Desenvolvedora: Nihon Falcom
Publicadora: NIS America
Gênero: RPG de ação
Data de lançamento: 25 de outubro, 2024
Preço: R$ 314,99
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela NIS America.
Revisão: Davi Sousa
Eu vou lhes contar um segredinho: quem me conhece pelas análises aqui do NintendoBoy sabe o quão apaixonado sou por JRPGs. Mas, entre todos os estilos existentes, aqueles mais puxado para a ação são os que menos me atraem. Por isso, passei de olhos fechados por experiências que são consideradas o magnum opus da indústria dos videogames, a exemplo dos populares soulslikes da FromSoftware.
O motivo disso? Bem, talvez seja a preferência por jogos de turno onde posso apenas largar o controle para pensar no que fazer em seguida ou ir ao banheiro cagar despreocupado. Mas também pode ser minha falta de habilidade para executar combos ou desviar de ataques, sei lá. No entanto, não é como se eu nunca tivesse jogado algum action-RPG e curtido de verdade. E isso, claro, se aplica à série Ys, que, até o momento, foi a única franquia que genuinamente me cativou.
Dito isso, devo esclarecer que minha vivência com a série da Nihon Falcom não data de muito tempo, mas de alguns anos atrás, quando a franquia já havia transacionado do seu estilo de ação isométrico com elementos de bullet hell para se adequar aos padrões da indústria, porém, ainda mantendo sua identidade com sua jogabilidade em ritmo acelerado.
Sendo mais específico, comecei minha jornada com Ys através da oitava entrada da série — Ys VIII: Lacrimosa of Dana — na versão portada para Nintendo Switch e, a partir daí, tenho me esforçado para encarar todos os jogos, subsequências e ports tardios que vinham aparecendo no híbrido, apenas para reafirmar meu gosto por esta franquia. Com o recente Ys X: Nordics, estou feliz em dizer que nada disso foi em vão. Portanto, irei elaborar mais sobre isso a partir do próximo tópico.
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A pergunta do milhão: Pode começar Ys por está entrada?
Para jogos numerados que colecionam mais de uma dúzia de títulos lançados, é comum que novos fãs tenham medo de colocar os pés em terras desconhecidas. Eu mesmo ainda me sinto um bebê na série Ys, uma vez que não tenho um grande repertório com a mesma, tendo em meu portfólio, antes de Ys X, apenas Ys VIII: Lacrimosa of Dana, Ys IX: Monstrum Nox e Ys Origins.
Mesmo que eu não seja a melhor pessoa para debater sobre a lore de Ys ou indicar o melhor jogo entre todos eles, uma coisa eu sei que posso responder: Ys é tranquilamente uma série bastante receptiva aos novos jogadores por apresentar aventuras bem fechadinhas, assim como são os jogos de The Legend of Zelda. E assim como a lendaria franquia da Nintendo, a única coisa a se atentar mesmo é questão da lore e cronologia dos eventos, que, pasmem, ainda é algo que você, que recentemente começou em Ys, não deve se importar tanto de início.
Em suma, se você é um daqueles enjoados que ainda assim quer começar por alguma ordem, o deus Google me disse que Ys X: Nordics ocorre entre Ys II: Ancient Ys Vanished – The Final Chapter (1988) e Ys: Memories of Celceta (2012), este último um remake de Ys IV: Mask of the Sun. O porém disto é que você se verá em constantes mudanças a cada título fora da ordem de lançamento em questões de estética visual e de gameplay, podendo causar um efeito dissociativo. Mas, se ainda assim quiser insistir, então boa sorte, campeão.
Agora, respondendo de vez à pergunta do tópico: sim! Você pode começar Ys por Ys X: Nordics ou por qualquer Ys moderno antes dele que seja de fácil acesso, é claro. São experiências distintas e independentes em termos de mecânicas, história e elenco de personagens, apenas apresentando algumas das aventuras e problemas em que Adol Christin e Dogi se metem.
Tirando o elefante da sala, vamos ao que Ys X: Nordics tem a oferecer!
Cine Aventura apresenta: Loucuras e muita Confusão no Golfo de Obelia
O Golfo de Obelia esconde muitos segredos, mas o jovem Adol Christin não saberia disso antes de ser surpreendido pelos piratas da Balta Seaforce, que atacaram o navio em que ele estava alojado para cobrar pela vida de um devedor de pedágio.
