Revisão: Davi Sousa
Grand Theft Auto é uma das mais populares franquias do mundo do games. Assim como qualquer série de sucesso, a fórmula GTA deu origem a diversos “clones”, títulos que utilizaram elementos similares e, em alguns casos, até mesmo premissas idênticas ao game da Rockstar.
Com a Nintendo sendo uma empresa que sempre prezou pela sua imagem de “família”, a Rockstar pouco demonstrava interesse em colocar os jogos da série nas plataformas da casa do Mario. Quem tinha um GameCube, por exemplo, só acompanhava de longe os amigos jogando San Andreas. Graças à existência dos chamados “clones”, contudo, muitos fãs da Big N puderam aproveitar a fórmula GTA, mesmo que ela não tivesse o sarcasmo e qualidade que eram marcas registradas da Rockstar.
Vamos relembrar alguns clones populares de GTA que estiveram disponíveis nas plataformas da Nintendo.
Driver
Aqueles que cresceram nos anos 1990 com um PlayStation 1 devem reconhecer o nome Driver. Com lançamentos especialmente focados nas plataformas da Sony, este foi um dos primeiros títulos comparados a GTA, permitindo que o jogador explorasse cidades virtuais e completasse missões.
A série teve início em 1999, criada pelo estúdio Reflections Interactive. Em uma era em que os jogos da franquia GTA eram vistos de uma perspectiva top-down, Driver: You Are the Wheelman, chamou a atenção por ter gráficos 3D e recriar virtualmente quatro famosas cidades americanas: Miami, São Francisco, Los Angeles e Nova York.
Apesar de possuir alguns elementos similares aos jogos da série GTA, Driver era muito mais limitado de certa maneira. Os jogadores não podiam deixar seus carros, as missões tinham foco em altas perseguições e era impossível atropelar pedestres ou roubar veículos. De certa maneira, Driver não é um clone de GTA, sendo considerado por alguns fãs muito mais um jogo de corrida.
O título teve como maior inspiração filmes de ação dos anos 1970, que possuíam como uma de suas cenas principais as perseguições de veículos. Contendo uma física mais realista e incentivando o jogador a agir como um verdadeiro piloto de fuga, o primeiro jogo da série foi bem recebido por fãs e crítica, graças a seu estilo que o diferenciava da joia da Rockstar.
Seu sucesso rendeu sequências que também ficaram marcadas para aqueles que jogaram. Driver 2, lançado em 2000, um ano antes de GTA III, permitia que os jogadores finalmente pudessem sair de seu veículo e explorar as cidades a pé. Diferentemente da Rockstar, isso foi possível em um PS1, algo que chamou bastante atenção na época. Além disso, para nós brasileiros, Driver 2 teve um gostinho especial, pois o jogo inclui uma versão reduzida do Rio de Janeiro como uma de suas cidades.
Já Driv3r, lançado para PlayStation 2 e Xbox, ficou marcado de uma forma negativa. Lançado com diversos problemas e envolvido em controvérsias, como compra de notas em revistas famosas, o título foi uma grande mancha na franquia, que nunca conseguiu se recuperar, com os lançamentos subsequentes cada vez mais sendo ignorados pelos fãs. Driv3r foi onde a série finalmente entrou na sombra de GTA, se tornando um clone, trazendo um foco maior em missões a pé e a inclusão de armas.
Assim como foi o caso com GTA, a Reflections Interactive ignorou as plataformas da Nintendo na hora de lançar títulos da franquia. Coube a outras desenvolvedoras trazer as aventuras de Tanner, o protagonista da série, para os fãs da empresa japonesa. Contudo, o destino foi a família Game Boy, com os três primeiros jogos aparecendo no Game Boy Color e Advance.
Driver: You Are The Wheelman, chegou ao Game Boy Color em 2000. O jogo passou a ser igual a GTA, uma aventura 2D top-down, mas ainda tentou trazer ao máximo tudo o que fazia Driver ser Driver. Temos três cidades aqui: Miami, Los Angeles e Nova York, jogabilidade puxando um pouco mais para o realismo e um foco maior nas perseguições. É uma forma divertida de se experimentar o jogo.
