Desenvolvedora: ZOC Co.,Ltd.
Publicadora: Bandai Namco Entertainment Inc.
Gênero: RPG de ação, Town-Building
Data de lançamento: 8 de agosto, 2024
Preço: R$ 249,50
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia gentilmente fornecida pela Bandai Namco.
Revisão: Lucas Barreto
Se um anime faz sucesso por mais de uma temporada, você pode ter certeza de que a Bandai Namco estará lá para publicar a sua primeira adaptação para videogames. Tido como um dos grandes sucessos dos últimos tempos, a obra da vez a receber uma versão jogável é Tensei Shitara Slime Datta Ken, trazido para o ocidente como That Time I Got Reincarnated as a Slime, um isekai publicado na revista mensal Shonen Sirius, da Kodansha, há quase uma década.
Embalado pelo hype da terceira temporada do anime, atualmente disponível na Crunchyroll, That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles chega ao Nintendo Switch, PC e demais plataformas, da antiga à atual geração, para servir sobretudo a quem já tem alguma conexão com a aventura. Apesar de ser um game pensado para os fãs, a história foi simplificada com um cuidado esmerado para contextualizar quem ainda não pôde embarcar na obra de fantasia.
Direto e reto
Para quem não conhece, That Time I Got Reincarnated as a Slime valoriza cada palavra de seu extenso título para apresentar sua premissa: Mikami Satoru, um funcionário de uma grande corporação, perde a vida de forma trágica e renasce em outro mundo como, pasmem, um slime, cuja capacidade de absorver habilidades de outros seres e objetos o torna superpoderoso.
ISEKAI Chronicles não tem fôlego nem orçamento para revisitar todos os acontecimentos das três temporadas, por isso se concentra nos primeiros arcos, desde o momento em que Satoru vira slime e, posteriormente, assume a forma de Rimuru, até o confronto contra o Reino de Falmuth. Como um agrado aos fãs do mangá, o jogo ainda traz duas tramas novas, ainda que curtas e sem muita profundidade, idealizadas pelo autor original.
Como alguém que passou a consumir o anime depois de testar ISEKAI Chronicles, posso afirmar com segurança que o título cumpre o propósito de introduzir seu universo de forma clara e objetiva. Sua maior virtude é costurar de maneira inteligente fragmentos importantes da lore, com trechos reaproveitados do anime, sem deixar as lacunas de história que frequentemente aparecem em adaptações de games a partir de outras mídias.
Embora não ofereça textos em português do Brasil, não há nada de muito complexo que não possa ser compreendido apenas batendo o olho nas imagens. Tudo é muito intuitivo e de fácil compreensão, mas, sim, a Bandai Namco poderia ter feito a “boa” adicionando legendas em nosso idioma, ainda mais se considerarmos o elevado nível de popularidade que a jornada do slime adquiriu por aqui.
Diversão é o coração do combate, apesar da progressão rasa
O aspecto mais surpreendente de ISEKAI Chronicles é saber que ele não é um arena fighter, e sim um jogo de ação e aventura em progressão lateral. Tímido quando se revela como RPG, o jogo flerta com uma progressão baseada numa também modesta árvore de habilidades, abdicando do tradicional sistema por níveis e de uma complexidade que, cá entre nós, talvez tivesse feito bem à experiência.
Despretensioso e projetado para sessões mais breves de jogatina, tal como um game mobile, o ciclo de gameplay de ISEKAI Chronicles consiste em aceitar objetivos no acampamento e partir em expedições para coletar recursos e caçar monstros. As tarefas, tanto principais quanto secundárias, se resumem a missões de leva e trás, as chamadas fetch quests, que, com o tempo, acabam desmotivando o jogador por caírem na mesmice.
É no combate, porém, que ISEKAI Chronicles brilha, se portando como um jogo 2D de ação com nítidas influências de hack and slash, além de um pacing que logo nos remete aos games clássicos da série Tales of. Você recorre a um único botão para desferir ataques simples, mas a posição do direcional define a orientação do golpe, num esquema semelhante ao de Muramasa: The Demon Blade, a meu ver o jogo mais subestimado do Wii.
Há habilidades especiais para cada personagem, cujos recursos visuais, vale pontuar, foram herdados do anime, além de uma esquiva que, quando usada no momento certo para se safar de investidas inimigas, recompensa o jogador com um contra-ataque poderoso e muito bem-vindo. Timing, portanto, é um elemento crucial que rege o ritmo das batalhas.
Apesar de o combate cair na repetição após poucas horas de jogatina, principalmente pela reciclagem de cenários e monstros, o que assegura a diversão é a variedade de bonecos com os quais podemos jogar: Gobta, Benimaru, Shuna e Hakuro são apenas algumas das opções que podemos adicionar ao grupo de até três combatentes.
Pelo fato de todos os inimigos serem vulneráveis a um tipo de elemento, trocar de personagem durante as expedições é uma ação mais que essencial, visto que cada um possui uma especialidade diferente em combate. O mais legal de tudo isso é que os heróis têm padrões únicos de ataque, o que garante a pluralidade de estratégias que esse estilo de jogo precisa ter para se sustentar.
Sistema de gerenciamento e construção de cidade: faltou tempo
Pensando em se distanciar um pouco da pancadaria desenfreada, ISEKAI Chronicles promove um relaxante sistema de construção de cidades, no qual é possível robustecer a aldeia para desbloquear missões secundárias e expandir a comunidade com novos aliados. Na teoria, tudo parece perfeito: o jogador tem um bom número de estruturas distintas para evoluir, de hotéis a restaurantes e lojas de conveniência, e os mecanismos de construção são facilmente compreensíveis.
Na prática, no entanto, as construções não agregam quase nada ao gameplay em si, difundindo mecânicas que parecem desconexas dos principais elementos do game. O que as instalações fazem é garantir bônus a um dos seis atributos que os personagens têm, como sorte, ataque e defesa, por exemplo, e nada mais.
Em outras palavras, o sistema de construção almeja elevar o fator replay, mas não entrega estímulos suficientes para que o jogador siga interessado em repetir as mesmas atividades. A impressão que fica é a de que faltou tempo para que o estúdio pudesse “amarrar” melhor o combate ao sistema de construção de bases.
Vale a pena?
Eu até gostaria de falar mais sobre That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles, mas sua experiência é simples demais para render um texto profundo: ele é raso em quase tudo que se propõe a fazer, especialmente quando tenta vender um sistema de construção superficial e que se contenta em ser insípido.
Não vou ser injusto: fiquei satisfeito com o combate, que está bem acima da média, com a forma como remonta a história e com o carinho dedicado à obra original, mas não há incentivo para revisitar o título depois de algumas horas investidas. Dependendo do quanto você é fã, pode ser melhor ficar só no anime.
Prós
- Fiel às animações e referências do anime, respeitando a obra original;
- Combate 2D acessível e bem executado, com boa variedade de personagens;
- Soube contextualizar os arcos iniciais da saga de forma clara e objetiva.
Contras
- Reciclagem de mapas, inimigos e missões;
- Falta robustez no sistema de construção de cidades;
- Sistema de progressão raso, pautado somente em elevar atributos.
Nota
6
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