
Nessa semana, recebemos a infortuna notícia de que as lojas virtuais do amado portátil Nintendo 3DS e o icônico Wii u gradualmente irão fechar suas portas. Com a crescente preocupação com a preservação de obras da mídia, o relato foi recebido com pesar, embora sem o ressentimento característico de tais informações. Afinal, ambas plataformas já viam certos serviços gradativamente sendo desligados, seja com o fim do Miiverse, a rede social tão querida do console de mesa, ou até com o serviço online do primeiro Super Mario Maker sendo abandonado, ainda em 2020. Da mesma forma, neste período a Nintendo informou que já não haveria formas de acrescentar créditos em suas lojas virtuais sem a integração do serviço do Switch, já indicando o desligamento das eShop’s.
Tendo em vista todo o cenário colocado em frente ao consumidor, que a partir de março de 2023 terá de acessar novos jogos apenas adquirindo suas mídias físicas, decidimos reunir uma pequena lista para citar alguns dos jogos que padecerão em seus formatos digitais, sem terem sido levados a outras plataformas e que, portanto, não serão mais acessíveis após o encerramento de tais operações. Sendo assim, preparem seus HDs para baixarem tudo o que puderem, e mergulhem conosco em uma mistura de nostalgia e lamúria.
Wii U

O antecessor do Nintendo Switch, infelizmente, representou um período amargo na história da empresa. Com exclusivos fantásticos e indies aflorando no console de diferentes formas, os melhores esforços da Nintendo não foram capazes de superar a confusão conceitual do público em relação ao sucessor do Wii, enterrando-se com comerciais infantis e sem ser capaz de suprir a demanda por auxílio de empresas Third-partys. Ainda assim, os poucos fãs do console irão sempre salientar o valor dos jogos ali presentes, quase todos agora levados ao Switch, onde podem de fato brilhar, deixando poucos destaques a serem considerados no aspecto digital.
Muito já se perdera com o fim do Miiverse, como a perda de funções onlines em Xenoblade Chronicles X, e jogos como Pikmin 3 Deluxe e Super Mario 3D World + Bowser’s Fury não apenas deram a eles uma nova chance como também expandiram em cima do lançamento original. Ainda assim, DLCs como as de Sonic Lost World, em que o ouriço explora os vastos campos de Hyrule e derrota Shy Guys na ilha dos Yoshis, ou as do Super Smash Bros. for Wii U/3DS, incluindo Bayonetta e Cloud, serão completamente perdidas com o tempo, sobrevivendo apenas nos poucos consoles com a memória com elas armazenadas. Vamos, agora, aos jogos:
Fast Racing Neo
O segundo título da série Fast Racing League mistura F-Zero em brutais visuais, realistas e com pistas que valorizam a todo instante a velocidade máxima dos veículos. Apesar de ser um lançamento exclusivamente digital, em 2015, no ano seguinte teve cópias físicas lançadas apenas na Austrália e na Europa.
Dr Luigi
Em 2014, a Nintendo decidiu homenagear o irmão mais amado de todos os tempos. O ano do Luigi foi uma grata comemoração àquele tão querido e caricato personagem, rendendo-lhe uma DLC no jogo New Super Mario Bros. U, encontrado em formato físico, e o título digital Dr Luigi. O fato, antes da versão mobile protagonizando Dr Goomba e outras criações… curiosas… foi uma grata surpresa, sem necessidade de reinventar a fórmula clássica de Dr Mario, apesar de uma dificuldade inventada ao inaugurar novos formatos de cápsulas, trazendo um modo competitivo e outro single-player queridos ao público.


Mario Vs Donkey Kong Tipping Stars
Mario Vs Donkey Kong é uma extensa e longeva série, com puzzles variados criados a partir de pequenos bonecos autômatos de Mario e seus amigos, valorizando a interação do jogador com o cenário para levá-los de um ponto ao outro. Tipping Star foi um interessante título, sendo lançado simultaneamente no Wii U e no 3DS, como uma compra simultânea, mas não apresentou muitas novidades na fórmula.


NES Remix
Os amiibos formaram um interessante conjunto de colecionáveis na história da Nintendo. Os bonecos interativos, ainda que sejam vendidos e produzidos hoje, foram amplamente utilizados no Wii U e no 3DS, com linhas e linhas de variados produtos, o que acabou por causar seu desgaste, mas que ainda assim resultou em títulos muito curiosos nas plataformas. O NES Remix é um exemplo do fenômeno, apresentando remixes de fases de jogos clássicos conforme a utilização de amiibos, com desafios únicos e divertidos.


