Revisão: Lucas Barreto
O dia das bruxas está chegando e mais uma vez o NintendoBoy está com um novo texto assustador para a data. Com o anúncio de mais um novo remake da franquia Fatal Frame, chegou a hora de explorarmos a série e apresentá-la aos fãs que ainda não a conhecem. Em um mundo onde Resident Evil é rei e Silent Hill dá passos lentos de uma ressurreição, a Koei Tecmo, assim como um fantasma, continua a fazer aparições rápidas e inesperadas com sua série de horror que vai muito além do psicológico ou científico.
Zero: O ínicio de tudo

A franquia Fatal Frame, conhecida no Japão como Zero e na Europa como Project Zero, é uma série de terror criada pela Tecmo em 2001. O sucesso de Resident Evil da Capcom em 1996 no PlayStation 1 fez com que uma nova enxurrada de jogos deste estilo tivesse início, com a Tecmo decidindo criar seu próprio título assustador que pudesse aproveitar o poderio dos consoles da então nova geração 128-bits.
O primeiro título em si foi criado por uma equipe liderada por Makoto Shibata, diretor e escritor da Koei Tecmo com experiência em outros títulos da desenvolvedora, como a série Deception, e o produtor Keisuke Kikuchi. Diferente de outros jogos de terror que faziam sucesso na época, como Resident Evil e Silent Hill, que exploravam temas mais científicos e psicológicos para seus sustos, Fatal Frame se baseava muito no misticismo e folclore japonês, especialmente em rituais que eram realizados em pequenos vilarejos.
Os títulos da série seguem um padrão onde temos protagonistas mulheres explorando locais onde rituais do passado ocorreram de forma errada e agora os espíritos dos moradores assombram seus locais. Para se proteger dos fantasmas, as garotas utilizam a Câmera Obscura, um artefato criado pelo famoso cientista Kunihiko Asou e que serve como a única forma de defesa contra os fantasmas.

Apesar de alguns jogos possuírem coprotagonistas masculinos, as mulheres são as únicas que conseguem utilizar a Camera Obscura em seu poder máximo e geralmente são o foco dos espíritos para a conclusão de seus rituais. A série utiliza bastantes personagens femininas em posições de destaque, protagonistas e antagonistas, e, com exceção de alguns títulos mais recentes, evita utilizá-las de forma sexualizada.
Os jogos em si não possuem uma narrativa interconectada, mas alguns títulos possuem certas referências a eventos anteriores. Os três primeiros jogos, lançados no PlayStation 2 e Xbox (só os dois primeiros), formam uma pseudotrilogia que tem seu “fim” no terceiro jogo, com a protagonista do primeiro game retornando como uma das personagens principais e a heroína do segundo jogo sendo referenciada. O quarto jogo não tem uma ligação narrativa com os outros títulos, mas o quinto traz a filha da protagonista do primeiro jogo como uma das heroínas.
Os três primeiros jogos da série foram desenvolvidos para o PlayStation 2, com os dois primeiros recebendo versões melhoradas no Xbox. O quarto jogo da série foi desenvolvido em uma parceria tripla pela Tecmo, Grasshopper Manufacture de Suda51 e a Nintendo, sendo lançado para o Wii. Durante o desenvolvimento do título, a Nintendo investiu dinheiro na série, tornando-se coproprietária deste e do quinto título, fazendo-os serem exclusivos de Wii e Wii U, até que a Tecmo, agora Koei Tecmo, adquiriu os direitos de publicação dos games e disponibilizou remakes dos mesmos em plataformas modernas.
Por fim, uma curiosidade: o nome americano da série é em referência ao tiro mais poderoso da Câmera Obscura, o Fatal Frame, realizado no momento em que um fantasma lhe ataca. O tiro funciona como um counter e causa dano máximo ao inimigo, geralmente derrotando-o.
A trilogia de PlayStation 2

Lançado originalmente em 2001 no Japão e em 2002 nos Estados Unidos, o primeiro Fatal Frame se tornou um dos primeiros jogos do survival horror no recém-lançado PlayStation 2. A narativa do jogo segue Miku Hinasaki, que está em busca de seu irmão, Mafuyu Hinasaki, que desapareceu enquanto explorava a Himuro Mansion.
O primeiro jogo estabeleceu a base do que seria a série. A Câmera Obscura se faz presente, assim como os fantasmas sendo inimigos, múltiplos finais e um ritual tenebroso que deu errado sendo a razão do local ser assombrado. O título também possui suas peculiaridades que marcaram a era PS2 da saga, como os Tank controls e a câmera fixa, similares aos primeiros jogos da saga Resident Evil.
Ainda em 2002, o jogo recebeu uma versão melhorada para o primeiro Xbox, que adicionou algumas novidades como novos itens desbloqueáveis, visuais melhorados e uma nova dificuldade. Esta versão ajudou a série a expandir sua influência para outras plataformas.

