Revisão: Marcos Vinícius
Um silêncio profundo ocupa os corredores escuros. O espaço é preenchido apenas pelo som dos passos contra a superfície metálica do piso frio, conforme avançamos rumo ao desconhecido.
Nem a armadura fundida à própria pele é capaz de nos fornecer proteção. Para trás, acabamos de testemunhar a forma de nosso maior nêmesis, congelado em um frigorífico, quebrando-se em mil pedaços, deixando mais perguntas do que respostas. Será que há algum sobrevivente?
Seria possível escapar desse pesadelo viva? Sobreviver é a única opção, pensamos, enquanto sufocamos as perguntas que tanto nos exaurem. Enfim, um espaço seguro. Um elevador irá nos levar à segurança. Conforme descemos, contudo, a câmera congela. Então, uma explosão. Passos mais duros e pesados no mesmo metal de antes, agora recheado de destroços. E então vemos um reflexo de nós mesmos: uma mutação com olhos vazios e perdidos, cujo único propósito de existência é nos caçar.
Metroid Fusion não foi minha primeira experiência com o terror no universo de jogos. Já havia jogado um jogo baseado no filme original de O Grito, rendendo saudosas lembranças de crianças se divertindo com os gritos inesperados de um jogo que, na época, impressionava pelo realismo. Ainda assim, foi em Metroid Fusion que entendi o que um bom jogo de terror poderia proporcionar. Além de sustos baratos, eles poderiam brincar com a sugestão: o horror não está no evidente, no monstro prestes a atacar, mas sim no vazio; a ambientação inquieta, na possibilidade de um ataque que pode nunca acontecer.
Os consoles da Nintendo não são conhecidos por jogos de terror: a própria franquia da Big N que brinca com o conceito mais famosa é Luigi’s Mansion, que está mais para o cômico do que para qualquer outra coisa. Ainda assim, a equipe do NintendoBoy se reuniu para recordar dos episódios e de curiosidades macabras que marcaram nossa experiência e assombram nosso imaginário. Prontos para mergulharem no além?
A garota fantasma de Lumiose
por Vinicius Madeira
Pokémon não é uma franquia que se esconde de assuntos um pouco mais assustadores (o tópico de Halloween do ano passado sendo justamente sobre algumas descrições da Pokédex), e apesar de seu aspecto family-friendly, já introduziu conceitos e cenas que podem ser vistas como “aterrorizantes”. Pelo menos se você for uma criança inocente de 10 anos jogando no seu portátil.
Em Pokémon X e Y há um easter egg interessante que ficou conhecido como “a garota fantasma de Lumiose”. Ao entrarmos em um edifício não nomeado da cidade de Lumiose e pegar o elevador para o segundo andar, uma cutscene bizarra acontece: as luzes do elevador e do andar se apagam, e um NPC usando o mesmo modelo das Hex Maniacs, treinadoras do tipo Ghost/Dark, aparece atrás do jogador, apenas falando “não, não é você” antes de sumir. Para tornar as coisas ainda mais sombrias, o resto do segundo andar é um absoluto vazio, então essa cena é a única coisa que acontece no andar, e acontece apenas uma vez!
Muitas teorias se formaram para o que seria essa garota fantasma de Lumiose, com a teoria mais aceita sendo a de um espírito vingativo em busca de justiça por sua morte; mas assim como a sua breve aparição e desaparecimento, o tópico da garota de Lumiose é apenas um dos vários mistérios da região de Kalos, que pode ou não ficar sem uma solução por um tempo… Isso é, se não resolverem abordar isso em Pokémon Legends Z-A.
Um sorriso para a eternidade
por Lucas Barreto
Há um motivo para começar o texto a partir de Metroid Fusion. Yoshio Sakamoto, pai da franquia, apresentou uma franquia que impacta qualquer um que se permite a conhecê-la. Falo, é claro, de Famicon Detective Club.
Já falei algumas vezes da série aqui no site, principalmente pelo lançamento recente de Emio: The Smiling Man. Sendo um text Adventure, o terror do jogo está nos mesmos detalhes do cenário, na interação com os personagens e, principalmente, na escrita.
Todos os jogos da série apresentam um flerte com o horror: todos lidam com crenças urbanas que resultam em mortes macabras. The Girl Who Stands Behind me marcou progundamente na ocasião do lançamento dos remakes, principalmente pela ambientação estabelecida. Há uma cena nos meados da narrativa que me pegou desprevenido, quando vemos o terror na expressão facial de um suspeito, e quando não há nenhuma opção de resolução do conflito a não ser literalmente desistirmos. É uma sequência que brinca com os termos comuns dos jogos, dando um segundo sentido a uma ação de menu.
Claro, o final desse jogo é o ápice dos calafrios acumulados ao longo da sessão. Estamos em um corredor escuro no meio de uma escola, à noite, quando encontramos o nosso derradeiro fim. Quando estamos prestes a nos deparar com o repouso final, vemos rachaduras em um espelho, que se quebra no reflexo malicioso do criminoso. Falo de forma enigmática para não estragar o fim do jogo, claro, mas quem jogou sabe do que estou falando.
Emio aprofundou o que seu antecessor fez tão bem. Ampliando o horror colegial para o medo geral, sentimos o pânico nas ruas, os comportamentos de personagens sendo impactados pelos eventos e os traumas que percorrem suas histórias. Todo o jogo parece ser uma evolução do sentimento estabelecido nos clássicos, mas quando finalmente alcançamos os créditos, aí que o jogo vira.
