Desenvolvedora: Nomada Studio
Publicadora: Devolver Digital
Gênero: Aventura, Plataforma, Ação, Puzzle
Data de lançamento: 15 de Outubro, 2024
Preço: R$ 59,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Devolver Digital.
Revisão: Lucas Barreto
Após o lançamento de GRIS em 2018, os desenvolvedores da Nomada Studio se tornaram um nome conhecido na indústria indie, principalmente pela originalidade na direção visual, que dava a sensação de estar interagindo com uma pintura em aquarela.
Confesso para vocês que no mar de experiências que temos todos os anos, acabei nunca jogando GRIS, por mais que tivesse escutado de várias pessoas próximas a mim que o jogo era maravilhoso. Mantive em minha mente o interesse pelo game e quando recebi o Neva para fazer review aqui pelo NintendoBoy fiquei animado para finalmente conhecer melhor o estilo da Nomada Studio.
Após minha curta experiência – o jogo pode ser finalizado em cerca de 5 horas – fique encantado com Neva, não só pelo visual, mas também pela coerência do pacote completo que se apresenta com um sagaz minimalismo na jogabilidade e na narrativa. Bom, deixa eu explicar melhor no texto…
Pela Natureza
Logo de início, somos apresentados com uma belíssima cena animada, que segue exatamente o mesmo estilo visual do gráfico de “gameplay”. O estilo ao mesmo tempo lembra bastante GRIS enquanto consegue trazer algo diferente: não temos linhas fortes sublinhando os personagens e detalhes de cenário, o destaque é realmente nas cores e o contraste entre elas, os elementos tem menos tridimensionalidade e se tornam mais chapados, reforçando a inspiração em aquarela.
A protagonista que controlamos se chama Alba e ela conta com um companheiro, um lobinho branco, chamado de Neva. O jogo é mudo, não temos diálogos explicando contexto ou cenas de exposição, na maior parte do tempo os acontecimentos são orgânicos e vão se desenrolando enquanto você está controlando Alba e Neva.
Apesar desse minimalismo na narrativa, acho que é bem fácil de entender o que está acontecendo. A missão da protagonista é proteger a natureza do lugar onde vive por estar sendo atacada por uma espécie de praga que destrói tudo em seu caminho e impede que a vida natural floresça. Neva não é um simples lobo, na realidade ele parece um ser divino que tem o poder de restaurar e proteger a natureza, por isso cabe a ele e Alba proteger o local em que vivem.
O jogo parece ter buscado uma considerável inspiração em alguns filmes do Studio Ghibli. Notei semelhanças principalmente com “Princesa Mononoke” que, claro, também é uma história de uma jovem mulher e um lobo branco em uma floresta. Mas vale notar que apesar da inspiração parecer bem óbvia, Neva é uma história diferente, mais intimista e com um grande foco especificamente na relação da mulher com o lobo, que vai crescendo e se desenvolvendo ao longo da história.
Agora é Preciso Lutar
À primeira vista, jogar Neva é muito parecido com GRIS, até mesmo a física da movimentação e a responsividade dos controles é muito semelhante. A estrutura do jogo também é a mesma, o jogador é “solto” em um cenário de movimentação bidimensional e instintivamente prossegue para o caminho correto, seja pela esquerda ou pela direita. A grande novidade se apresenta depois de um tempinho de jogo, quando inimigos começam a aparecer na tela e pasmem: você pode revidar!
Enquanto em GRIS a ausência de combate era inclusive um ponto de destaque no jogo, que garantia uma experiência mais tranquila e focada em puzzles de plataforma, Neva se apresenta abertamente como um jogo focado em combate, com diversos inimigos para enfrentar e até mesmo batalhas contra chefes.
Não é nada super inovador, mas o sistema de batalha aqui é simples e efetivo, seguindo a direção minimalista do jogo. Temos um botão de ataque e um botão de esquiva e a combinação desses dois já é suficiente para testar seu reflexo em batalhas bastante dinâmicas. A fluidez das animações ajuda demais na sensação de satisfação ao acertar um ataque ou quando você desvia e consegue abrir espaço para um contra-ataque.
Essa adição faz com que o game se destaque consideravelmente em relação ao seu antecessor. A minha parte favorita com certeza foi derrotar os chefes. Além das batalhas eletrizantes e sempre diferentes uma das outras, assistir à personagem finalizando o chefe na maravilhosa animação do jogo enquanto a trilha sonora cresce com uma orquestra épica é um dos momentos mais catárticos do jogo.
Dificuldade na Medida Certa
Entre os trechos de combate, o jogo posiciona diversos desafios de plataforma, o que pelo que entendo era o ponto principal em GRIS. A ideia é levar ao limite as possibilidades que os movimentos da personagem têm para poder progredir, pulando em blocos flutuantes, escalando paredes e usando inimigos como plataforma.