A sequência, Driver 2, chegou ao Game Boy Advance em 2002, batizado de Driver 2: Advance. Diferenciado do que o rival GTA faria, o game utilizou gráficos 3D no portátil, trazendo a mesma jogabilidade do título de PS1, incluindo a novidade de poder sair do seu veículo, para o pequeno aparelho da Nintendo. Duas cidades estão disponíveis para ser exploradas pelo jogador: Chicago e Rio de Janeiro. Infelizmente, o jogo tem alguns problemas de performance, com muitos slowdowns ocorrendo.
O GBA também recebeu Driv3r, e este sim é talvez um dos mais impressionantes ports já feitos para o portátil. A versão de Game Boy Advance de Driv3r foi desenvolvida pela dupla Fernando Velez e Guillaume Dubail, dois franceses que possuem um vasto portfólio de títulos impressionantes para portáteis. Com sua própria engine, a dupla conseguiu adaptar muito bem o título de PS2 para o GBA.
Jogabilidade, duas enormes cidades, missões com perseguições, tiroteios… tudo está aqui. O game roda até melhor que seu antecessor. Lançado em 2005, um ano após a versão de console, Driv3r no GBA foi um dos últimos grandes títulos para o portátil e acabou sendo um dos melhores para encerrar o ciclo vitorioso da plataforma.
Os dois Drivers subsequentes, Parallel Lines e San Francisco, chegaram a dar as caras no Wii. O primeiro foi um port direto do quarto jogo da série, enquanto a versão de San Francisco de Wii possuía uma narrativa própria. O 3DS também recebeu um spin-off da franquia, Driver: Renegade, que voltou para um estilo mais similar ao original de PS1. Desde então, a série, como um todo, tem estado adormecida.
True Crime
O sucesso de GTA III, lançado em 2001 para PlayStation 2, desencadeou uma onda de jogos de mundo aberto onde o jogador era livre para fazer o que quisesse. A Activision quis surfar na onda desse sucesso e trabalhou com o estúdio Luxoflux para criar seu próprio GTA-clone. O resultado? True Crime: Streets of L.A, lançado em 2003 para PlayStation 2, Xbox, GameCube e PC.
True Crime pode ser considerado uma mistura de Grand Theft Auto e Driver. O jogo tem uma pegada mais similar à série da Rockstar, com missões em veículos e a pé, e uma liberdade maior na exploração do mapa. Entretanto, ele também possui algumas similaridades com Driver, como o fato do protagonista, Nick Kang, ser um policial, e o mapa ser uma recriação virtual de uma famosa cidade do mundo real, Los Angeles.
O game também traz sua própria identidade ao gênero. Sendo inspirado em filmes de Hong Kong, temos um sistema de combate que também lembra bastante os filmes de ação feitos na China. Além disso, existe um sistema de reputação baseado em ser um bom ou mau policial: mate os criminosos, roube veículos sem se identificar e ataque civis, e Nick começa a atrair a atenção de outros policiais. Prenda bandidos, atire para desarmar, e impeça crimes aleatórios, e o protagonista começa a ser bem visto por seus companheiros de farda. Esse sistema resulta em finais e missões diferentes sendo desbloqueadas, incentivando várias jogatinas.
O jogo ainda possuía algumas outras mecânicas muito legais, como um sistema de mira mais preciso e a possibilidade de revistar qualquer NPC na rua. Também existiam segredos a ser descobertos, como códigos e a possibilidade de jogar com o rapper Snoop Dogg, completando suas próprias missões.
O título fez um bom sucesso, o que convenceu a Activision a preparar uma sequência. True Crime: New York City foi lançado em 2005 para as mesmas plataformas que seu antecessor. Dessa vez, o game se passa na cidade de Nova York com um novo protagonista, o detetive Marcus Reed.
O game continuou com algumas das tendências de seu antecessor, especialmente o sistema de policial bom ou ruim que altera a história. Contudo, as missões alternativas foram removidas e, por conta de um lançamento apressado, o jogo acabou cheio de erros e bugs que podem atrapalhar bastante a experiência. Ainda assim, como ele foi o único GTA-like que chegou ao GameCube, muitos fãs da Nintendo se lembram do título e de seu antecessor por fornecerem uma experiência próxima ao título da Rockstar no querido cubo.
