Desenvolvedora: Spike Chunsoft
Publicadora: Spike Chunsoft
Gênero: RPG, Roguelike
Data de lançamento: 27 de fevereiro, 2024
Preço: R$ 299,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Spike Chunsoft.
Revisão: Davi Sousa
Shiren the Wanderer: The Mystery Dungeon of Serpentcoil Island é o sexto e mais novo jogo da franquia da Spike Chunsoft. Embora o formato “Mystery Dungeon” tenha surgido como um spin-off de Dragon Quest focado no mercador Torneko, Shiren é a estrutura 100% própria da empresa sem estar vinculada a nenhuma IP de terceiros.
O formato Mystery Dungeon surgiu mais de uma década antes da grande popularização dos indies roguelikes, embora seja mais amplamente reconhecida pela linha Pokémon Mystery Dungeon. Com o novo jogo, a empresa demonstra sua excelência em oferecer um desafio estratégico viciante e exigente.
Na vibe do Japão antigo
Tudo começa com a nossa ida para a lendária ilha de Serpentcoil. Após ter um sonho com uma garota pedindo ajuda, Shiren e seu parceiro, o furão falante Koppa, partem para o lugar rumo a uma nova aventura.
Para poder cumprir o seu objetivo, será necessário ter sucesso na expedição pela grande Mystery Dungeon da ilha. Porém, Shiren não é o único interessado nesse perigoso lugar: outros grupos, incluindo piratas em pé de guerra, estão de olho nos tesouros de lá.
Sem entrar em muitos detalhes, a história é um ponto curioso de Mystery Dungeon of Serpentcoil Island. Embora leve em comparação com o que se esperaria, por exemplo, de um JRPG, o título traz uma curiosa ambientação que vai pouco a pouco sendo expandida.
Cada vez que avançamos um pouco mais e falhamos, temos a chance de ver mais detalhes sobre quem mora na ilha ou veio em busca de alguma coisa. Dessa forma, temos um senso de que o mundo ao nosso redor está em constante movimento e até liberamos caminhos alternativos.
Evolua como jogador
Para começar a falar sobre a gameplay de Shiren 6, é fundamental ter em mente que o jogo é um roguelike e não um roguelite. Ao contrário de Pokémon Mystery Dungeon e mais próximo do excelente Z.H.P.: Unlosing Ranger vs. Darkdeath Evilman, nosso nível não se mantém após sairmos da dungeon. Voltando à estaca zero, precisamos aprender a dominar todos os desafios que as áreas geradas aleatoriamente oferecem.
Há algumas ferramentas que nos permitem aproveitar recursos de uma tentativa para a próxima, como deixar itens armazenados nas transições entre andares; porém, no fim das contas, trata-se apenas de auxílios pontuais, e o desafio realmente depende da habilidade e da sorte do jogador.
Um aspecto que pesa para o desafio é o balanceamento. Já no primeiro andar, temos inimigos que arrancam 1/3 da vida do jogador em seu nível mínimo por ataque. Se você for cercado por dois ou mais inimigos ou errar seu ataque, tem altas chances de ser derrotado.
Em compensação, basta andar um pouquinho para recuperar muita vida. Saber manipular a posição de Shiren e seus inimigos é fundamental e faz uma diferença absurda entre derrotas humilhantes e os louros de vitórias esmagadoras.
Vale destacar aqui que temos uma ótima variedade de inimigos, cada qual com habilidades que alteram significativamente as ações otimizadas do jogador. Um exemplo inusitado é o ninja de fogo, que pode usar seus golpes para inutilizar itens no chão, mas também pode melhorar o seu Onigiri grelhando-o, o que faz com que o alimento recupere HP e forneça mais Fullness (saciedade).
Inimigos que atacam à distância podem atingir seus aliados em vez de Shiren, mas é importante tomar cuidado, porque eles podem evoluir para um próximo nível de força ao eliminar seus companheiros. Da mesma forma, um jogador inteligente e com bons recursos em mãos pode transformar essa situação em oportunidade ganhando muito mais experiência do que o normal. O mesmo pode ser dito para as áreas em que aparecem os Behemoths, inimigos gigantescos e ultra poderosos, mas muito lentos.
A base de tudo
Embora Shiren 6 tenha gráficos 3D, a gameplay segue o mesmo funcionamento das suas origens. Temos uma espécie de visão top-down e podemos ver apenas uma área limitada do mapa do nosso andar atual. Conforme vamos andando pelos cenários, encontramos novos recursos, inimigos, armadilhas e a escada para o próximo andar.
