
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 12 de Fevereiro, 2021
Preço: R$ 299,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Switch com cópia gentilmente cedida pela Nintendo.
No cinema, na música e no teatro a crítica normalmente busca uma forma de expressão artística complexa e muitas vezes dramática. Quando mudamos de mídia e falamos de videogame, a história é outra, talvez o critério mais valorizado seja simplesmente a diversão. O jogo desta análise – apesar de não ter muito a dizer sobre a condição humana na terra – entrega isso de sobra.
Super Mario 3D World pousa no Switch em 2021 com um ambiente mais favorável do que em 2013, quando tinha a responsabilidade de alavancar as vendas do Wii U e ser o sucessor dos excepcionais Galaxy 1 e 2. A sensação agora é que, assim como as expectativas, o jogo está mais leve, graças a pequenos ajustes no gameplay. Como resultado, temos uma experiência simples mas comprometida em gerar diversão, lembrando na sua essência, jogos antigos como Tetris e o próprio Super Mario Bros. de NES.
Para justificar o preço cheio, o pacote ainda inclui o “Bowser’s Fury”, uma experiência separada do jogo principal e um experimento em level design muito interessante, que também será contemplado nesta análise.
Direto ao ponto
Surpresa! Pra quem já estava cansado de ver a princesa Peach sendo sequestrada em todo jogo, dessa vez a história é um pouco diferente. Em uma rápida e charmosa cena de introdução, com acompanhamento sonoro digno de animações mudas do início do século XX, o jogo mostra Mario, Peach, Luigi e Toad viajando para o “Sprixie Kingdom”, para salvar as “Sprixies Princesses” das garras do Bowser.
E é isso, em menos de 2 minutos você já está no controle, ciente da sua missão. A história simples e direta já é o primeiro de muitos elementos que o jogo busca nos 4 primeiros jogos em 2D do Mario, o resto fica claramente visível no level design.
O “3D” no título, se refere a uma vista que em vários momentos é isométrica, com a câmera distante, diferente de jogos como Mario 64, Sunshine e Galaxy. Essa perspectiva, abre espaço para um level design mais preciso, com a posição de cada plataforma sendo milimetricamente pensada.
Aqui, o Mario não precisa de um moveset complexo, que abra espaço para pulos mirabolantes com muitas combinações de botões, já que as fases são lineares e contidas. Ainda assim, a Nintendo viu a necessidade de dois ajustes nesta versão para Nintendo Switch, o primeiro é a velocidade, todos os personagens estão pelo menos duas vezes mais rápidos e segundo, o “mergulho”, um clássico movimento do Mario em outros jogos que foi acrescentado no 3D World.
Apesar da movimentação simples atender tudo que o jogo necessita, o fato do botão de correr, de fazer ataques especiais e de pegar itens ser o mesmo, gera algumas confusões durante a gameplay, seria uma opção simples de se adicionar nesse relançamento, mas que infelizmente não aconteceu.
Rápido, fluído e criativo
O jogo segue a clássica divisão de mundos, com diversas fases dentro de cada um deles. A temática de cada mundo (floresta, deserto, gelo) pouco importa para a maioria das fases que trazem todo tipo de cenário com mecânicas novas e diferentes. E aí está um dos principais pontos positivos do jogo: variedade.
Quanto mais avança, mais o 3D World surpreende com a criatividade, cada fase tem uma progressão redondinha, que te apresenta a mecânica, desenvolve e te surpreende com ela, até o fim da fase e pronto, vai para a próxima. Aliado a isso, a rápida movimentação dos personagens e a duração curta de cada desafio entrega uma sensação de constante novidade, onde o jogo não perde o ritmo, já que ele dispensa a mecânica antes que o jogador possa enjoar dela.
Em certos momentos, a vista isométrica pode trair o jogador, com a sensação de que o personagem está posicionado mais à frente ou mais a fundo no cenário. Por conta da natureza rápida do jogo e uma dificuldade bem equilibrada durante a campanha principal, essa frustração acaba se tornando imperceptível na experiência final.