O epílogo de Emio — The Smiling Man é, facilmente, uma das maiores surpresas recentes no mercado, gerando pavor, tristeza, pesar, tudo em um amálgama que não é resolvido pelo jogo, mas sim oferecido ao jogador com uma mera pergunta que nos faz refletir sobre a moralidade de várias ações. No fim, Emio de fato nos coloca um sorriso para a eternidade, pertubador, distorcido, grotesco.
Buscando algo a mais
por Kat Oliveira
Como amante do gênero de terror, é particularmente difícil escolher apenas um momento que seja marcante. Por um lado, existem ótimos momentos que marcam por serem assustadores, devido a alta exposição a jogos é fácil se tornar uma pessoa anestesiada a coisas como horror. Por muito tempo busquei desesperadamente a sensação de medo e a adrenalina de assistir filmes thrash de terror quando criança pela primeira vez, ou de consumir alguma mídia que seja realmente chocante sem que seja algo “edgy” e exagerado, buscando a pena o choque gratuito.
No entanto, não demorou muito tempo para eu descobrir que as vezes o medo vem de lugares onde menos esperamos, e esse é o caso de OMORI. Não me leve a mal, o jogo se vende como um RPG com elementos de terror psicológico e tem um aviso logo no início indicando que o jogo aborda temas pesados e chocantes então de certo modo nenhum conteúdo chocante vem como surpresa.
Acontece que, o jogo é muito bom em envolver o jogador no drama de cada um daqueles personagens e como suas intrigas pessoais afetam o grupo como um todo. Deste modo, OMORI usa o delírio doce e alegre baseado em uma antiga realidade para chocar com maestria aqueles que se atrevem a chegar perto da verdade do jogo.
A conexão com os personagens e o choque entre realidades completamente diferentes fazem com que o trecho em que descobrimos uma certa verdade um dos momentos mais aterrorizantes, doloridos e emocionalmente difíceis de se passar, afinal poucas coisas na vida podem ser mais assustadoras do que uma verdade difícil de engolir e uma realidade dura e fria, Omori é capaz de passar esse sentimento como nenhuma outra mídia.
Diga X!
por Ivanir Ignacchitti
Meu contato com jogos de terror foi mais presente no PlayStation. Até eu fazer 18 anos, eu nem encostava em jogos que me pareciam demasiadamente violentos, então eu só fui explorar alguns clássicos do gênero depois, embora visse outros colegas jogando.
A primeira obra desse estilo que fui explorar em sistemas Nintendo foi Spirit Camera. Acho muito divertido o sistema de realidade virtual, mas confesso que o jogo em si não foi tão assustador quanto eu esperava.
Mas foi só em 2023 que fui jogar um Fatal Frame de fato com o relançamento do quarto jogo, Mask of the Lunar Eclipse, no Switch. Francamente, a experiência foi muito superior à do Spirit Camera, com uma ambientação sombria admirável. O visual cheio de ruídos, a sensação de velhice e decaimento das áreas, é tudo muito envolvente e ainda melhor graças à trama misteriosa e fragmentada.
Big Boo’s Haunt: Quando Super Mario flerta com o terror
por Patrick Pinheiro
Era um daqueles dias em que você vagava sem rumo por Super Mario 64, até que um Boo surge no corredor do castelo, te chamando para o desconhecido. Seguindo-o até o pátio, você encontra uma pequena tropa de fantasmas e, ao derrotar o certo, você encontra uma gaiola esquisita, que é a entrada para Big Boo’s Haunt. Entrar ali é como cruzar para outra realidade: a atmosfera muda, e Mario deixa de estar num jogo colorido e alegre para se ver num pesadelo sombrio.
Dentro da mansão, o inesperado espreita a cada esquina. Livros saltam das prateleiras e risadas soturnas ecoam, criando uma sensação de perigo constante. Mas o pior mesmo é o icônico piano com dentes, que parece inofensivo à primeira vista, mas explode em vida ameaçando acabar com qualquer um que se aproxime É o tipo de susto que, mesmo anos depois, ainda pode pegar qualquer desavisado que entre naquela sala pela primeira vez.
Além dos sustos óbvios, a fase é recheada de inimigos traiçoeiros, como fantasmas e o próprio Big Boo, que espreitam o jogador em cantos escuros. E como se isso não bastasse, armadilhas imprevisíveis como pisos falsos te testam a cada passo, criando uma tensão que transforma a mansão num verdadeiro labirinto de horror.
Big Boo’s Haunt é mais do que uma fase temática de terror, ela é uma experiência que inquieta, que tira o jogador do conforto e o leva a uma aventura que mistura o absurdo com o sombrio. Porque, afinal, o verdadeiro terror não está em monstros explícitos, mas na inquietação de não saber o que te aguarda na próxima porta.
Doces com Travessuras
Se há algo a aprendermos com a listagem, é que não é necessário o explícito para se estabelecer o terror. O frio atrás da espinha, os pelos enriçados, a suspensão do fôlego: não há nada como sentir isso em uma experiência que priorize uma experiência marcante do que meros sustos gratuitos. Melhor ainda quando a sensação surge do inesperado!
Quanto a você, estimado leitor, espero que nossa seleção tenha inspirado sua curiosidade de se aventurar nos mistérios do além. Cuidado com o perigo à espreita, e boas jogatinas no Halloween!
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