Sua ida a Celceta, no entanto, teve de ser adiada devido a tal infortúnio, onde Adol e seu companheiro Dogi são levados para Carnac, uma cidade costeira e o maior assentamento do Golfo de Obelia — este que, ainda para o azar do aventureiro de cabelo vermelho, seria palco de um evento trágico orquestrado pela frota imortal dos Griegr, os antagonistas da história de Ys X: Nordics.
Após o cataclismo, a narrativa encontra seu ponto de partida, mas não antes de sermos apresentados à segunda protagonista do jogo, Karja Balta, a “Princesa Pirata” da Balta Seaforce que, de repente, se vê presa a Adol por correntes mágicas e agora precisa cooperar para acabar com as artimanhas dos Griegr até que ambos possam encontrar uma maneira de se separar novamente.
O mistério por trás dos Griegr é o alicerce de Ys X: Nordics. Claro, a concha que Adol encontra na costa que desencadeou o uso da Mana para o herói, além das algemas que o mantêm preso com Karja, são apenas alguns pedaços deste quebra-cabeça para solucionar, mas, embora tudo pareça cru demais para quem curte histórias densas, uma coisa que aprendi em Ys é que você jamais deve subestimar seu design narrativo. De forma alguma! O que a série faz de melhor é entregar twists de explodir a cabeça, e aqui as coisas não são diferentes, vai por mim.
Com a estrutura narrativa se mantendo no padrão do que se espera em um Ys moderno, algo que não me pegou bem em Ys X, no entanto, foi como o mundo e seus personagens são introduzidos ao jogador. Enquanto no primeiro dependemos demais de conversas casuais entre os NPCs, o segundo parece apressado demais em querer nos fazer ter algum tipo de empatia.
Explico: quando somos introduzidos aos NPCs de história, somos obrigados a ler um monólogo de suas vidas com detalhes que, até então, pouco importam, assim desgastando demais a economia de desenvolvimento desses personagens. Isso vem acompanhado de certos plot holes envolvendo esses mesmos personagens, onde, ao omitirem certos detalhes de suas vidas, o roteiro convenientemente resolve problemas de determinadas situações, revelando coisas destes mesmos personagens que já deveríamos saber previamente.
Não sei se isso ficou bem entendido, mas foi um aspecto que me incomodou um pouquinho, uma vez que sou suscetível a gostar dos personagens a longo prazo, aprendendo sobre eles de forma cadenciada. Mas olha, de forma alguma são personagens desinteressante ou mal escritos, só achei que o roteiro estava tentando ser íntimo demais pra cima de mim sem sequer me convidar pra jantar antes.
Mas no fim do dia, Ys X ainda entrega uma aventura improvável de história enxuta que consegue prender o jogador até o fim com um bom elenco de personagens e excelentes cliffhangers. Se comparado à sua franquia-irmã Trails, Ys é muito mais honesto por sua simplicidade em vez de tentar parecer inteligente com uma trama política densa com jovens de cabelo colorido.
Combate ágil e Rock n’ Roll!!!
O combate de Ys moderno apresenta diversidade na jogabilidade e ao mesmo tempo acessibilidade, tornando-o atraente para jogadores não habituados ao gênero ou apenas para quem é ruim mesmo, como eu. Talvez deva ser por isso que me afeiçoei tanto à série, vai saber… Agora, junte isso à sua trilha sonora de rock progressivo com um trabalho de guitarra de tirar o fôlego, e o resultado é uma das maneiras mais deliciosas de se sentir imersivo em uma aventura de fantasia em um RPG de ação.
Ys X, no entanto, parece se esforçar para encontrar um estilo de combate que pareça familiar e ao mesmo tempo inovador para que se mantenha distinto de seus antecessores, mesmo que sutilmente. Por isso, de Ys VIII para cá, a mudança já começa pelo fato de que nós só controlamos Adol e Karja. Eu sei que isso vai mais pelo contexto do jogo em si, mas é evidente que a Nihon Falcom queria deixar um pouco de lado essa receita de bolo de múltiplos personagens jogáveis com movepools diferenciados.