Variedade em todos os sentidos
Com o visual tão colorido, Super Mario 3D World já atrai atenção de públicos de todas as idades, mas o jogo ainda abusa ao utilizar como temática principal uma das coisas mais fofas da natureza: gatinhos. O Power-up que dá a roupa de gato acrescenta bastante ao gameplay, permitindo que os personagens possam escalar superfícies e arranhar inimigos, além de ficarem adoráveis.
O sistema de power-ups é um dos maiores elos do jogo com os clássicos em 2D, o personagem fica transformado e com poderes especiais, podendo levar um dano extra. Além do Super Bell, tem a flor de fogo, a flor boomerang, a folhinha tanooki, são diferentes poderes que trazem variedade de gameplay e mais opções para o jogador.
Variedade de gameplay aliás é uma constante do jogo, não só por conta do level design que constantemente traz algo novo, mas pelos raros momentos em que o jogador controla a carismática Plessie pela água ou quando o jogo muda completamente nos desafios do Captain Toad, que precisa encontrar 5 estrelas em fases-puzzle que são quase um cubo mágico. Estas interrupções no gameplay padrão do jogo, são bem-vindas e dão a sensação de uma experiência ainda mais densa e criativa.
Divertido para todo mundo (em qualquer lugar)
Se o jogo é atrativo para todo mundo, todo mundo tem que jogar. O multiplayer para até 4 pessoas é uma das principais características do 3D World, sendo o primeiro Mario em 3D da série principal que oferece essa opção. O caos é tão garantido quanto a diversão, com cada personagem controlando um pouco diferente, o Toad corre mais rápido, a Peach flutua e por aí vai, funcionando como uma bela homenagem ao esquecido Super Mario Bros. 2 Americano.
Mas o jogo funciona melhor no multiplayer? É uma experiência diferente, para dar risada, se ajudar e ao mesmo tempo competir, compartilhando a experiência de explorar cada cenário do Jogo. No single-player, o jogo é mais conciso, focado, o jogador percebe mais os detalhes, as músicas e se diverte com um elaborado level design.
Aqui na versão de Switch, a Nintendo ainda corrige um dos grandes problemas da versão do Wii U: a ausência do online, uma novidade que cai como uma luva no período de pandemia. Vale ressaltar que o resultado da experiência é variável, em virtude do sistema de conexão P2P utilizado pela Nintendo, durante os testes para essa análise a experiência foi de forma geral positiva, com poucos tropeços, mas há um input lag visível em diversos momentos.
Tecnicamente impecável
Super Mario 3D World entra para o rol de jogos de Switch que rodam na resolução 1080p (na maior parte do tempo) a 60 quadros por segundo, ao lado de Super Smash Bros Ultimate, Mario Kart 8, Arms e outros. Esta qualidade técnica realça uma direção artística colorida e criativa, que abusa do brilho, tudo no cenário reflete, até mesmo os personagens. As paletas vão desde o padrão de cores primárias do Mario até tons pastéis e neons, não há muita regra, cada fase segue uma direção artística própria.
E uma novidade na versão do Switch, é o modo foto, que dá ao jogador o poder de fotografar cada momento e cada detalhe nos belíssimos cenários do jogo, com filtros, estampas, zoom e diferentes ângulos. É uma adição que não interfere diretamente no gameplay, mas garantiu algumas horas extras na minha jogatina, buscando o melhor ângulo para criar uma cena bonita ou até mesmo engraçada.
Todos esses cenários divertidos são acompanhados de uma trilha sonora fantástica, o jogo abraça o Jazz e o resultado é perfeito, desde as músicas mais animadas até alguns temas dramáticos e épicos, como o da Mansão Boo e do Castelo do Bowser. As músicas dão ritmo ao jogo e divertem, se encaixando perfeitamente no contexto de cada fase, inclusive, no caso da “Beep Block Skyway” (Ou Passeio Espacial Rítmico) a música e o level design estão intimamente ligados, exigindo que o jogador fique atento ao ritmo para finalizar a fase.
