Desenvolvedora: Millennium Kitchen, TOYBOX Inc.
Publicadora: Spike Chunsoft
Gênero: Aventura de Mundo Aberto, Life Sim
Data de lançamento: 06 de agosto, 2024
Preço: R$ 199,00
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Spike Chunsoft.
Revisão: Marcos Vinícius
A Millennium Kitchen pode não ser uma desenvolvedora muito conhecida no Ocidente devido a falta de lançamentos dos seus títulos mais consagrados fora das terras nipônicas — talvez por serem considerados “japoneses demais” ou “muito parado” para a grande massa do público que joga videogame. No entanto, pode-se dizer que estes jogos vêm ganhando um certo apelo para um público mais “cult” dado a qualidade desses jogos.
Chegamos então em 2024, com o lançamento global de Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid, jogo que, até então, estava disponível somente na Ásia. Desenvolvido pela TOYBOX Inc. e Millennium Kitchen e publicado pela Spike Chunsoft, e com direção de Kaz Ayabe, criador da franquia Boku No Natsuyasumi e fundador da Millennium Kitchen.
A natureza dos jogos da produtora consiste basicamente em aventuras mundanas no interior, funcionando como uma espécie de retrato de um pedaço comumente romantizado da cultura japonesa, a tão idealizada “viagem para o interior nas férias de verão”. A temática de Natsu-mon: 20th Century Summer Kid não deixa de ser diferente dos demais jogos da Millennium Kitchen, no entanto, o jogo se diferencia dos demais títulos do estúdio oferecendo uma abordagem de gameplay e tom diferenciados.
Viajando para Yomogi
Em Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid, o jogador toma controle de um garoto chamado Satoru, filho de um casal de artistas circenses que se mudam temporariamente para a cidade de Yomogi para realizar uma apresentação e aproveitar o verão na zona rural japonesa. Enquanto os pais de Satoru junto com alguns membros do circo se encarregam de resolver assuntos pendentes relacionados a sua estadia e apresentação na cidade, resta apenas ao jovem Satoru interagir com o ambiente e os residentes locais, fazendo amizades e criando novas memórias.
Vale ressaltar que, Natsu-Mon não promete uma narrativa fantástica e cheia de reviravoltas de forma alguma. O jogo, no entanto, apresenta uma série de pequenas histórias que poderiam facilmente acontecer na vida real, em um contexto rural. Dito isso, Natsu-Mon é tão imersivo que não demora tanto para que o jogador consiga se sentir dentro de seu mundo e suas pequenas histórias; tudo está muito bem contextualizado, conversando diretamente com o clima e ambientação que o jogo se dispõe a vender.
Um dos aspectos que tornam Natsu-Mon brilhante, no entanto, é o fato de que o jogador vive todos os acontecimentos da trama através dos olhos de uma criança que possui uma noção e percepção limitada do que acontece ao seu redor. Consequentemente, a história de Natsu-Mon nem sempre se apresenta de maneira clara. No entanto, o jogo ainda deixa algumas dicas que deixam a entender que nem tudo ali é o que aparenta, e a partir disso vai desenvolvendo um mistério gradualmente.
O céu do interior
Grande parte do tom do clima do jogo se reflete diretamente na arte do jogo em geral. Natsu-Mon conta com a arte de HYOGONOSUKE, artista conhecido por ilustrar diversas cartas de Pokémon TCG, além de também já ter trabalhado com Doraemon e Love Live. Em Natsu-Mon, o artista atuou como ilustrador e designer de personagens, oferecendo designs cartunescos, com proporções e expressões bem exageradas que ajudam o jogo a dar aquele toque artístico que remete diretamente a desenhos animados infantis, complementando a temática de nostalgia e infância.
Aparentemente não existe nenhum problema com a abordagem estética e o design de personagem de Natsu-mon no geral. Porém, conforme o jogador vai explorando e conhecendo os diversos personagens presentes na trama, torna-se perceptível que o modelo de personagens tende a se repetir algumas vezes durante o jogo. Em alguns momentos existem explicações dentro do jogo pelo qual alguns personagens possuem uma semelhança gritante entre si, mas na grande maioria das vezes os personagens são simplesmente só muito parecidos entre si, o que pode gerar uma certa confusão na hora de interagir com esses personagens.