Em vez disso, Adol e Karja acabam se tornando dois opostos no que diz respeito a jogabilidade e moveset, evoluindo-os de forma exponencial através de um sistema de Árvore de Talento — Release — que fortifica atributos através de runas e desbloqueia novas habilidades conforme subimos de nível. Isso faz com que, à medida que você progride na campanha, manuseá-los seja gradativamente diferente.
Outra novidade aqui são os modos Solo e Duo, que podem ser alternados com um pressionar de botão. O primeiro, bem tradicional, faz com que você controle apenas um dos protagonistas enquanto o outro é movido pela CPU até o inimigo, dando um aspecto mais convencional. Já no segundo modo, que é autoexplicativo, você joga com Adol e Karja ao mesmo tempo, desferindo golpes sincronizados com uma interface de opções de golpes letais exclusivos à sua disposição enquanto este modo estiver em vigor.
Algo que também notei é como a mobilidade dos personagens em combate parece mais refinada com alguns subelementos do sistema. Por exemplo: o Mana String, fora do âmbito de exploração de cenário, te leva ao inimigo que estiver alvejado, permitindo também que você alcance pontos fracos dos bosses que são difíceis de alcançar com o pulo; uma esquiva perfeita pode ser executada por ataques de projeteis apenas dando um dash na direção do golpe; a lancha não é apenas um bom meio de locomoção, também pode ser uma conveniência na hora de se afastar de golpes poderosos que parecem um show de bullet hell.
Como podem ver, não tenho quaisquer reclamações quanto ao sistema de combate de Ys X. Ainda que o jogo pareça difícil de lidar, é possível alterar a dificuldade até que você tenha vontade de se sentir desafiado. Por ser um jogo de ação, manter o jogador no frenesi é um papel fundamental do gênero que a série Ys faz com maestria, e Ys X: Nordics mantém tal fundamento para o bem dos fãs veteranos, enquanto se preocupa o suficiente com novatos a ponto de ser acessível e divertido mesmo que você esteja só esmagando botões feito criancinha.
Assim cobrimos o que para mim é o pilar principal na franquia Ys. Agora, vamos para o segmento de aventura e exploração, aqui dividido em duas vertentes: a exploração convencional, que inclui desbravar dungeons, e a exploração marítima através do navio Sandras em que Adol e seus amigos passam grande parte do tempo.
“Too much water”
Para um jogo de aventura, a exploração do cenário precisa estar em seu DNA, estar intrínseco em seu design de jogo. Ys, em sua essência, trabalha o conceito de aventura, por isso sempre carregou um pouco deste viés desde a primeira entrada em 1987, e não é à toa que torná-lo mais ambicioso em escopo é o caminho que a Nihon Falcom busca tomar a cada sequência. Mas, se comparado com Monstrum Nox, este jogo parece ter regredido de um lado em prol do outro, dando uma sensação de linearidade por ser limitado até onde você pode ir ou fazer em razão da grande novidade que ele introduz.
O que eu quero dizer é que Monstrum Nox era, de certa forma, sinônimo de exploração para a franquia em um momento de evolução sem precedentes. Mesmo que não seja o auge da exploração e interação de cenários, a sensação de liberdade era maior do nunca na franquia. Em Ys X, me senti frustrado por não poder apenas pegar um atalho saltitando por muros e residências, entende? Alguns podem argumentar que isso é porque ele foi pensado nas limitações do Switch, que, pasmem, é um console fraco em termos técnicos — mas olha, mesmo aquele maldito tablet conseguiu rodar Ys IX.
Ainda assim, Ys X compensa este downgrade com algumas gimmicks que tornam o design dos cenários menos monótono com a adição do Mana Ride, a supracitada prancha que acelera a mobilidade e o torna capaz de atravessar lagos, pântanos e fluxos de mana que o levam rapidamente para algum ponto distante do mapa. O anteriormente citado Mana String é um gancho que resolve alguns desafios de plataformas ou pequenos puzzles que prendem você de progredir. Existem outros recursos convenientes que enriquem ainda mais a experiência, mas aí eu estaria tirando a graça da descoberta, né? Sem spoilers aqui!