Pokémon Rumble U
Ainda falando sobre amiibos, Pokémon Rumble U é um exemplo de como a venda sem estratégia de bonecos interativos acaba por ser um tiro no próprio pé. O jogo por si só é gratuito, com conteúdo desbloqueado a partir de miniaturas de Pokémon cabeçudinhos, com visuais que não atraíram o público geral em um título genérico em sua execução.


Pushmo World
Por fim, Pushmo World aparece como a síntese da tragédia que se tornou o Wii U com o abandono de seus serviços. O criativo e interessante jogo puzzle, que se baseava muito no modo online, perdeu grande parte de suas funções com o término do Miiverse, tendo erradicado grande parte de seu maravilhoso material. Agora, com o fim da eShop no console, a gigante japonesa prega o último prego em seu caixão, deixando fãs desolados, vivendo apenas com suas memórias afetivas.


Nintendo 3DS

O console portátil carregou um grande fardo em seus ombros: o peso de ser o sucessor de um dos maiores sucessos da Nintendo de todos os tempos. O Nintendo DS apresentou-se como uma incrível inovação em sua época, com sua tecnologia touch ainda muito recente e com um poder incrível, sendo capaz inclusive de rodar Super Mario 64, algo impensável após o GameBoy Advance. Apesar de não ser capaz de mover tantas vendas como seus antecessores, o 3DS revelou-se como um sucessor digno, com remakes de The Legend of Zelda Ocarina of Time e Majora’s Mask de primeira linha, carregando, também, do catálogo do Nintendo 64 o glorioso Star Fox 64. Ressuscitou Kid Icarus por meio de Masahiro Sakurai, o diretor e criador de Super Smash Bros., em um jogo caprichado e até hoje venerado, além de introduzir em um portátil um Mario 3D, com Super Mario 3D Land, e uma versão de Smash 4, algo inédito até então.
É necessário lembrar, também, de Metroid Samus Returns, o remake que trouxe Samus de volta à vida, em uma versão que serviria de base para Dread, no Switch, e também é necessário destacar os vários Pokémon que lançaram em sua vida, Fire Emblem Awekening e Fates, os vários Shin Megami Tensei… seu catálogo foi tão vasto e extenso que até em seu modelo refeito, o New 3DS, recebemos um Demake de Xenoblade Chronicles e títulos de Wii U como Captain Toad: Treasure Tracker e Hyrule Warriors. É impossível colocar tudo aqui, e as perdas digitais são muito mais significativas, já que poucos de seus jogos foram portados ao Switch (aqui destaco apenas Miitopia, com a esperança de recebermos Tomodachi Life em algum momento no futuro). Agora, tentemos honrar suas memórias:
Fire Emblem Fates: Revelation
Após o estrondoso sucesso de Fire Emblem Awekening, o jogo considerado como a “última chance da franquia”, Fates foi lançado com alegria pelos fãs de verem um novo título da série, mas com certa fatiga por ter sido dividido em dois títulos, espelhando o formato de venda dos jogos Pokémon. Com dois títulos sendo lançados de forma simultânea, o jogador era empurrado para um dos lados em um conflito entre os Hoshidos e Nohr, cada um contando um lado da guerra. A DLC de Fates, Revelation, contudo, narra um evento à parte, quando o jogador, representado por Corrin, opta por não se associar com nenhum dos lados, levando ao complemento da história geral. Sem a possibilidade de ser acessada, o jogo acaba por ser deixado incompleto.
Dr Mario: Miracle Cure
Dr Mario parece ter certa implicância que o persegue. Já falamos de Dr Luigi que não será mais acessível e já citei a versão mobile, outra versão que, agora, não pode mais ser acessada por conta dos servidores onlines cortados, mas também é possível falar sobre a versão do DSi que também não pode ser mais acessada por conta do desligamento da loja. É uma pena ver tantos jogos se tornando inacessíveis pelo tempo, mesmo que não se destaquem ou que não tenham certo prestígio. Na versão de 3DS, o modo de Dr Luigi foi acoplado — fora isso não há muito mais a se destacar.