Um ano mais tarde, Fatal Frame II: Crimson Butterfly foi lançado para o PlayStation 2 em todo o mundo. A sequência segue uma nova protagonista, Mio Amakura, que explora o Minakami Village em busca de sua irmã gêmea Mayu Amakura, que desapareceu quando as duas visitavam uma área próxima ao local.
O segundo jogo expandiu a fórmula da série e introduziu novos elementos de design e jogabilidade. No primeiro jogo, só podíamos explorar a mansão Himuro, enquanto neste título exploramos o vilarejo inteiro. Com isso, temos novas oportunidades de sustos, desafios e uma aventura um pouco menos linear.
O primeiro jogo foi considerado bastante assustador pelos jogadores da época, então para o segundo, a Tecmo decidiu focar mais na narrativa a fim de incentivar os jogadores a conseguirem finalizar o título. Essa mudança é vísível na relação entre Mio e sua irmã Mayu, que possuem muitas mais interações entre si durante a aventura do que Miku e seu irmão no primeiro jogo. Além, é claro, de outras mudanças na forma como a história é contada. Ainda assim, o jogo ainda possuía bastantes elementos de terror, com a vilã Sae sendo considerada uma das antagonistas mais assustadoras do gênero por muitos fãs da série e do gênero em si.
Assim como o primeiro título, Fatal Frame II também recebeu uma versão melhorada no Xbox. Batizada de “Director’s Cut”, a nova versão trouxe adições ainda maiores se comparadas à versão expandida do primeiro jogo. Temos um modo em primeira pessoa, survival e novas roupas para as personagens, incluindo as roupas de Kasumi e Ayane da série Dead or Alive.

Em 2005, o PlayStation 2 recebeu o terceiro jogo da franquia. Fatal Frame III: The Tormented foi um jogo bem diferente de seus antecessores. Dessa vez, a narrativa seguia Rei Kurosawa que, após sobreviver a um acidente fatal de carro, que tirou a vida de seu noivo, começa a ter sonhos com a misteriosa Manor of Sleep, ficando presa em um local assombrado.
Além de Rei, o jogador também podia controlar outros dois personagens que acabam sendo sugados para dentro do local em seus próprios sonhos. Miku Hinasaki, protagonista do primeiro título, que ainda se sente culpada pelo final do primeiro jogo, e Kei Amakura, tio de Mio, que tenta salvar sua sobrinha da mansão.
A gameplay do título também recebeu uma grande mudança, agora sendo dividida em duas partes. A principal parte dele ocorre na Manor of Sleep, acessada pelos personagens durante seus sonhos. Aqui temos a jogabilidade tradicional da série, com os fantasmas, a Câmera Obscura e a resolução de puzzles enquanto motor para avançar na história. A segunda parte são momentos de tranquilidade onde Rei está acordada e podemos explorar sua casa utilizando certos elementos do local para descobrir pistas que podem ajudar a exploração da Manor of Sleep.
Apesar de voltar ao estilo do primeiro jogo, onde exploramos apenas um único local assombrado, Fatal Frame III é um jogo grande que introduz novidades importantes para a série. Temos aqui o primeiro “protagonista” masculino (Mafuyu era jogável no prólogo do primeiro jogo, mas por pouco tempo), múltiplos personagens jogáveis, cada um com suas peculiaridades que mudam um pouco a jogabilidade geral e sidequests que afetam o final da narrativa.

Apesar da trilogia não ser conectada, Fatal Frame III serviu como um final para essa era da série, dando um final um pouco mais feliz para as protagonistas da franquia até este ponto. Miku finalmente estava em paz após os eventos do primeiro jogo, Rei teve sua história resolvida aqui e até mesmo Mio marca presença no final verdadeiro. Diferente dos antecessores, este jogo permaneceu exclusivo no PS2 e como tal se tornou um jogo mais raro na série. Este também é considerado como um dos melhores jogos da série por fãs, que esperam ansiosamente por um remake.
Além de encerrar a trilogia, Fatal Frame III também serviu como um final para a era PS2 da série. Este foi o último jogo com alguns dos elementos de jogatina que estava acompanhando a franquia até este momento, como a câmera fixa nos cenários. Ao mesmo tempo, foi um marco na presença da série nas plataformas da Sony, já que a série não retornarias até os remasters.
A “era Nintendo” de Fatal Frame

