
Desenvolvedora: KID (original), MAGES. (remaster)
Publicadora: Spike Chunsoft
Gênero: Visual Novel, suspense de ficção científica
Data de lançamento: 6 de março de 2025
Preço: R$ 99,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Spike Chunsoft
Revisão: Manuela Feitosa
Originalmente lançado em 2002 para Dreamcast e PS2, Ever 17 – The Out of Infinity é uma visual novel de mistério de alta qualidade e um dos grandes clássicos desenvolvidos pela KID. A obra foi a segunda e mais popular da trilogia Infinity, que também inclui Never 7 e Remember 11, que infelizmente não faz parte do pacote de relançamentos da MAGES. no Switch no momento.
A obra conta a história de um grupo de pessoas preso dentro de uma instalação submarina de um parque chamado LeMu. Sobreviver à situação não será uma tarefa fácil, conforme os ânimos exaltados e os segredos das personagem vem à tona para complicar a harmonia do grupo. Porém, conforme os mistérios vão sendo resolvidos, uma trama muito mais mirabolante do que pode parecer inicialmente vem à tona no jogo.
Uma prisão submarina

O que era para ser um simples passeio pelo parque de diversões LeMu acaba se tornando um processo muito mais longo e angustiante de sobrevivência. Sem tempo para evacuar o lugar, um pequeno grupo de pessoas fica preso e impossibilitado de voltar à superfície pela entrada principal ou pelas saídas de emergências mais próximas, dando início a uma corrida contra o tempo.
Em apenas 170 horas e 17 minutos, tudo irá desmoronar, e várias áreas já estão se tornando inviáveis por serem tomadas pela águas. Com a enorme pressão do mar, simplesmente nadar de volta para a superfície não apenas seria um esforço hercúleo, mas também morte certa com a ruptura dos pulmões. Nessa situação tão desesperadora, esperar ajuda não será suficiente e o grupo precisará fazer um grande esforço para encontrar uma forma segura de escapar.

Assim como Never 7, Ever 17 é uma obra que envolve elementos de ficção científica, tendo aqui ainda mais foco no mistério e no perigo de estar preso em sua ambientação. Conforme vamos aprendendo mais sobre os personagens e a trama de forma geral, tópicos variados sobre a estrutura desse lugar e perspectivas científicas são usadas para dar corpo às reviravoltas da trama, que consegue ser bem impressionante de forma geral.
Uma revisão controversa

A estrutura de Ever 17 é dividida em duas perspectivas de protagonistas diferentes e as rotas referentes a elas. De um lado, temos Takeshi, um jovem estudante da faculdade que só queria curtir um pouco com seus colegas e pode se envolver com Sora e Tsugumi. Do outro, o misterioso “Menino”, que perdeu as suas memórias pouco antes do incidente deixá-lo preso em LeMu e que se aproxima de outras personagens.
A versão utilizada para o relançamento no Switch é baseada na revisão de roteiro do jogo para o Xbox 360, alterando os eventos significativamente. Mesmo o início do jogo já conta com várias reescritas, adicionando cenas de apresentação e cortando outras. Uma mudança gritante em relação ao original também é o fato de que só podemos acompanhar a história pela perspectiva de Takeshi na primeira tentativa.

A obra também já de cara apresenta um spoiler sério sobre uma de suas personagens que não estava no jogo original. Uma parte bastante importante da rota dela era descobrir a informação que ela fala abertamente na nova versão, deixando Takeshi apenas como alguém burro e incapaz de entendê-la. Enquanto isso, a representação da outra “opção romântica” do personagem acaba soando bem estranha comparada ao original.
De forma geral, eu diria que a revisão do roteiro está longe de ser uma melhoria unânime, e para algumas pessoas talvez seja realmente uma piora significativa. Por um lado, a nova edição traz algumas adições interessantes, de fato expandindo detalhes que eram deixados de lado no original. Por outro, fica a sensação de que alguns personagens e reviravoltas foram explorados de forma mais amadora e pior, a ponto de que eu recomendaria jogar o original a título de comparação. Ainda assim, o grande mistério continua forte como sempre e valendo a experiência.
Deixando de lado a QV

Tecnicamente falando, Ever 17 sofre do mesmo problema que Never 7 quanto à sua estrutura de rotas. Embora a estrutura com tantas escolhas seja ótima, encontrar os finais desejados pode exigir esforço, e a nova versão infelizmente não oferece nenhuma adição de qualidade de vida para facilitar o processo de detecção das flags para os finais bons. Não apenas se guiar pelo labirinto das escolhas acaba implicando na busca de algum auxílio online, como também a revisão de roteiro muda drasticamente o formato do jogo em comparação com o original, mudando as escolhas em múltiplas ocasiões.
Como o jogador de otome games que sou, estou bastante acostumado a sistemas e ferramentas que tornam esse processo intuitivo e simples porque muitas obras do gênero são bem resolvidas nesse aspecto. Já deve fazer quase duas décadas que a Otomate e outras empresas do setor investem nisso, trazendo menus especiais para indicar a relação com os personagens e fazendo os chamados “Love Catch” para indicar imediatamente escolhas ideais, mas permitindo que jogadores mais aventureiros (leia-se lunáticos) simplesmente removam esses elementos para explorar às cegas.

Pelo menos temos um sistema de autosave, múltiplos slots e ajustes mais simples, como velocidade instantânea do texto, auto, skip e log. Porém, a sensação é de que isso é o “mínimo” e é uma pena que o jogo não ofereça sistemas mais robustos para facilitar a exploração das suas ramificações ou até mesmo um dicionário in-game para apresentar em mais detalhes as várias teorias científicas discutidas.
Em relação à tradução, há alguns erros nítidos de digitação ao longo do jogo, mas relativamente poucos. Felizmente também não tenho nada a reclamar da arte nem da trilha sonora, que conseguem se manter muito bem apresentadas e reforçar a atmosfera tanto em seus momentos mais tensos quanto em suas horas mais relaxadas. Mesmo tendo saído pouco tempo depois de Never7, o design dos personagens continua mais fresco em sua estilização e, felizmente, a nova edição evita a horrenda adaptação para o 3D que tinha sido feita originalmente no Xbox 360.
Preservação e destruição

Ever 17 – The Out of Infinity é uma versão alternativa inédita no Ocidente para o clássico mistério da KID, trazendo mudanças significativas em sua estrutura que podem ser bastante controversas. Por um lado, os grandes mistérios e elementos de ficção científica continuam sendo um forte atrativo e fazendo com que a obra valha a pena. Por outro, fica aquela sensação de que o lançamento poderia ter um esmero maior tanto na parte de “preservar a história original em concomitância com a sua revisão mais recente” quanto em oferecer mais qualidade de vida para os jogadores.
Pros:
- Um grande mistério de ficção científica, provocativo em seu uso de elementos científicos e reviravoltas;
- Atmosfera que consegue oscilar bem entre a tensão e os momentos de relaxamento;
- Visual de personagens que se mantém adequado apesar da idade da obra original.
Contras:
- Elementos de qualidade de vida inferiores em relação à expectativa moderna do gênero;
- A revisão do roteiro é no mínimo controversa o suficiente para valer a pena conferir o original.
Nota
7,5
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