
Desenvolvedor: Pocket Trap
Publicadora: PM Studios
Gênero: Plataforma, Aventura 2D
Data de lançamento: 28 de maio, 2025
Preço: R$ 49,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela PM Studios.
Revisão: Davi Dumont Farace
“Pipistrello and the Cursed Yoyo” é uma joia independente que se apresenta como um videogame fictício perdido no tempo, desses que a gente só descobriria em um cartucho misterioso numa feira de usados. E o charme começa antes mesmo da gameplay: ao iniciar, o jogo simula o cartucho sendo colocado em um Pocket Trap Game System, com direito a filtro visual que emula a tela do console. É um toque criativo e nostálgico que estabelece o tom logo de cara desse novo título da Pocket Trap, o mesmo estúdio por trás do aclamado Dodgeball Academia.
Crítica social e humor com tempero brasileiro
Um dos grandes trunfos do jogo é como ele embute crítica social de forma leve, mas afiada. A trama gira em torno de uma megacorporação que monopoliza a maior fonte de energia elétrica de uma cidade fictícia, claramente um comentário sobre as distorções do capitalismo moderno. Mas o jogo guarda um twist narrativo logo de cara: você não começa lutando contra a megacorporação, e sim no controle de Pipistrello, o sobrinho da própria dona da empresa que monopoliza a energia da cidade.
Após um ataque misterioso, sua tia tem a alma aprisionada em um ioiô amaldiçoado, e cabe a Pipistrello enfrentar quatro empresários “do mal” que, supostamente, estão por trás do atentado. Só que o jogo é esperto: à medida que a história avança, vai ficando claro que esses vilões não surgiram do nada, pois suas ações são, na verdade, respostas desesperadas às práticas abusivas da corporação da tia de Pipistrello. É uma virada de perspectiva que enriquece a crítica social da trama, mostrando como o sistema corrompe não só os poderosos, mas também aqueles que tentam resistir.

E como se não bastasse, o jogo usa essa temática para fundamentar sua própria mecânica de upgrades: para melhorar suas habilidades, você precisa assinar “contratos”, o que significa entrar num modo de dívida. A partir dessa “escolha fatal”, mais da metade das moedas que coletar irão automaticamente para quitar o contrato para que você receba o tal upgrade. É um sistema inteligente, ainda que um pouco rígido, pois permitir o pagamento direto com o dinheiro já acumulado daria mais liberdade ao jogador.
E por falar em liberdade: o jogo também é um tributo ao jeito brasileiro de fazer piadas e contar histórias. O fato de ter sido escrito no Brasil, e não apenas traduzido, faz toda a diferença: o texto soa natural, fluido e descontraído, sem aquele tom forçado de algo que foi adaptado do inglês. As falas cheias de gírias na medida certa, e com trocadilhos impagáveis. Um destaque vai para o nome das áreas como “Bairro Faria Slimer”, um acerto certeiro na mistura de crítica e humor.
Combate criativo com o ioiô brilhando
O gameplay gira em torno do uso de um ioiô amaldiçoado, e aqui o time de desenvolvimento brilha. Os combates são recheados de combos e manobras com nomes reais de truques de ioiô, como o clássico “Cachorrinho”. As animações são expressivas, e o sistema de combate recompensa experimentação com estilo. Os puzzles também aproveitam bem as mecânicas da inusitada arma, exigindo raciocínio lateral e domínio das habilidades para avançar.
Um detalhe engenhoso: vidas e dinheiro compartilham o mesmo recurso. O que significa que, ao morrer, você precisa gastar parte do seu dinheiro acumulado para retornar ao início da sala onde foi derrotado. Não existe um contador de vidas tradicional; cada erro custa diretamente da sua economia. Isso transforma cada tentativa em uma decisão tática, já que sobreviver bem não é apenas uma questão de habilidade, mas também de gestão dos seus recursos.

Mais do que um simples gimmick de gameplay, esse sistema conversa diretamente com a crítica social presente no jogo. Ao tornar o dinheiro a única coisa que “vale uma vida”, o jogo faz uma alusão direta ao modo como, em sistemas capitalistas extremos, até a sobrevivência tem um preço, literalmente.
Movimentação Quadrada, Design Redondo
Apesar de toda a criatividade que Pipistrello and the Cursed Yoyo apresenta, a movimentação do personagem pode causar estranheza à primeira vista. Limitada aos eixos cardeais (cima, baixo, esquerda e direita), ela transmite uma sensação de rigidez que parece contrastar com a temática central do jogo, baseada em um ioiô, objeto naturalmente associado a curvas, fluidez e movimento circular. Em um primeiro momento, essa limitação soa como um retrocesso, e uma movimentação mais livre, ao menos incluindo diagonais, pareceria mais adequada ao ritmo dinâmico e arredondado que o jogo sugere.

No entanto, com o tempo, essa escolha revela um charme intencional e funcional. A movimentação remete diretamente aos clássicos da era 16-bit, especialmente aos primeiros títulos da franquia The Legend of Zelda, e logo se percebe que ela não está ali por acaso. À medida que o jogo avança, surgem desafios e puzzles construídos especificamente em torno dessa movimentação “quadrada”, como se mover sob a água ou operar roldanas em labirintos engenhosos. O que inicialmente parece uma limitação, acaba se tornando uma linguagem própria de design, que o jogo utiliza com criatividade e inteligência e que, no fim das contas, ajuda a reforçar sua identidade retrô e seu charme nostálgico.
Aventura Cheia a Preço de Banana
Por R$50 na eShop, Pipistrello and the Cursed Yoyo entrega muito mais do que promete. É uma experiência única, com identidade própria, crítica social relevante, e o tipo de humor que só um jogo brasileiro poderia fazer tão bem. Uma estranheza inicial aos controles não ofusca o brilho de uma aventura que mostra o quanto o cenário independente nacional tem a oferecer.
Prós:
- Apresentação criativa e nostálgica;
- Virada de perspectiva sagaz;
- Puzzles Criativos e Combate Estiloso;
- Preço justo e acessível.
Contras:
- Movimentação limitada pode demorar um tempo para se “acomodar”;
- Sistema de contratos poderia ser mais flexível.
Nota
9
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