Desenvolvedora: h.a.n.d., Inc.
Publicadora: Neos Corporation
Gênero: Aventura, Simulação, Cozy Game
Data de lançamento: 24 de outubro de 2024
Preço: R$ 219,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Neos Corporation.
Revisão: Marcos Vinícius
O Nintendo Switch foi lar de inúmeras memórias ao longo dos seus oito anos. Passei a conhecer muitos títulos e muitos deles passei a prezar com estima. Shin chan: Me and the Professor on Summer Vacation -The Endless Seven-Day Journey- foi um jogo que me marcou de forma particular, principalmente por seu aspecto bucólico; um literal fugere urbanus tão valorizado a partir de Stardew Valley e Animal Crossing, para citar os mais conhecidos, mas particularmente condensado em um título aprazível, curto e marcante.
Isso para dizer que, a partir do anúncio de sua continuação em Shiro and the Coal Town, aguardei ansiosamente pelo lançamento. Retornar ao cenário rural tão belamente ilustrado pelos artistas da Millenium Kitchen, desenvolvedores de Boku no Natsuyasumi que oferece as bases estruturais ao título em análise, era o que desejava para apaziguar as ansiedades do cotidiano. Sabia que, consertando os pequenos problemas de ritmo do antecessor, teria uma excelente obra em mãos.
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Experiência Geral
Minha surpresa, contudo, foi averiguar que os desenvolvedores foram trocados entre títulos. Ao invés da Millenium Kitchen, Shiro and the Coal Town contou com o desenvolvimento da h.a.n.d., experiente desenvolvedora por trás de diversos jogos licenciados, do port de Digimon Story Cyber Sleuth em 2019 ao desenvolvimento de NEO: The World Ends with You. Apesar de não terem o nível de especialização da Millenium Kitchen para jogos do tipo, os desenvolvedores sem dúvida tiveram experiência de sobra para criar por cima do anterior, mantendo sua essência.
No geral, o loop do jogo se mantém. Controlamos Shin Chan, a eterna criança de cinco anos desde a década de 1990, e que durante férias familiares no interior do Japão é deixada à revelia pelos pais para explorar a cidade rural, seja pescando, caçando insetos, cultivando vegetais, desbravando trilhas, por aí vai.
Dessa vez, contudo, um trem misterioso pode nos levar a uma cidade construída sobre minas de carvão, oferecendo um claro contraste pelas ruas sujas, a alta densidade populacional e até pelos colecionáveis (plantas e flores no primeiro, minérios e lixo no segundo).
O primeiro jogo da série apresentava uma linha narrativa por meio de loops temporais. Ou seja, a cada dia tínhamos uma missão principal, além de uma oferta de side quests limitadas a dias específicos, e quando estávamos adiantados precisávamos ocupar o tempo até o próximo capítulo. Shiro and the Coal Town é um pouco mais orgânico: como não há viajem no tempo podemos tomar todo o tempo do mundo para avançar na história, e assim que fechamos um capítulo encontramos uma série de novas side quests envolvendo novas áreas desbloqueáveis.
A narrativa em si também é mais engajante: a ameaça em si, que seria a presença súbita de dinossauros, é um elemento que o jogador passa a desejar (poxa, dinossauros são muito legais), mas no presente título a ameaça é a destruição de uma cidade que passamos a nos apaixonar, seja pelo design ou pelos cativantes personagens. Une-se a isso a sugestão da existência da cidade ser mero sonho de Shin Chan, estabelecendo um desejo de prolongar a experiência onírica.
Cenários e apresentação
Os cenários são verdadeiramente lindos. Os traços das artes são exuberantes, bem aos moldes do jogo anterior, e ao desbloquearmos novas seções do mapa também debloqueamos alguns poucos atalhos, fazendo-nos acessar áreas mais distantes sem necessariamente perdermos o tempo do dia, já que o passar das horas está assoociado à nossa movimentação. Essa descrição se aplica tanto para o cenário rural tanto para o urbano: mesmo sem mapas as ruas não são labirínticas, e é bem fácil de nos localizarmos.
O único problema é que, ao dividir o jogo em dois mapas, nenhum deles se apresenta tão grande quanto o jogo anterior. Havia um sentimento de descoberta que se prolongava até os últimos momentos do jogo: um local de pesca novo, uma vista diferente, uma borboleta nova… aqui, desbloqueamos muito cedo todas as zonas da cidade rural, e a cidade em si apresenta atividades novas a cada seção mas apresenta um mapa bem uniforme, pela identidade visual apresentada mesmo.
Dito isso, não há como deixar de apreciar o esmero artístico da obra. Os modelos de colecionáveis são lindos, os cenários emocionam e as artes de transição de noite para dia e vice-e-versa contribuem enormemente para a imersão naquele mundo.
Além disso, agora somos acompanhados por Shiro, o cachorrinho da família que, além de ser uma aprazível companhia já que podemos a qualquer momento brincar com ele, também fareja e encontra itens raros ou associados a missões específicas. Não à toa seu nome também está presente no título, até pela ligação com a história da cidade.
Entre trancos e barrancos
Eu queria muito dizer que o novo título é a evolução natural para a série, com todas as falhas corrigidas e com uma míriade de novas atividades. Infelizmente não será dessa vez: existem elementos melhores sim nesse jogo, mas também existem elementos piores.
O ponto mais negativo da experiência, sem dúvidas, é o loop de missão. Todas as missões se tornaram fetch quests, tornando a narrativa bem arrastada já que os últimos objetos são bem difíceis de se obter.
Existem formas de contornar a aleatoriedade dos encontros, maximizando ganhos financeiros e comprando itens nas lojas ou realizando trocas em boards com tarefas diversas, mas a experiência ainda assim se torna monótona. Por outro lado, as animações mais variadas e fluídas, além da adição de um restaurante onde podemos expandir o menu e trabalhar recomendando pratos, diferencia bastante o novo do antigo, sendo uma experiência agradável, no geral.
No geral, Shin chan: Shiro and the Coal Town com certeza dialoga com jogadores mais predispostos à repetição, e apela diretamente com o público voltado para jogos Cozy. É, assim, um excelente título entre jogos grandes, mas com um último adendo: com o humor meio canastrão de Shin Chan que sinceramente envelheceu mal e faz revirar os olhos em alguns poucos momentos.
Prós:
- Cenários majestosos;
- Progressão não está mais atrelada a um espaçamento grande de dias;
- Narrativa mais interessante que seu antecessor, ainda mantendo-se convidativo a um público infantil e casual.
Contras:
- Cenários reduzidos cortam demasiadamente cedo o prazer da descoberta;
- Missões repetitivas
Nota Final:
8,5
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