
Desenvolvedora: KID (original), MAGES. (remaster)
Publicadora: Spike Chunsoft
Gênero: Visual Novel, suspense de ficção científica
Data de lançamento: 6 de março de 2025
Preço: R$ 72,50
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Spike Chunsoft
Revisão: Manuela Feitosa
Anos antes de sua ascensão a um certo nível de popularidade ocidental com a série Zero Escape, o escritor Kotaro Uchikoshi fazia parte da KID, uma lendária empresa japonesa que trabalhou no desenvolvimento e port de console de várias obras de aventura textual até declarar falência em 2006. Em especial, a empresa se destacou por abordagens curiosas em títulos de romance, uma forte valorização do gênero mistério e ser um espaço formativo para grandes nomes do gênero, incluindo Naotaka Hayashi (SciADV) e vários indivíduos que atualmente fazem parte da MAGES.
Dentre os projetos da empresa, Never 7 foi bastante importante como pontapé inicial para a série Infinity, que daria mais espaço para o diretor Takumi Nakazawa e o escritor Kotaro Uchikoshi desenvolverem suas peculiaridades. Mais recentemente, os dois trabalharam juntos, por exemplo, em AI: THE SOMNIUM FILES — nirvanA Initiative e são figuras bem relevantes quando o assunto é aventuras textuais de mistério, sejam elas visual novels “puras” ou envolvendo elementos de gameplay mais específicos.
Agora, o clássico está de volta no Switch, sendo este o primeiro lançamento oficial do jogo em inglês. Anteriormente, apenas Ever 17, que é o jogo mais popular e conceituado da trilogia, havia sido lançado no Ocidente, embora fãs tivessem trabalhado na disponibilização dos outros.
Um loop perigoso

Tudo começa com o nosso personagem principal, Makoto Ishihara, indo a uma ilha para participar de um seminário e conseguir pontos extras para se graduar na faculdade. Em uma ilha paradisíaca afastada, ele terá que conviver com um grupo de outros jovens estudantes em uma espécie de retiro acadêmico de 7 dias, indo até o dia 7 de abril.
Os outros indivíduos selecionados para participar do grupo são a animada Yuka Kawashima (líder do grupo), o playboy Okuhiko Iida e a quieta e misteriosa Haruka. Durante o período do retiro, eles terão a chance de se conhecer melhor e aproveitar o tempo juntos, embora haja algumas fortes discordâncias entre eles.

O que era para ser só um momento de descontração para os personagens logo se torna uma situação bizarra e misteriosa. Tudo começa com um sonho que Makoto tem no primeiro dia de sua estadia e que faz com que ele sinta que uma grande tragédia está para acontecer no dia 6 (véspera do fim do retiro). A partir daí, no dia a dia, ele começa a ter conhecimentos de coisas que não deveria, antecipando situações muito específicas para se tratar apenas de chutes e coincidências.
Conforme a história avança, Makoto irá descobrir mais sobre a situação que está vivendo e poderá se aproximar de uma das garotas do jogo. Além de Yuka e Haruka, podemos também ter romances com uma das irmãs Morino que cuidam de um restaurante local ou com Saki, uma amiga rica de Yuka que possui uma casa de praia na ilha.
Um mundo de informações e interpretações

De forma geral, a trama intercala eventos mundanos com as revelações de pequenos mistérios de natureza ambígua, tendo tanto elementos sobrenaturais quanto pseudocientíficos envolvidos. Curiosamente, embora as rotas sejam escritas por várias pessoas, já vemos aqui em alguns momentos um estilo de diálogo que viria a ser considerado “coisa do Uchikoshi”: pessoas que de repente abordam tópicos estranhos, sejam eles curiosidades científicas ou mesmo discussões literárias sobre contos de fada.
Assim como os Codecs de Metal Gear, essas digressões ajudam a expandir a narrativa e dar ao jogador mais riqueza de detalhes para pensar para além do texto, se assim decidir. Afinal, existe livre arbítrio? O que significa amar alguém? Idealmente o jogo realmente quer que o leitor pense sobre os tópicos em vez de apenas desfrutar da história seguindo em frente e esquecendo totalmente dela após ter a sua conclusão feliz.
Um detalhe interessante é que cada rota traz uma interpretação diferente sobre os eventos. Em vez de tentar fechar um raciocínio único, Never 7 traz várias formas de enxergar o que está acontecendo na ilha, especialmente levando em conta as reviravoltas da rota Izumi Cure (que não está disponível inicialmente). O resultado é que temos algumas variações que não apenas dizem respeito a escolhas diferentes do jogador, mas também podem contradizer informações aprendidas em outras rotas.
Os detalhes imperfeitos

