a chave para a vitória. Embora os combates pareçam simples à primeira vista, eles ganham camadas à medida que novas habilidades são desbloqueadas e Monsties são recrutados para a equipe. Há, inclusive, brechas nos confrontos para montar nas criaturas, amplificando o dano que se pode causar com o mesmo ataque.
A facilidade de aprendizado do combate é um ponto muito positivo aqui. No entanto, por não propor muitos desafios em passagens mais avançadas da jornada, ele pode acabar caindo na velha ressalva da repetição. Felizmente, a mecânica de captura ajuda a amenizar o repeteco das lutas, visto que demanda outro tipo de ação, isto é, você não necessariamente precisa brigar com alguém para conseguir um ovo.
Ao contrário de sua fonte de inspiração, Monster Hunter Stories quer que os jogadores sejam bons “pais de pet”, estimulando-os a criar seus monstros desde filhotes em vez de capturá-los já adultos. Chocar os ovos no vilarejo, portanto, é algo necessário. Como nunca se sabe qual Monstie vai sair do ovo, você sempre fica dependente do fator sorte, o que adiciona um inusitado tempero de gacha ao gameplay.
Muita gente pode não gostar da mudança, mas eu admiro Monster Hunter Stories por tentar complexificar o sistema de captura de monstros a fim de dar mais emoção a esse elemento crucial da jogatina. Não me recordo de outro game do subgênero de domar monstros que dedique seus esforços a um conceito tão único de obter novos monstrinhos para a coleção.
Exploração e coleta de recursos: temos
Explorar e coletar recursos, tal como na série principal, são ações tão importantes quanto o combate. Além das batalhas e das Tocas de Monstros, você pode desbravar o mundo em busca de recursos valiosos, a serem usados na confecção de novas armas e equipamentos. Até aquele sonzinho gratificante de coleta, característico da franquia desde os primórdios, está presente aqui.
Ao refletirmos sobre o seu escopo, ainda é surpreendente ver um jogo que oferece um nível tão bacana de imersão, com uma variedade satisfatória de elementos interativos nos cenários, ter sido lançado inicialmente no 3DS. Mais importante que o tamanho em si é o fato de que os ambientes são densos e proporcionam muitas distrações além dos monstros com os quais podemos interagir.
Elementos de interface e gráficos otimizados
Engana-se quem pensa que a ausência de uma tela adicional tenha dificultado a navegação pelo mundo e o gerenciamento de itens. A Capcom já havia feito um ótimo trabalho em organizar os elementos de interface no port de Stories para dispositivos móveis, mas tudo está ainda melhor, mais fácil e intuitivo na versão do Switch, graças à tela maior.
Pode-se dizer que a remasterização cumpre o seu propósito de atualizar os principais aspectos técnicos do jogo, apesar de não mascarar certas limitações que os games de 3DS costumam ter, visualmente falando, especialmente na composição dos cenários – eles ainda têm aquele aspecto “chapado” e poligonal de portátil.
As melhorias nas texturas e iluminação, aliadas ao acréscimo da resolução maior, tornam os ambientes mais coloridos e vibrantes, assim como suavizam a silhueta marcada dos personagens. São detalhes que, quando somados, fazem muita diferença. O desempenho de Stories no Nintendo Switch também se mostrou mais estável, sem as quedas constantes que marcaram a experiência original, em especial nas áreas abertas.
Para nós, brasileiros, o verdadeiro upgrade é a adição de textos em português do Brasil, cujo trabalho de localização está bem acima da média, preservando todos os trocadilhos e o senso de humor leve e descompromissado, com destaque às falas do gatinho Navirou. Além disso, a Capcom ainda “fez a boa” ao incluir vozes em inglês e japonês, ignorando completamente o fato de que o título já estava perto de completar uma década de vida.
Vale a pena?
Ter revisitado Monster Hunter Stories depois de anos me fez perceber que o tempo foi generoso e conservou muito bem a sua experiência. Apesar de ser incapaz de acobertar as frustrações de um ritmo problemático, por vezes monótono, o remaster justifica sua existência nas plataformas atuais e mantém o spin-off no pódio dos melhores jogos de colecionar monstrinhos, podendo servir como um ótimo aperitivo até a chegada de Monster Hunter Wilds em 2025.
Prós
- Sistemas de batalha e captura se mostram à prova do tempo;
- Mundo vibrante e colorido, repleto de personagens cativantes;
- Carrega a essência da franquia, mesmo sendo um RPG por turnos;
- Disponível com textos em português do Brasil;
- Oferece bastante conteúdo para os jogadores dedicados;
- As melhorias nas texturas e iluminação dão nova vida ao visual;
- Elementos de interface bem adaptados para uma tela só;
- Dificuldade acessível convida novatos ao gênero.
Contras
- O ritmo do gameplay é constantemente afetado por diálogos intrusivos e burocracias típicas de RPGs antigos.
Nota
8
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