A exploração é necessária para ficar mais forte, mas ela também desgasta a Fullness do nosso personagem. Para repor essa energia, temos que nos alimentar com itens, como o Onigiri. Idealmente, o jogador vai querer guardar esse recurso o máximo possível, mas ele irá estragar com o tempo e pode ser roubado ou perdido, então é importante ter um bom timing de uso para sobreviver.
A grande graça aqui é justamente essa: estamos a todo momento projetando as nossas estratégias. Guardo esse item ou uso agora? Bato no inimigo ou tento andar para trás para recuperar um pouco de vida? A nossa exploração da dungeon é uma grande aposta em um desafio contra inimigos cheios de habilidades inusitadas, armadilhas invisíveis e condições bizarras enquanto nossos recursos são limitados, mas podem render muito se tivermos sagacidade.
Infelizmente, isso também significa que este não é um jogo fácil de aproveitar por um jogador que não está disposto a lidar com o grande cassino das possibilidades. Temos apenas a dificuldade padrão e a perda constante de progresso significa que estamos sempre à mercê do que a dungeon nos oferece. É uma sensação de conquista mediante um tipo de adversidade que podemos chulamente chamar de masoquismo.
Vidas que caem como pétalas de cerejeira
Apesar da questão da dificuldade, não é como se o jogo não trouxesse vários elementos de qualidade de vida. Muito pelo contrário: Shiren 6 é muito bem polido e pensado para que o jogador que não tem medo do perigo possa aproveitá-lo bastante. Um bom exemplo disso é que podemos usar um botão para correr e pegar itens automaticamente pelo caminho, e a nossa trajetória pela dungeon é marcada para ficar claro aonde ainda não fomos.
Dentro do contexto atual, o jogo conta também com dois formatos de tela para streaming. Temos tanto o Live Display completo em um formato similar ao da edição de Switch de Shiren 5 quanto uma versão simplificada que destaca apenas as informações mais relevantes e deixa detalhes como o inventário de fora. Esses recursos ajudam até a ver elementos mais obscuros que o jogador pode perder de vista, como a quantidade de vezes que sua força foi reduzida.
Um elemento fundamental de Mystery Dungeon que eu não poderia deixar de mencionar é o Rescue. Ao perder, o jogador pode emitir um pedido de resgate; nem todas as áreas permitem essa funcionalidade, mas ela pode ser bem útil para evitar perder progresso, já que o jogador resgatado continua de onde parou com tudo intacto. Porém, essa salvação só pode ser usada três vezes.
O Rescue é como uma missão secundária em que podemos vasculhar a dungeon explorando os mesmos andares por onde outro jogador passou. As posições iniciais de Shiren, dos itens e dos monstros são as mesmas, nos dando assim a chance de aprender táticas específicas para aquelas circunstâncias.
Vencendo ou perdendo, o jogador ganha pontos que pode usar para desbloquear vantagens, como mais níveis iniciais durante um resgate. Também podemos tentar resgatar o nosso próprio personagem, e vale destacar que essas missões terminam com Monster Houses, perigosíssimos aglomerados de monstros e armadilhas, exigindo cautela.
Outras funcionalidades relevantes incluem um dojô em que o jogador pode montar um andar de dungeon e testar suas estratégias. Além disso, o jogo conta com conquistas internas para valorizar a execução de determinadas façanhas.
Outro elemento que gostaria de destacar são as artes e a trilha sonora de Shiren 6, muito bem selecionadas. A cada poucos mapas da dungeon de Serpentcoil, temos alterações visuais que ajudam a manter a aventura fresca. Tanto as artes quanto as músicas remetem ao contexto japonês antigo, com ambientes e instrumentos rústicos que evocam uma sensação de época bastante envolvente para a jornada.
Um jogo fascinante
Shiren the Wanderer: The Mystery Dungeon of Serpentcoil Island é um excelente exemplo de como os roguelikes podem ser viciantes ao combinar a dose certa de punição e recompensa. Temos aqui um jogo que sabe o que seu público quer e merece destaque dentro da biblioteca do Switch.
Prós
- Gameplay que exige bastante estratégia e maleabilidade para lidar com as intempéries da dungeon gerada proceduralmente;
- Boa variedade de inimigos, recursos e armadilhas;
- Atmosfera de Japão feudal muito bem-executada nas ilustrações e músicas;
- O sistema de Rescue oferece uma chance de tentar novamente antes de recomeçar do 0;
- Achievements internos, Live Display e bons elementos de qualidade de vida;
Contras:
- A perda constante de progresso e a alta dificuldade fazem o avanço ser um processo frustrante que não vai agradar a alguns jogadores.
Nota Final:
9