Um terceiro jogo da série chegou a ser desenvolvido por outro estúdio, mas quando a Activision decidiu cancelar seu suporte, a Square Enix adquiriu os direitos da série e fez grandes alterações. Assim nasceu Sleeping Dogs, que chegou ao PlayStation 3, Xbox 360 e PC, com plataformas Nintendo ficando de fora.
Saints Row
Com GTA ficando progressivamente famoso a cada novo lançamento, e Driver e True Crime perdendo espaço, um vácuo para um possível rival da série da Rockstar surgiu. A Volition, um estúdio americano que havia desenvolvido um jogo do anti-herói The Punisher, decidiu reutilizar a engine daquele título para criar o seu próprio GTA clone. Inspirado por San Andreas e saindo antes que a Rockstar pudesse fazer sua estreia nas plataformas HD, Saints Row foi lançado em 2006 para Xbox 360.
O título de mundo aberto focou mais na cultura de gangues, com o jogador criando seu próprio personagem, batizado de The Playa, e tendo como objetivo ajudar os Saints a eliminar todas as gangues rivais. Sendo o primeiro GTA-like para Xbox 360, o game foi um sucesso graças à jogabilidade arcade e à sua alta customização.
Dois anos depois, uma sequência foi lançada para Xbox 360 e também para PlayStation 3. Saints Row 2 trazia uma história mais séria e muitas melhorias visuais e em sua gameplay. O Playa agora é “The Boss”, liderando uma nova geração de Saints em busca de reconquistar a cidade de Stillwater. Existe um maior uso de humor aqui, com algumas situações bem cômicas e outras mais sarcásticas. Saints Row 2 é considerado por muitos o melhor jogo da franquia e um dos melhores GTA-likes disponíveis no mercado.
2011 marcou um recomeço para Saints Row. O terceiro jogo da série, Saints Row: The Third, foi um soft reboot, com um novo tom e diversas mudanças em relação a Saints Row 2. Os Saints agora se tornaram um conglomerado super famoso e precisam provar que continuam tão maus quanto antes quando o Syndicate os desafia em uma nova cidade, Steelport.
O humor agora é o centro do jogo, com um foco ainda maior em situações cômicas e over the top. Existe um pouco de escolhas que alternam a história em pequenas partes, além de novas mecânicas. Apesar da diferença brusca de tom, The Third também conseguiu um bom sucesso, recebendo relançamentos em anos posteriores.
Um desses relançamentos foi o que chegou ao Nintendo Switch, trazendo a série para as plataformas Nintendo. A jogabilidade de Saints Row é bem arcade igual aos GTAs da era PlayStation 2, mas o humor e a alta customização do personagem e veículos é o que separa as duas séries. Além de The Third, o Switch também recebeu Saints Row IV, que decidiu ser ainda mais sem noção do que seu antecessor, trazendo uma invasão alienígena como plot principal e dando superpoderes ao protagonista.
Recentemente, Saints Row recebeu um remake que chegou às plataformas rivais. Com o fracasso de tal remake e o fechamento da Volition, o futuro da série parece ter se encerrado. Ao menos os fãs da Nintendo puderam conhecê-la quando ela chegou ao Switch.
The Godfather: Blackhand Edition/Scarface: The World is Yours
Dois dos mais famosos filmes sobre o mundo criminal, O Poderoso Chefão e Scarface, ganharam jogos durante o final da geração 128-bits. Apesar do Cube não ter recebido nenhum dos dois, ambos acabaram dando as caras no seu sucessor, o Wii. Com controles de movimento e trazendo a fórmula GTA para o console, ambos os títulos iam totalmente contra a imagem família que o Wii possuía.
The Godfather: Blackhand Edition foi desenvolvido pela EA Games. O título contou com o retorno dos atores do filme original, com exceção de Al Pacino, que emprestar seus talentos apenas em Scarface: The World Is Yours. A história segue a trama original, mas foca em um personagem novo, Aldo Trapani, um jovem que é introduzido na Família Corleone e os ajuda durante os principais momentos do filme.
Com uma recriação fiel da Nova York dos anos 1950, veículos, armas e roupas da época e uma temática gangster, The Godfather: Blackhand Edition foi bem diferente de outros jogos GTA-like. A tal Blackhand Edition trouxe novidades em relação às demais versões, como missões extras e outras mudanças.