Um dos grandes problemas de Never 7 é que sua estrutura de escolhas é bem complexa, com múltiplas flags para o jogador ficar de olho ao longo da história. Embora ter tantas ramificações seja um fator positivo, é muito fácil ficar confuso sobre ter realizado certas decisões para se aproximar de uma personagem e acabar indo parar na rota da Yuka (que é padrão caso o jogador não consiga os pontos certos para se aproximar de outra pessoa).
Infelizmente a nova edição do jogo não traz nenhuma forma de auxílio para facilitar a noção do jogador sobre os impactos das suas escolhas. Não há nenhum tipo de elemento visual para indicar uma boa escolha para se aproximar da personagem desejada e conquistar o seu final bom. Também não há um menu para visualizar essa tendência. Como resultado, o jogador acaba tendo que depender de um guia externo para poder obter as rotas desejadas.
Outro ponto que infelizmente pode ser um grande inconveniente é que a escrita em inglês não conta com uma tradução particularmente boa. Temos trechos inconsistentes, como traduções diferentes para uma mesma fala em momentos diferentes, erros de digitação, frases formuladas como tradução muito direta sem interpretação adequada do contexto e uma estranha mania de usar pontuação equivocadamente, especialmente nas falas mais reticentes. Não é um dos piores trabalhos já vistos, mas ainda é uma pena que os erros sejam frequentes o suficiente para serem notáveis. Também é uma pena não termos suporte à touchscreen, o que facilitaria a experiência no modo portátil.

No aspecto sonoro não tenho nada a reclamar, com as personagens sendo muito bem interpretadas por seus dubladores japoneses e a trilha conseguindo ir da leveza cotidiana à seriedade do mistério muito bem nas suas músicas, que também incluem temas específicos para cada heroína. Já a arte é um ponto que pode ser polêmico, pelos personagens terem um estilo de anime bem antigo com olhares esbugalhados e feições mais triangulares nos rostos.
Esses traços são datados, mas pessoalmente considero bastante charmosa a expressividade dos personagens e a forma como os personagens se diferenciam muito bem entre si. O único ponto que me pareceu incômodo no quesito gráfico foi o vídeo de abertura, porque algumas cenas ficaram borradas e os traços das bocas de algumas personagens possuem traços adicionais estranhos que não existiam no original e parecem ser artefatos do processo de upscaling.
Um clássico com ressalvas

Never 7 – The End of Infinity é um clássico que deu o pontapé inicial para a série Infinity e, apesar de algumas ressalvas, ainda vale a pena conferir o jogo em seu primeiro lançamento oficial em inglês. Embora seja uma pena que a tradução poderia ser melhor, a trama como um todo consegue se manter intrigante.
Pros:
- Trama misteriosa com múltiplas rotas que trazem visões diferentes dos incidentes e personagens;
- Discussão de tópicos científicos curiosos no meio de diálogos da trama;
- Boa interpretação dos personagens em suas vozes japonesas;
- Trilha sonora bem adequada para os contextos com temas individuais para as personagens.
Contras:
- A tradução para o inglês é inconsistente e conta com uma quantidade notável de erros que podem atrapalhar a leitura;
- O modelo de trigger de rotas e finais é complexo e exige um guia, já que não há nenhum auxílio in-game;
- O vídeo de abertura conta com artefatos estranhos, especialmente no borramento de expressões e marcações estranhas nas bocas das personagens;
- Ausência de suporte à touchscreen.
Nota
7
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