Natsu-mon também se destaca por possuir uma localização exemplar. Por se passar em um ambiente muito próximo de uma cidade pequena japonesa em específico, o trabalho de localização e tradução se torna de suma importância, visto que o jogo está constantemente referenciando aspectos culturais que podem não ser muitos familiares no ocidente. Não somente nas falas, mas também placas e ilustrações foram traduzidas e localizadas de uma forma eficiente sem descaracterizar a arte original do jogo. No entanto, é perceptível que alguns assets e designs acabaram passando batido de alguma forma, não chega a ser algo que impacta muito na experiência, visto que esses textos sem tradução na interface aparecem de forma muito pontual ao longo do jogo.
Exploração rural
O jogo se apresenta de duas formas diferentes. Em áreas fechadas, o jogo funciona de forma parecida ao Boku No Natsuyasumi e ao antecessor de Natsu-mon, Shin-chan: Me and the Professor on Summer Vacation -The Endless Seven-Day Journey-, onde o personagem se movimenta em um cenário de câmera fixa em que o ângulo vai alternando conforme o personagem vai atravessando novos cenários, semelhante aos Resident Evil clássicos. No mundo aberto, o protagonista Satoru, é capaz de correr, pular e escalar quase todas as superfícies que podem entrar em contato no jogo. Isto é, a exploração é praticamente ilimitada, sendo regida somente pela passagem de tempo in-game.
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Natsu-mon se passa no decorrer dos 31 dias do mês de outubro, tempo o suficiente para. Para complementar, a exploração de áreas mais afastadas da civilização é limitada, visto que o garoto não pode adentrar florestas durante a noite e locais mais afastados. Porém, respeitando o ritmo de exploração de diferentes tipos de jogadores, a Millennium Kitchen acertadamente oferece ao jogador a opção de customizar a passagem do tempo, podendo ser alternada entre devagar, normal e rápida a qualquer momento durante o jogo. Desta forma, é aconselhável que cada jogador teste cada uma das opções e ajuste a passagem de tempo de acordo com as suas necessidades e objetivos com o jogo.
Natsu-mon é no geral, um jogo bem calmo e tranquilo, podendo ser considerado um cozy game. Ou seja, um jogo leve e pouco punitivo onde a satisfação da conquista se dá a partir de pequenos atos e tarefas simples, com recompensas sólidas que ajudam o gameplay a ficar progressivamente mais fácil e satisfatória, visto que o jogo se resume basicamente a caminhar pelo mapa encontrando coletáveis e conversando com NPCs que podem revelar alguma informação sobre a cidade, avançar a trama principal ou dar alguma tarefa secundária opcional.
Memórias e nostalgia
Natsu-Mon possui um escopo e ambição maiores do que os lançamentos anteriores da Millennium Kitchen. Neste lançamento a produtora decidiu traduzir a já estabelecida fórmula de Boku No Natsuyasumi para um formato mundo aberto, com câmera livre e uma dose razoável de exploração vertical. Apesar da aparência e tom infantil, Natsu-Mon é um jogo que busca conversar diretamente com uma audiência mais velha, constantemente apelando para a nostalgia, pode-se dizer que o jogo é um clássico exemplo de mídias que são feitas para crianças, mas que também conversam muito bem, talvez até melhor com adultos.
Natsu-Mon é sem sombra de dúvidas um jogo especial dentro do catálogo da Millennium Kitchen. O sentimento de nostalgia, descoberta e aventura que o estúdio domina bem está mais refinado do que nunca, mantendo a sua essência e sem cair em um ciclo de jogos repetitivos e reciclados. Desta forma, pode-se dizer que Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid é um jogo altamente recomendável não somente para fãs de cozy games, mas também para qualquer um que já foi uma criança um dia.
Prós
- Atmosfera leve e aconchegante;
- Exploração satisfatória e instigantedivertidas;
- Respeita o ritmo e tempo do jogador.
Contras
- Personagens muito parecidos entre si;
- Alguns sinais e placas sem tradução.
9
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