Apesar de ser divertido, o jogo em si foi bastante criticado pelos fãs da obra original. É um consenso geral que as mudanças que a EA realizou na história, para aproximá-lo de um GTA da vida, acabaram por destruir o tom sutil que o filme possuía. Até mesmo o diretor do filme, Francis Ford Coppola, chegou a mostrar seu desprezo pelo título, dizendo que não esteve envolvido em sua produção e criticando o resultado final.
Já Scarface: The World Is Yours seguiu por um caminho diferente. Desenvolvido pela Radical Entertainment, o jogo é uma pseudo-sequência do filme, começando logo em sua cena final. Os jogadores assumem o controle de Tony Montana, que sobrevive à emboscada em sua mansão e agora precisa recuperar seu império.
The World is Yours é um jogo bem mais violento que qualquer GTA, com inimigos podendo ter seus braços e pernas removidos por balas e muito mais carnificina nas missões. O game também utiliza um humor adulto em seus diálogos e elementos da jogabilidade.
Focando mais em combate e contendo mecânicas como venda de drogas e customização de sua própria mansão, Scarface: The World is Yours é uma opção bem diferente de outros títulos mencionados na lista. Recriando perfeitamente a Miami do filme, além dos personagens, o game serve como uma boa aventura para quem assistiu o original e gostaria de experimentar aquele mundo.
Alguns outros GTA-likes em plataformas Nintendo
Estes são alguns dos mais famosos GTA-likes que já deram as caras nas plataformas da Nintendo. Obviamente, eles não são os únicos: sendo uma franquia que continua tendo sucesso a cada novo lançamento, a fórmula GTA sempre é bem-vista por desenvolvedores, que continuam produzindo novos títulos inspirados na série da Rockstar.
C.O.P: The Recruit, foi desenvolvido pela dupla Fernando Velez e Guillaume Dubail, a mesma de Driv3r para GBA. O título foi publicado pela Ubisoft e chegou ao Nintendo DS em 2009. Diferentemente de GTA: Chinatown Wars, que retornou à visão top-down dos primeiros GTAs, C.O.P adotou totalmente o 3D, permitindo que os jogadores pudessem explorar uma recriação virtual da cidade de Nova York no portátil. O título foi ambicioso e levou o DS ao limite, mostrando mais uma vez o talento de Fernando e Guillaume em produzir games para portáteis.
Outro título de mundo aberto da Ubisoft que apareceu em uma plataforma inesperada foi Watch Dogs no Wii U, em 2014. Os jogadores controlam o hacker Aiden Pearce, que explora a cidade de Chicago. Além de roubar veículos e utilizar armas, dois elementos típicos da fórmula GTA, Watch Dogs também permite que os jogadores possam hackear objetos para cumprir desafios ou incriminar NPCs. O título foi o último jogo maduro da Ubisoft para o WII U e, apesar de ter recebido sequências, nenhuma delas apareceu em plataformas da Nintendo.
GTA e Nintendo
Como já comentamos em nosso texto “Grand Theft Auto: conheça a trajetória da série nos consoles da Nintendo”, a franquia GTA e as plataformas da Nintendo possuem uma história conturbada. Apesar da Rockstar não ter feito muito esforço para trazer a série para plataformas que eram vistas como “família”, vários de seus rivais tentaram emplacar seus títulos no GameCube e em outros consoles, de forma a preencher um espaço que se encontrava sem dono.
Com o sucesso do Switch e a Nintendo abrindo mais as suas portas para todos os tipos de games, vemos a Rockstar fazendo um esforço para colocar seus títulos no console. Tivemos a coletânea Grand Theft Auto: The Trilogy — The Definitive Edition e, mais recentemente, o remaster de Read Dead Redemption, mostrando que a empresa finalmente vê as plataformas nintendistas como um possível espaço para seus jogos.
Suas rivais, contudo, continuam a trazer seus títulos, como já era costume. Tudo que podemos esperar é que isso apenas incentive a Rockstar a considerar o Switch e seu público para mais relançamentos de títulos de GTA, além, é claro, de que outras séries baseadas na lendária franquia da empresa estelar também possam dar as caras em plataformas da Nintendo. Um renascimento de Driver ou até mesmo relançamentos de True Crime seriam ótimos títulos, que iriam divertir bastante os donos do Switch.
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