Pocket Card Jockey
Aos céticos: a Game Freak não produz exclusivamente jogos da franquia Pokémon. Pocket Card Jockey é um curioso título envolvendo corridas de hipismo tendo como base cartas, com customização do cavalo e do personagem e com uma narrativa que move a jogabilidade de formas muito distintas.


Kirby Fighters Deluxe
Em Kirby Triple Deluxe, somos apresentados a um minigame de luta, onde adoráveis monstrinhos caem em pancadaria bruta entre si. Na eShop, Kirby Fighter Deluxe aprimorou o minijogo em um pacote completo, embora simples, com mais variedade de mapas e personagens. Embora Kirby Fighters 2 esteja disponível no Nintendo Switch, é sempre bom ter em mente de onde o material surgiu.


WarioWare: Snapped!
O jogo é apenas um dos vários exclusivos da loja virtual do Nintendo DSi que sobreviveram ao serem levados à loja do N3DS, mas que agora de fato se despedem da possibilidade de serem adquiridos. Este WarioWare em específico pode ser visto por muitos com certa estranheza, mas sua mecânica ao redor do uso de câmeras deixará certo saudosismo.
Bye-bye Boxboy!
Continuação de BoxBoy e BoxBoxBoy, o terceiro título da série apresenta quebra-cabeças criativos utilizando a forma quadrada dos personagens, desenvolvida pela HAL Laboratory e prestigiado em seu lançamento, rendendo-lhe inclusive premiações de melhor puzzle em 2017.

Trilogia Dillon’s
Com uma passagem movimentada no console, os jogos Dillon’s apresentaram um personagem antropomorfo em cenários de ação e corrida, em três títulos publicados pela Nintendo exclusivamente em meios digitais. Seu maior destaque? A presença de Amiimals, personagens jogáveis ou decorativos também antropomorfos customizáveis pelos Miis, rendendo pérolas e trazendo um peculiar charme às obras.




Muito mais que uma geração perdida: o fim do Virtual Console
Tendo destacado jogos que agora muito provavelmente nunca mais verão a luz do dia novamente, agora penso ser necessário voltar-me àqueles que tiveram uma nova chance com um dos melhores serviços já feitos pela gigante japonesa, mas que agora morre com os demais. Falo sobre o Virtual Console, compilações de jogos disponibilizados virtualmente de gerações passadas, do NES ao Wii, do Virtual Console ao NDS. Basta observarmos o fenômeno ocorrido com o anúncio de Metroid Dread, com o disparo de vendas de jogos Metroids na eShop do Wii U. Financeiramente falando, como pagar mais de seiscentos reais em Metroid Prime Trilogy é inviável na realidade social de nosso país, é o mesmo que enterrar a coletânea a seis palmos debaixo do chão. Algo a se lastimar, também, são as mudanças realizadas em clássicos como Excitebike ou o original Kid Icarus que não poderão ser acessados em novos consoles, pela função 3D única do portátil. Da mesma forma, jogos de NDS possíveis de serem jogados com o esquema de duas telas do Wii U deixarão de ser acessíveis, perdendo títulos como The Legend of Zelda: Phantom Hourglass e Spirit Tracks que muito dificilmente seriam portados ao híbrido da Nintendo.

No fim, é importante aproveitar a ocasião para realizar uma reflexão. Acessibilidade e preservação, infelizmente, não andam de mãos dadas, uma vez que a mídia digital universaliza o acesso de diversos jogadores, tanto no aspecto físico quanto no aspecto econômico, mas nos tornamos dependentes das vontades de empresas que, francamente, não hesitam em interromper operações que resultam apenas em custos. O mercado de jogos é muito específico nesse quesito, com a hipervalorização de lançamentos e um certo desprezo com o passado… Imaginem apenas um mundo onde, de dez em dez anos, todos os filmes e livros lançados no período passado apenas desaparecessem, com o intuito de mover mais e mais vendas de produções novas. Não teríamos acesso às obras de Machado de Assis, o mundo fantástico de Tolkien e nem menos a filmes extremamente populares como Matrix e grande parte das produções da Marvel. O que fazer, então, ante a desolador cenário? Pressionar a empresa, assim como foi feito na ocasião da notícia do encerramento das lojas virtuais do PS3 e do PSVita? Engolir as reclamações em seco e viver apenas pela memória afetiva? Francamente, não sei bem uma resposta correta. O que sei, em todo caso, é que a memória nos move, mobiliza e nos faz valorizar o que temos em nossas mãos hoje e agora.
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