Desenvolvedora: Grasshopper Manufacture Inc.
Publicadora: Grasshopper Manufacture Inc.
Gênero: Ação
Data de lançamento: 31 de outubro, 2024
Preço: R$ 124,50
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia gentilmente fornecida pela Grasshopper Manufacture Inc.
Revisão: Marcos Vinícius
Pouca gente se lembra, mas nos idos dos anos 2010, numa época em que executivos não tinham o hábito de intervir tanto no processo criativo das produtoras, pudemos testemunhar parcerias entre duas lendas do desenvolvimento de jogos no Japão: Goichi “Suda51” Suda, de No More Heroes, e Shinji Mikami, conhecido como o pai da série Resident Evil.
Desenvolvido pela Grasshopper Manufacture e publicado pela Electronic Arts, Shadows of the Damned foi quase como um devaneio coletivo, um jogo que se entregou à galhofa sem qualquer tipo de preocupação, explorando, mais uma vez, os temas sensíveis e adultos com os quais Suda 51 já estava habituado a trabalhar.
Shadows of the Damned: Hella Remastered, a versão remasterizada do clássico cult de 2011, é um lembrete de uma fase da história em que as desenvolvedoras não se importavam com controvérsias e polêmicas – logo, o céu era o limite para a liberdade criativa. Nós tivemos a oportunidade de experimentar o remaster antes do lançamento e contamos tudo nas próximas linhas.
Uma excêntrica jornada rumo à escuridão
No melhor estilo filme B, assumimos o papel de um caçador de demônios, Garcia Hotspur, talvez o último grande protagonista canastrão dos anos 2010, em uma missão para resgatar Paula, sua namorada, nos confins do inferno. Amparado por Johnson, uma caveira falastrona que ganha forma no cano de sua arma, o herói parte rumo às profundezas do Mundo dos Mortos para cumprir o seu objetivo.
O grande chamariz da história, à época, era sua capacidade de misturar as duas marcas registradas de cada produtor sem deixar que uma prevalecesse sobre a outra. Shinji Mikami deu toques de terror psicológico e gore à aventura, enquanto Suda51 ficou encarregado de trazer as bizarrices e o humor negro característico de suas criações.
Falando sobre o remaster em si, não há melhorias estruturais ou adições que renovam completamente a estética do jogo. O relançamento preserva a estrutura linear e dedicada à narrativa da obra original, resguardando de 8 a 10 horas de muita ação, mas incrementa a experiência com um modo Novo Jogo+, no qual é possível carregar todo o progresso da jogatina, tanto armas quanto upgrades, para a próxima run.
Em termos de conteúdo novo, é basicamente isso. Até temos novas skins para dar uma rejuvenescida ao semblante cansado de Garcia, mas nada que justifique recomprar o jogo se você pôde desfrutar dele na geração do PlayStation 3 e Xbox 360 — a menos que você seja muito fã de Mikami e Suda51, esteja com dinheiro sobrando e queira apoiar o projeto de alguma forma para, quem sabe, despertar a faísca de uma sequência.
O Resident Evil 4 de Suda51
Para quem não está familiarizado com a franquia, Shadows of the Damned carrega uma vibe de hack and slash à la Bayonetta e Devil May Cry, mas se assemelha mais a um Resident Evil 4 da vida em termos de gameplay. Apesar de oferecer recursos suficientes para o combate corpo a corpo, a diversão reside, a curto modo, em descer bala nos demônios.
As mecânicas de tiro são satisfatórias e há uma boa variedade de armas, mas a mira é um tanto truncada, especialmente no modo portátil, o que dificulta bastante as coisas. Embora o combate seja “pauleira”, assim como a impecável trilha sonora do mestre Akira Yamaoka, conhecido sobretudo por seu trabalho em Silent Hill, há um quê de estratégia nos momentos em que devemos recorrer a certos tipos de munição, como o disparo de luz.
Você pode evoluir os atributos das armas e do personagem à medida que coleta recursos nos cenários, mas nada muito complexo a ponto de deixar o jogador em dúvida sobre o que deseja aprimorar. É tudo muito intuitivo e com aquela simplicidade dos games do começo dos anos 2010, dos tempos de Xbox 360 e PlayStation 3, que tanto carece atualmente.
Quebra-cabeças até existem aqui e ali, mas, como o próprio protagonista vocifera no decorrer da jornada, ele odeia puzzles e, portanto, acabam sendo pontuais — e muitas vezes desnecessários, vale ressaltar. O combate em terceira pessoa é o que realmente sustenta o pilar da experiência, ainda que, para bem ou para mal, tenha sido totalmente preservado, inclusive com suas ressalvas.
Quase um port
Os engasgos que mencionei na jogabilidade, especificamente na hora de mirar, foram herdados da versão original, naturalmente, mas ficam ainda mais evidentes pelo fato de Hella Remastered rodar a apenas 30 fps. A impressão, aliás, com o controle nas mãos, é de que a taxa é até menor que isso, com oscilações claras e incômodas de desempenho.
Nos consoles mais parrudos, o remaster promete alcançar a resolução 4K sem grandes esforços. No Switch, porém, o modo gráfico não chega nem perto disso; pelo contrário, a qualidade deixa muito a desejar. Para resumir em poucas palavras, o sentimento é o de estar jogando a versão de Xbox 360 e PlayStation 3 num console portátil, sem tirar nem pôr. Sem melhorias substanciais na iluminação, sem uma boa repaginada nas texturas ou qualquer coisa do tipo.
Uma viagem ácida e divertida de Suda51
Shadows of the Damned é talvez a viagem ácida mais divertida e autoral de Suda51 e permanece como tal após 13 anos desde o seu lançamento nos consoles da sétima geração. Como remaster, no entanto, ao menos no Nintendo Switch, Hella Remastered parece mais um simples port, sem mudanças gráficas expressivas ou acréscimos de conteúdo que justifiquem uma segunda compra por quem já jogou.
Prós
- Um dos jogos mais autorais de Suda51 e Mikami;
- Mecânicas de tiro satisfatórias, apesar das limitações da época;
- A história é pura galhofa, mas tem coração;
- Modo New Game+ dá sobrevida à campanha;
- A trilha sonora do mestre Yamaoka é impecável e só melhora com o tempo.
Contras
- Qualidade gráfica bem abaixo do esperado;
Desempenho fraco no Switch, beirando o limite do aceitável;
Poderia ter mais conteúdo novo.
Nota
7,5
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