
Desenvolvedora: The Game Kitchen
Publicadora: Team17
Data de lançamento: 24 de agosto, 2023
Preço: R$ 159,90
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia gentilmente fornecida pela Team17.
Revisão: Paulo Cézar
Num mundo em que cada vez mais os fãs de jogos se digladiam por assuntos banais na internet, muito ainda se debate sobre o conceito de sequência. Muitos defendem que, se a desenvolvedora reaproveita mecânicas e elementos visuais de seus títulos anteriores, o lançamento de um DLC para a obra original já se justificaria – o que, a meu ver, é um argumento questionável e subjetivo.
Não vou mentir: a jornada de Blasphemous 2 é, sim, um tanto familiar, às vezes familiar até demais, mas não dá para dizer que a desenvolvedora não se esforçou para fugir do rótulo de “daria para ter sido um DLC”.
Produzido pelo estúdio espanhol The Game Kitchen e publicado pela Team17, Blasphemous 2 marca um novo despertar do Penitente, que mais uma vez se vê preso em um ciclo de morte e ressurreição numa batalha contra o Milagre.

O nascimento de um novo filho do Milagre
A aventura se inicia logo após os eventos de Wounds of Eventide, um dos conteúdos adicionais gratuitos de Blasphemous, agora que um novo filho do Milagre foi profetizado. Com a Cidade do Santo Nome erguida sobre o ombro de três estátuas colossais, o Penitente deve, de forma resumida, impedir o nascimento da nova criança.
A narrativa, tal qual a do primeiro game, é pouco intrusiva e contada por meio de diálogos breves, poéticos e de cunho religioso. Esse modo cabalístico de contar a história continua sendo um dos charmes da franquia, deixando o jogador positivamente desconfortável em explorar um pouco mais sobre seus personagens grotescos.
Como um bom metroidvania, o jogo propõe três caminhos diferentes a serem seguidos logo no início, cabendo a você escolher o que deve seguir – ainda que essa escolha dependa muito mais das armas que você tiver no momento. O objetivo primário é, basicamente, revelar os Pesares protegidos pelos três guardiões do Milagre e, assim, ascender às partes altas da Cidade do Santo Nome.

Combate aprimorado e novas armas
Cá entre nós, o sistema de combate do primeiro Blasphemous era bom, mas, com o tempo, caia na repetição e acabava destoando das demais virtudes do game. Afinal, por mais que pudéssemos destravar novas habilidades, as lutas eram limitadas aos poucos movesets da Mea Culpa, a única espada concedida ao Penitente para desbravar Cvstodia.
No segundo título, o combate foi drasticamente aprimorado com a adição de três armas inéditas, cada qual com características e padrões únicos. A dupla Sarmiento e Centella, por exemplo, uma combinação de espada e faca, garante ao Penitente investidas rápidas e acúmulo de poder elétrico.
As armas, inclusive, não são só usadas nas batalhas e também se conectam a puzzles bem construídos. Você pode usar a Ruego Al Alba, uma lâmina curva bem equilibrada em termos de poder de ataque e velocidade, para quebrar certos tipos de parede, contanto que consiga pegar o impulso necessário.

Embora o nosso personagem comece com apenas uma arma, as demais são encontradas à medida que progredimos pelas dungeons principais. Conforme desbloqueamos novos movimentos com o avanço da história, como o indispensável pulo duplo, passamos a encontrar melhorias para os equipamentos, desbloqueando assim um leque ainda maior de possibilidades na árvore de skills.
Apesar de o combate estar mais profundo e diversificado, não posso deixar de pontuar que muitas das finalizações do jogo anterior foram reutilizadas. Além disso, o número de animações é baixo se considerarmos o escopo da jornada, e a repetição de inimigos comuns incomoda os olhos em trechos avançados, justamente pela falta de novidade.
Com relação à dificuldade, pode ter sido só uma impressão minha por conhecer Blasphemous de trás para frente, mas a sequência aparenta ter encontrado o equilíbrio perfeito nesse sentido. É claro que há bosses que demandam conciliar técnicas e armas com precisão máxima, mas nada como algumas tentativas extras para superá-los.