Mas claro, para além da exploração em terra firme e as dungeons tradicionais que estamos carecas de ver na série, Ys X: Nordics introduz a exploração marítima que toma destaque no jogo (e toma até demais…). Embora eu sempre apoie e dê valor a ideias que fogem um pouco da caixinha em prol da renovação, admito que não me diverti tanto quanto eu queria com esta premissa, por mais bem-elaborada que ela seja.
A começar pela mobilidade limitada, controlar um navio em um espaço aberto no oceano, sem grandes interações com cenários e tempo de locomoção bastante espaçado, me causava sono. Eu preferia simplesmente parar para ler as conversas aleatórias dos tripulantes. Além disso, mudar a direção do navio é agonizante de tão desengonçado; pensei até que o analógico do meu controle estava ruim, quando na verdade é só uma mecânica muito engessada.
Claro, ainda temos que lidar com a frota dos Griegr que rondam o Golfo, estes que trazem ação à exploração oceânica com intuito de deixar o ato de velejar menos sem graça. E é aqui também que as emblemáticas raids de Ys estão reservadas quando entramos em um conflito direto invadindo o barco inimigo ou após desbloquearmos a opção de acabar com os Griegr que tomaram o controle de ilhotas.
À medida que vamos atrás de contingente humano ou coletamos objetos boiando no mar, nossa embarcação é aprimorada com canhões adicionais com diferentes intensidades de poder de fogo e outras melhorias que influenciam no seu desempenho em batalha, além de abrir novas funções na parte interna, que funciona como uma espécie de hub world para compensar nossa ausência nas cidades.
Ainda que bem-elaborado, não acho que tal momento ficará marcado em minhas aventuras com Ys X, com exceção dos momentos em que aciono as cutscenes da história. Isso, claro, é algo pessoal e talvez a falta de experiência com jogos que abordam aventuras de combate naval faça com que eu não tenha uma opinião assertiva ou talvez até mais justa para avaliar esse sistema. Mas fica assim: eu não achei ruim ou ofensivo, ele dá sim singularidade ao jogo, só que não me fisgou mesmo e acredito que será um 8 ou 80 para muitos jogadores também.
Experimental, mas ainda assim muito divertido
Ys X: Nordics está em uma linha tênue entre ser uma síntese de tudo que vimos na série até então desde a sua transição para o 3D com Ys Seven e trazer algo experimental para amplificar o conceito de aventura com o qual a franquia sempre flertou. No entanto, para o segundo, não consigo ver a Nihon Falcom revisitando este conceito em entradas futuras tão cedo, o que faz de Ys X uma das abordagens mais diferentes na série Ys agradando ou não aos jogadores.
Tendo em vista que Ys ainda é uma série em constante evolução, se dar ao luxo de integrar abordagens diferenciadas em seu núcleo de gameplay é algo certamente bem-vindo. Este jogo evoca a ideia de que a série quer ressignificar o sentido de aventura no Mundo de Ys, desta vez levando Adol aos mares, e para isso era necessário dividir o foco da gameplay por igual e não deixar a exploração marítima como algo à parte. Essa foi a minha interpretação. Mas acredito que isso precisa ser refinado para torná-lo tão divertido quanto os demais sistemas aos quais já estamos habituados e amamos tanto.
Embora grande parte de minha crítica tenha sido direcionada à sua gameplay de exploração do oceano, isso de forma alguma tira o mérito do resto. O jogo ainda entrega uma aventura divertida repleta de mistérios e personagens interessantes, além de um combate fervoroso que honra a série como uma das pioneiras no âmbito de RPGs de ação. Ys X: Nordics é uma recomendação fácil para quem ama jogos de ação e aventura, e, mesmo com alguns tropeços, esta entrada é uma das melhores experiências em RPG de ação que você irá encontrar no mercado.
Prós:
- História interessante com uma trama cheia de mistérios que prende o jogador a cada final de capítulo;
- Elenco carismático e cheio de nuances;
- Sistema de batalha viciante que, combinado com uma trilha sonora de rock progressivo, é uma das maneiras mais legais de se curtir um RPG de ação;
- Boa lore.
Contras:
- Alguns dialogos desinteressantes entre NPCs entram em conflito com informações cruciais para a narrativa;
- O design de jogo habitual é, de certa forma, sacrificado em prol de um experimento imperfeito que é a parte de exploração marítima.
Nota Final
8,5
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