Não acho que o game se encaixe no gênero de plataforma com puzzle, em raríssimos momentos tive de pensar muito para superar os desafios. O foco é mesmo desafiar a agilidade e os reflexos do jogador. Na dificuldade normal, o nível de desafio parece cuidadosamente pensado para ser algo que não vá causar frustração nem ser tão fácil a ponto de ficar sem graça. Há uma preocupação em ter uma opção ainda mais fácil, para aqueles que buscam apreciar apenas os elementos visuais e a história.
Em alguns momentos, fiquei me questionando se não seria melhor o jogo incrementar um pouco mais a dificuldade, tanto nas plataformas quanto no combate, mas honestamente isso seria fora da proposta. A questão é que aliado a esses elementos de jogo, Neva propõe uma experiência que dá tempo e espaço para que o jogador possa se conectar com aquele universo, se o jogo exagera na dificuldade, causando frustração, poderia apagar os outros elementos visuais e sonoros que destacam o game.
Além disso, vale destacar a criatividade dos trechos de plataforma, em um dos trechos mais interessantes do jogo, a tela ficou espelhada e eu só podia enxergar onde as plataformas estavam no lado espelhado da tela, ou seja, tive que me guiar sobre onde pular olhando para o cenário espelhado. Existem outros diversos trechos assim no jogo, em que os desenvolvedores encontram maneiras criativas para manter os trechos de plataforma sempre divertidos.
Sensibilidade Estética
Há momentos em Neva onde absolutamente nada está acontecendo. A personagem Alba está simplesmente caminhando, seguindo em frente, com o lobo acompanhando. Justamente nesses momentos, o jogo entrega belíssimos cenários, verdadeiras pinturas interativas para que o jogador possa apreciar os detalhes.
Há um esforço para destacar o quão belo é aquele mundo natural que o jogador está lutando para proteger, com árvores, montanhas, flores e outros elementos naturais. O jogo de câmera acaba sendo essencial nesses momentos, se distanciando para mostrar a imensidão do cenário em certos momentos e se aproximando quando a ação começa.
Por outro lado, a representação do submundo da maldade que quer destruir aquela natureza também é bela, mas de uma forma completamente diferente. O vilão principal se contorce de maneira desordenada tomando formas distintas, completamente fora de controle, se infiltrando e corrompendo a natureza do cenário do jogo. Para quem já assistiu a “A Viagem de Chihiro” do Studio Ghibli, lembra muito o caráter orgânico do personagem sem rosto.
Essa sensibilidade da representação resulta em uma experiência emocionante, que me cativou do início ao fim acompanhando não só essa jornada do bem contra o mal, mas também o amadurecimento de Neva durante cada estação, evoluindo de um lobo indefeso protegido por Alba, até um forte protetor da floresta.
Em resumo, Neva consegue entregar um minimalismo efetivo na jogabilidade, no visual e na narrativa, fazendo com que todos os elementos conversem entre si na sua simplicidade, sem diálogos, com poucos botões para realizar as ações e com uma tela de jogo limpa e focada apenas no deslumbrante visual de cada cenário.
Jogue Neva
Acho que Neva é um tipo de jogo muito fácil de se incluir entre as suas jogatinas. É curto, não desperdiça seu tempo e lhe entrega uma experiência satisfatória e emocionante no final de tudo. Inclusive, estou me sentindo meio mal por ainda não ter jogado GRIS e prometo dar prioridade para ele no meu backlog.
Você não vai ver defeitos citados aqui embaixo no resumo da análise, mas também não verá uma nota 10 perfeita. Vou me justificar: não consigo pensar em nenhum defeito óbvio que o jogo tenha dentro da sua própria proposta, do contrário estaria só pegando no pé do game para parecer um crítico malvado. Ao mesmo tempo, não estarei dando nota 10 por que o fato de não ter nenhum ponto contra relevante não significa que todos os pontos positivos são fortes o suficiente para chegar a 10, entende?
Com essa longa justificativa feita, minha recomendação é: jogue Neva.
Prós
- Belíssimo estilo visual inspirado em pinturas aquareladas;
- Sistema de combate apesar de simples é uma novidade bem vinda que traz dinamismo ao jogo;
- Desafios de plataforma se encaixam bem no ritmo de jogo sem cobrar muito do jogador;
- Narrativa sobre preservação da natureza e a relação dos protagonistas entrega emoção e momentos épicos;
- Minimalismo efetivo na jogabilidade e visual se complementam para criar um experiência coerente.
Contras
- —
Nota
9
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