Corre que o bicho tá bravo!
Não existe nada como Bowser’s Fury na franquia Mario. Na primeira vez que a expansão foi mostrada, me perguntei por que o jogo estava acompanhando o 3D World, já que o conceito aberto lembrava bem mais o recente Super Mario Odyssey. Depois de jogar, é fácil entender.
Bowser’s Fury se aproveita de mecânicas, power-ups e diversas ideias de level design apresentadas em Super Mario 3D World e as reorganiza em um mapa 100% aberto e é justamente aí que entra a originalidade. A estrutura do jogo posiciona várias ilhas com desafios lineares no mapa, são desafios que lembram bastante as fases do 3D World, mas que você pode a qualquer momento, pular pra fora e ir para a outra ilha. Esse tipo de liberdade é interessante, porque altera a dinâmica dos jogos do Mario de: terminar a fase, voltar para o mapa e então ir para a próxima. Não tem mais isso, a experiência acontece toda em um espaço só, sem loading, e isso garante um nível de coesão imenso para o jogo, a sensação é de estar completamente imerso naquele mundo.
Para fazer bom uso dessa estrutura aberta, existe uma dinâmica que afeta qualquer lugar do mapa e é justamente o que dá título ao jogo. Depois de um certo período jogando, a música muda, começa a chover no cenário e um casco gigante no fundo do cenário começa subir, são sinais de que o Bowser vai despertar. Durante a fúria, o gigante vai tentar atacar o jogador de todas as maneiras, com rajadas de fogo e plataformas caindo do céu. O objetivo do jogo é coletar os “Cat Shines” (Ou Sóis Felinos) para poder desbloquear o “Giga Bell” e batalhar com o Bowser.
Para uma experiência curta, a ideia funciona muito bem. O jogador acaba ficando sempre atento ao que pode acontecer e ganha motivos para sempre explorar o mapa em sua totalidade, alguns “Cat Shines”, por exemplo, dependem da rajada de fogo do Bowser para serem encontrados, então há espaço para usar os momentos em que ele desperta a seu favor. As batalhas são simples mas divertidas, aproveitando ao máximo o conceito de dois gigantes batalhando em um mapa imenso.
Aliás, o espetáculo visual é uma constante na experiência, a escala do cenário é impressionante e a direção visual usa tons claros e coloridos. Claro que tudo muda nos momentos de fúria, mas continua com um visual de cair o queixo, com os efeitos da chuva e do fogo. Tecnicamente, existe uma peculiaridade curiosa para um jogo de Switch: ele roda a 60 quadros por segundo na TV mas cai para 30 no modo portátil, a decisão causa uma certa estranheza e acabei dando preferência pela experiência na TV.

Conclusão
Super Mario 3D World + Bowser’s Fury é um pacote muito atrativo para os fãs do encanador, o primeiro jogo do pacote tem pequenas mudanças em relação ao seu primeiro lançamento, mas ainda não sofreu com o envelhecimento e segue uma experiência fantástica no Switch. Já Bowser’s Fury é uma proposta única dentro da franquia e uma experiência curta, mas marcante, que agrega bastante valor ao jogo base.
Para quem nunca jogou no Wii U, o pacote é uma aquisição quase obrigatória, principalmente para aqueles que gostam do gênero de plataforma. Para aqueles que já tiveram contato com o jogo, o preço salgado torna a recomendação difícil, com certeza eu me diverti jogando de novo e o multiplayer é sempre uma boa justificativa para ter o jogo disponível na biblioteca, fora Bowser’s Fury. Então vale a pena avaliar a disposição individual e o seu orçamento para adquirir um produto, que em grande parte, ainda é o mesmo, ou seja, ainda é muito bom.
Avaliação
Prós:
• Excelente level design;
• Simples e Divertido;
• Recheado de ideias;
• Visualmente e sonoramente belíssimo;
• Bowser’s Fury é uma fantástica adição ao pacote.
Contras:
• Ausência de melhorias no mapeamento do botão de correr;
• Alguns problemas de perspectiva em fases do jogo.