Em 2006, a Nintendo lançou o Wii, um videogame que trazia uma nova forma de experimentar os jogos graças ao seu controle único, o Wii Remote. Ao ver o console em ação, o diretor da franquia, Makoto Shibata, ficou inspirado em produzir um novo jogo da série para a plataforma.
Durante o período final dos anos 2000, a Tecmo estava passando por um processo de reestruturação interna que resultaria em sua eventual fusão com a Koei, formando assim a Koei Tecmo que conhecemos nos dias atuais. Com isso, Shibata decidiu tentar contar com a Nintendo para a produção do próximo título da série, fazendo o pitch daquele que viria a ser o quarto jogo. A Nintendo concordou em ajudar e até investiu no desenvolvimento do título, aproveitando para adquirir uma parte dos direitos da franquia, mas uma terceira força foi contratada para ajudar o time de Shibata a desenvolver o jogo, a Grasshopper Manufacture de Suda51, com o próprio assumindo o papel de co-diretor, co-writer e designer.
Lançado em 2008 apenas no Japão, Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse foi o primeiro jogo da série que não saiu em consoles da Sony. O título serviu como um pseudo reboot para a franquia em termos de gameplay, com suas mecânicas se tornando a base para os jogos subsequentes. Sua narrativa ocorria 10 anos antes do primeiro jogo da série e segue Ruka Minazuki, Misaki Asou e Choshiro Kirishima.
Os três exploram a Rogetsu Island, uma ilha abandonada onde um terrível ritual ocorreu anos antes. Ruka e Misaki estavam envolvidas com esse misterioso acidente, perdendo suas memórias no processo, enquanto Choshiro resgatou as garotas na época. Os três exploram o local separadamente e aos poucos vão descobrindo os segredos que estavam escondidos.

Em termos de jogabilidade, ainda temos alguns elementos clássicos presentes aqui. Fantasmas ainda são os principais inimigos e as garotas utilizam a Câmera Obscura para se proteger, enquanto Choshiro usa uma lanterna especial. As novidades ficam por conta de agora o jogo utilizar uma visão sobre o ombro, que foi popularizada por Resident Evil 4, uma esquiva que ajuda a desviar dos fantasmas e uma nova mecânica em relação a adquirir itens, onde jogadores precisam mover o controle em direção ao item que deseja pegar no cenário e evitar mãos fantasmagóricas. Essa última mecânica foi bastante criticada por fãs por ser algo repetitivo e monótono, com a animação sendo bastante lenta. Contudo, ela continuou presente em todos os jogos futuros.
Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse ficou exclusivo no Japão por anos e uma razão em si nunca foi revelada. A Tecmo e a Nintendo sempre tentaram se esquivar da questão, jogando a responsabilidade uma para a outra. Uma teoria que ganhou fama nos anos subsequentes tem relação com o lançamento original do título. A versão japonesa de Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse possui muitos bugs, incluindo um em específico que impede que o jogo seja 100% completado. A teoria diz que a Nintendo se recusou a publicar o título no ocidente até que todos os erros tenham sido consertados, mas a Tecmo não demonstrou interesse em continuar trabalhando no jogo após o lançamento, o que resultou no jogo ficando apenas em sua terra natal.
Keisuke Kikuchi, produtor da série, comentou após o lançamento que o desenvolvimento do título foi uma bagunça por conta do envolvimento das três empresas, cada uma com sua própria filosofia de trabalho e design. Eventualmente, jogadores ocidentais conseguiram jogar o jogo graças a um patch de tradução feito por fãs, além, é claro, do remaster oficial que foi lançado em 2023.
Mesmo sendo exclusivo do Japão, o jogo ainda conseguiu ser um sucesso, o que fez com que a Nintendo e a Tecmo continuassem sua parceria nos anos subsequentes. Em 2012, a Tecmo, já Koei Tecmo, desenvolveu um remake para o segundo título da série. Publicado pela Nintendo e disponível para o Wii, Fatal Frame II: Deep Crimson Butterfly modernizou o clássico de PS2 trazendo-o para o estilo de Mask of the Lunar Eclipse.