Há, no entanto, um desafio genuíno em alguns pedaços do mapa em que muitos inimigos brotam ao mesmo tempo na tela, porém, novamente, existe um equilíbrio na dificuldade e, portanto, nenhuma morte acaba sendo gratuita.
Exploração e melhorias à fórmula metroidvania
Quem conhece o primeiro game sabe que Blasphemous se vale da boa e velha receita de metroidvania, o tal do ir e vir, para entregar um mundo aberto interconectado, com segredos que se entrelaçam como um grande e complexo quebra-cabeça.
Blasphemous 2 segue a cartilha do gênero, porém traz áreas mais diversificadas que o primeiro, sendo que agora há um foco maior nos desafios de plataforma. Ainda, há obstáculos que colocam à prova as habilidades do jogador e o domínio de todos os movimentos acrobáticos do Penitente.

A exploração é, sem dúvidas, um aspecto primário da franquia e continua sendo protagonista aqui. É gratificante explorar cada cantinho porque você é sempre recompensado à altura, seja com pontos para angariar habilidades, seja com fragmentos de história que contextualizam personagens do mundo.
Se você é o tipo de jogador que almeja fazer 100%, lembre-se de que existem muitas paredes ocultas e passagens secretas camufladas nas mais de 20 zonas do vasto mapa. Minha jornada durou suas boas 18 horas, mas esse tempo pode aumentar consideravelmente se você pretende desvendar todos os enigmas e suas nuances – e se estiver disposto a buscar mais de um final, naturalmente.
É sempre bom reforçar que, assim como no primeiro game, quase todas as missões secundárias são perdíveis e podem impactar diretamente no seu progresso em certas áreas – você pode, por exemplo, não conseguir obter 100% de uma determinada região. À vista disso, é de suma importância prestar atenção aos diálogos e não deixar de entregar itens importantes a NPCs tão logo adquiri-los.

Blasfêmia pixelada
O fato de um jogo ser lançado hoje sem bugs, quedas de frames, crashes e outros problemas técnicos é digno de aplausos, por mais triste que seja dizer isso. Blasphemous 2 é um primor técnico no Nintendo Switch e quase não apresentou falhas durante os nossos testes.
Há detalhes que incomodam, como quando misteriosamente você leva dano por encostar em um inimigo durante uma finalização, algo que não deveria acontecer, mas nada que comprometa a experiência a ponto de impedir o avanço.
Não é exagero afirmar que a parte visual de Blasphemous 2 é o suprassumo dos games 2D. Moldada a partir da estética barroca do século XVII, das artes às obras literárias, a nova produção da desenvolvedora The Game Kitchen também é carregada de referências de sua terra natal, Sevilha, com elementos do estilo gótico de monumentos históricos da província, como a própria Catedral De Sevilha.

Chefes e paisagens promovem verdadeiras pinturas pixeladas e dão um show à parte, com destaque para os bosses e NPCs assustadores que habitam esse universo. No decorrer da aventura, nos deparamos, por exemplo, com uma mulher que testemunha sua pele ser gradualmente descolada de sua carne por um grupo de anjos. Sinistro, para dizer o mínimo.
Mais intrigante e assustador que a aventura original
Blasphemous 2 potencializa todas as qualidades de seu predecessor com mais elementos de exploração, novas armas e um combate mais profundo, técnico e coreografado. Ainda que o saldo seja positivo, a jornada do Penitente, mesmo com sua atmosfera sombria inconfundível, me pareceu mais familiar do que eu gostaria, herdando muito (em caixa alta) do que já tínhamos visto em 2019, no lançamento da obra original.
Prós
- Atmosfera sombria e melancólica continua sendo a marca registrada da franquia;
- Combate aprimorado em todos os sentidos, com mais opções e técnicas;
- Desafios de plataforma e puzzles mais bem elaborados;
- Exploração continua sendo um aspecto primário e instiga o jogador a fazer descobertas;
- Recheado de segredos e lore em subtextos de NPCs.
Contras
- Excesso de elementos reaproveitados do jogo anterior.
Nota
8,5
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