
Desenvolvedora: Lizardry
Publicadora: PLAYISM
Data de lançamento: 26 de Janeiro, 2023
Preço: R$ 38,49
Formato: Digital
Análise feita no Switch com cópia gentilmente cedida pela PLAYISM.
Revisão: Marcos Vinícius
A linguagem é a forma pelo qual nos conectamos com o mundo, com o outro, com nós mesmo. 7 Days to End With You, para além de um jogo, é um exercício comunicativo, um estudo lógico e, por sua natureza, uma experiência contemplativa e completamente vinculada à compreensão do jogador. Uma narrativa curta, mas que se prolonga em suas possibilidades.
A Linguagem Interna
A obra se inicia com o despertar. Ao abrirmos os olhos, somos apresentados a um cenário estranho, complementado por uma mulher igualmente estranha. Conforme recobramos a consciência, começamos a ouvir um som estranho, palavras de uma língua desconhecida, fazendo-nos ainda mais estranhos àquela realidade que nos é apresentada. Sem sermos capaz de compreendermos uma só palavra, passamos a caminhar pela casa junto à mulher estranha, que reage e busca se comunicar conosco a cada interação, por sete dias.
A premissa do jogo não poderia ser mais simples. Em uma estrutura de Visual Novel com elementos Point-and-Clicks, a compreensão da obra depende apenas de nós mesmos. Tendo como posse um caderno com todas as palavras que já presenciamos daquela língua estranha, podemos selecionar um vocábulo e analisá-la em diferentes situações em que esta foi utilizada, de forma que podemos começar a supor seu significado.
Ao término de cada dia (mais curto ou longo a depender do quanto o jogador interage com os elementos disponíveis) nosso personagem adormece e lembra de algum sentimento. Nessa hora, e apenas então, podemos “adivinhar” uma palavra dentre diversas opções, com o jogo afirmando se nossa suposição está correta ou não. Todos outros palpites, contudo, não ultrapassam a categoria de palpite, transformando a experiência em algo completamente subjetivo ao jogador.

Em sua simplicidade, 7 Days to End With You não encanta muito como jogo. Suas mecânicas são de fato simplificadas ao máximo, e não existe um “objetivo final”, já que podemos chegar aos créditos sem qualquer esforço, apenas dormindo o mais rápido possível. A personalidade da personagem com quem interagimos depende unicamente e exclusivamente em nossa percepção sobre as palavras, e a narrativa compreensível, ou seja, o pensamento de nosso próprio personagem, intriga o suficiente para gerar curiosidade, mas não encanta necessariamente por certa complexidade.
Para além de um jogo
A bem verdade é que, ao analisar a obra apenas por seu elemento “jogo”, perdemos o que há de verdadeiramente interessante aqui. 7 Days to End With You, na verdade, é um exercício lógico, e passo a analisá-lo como tal. A língua, viva e orgânica, é definida por critérios morfológicos (grafia), fonéticos (som), sintáticos (relação das palavras entre si) e semânticos (significado).
A obra, em sua limitação, busca limitar ao máximo a complexidade da língua para nos fornecer uma experiência acessível exclusivamente por meio da linguagem escrita, por meio de ícones, ou letras, criados sem relação com a fonética. Dessa forma, a morfologia é descartada (por não sermos capaz de reconhecermos marcadores claros de casos e afixos) assim como a fonética (não somos capazes de ouvir as palavras nem o som das letras), sobrando a análise sintática e semântica.

Ao ler palavras repetidas em contextos diferentes, podemos marcar repetições. Ao realizar tarefas de forma errada, lemos uma palavra que expressa nosso erro. Dessa forma, poderíamos entendê-la como um “não”? Da mesma forma, encontramos uma mesma palavra ao analisarmos o fogo, as panelas e a água quente. Seria este o signo para “calor”? E se uma palavra é repetida constantemente quando a personagem se dirige a nós? Seria este um pronome? Nosso nome?
Essa miríade de possibilidades que torna a obra tão interessante. Como um exemplo, demarquei em determinado momento uma palavra como vasilha. Posteriormente, marquei outra como comida. E, ao selecionar um prato, encontrei as mesmas palavras, formando algo como “vasilha comida”, o que me causou bastante entusiasmo ao ver os conectores lógicos formando novas construções sintagmáticas.
Ao término dos sete dias, contudo, é muito provável que não se tenha nem arranhado as múltiplas possibilidades da língua. Para nossa sorte, ao reiniciar o ciclo mantemos nossas anotações, fazendo-nos reviver o jogo para encontrarmos novas possibilidades, chegando cada vez mais próximos a alguma solução que nos agrade.
Como avaliar?
Assim, ao invés de concluir algum ponto deixo apenas pensamentos em suspensão. Qual seria a forma mais justa de julgar a obra? Como é possível observar, a experiência jogo não é a das mais interessantes, mas o potencial lógico que ele nos possibilita me faz considerá-lo como algo único em sua categoria.
Ainda assim, não posso de deixar registrado o quanto gostaria de, ao menos, uma forma de análise morfológica da estrutura dos vocábulos, o que tornaria a obra bem mais complexa, mas também faria do exercício uma experiência profundamente mais enriquecedora.
Prós:
- Sua proposta é única e bem executada;
- Há extremo prazer em conectar a lógica por trás das frases.
Contras:
- O sistema linguístico poderia ser mais complexo, com elementos fonéticos e morfológicos.
Nota:
7,5
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