Desenvolvedora: Plane Toast
Publicadora: Dear Villagers
Gênero: Aventura, exploração
Data de lançamento: 12 de setembro, 2024
Preço: R$ 43,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Dear Villagers.
Revisão: Marcos Vinícius
Caravan SandWitch é um jogo indie de exploração e aventura em um mundo de ficção científica de origem francesa. O jogo traz o mistério da irmã desaparecida da protagonista que envia uma mensagem de sua nave e dá início a uma busca intimista e delicada. O jogo tem pouco mais de 10 horas e apesar da abordagem mais sutil trás uma aventura bem gostosa e engajante com um elenco carismático e divertido, mensagens positivas e uma ambientação bem trabalhada.
O mistério e os atores
O mistério de Caravan SandWitch é o seu cerne de certa forma: quando a protagonista recebe uma mensagem da nave de sua irmã que desapareceu anos antes, ela se vê obrigada a retornar ao planeta onde nasceu da colônia em que mora, para investigar e quem sabe encontrar sua irmã.
Mas embora esse seja o fio condutor da história, muito é sobre como a personagem se relaciona com esse lugar onde cresceu, com seus amigos de infância, todos muito sensíveis e receptivos, a recebendo com uma festa apesar das condições que não são muito amigáveis do planeta. A vila do jogo transmite com bastante força essa mensagem de comunidade, com pessoas diversas que, de certa forma, têm reações diferentes ao retorno da protagonista, mas que ainda assim prontamente a recebem como um parte que de certa forma sempre vai pertencer aquele lugar.
A Rose, uma senhora mais velha, é quem empresta o carro para que a jornada seja possível, enquanto Le Nefre, amigue da protagonista, é quem constrói as maquinas necessárias para a jornada. Apenas pelos esforços conjuntos dessas pessoas, é possível que exista progresso na exploração desse mundo agora hostil.
Mas apesar das situações difíceis e da ambientação aparentemente precária, as pessoas de Caravan SandWitch, são felizes e amáveis e isso é um absoluto ponto forte dessa jornada.
A caravana
Como dito antes, Le Nefre cria as máquinas necessárias para que a exploração seja possível. O jogo, que é de exploração e puzzles, se amelha a Genshin Impact ou The Legend of Zelda na exploração do mundo em algum grau, mas com um escopo muito mais humilde é claro, com foco total na resolução de quebra-cabeças sem o combate.
Mas as máquinas da Le Nefre, são como por exemplo, a antena, que permite ao jogador encontrar bloqueadores de sinal de internet, deixado por uma aparente big corp que existiu naquele planeta e talvez até ainda drena seus recursos ainda hoje. Ao destruir os bloqueadores de sinal de cada área, uma nova área do mapa se abre, bem nos moldes dos jogos citados, similar a uma “ubitower”. Além disso, temos mecânicas para ver coisas escondidas, como o Third Eye de Persona 5 ou a visão elemental de Genshin Impact.
Quis ressaltar como essas mecânicas são padrão da indústria de jogos justamente para salientar como Caravan SandWitch está bem a par para um jogo indie das tendências e usá-las muito bem. O jogo não é revolucionário, mas é acolhedor e muito cheio de personalidade, além de usar bem todas essas ideias.
O principal objetivo na maior parte do tempo é coletar partes de maquinas para continuar avançando, o que torna o loop de gameplay bem viciante, e incentiva o jogador a ser bastante curioso. Isso somado a direção de arte torna uma aventura sólida, e por falar em direção de arte…
Um mundo desolador mas aconchegante
Caravan SandWitch se passa em um mundo bastante desértico no sentido tanto de pouco habitado quanto de estruturas biológicas. E ao contrário de por exemplo Shin Megami Tensei V — que é ótimo em seu próprio papel, que usa essa ambientação para transpor a devastação e hostilidade —, aqui isso é usado para contrastar com toda a recepção heartwarming dos personagens e da vila pra dar ainda mais força para o quão importante é a união dessa comunidade.
Para além disso, as paisagens mortas de Caravan SandWitch não tiram nada do quão impressionante elas são, e o jogo te convida constantemente a parar e apreciar a vastidão desses lugares. Dunas de areia, grandes montanhas, uma vegetação meio de outono que luta para permear esses lugares, quase como uma rima, para esses personagens que florescem sem recurso.
A arte usada em Caravan SandWitch nunca perde a graça e desde os designs dos personagens às retratações dos lugares tudo é sempre interessante. Ainda assim, mesmo para os padrões do Switch, acho que esses visuais poderiam ser um pouco mais polidos e estarem em uma definição um pouco mais alta, mas não que isso tira a majestade do jogo. Mas para um título que se apoia bastante nessa ambientação imersiva, um pouco mais de qualidade cairia muito bem, não que isso faça com que o jogo não valha a pena, afinal, além disso temos sua ótima história, exploração e mensagem.
O que Caravan SandWitch tem a dizer
É fácil de pegar diversas mensagens jogando esse jogo, ele tem bastante sensibilidade nos sentimentos da protagonista, nas relações interpessoais e na ambientação.
Logo no começo é bem fácil perceber muita presença de elementos Queer nessa história, personagens não binárie, bandeiras LGBT e até jargões do meio. Mas eu acho que isso é mais comum hoje em dia, vemos bandeiras de fundo em filmes blockbusters como aranhaverso, e temos protagonistas Queer em franquias gigantes como The Last Of Us, Horizon: Zero Dawn, Fire Emblem e afins.
Mas o que cativa nesse sentido aqui é o esforço em construir um ambiente orgânico para esses elementos existirem, a naturalidade com que isso é abordada e o grupo composto me faz acreditar no progressismo desta vila e desse mundo e na maneira que esses personagens se relacionam com isso.
Num nível mais íntimo a mensagem de comunidade, empatia, cuidado mútuo não está em outro lugar, e sim em sinergia com essas representações, e ressoa muito melhor com um grupo tão diverso. Sobre o arco da protagonista temos conflitos interessantes sobre essa volta e seu passado, mas prefiro não abordar spoilers tão diretos aqui.
Uma aventura sólida como pedra e leve como areia
Caravan SandWitch foi hipnotizante para mim: andar por todos esses lugares, conhecer esse mundo e esses personagens enquanto se investia cada vez mais no mistério.
Apesar de ter algumas críticas bem pontuais, como achar que o jogo se aproveitaria mais de um platforming mais bem trabalhado e que os visuais poderiam ser mais refinados, a experiência como um todo foi divertida e refrescante. Isso sem falar nas músicas em francês que me lembram constantemente que apesar de ainda europeu esse jogo veio de um lugar e cultura diferentes das três que eu estou imediatamente mais acostumado.
Não é o novo jogo da minha vida mas é um lugar bem íntimo e confortável que eu não gostaria de ter deixado passar, então não deixem passar!
Pros
- Ótimos personagens e ambientação;
- Mecânicas bem utilizadas;
- Visuais e músicas estimulantes.
Contras
- Platforming um pouco truncado para algumas situações
- Visuais pouco polidos.
8