Sendo inspirado na versão de Xbox, o remake trouxe novidades para o jogo. Alguns fantasmas agora podem ficar mais poderosos após serem derrotados pela primeira vez, novos finais também foram incluídos e um novo modo, Haunted House Mode, coloca os jogadores para andar por um cenário pré-determinado em busca de chegar ao final sem morrer.
Diferente de Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse, contudo, o remake do segundo título foi lançado no ocidente, mas especificamente na Europa, permitindo que fãs pudessem aproveitar o jogo em inglês, mesmo que seja limitado à região europeia. Mesmo assim, Fatal Frame II: Deep Crimson Butterfly foi criticado por alguns fãs por conta das mudanças visuais em relação ao jogo original, com muitos reclamando que o novo estilo artístico da série destruiu a atmosfera do título de PS2.
Dois anos depois, o último título da parceria entre Nintendo e Koei Tecmo foi lançado. Fatal Frame: Maiden of Black Water chegou ao Wii U em 2014 no Japão e em 2015 no resto do mundo. A narrativa do título cronologicamente ocorre muitos anos após o terceiro jogo, dessa vez no Mt. Hikami, uma montanha considerada como um local sagrado, mas que está envolto em mistérios e assassinatos estranhos. Novamente temos três protagonistas aqui, Yuri Kozukata, Ren Hojo e Miu Hinasaki, filha da protagonista do primeiro jogo da série.
Além de contar com membros da equipe de desenvolvimento de títulos anteriores, Maiden of Black Water também contou com alguns membros do Team Ninja, que compartilhou um pouco da tecnologia de Dead or Alive 5 com o título. Isso resultou também em um pequeno modo adicional onde jogadores podiam controlar Ayane, uma das ninjas da franquia de luta, em sua própria miniaventura que era semicanônica para os eventos do jogo.

Apesar de manter a jogabilidade dos títulos recentes, Maiden of Black Water foi bastante criticado pelos fãs veteranos da série por um motivo: o fanservice. Como o jogo utiliza água como sua motivação principal, um de seus principais efeitos era fazer com que a roupa das personagens ficasse transparente após entrarem em contato com superfícies molhadas.
O jogo também oferecia várias roupas mais sensuais para as personagens como recompensas extras, algo que já acontecia em títulos antigos, com bikinis sendo desbloqueados após finalizar a aventura, por exemplo, mas que aqui foi bem mais exagerado. Até mesmo certos fantasmas tiveram suas animações modificadas para algo mais sugestivo. Por fim, alguns fãs também não gostaram das introduções narrativas feitas neste título, especialmente em relação a Miku, a protagonista do primeiro jogo.
Curiosamente, Maiden of Black Water serviu como um final e um novo recomeço para a série. Este é, até o momento deste texto, o último jogo original da série. Após seu lançamento, a Koei Tecmo guardou a franquia na gaveta, decidindo focar em outros títulos. Sete anos depois, contudo, a empresa decidiu lançar um remaster deste mesmo jogo como uma forma de testar o quanto os fãs gostariam de revisitar a franquia. Além disso, o remaster também foi o pontapé para que a KT comprasse os direitos da série que estavam com a Nintendo e seu sucesso abriu as portas para outros remasters.
Spin-offs e outras mídias

Ao longo dos anos, a série Fatal Frame recebeu alguns spin-offs e outros materiais que expandiram sua presença em outras mídias. Não são muitos, mas até o momento tivemos dois spin-offs: Real: Another Edition, um jogo exclusivo para celulares japoneses lançado em 2004, e Spirit Camera: The Cursed Memoir, lançado para o Nintendo 3DS em 2012. Ambos são diferentes dos jogos da série principal, com suas peculiaridades únicas, mas com algumas semelhanças, como os fantasmas como inimigos e algo similar a Câmera Obscura estando presente.
O primeiro jogo também recebeu uma novel, logo após o seu lançamento, que buscou expandir sua história. A série, contudo, só foi receber material adicional após o lançamento de Maiden of Black Water, em 2014. Isso incluiu um mangá, outra novel e um filme japonês. Cada um desses materiais inclui histórias novas, não sendo inspirado por nenhum dos jogos.
O futuro de Fatal Frame

Como mencionado, desde 2021 a série tem recebido remaster de seus títulos, com o quinto e o quarto jogo sendo relançados para as principais plataformas do mercado, incluindo o Switch. A Koei Tecmo já anunciou um novo remake do segundo jogo da franquia, intitulado Fatal Frame II: Crimson Butterfly REMAKE, que chegará no próximo ano para o Nintendo Switch 2, PlayStation 5, Xbox Series e PC.
A desenvolvedora ainda não revelou se possui outros planos para a franquia após o remake. Porém, uma coisa é certa: assim como os espíritos que assombram os locais da série, a franquia sempre retorna para assombrar os jogadores quando se é menos esperado.
