Desenvolvedora: Mistwalker
Publicadora: Square Enix
Gênero: RPG, Estratégia
Data de lançamento: 05 de novembro, 2024
Preço: R$ 249,50
Formato: Digital
Eu conheço pouca gente que faz uso dos dispositivos da maçã mordida, muito menos aqueles que sequer conhecem o Apple Arcade, a “solução” da empresa na época para apelar para o público gamer, com uma série de jogos para você jogar a qualquer momento, pagando uma assinatura fixa por mês.
Dentre os vários jogos da Apple Arcade, existia um feito pelo “pai do Final Fantasy”, Hironobu Sakaguchi, chamado de Fantasian. Muitas pessoas ficaram interessadas em jogar ele, mas como o Apple Arcade precisava de um iPhone ou um iPad (e olha que tinha que ser um decente), jogá-lo era also quase que impossível, ao menos àqueles que não estavam dispostos a parcelar um dispositivo da maçã. Porém, isso tudo muda hoje com Fantasian: NEO Dimension, que traz o jogo para uma base de usuários muito maior.
A história de Fantasian
Em Fantasian, nossa história começa com Leo, um jovem cujo objetivo é coletar todos os tesouros do mundo após a morte de seu pai. Porém, em uma de suas aventuras, ele acaba batendo a cabeça, e poof, todas as suas memórias se foram, pela exceção de seu nome. Agora, confuso, ele percorre pelos vários locais do mundo, esperando que ele consiga lembrar seu passado.
Já vou dizer pra vocês uma coisa: Essa história começa de um jeito que é extremamente lento, e eu diria que o plot só começa a pegar no tranco depois de talvez após 5 ou 6 horas de jogo. Isso faz com que recomendar Fantasian seja um pouco difícil. Se eu tenho que adicionar a frase de que o jogo só melhora após um certo número de horas, é um pouco complicado.
Ops, não posso te falar, esqueci!
OK, primeiro de tudo, isso é só uma opinião, mas sempre quero enfiar a cabeça e gritar em um travesseiro quando usam esse plot de amnésia em história. Esse tipo de narrativa não se passa de uma maneira fácil e rápida de deixar o personagem como um papel em branco que você vai colorindo aos poucos. Fantasian faz isso com um monte de personagens, e por causa da amnésia do Leo, se recusa a se explicar direito em certos pontos.
Por exemplo, em uma parte da história, você encontra com os integrantes de um grupo que se chamam “Cinderella Tri-Stars”. A princípio, eles parecem ser uma espécie de “Equipe Rocket”, mas eles possuem muita pouca relevância ao plot, aparecendo quase que do nada só pra atazanar o Leo, e poof, somem. Existem também muitos pontos na história que eu só posso descrever como filler total.
Preso no passado
O sistema de batalha do Fantasian pode até parecer um simples combate de turno, com uma linha do tempo no canto inferior direito te falando qual inimigo irá atacar. Porém, certos ataques podem atingir múltiplos inimigos, e é possível ajustar quais inimigos você quer atingir.
Esse sistema se extende aos chefões, onde cada um deles possui um gimmick, ou truque específico que você pode utilizar para ganhar uma leve vantagem no combate. Eu até que gostei do fato que cada para cada boss existe uma certa estratégia, como se fosse um quebra-cabeça. Mas nem tudo são flores.
Por algum motivo bizzaro, a dificuldade aumenta de um modo desproporcional, onde do nada um chefão pode facilmente te dar uma surra e tanto. Fantasian também não possui um modo fácil — apenas normal e difícil, o que eu considero uma total falta de accessibilidade, especialmente para pessoas como eu que preferem jogar pela história.
Pra mim, esses spikes de dificuldade são uma coisa do passado, e eu acho que deveria ter tido um pouco mais de cuidado em relação a isso. Agora, se você gosta do grind, e é do tipo que joga seus jogos no modo Ultra-Hard, bem, quem sou eu para julgar?
Acumule suas batalhas de uma só vez
vamos a um dos aspectos interessantes de Fantasian, que e é a Dimengeon Machine. Enquanto ela estiver ativada, inimigos que você já lutou contra pelo menos uma vez no mundo são mandados para uma dimensão alternativa, que comporta até 30 monstros. Você poderá lutar contra todos eles de uma só vez, e isso eu achei bem legal.
Afinal, uma das irritações que eu costumo ter com esse sistema é o fato de que inimigos sempre te interruptem, e esse sistema permite que você ganhe o equivalente do XP de várias batalhas de uma só vez. Isso é necessário por múltiplos motivos, mas bem…lembra que eu falei que Fantasian era dividido em duas partes?
Por algum motivo bizzaro, a dificuldade aumenta de um modo desproporcional, requerendo que você farme XP através desse método. Acumulando esse tanto de inimigo em um lugar só definitivamente tem suas vantagens, mas spikes de dificuldade e ter que fazer um grind considerável são coisas que deviam ter ficado no passado.
A falta de uma dificuldade menos elevada afeta a accessibilidade, especialmente para pessoas que não querem gastar seu tempo matando 30, 50, ou até mesmo 100 bichos para conseguir chegar no nível que o jogo aparentemente espera que você esteja.
Música pelo lendário Nobuo Uematsu
A música e composição de Fantasian foi feita por ninguém menos que o grande Nobuo Uematsu, bastante conhecido pelas suas músicas icônicas como o famoso One-Winged Angel do Final Fantasy VII, além do Terra’s Theme do Final Fantasy VI. Agora, eu vou provavelmente deixar algum fã nervoso com isso, mas eu achei a composição dele no Fantasian relativamente… medíocre.
Não que as músicas sejam ruins, pois existem algumas que são muito boas, mas eu não consigo deixar de pensar que Nobuo Uematsu decidiu não se arriscar na música e na escolha de instrumentos, o que resultou em uma composição que eu classificaria como nem tão icônica, mas não necessariamente uma que é terrível.
Dito isso, se você não quiser ouvir as músicas do Uematsu (por algum motivo), Fantasian te permite mudar a música de batalha para outros jogos, como Final Fantasy XIV, e até mesmo Final Fantasy XVI. É levemente engraçado considerando que, dessa lista, apenas um título possui uma versão no Nintendo Switch? Sim. Mas ainda bem que é possível você colocar essa lista no aleatório, fazendo com que você tenha pelo menos uma variação entre as músicas de fundo.
Uma alma mobile mostrando suas caras feias
A UI de Fantasian é extremamente simples, e talvez até um pouco demais. Ela não é ruim, mas você claramente vê que não foi feito muitas coisas para fazer ela se destacar, talvez devido a sua alma mobile, feita na engine da Unity. Algo que o marketing se orgulha é dos 150 dioramas que foram feitos para o fundo.
Porém, e essa é a parte que vocês vão ter que desculpar, mas meu cérebro de designer simplesemente não consegue ficar calado sobre: Simples é bom, mas tem muitos momentos em que o jogo dá um zoom e você só consegue ver os artefatos JPEG do fundo.
Além disso, quando você entra em uma área que força a câmera a girar em um ângulo, Fantasian não ajusta os controles para que eles considerem a nova perspectiva de tela. E como se isso não bastasse, essa versão de Fantasian não possui suporte aos controles de toque, e o jogo está sempre em modo “controle”, mesmo no modo portátil do Nintendo Switch.
Claro, agora vamos falar do elefante na sala, que é a performance do jogo no Nintendo Switch: Há diversas cutscenes, especialmente em cenas com um monte de personagens que simplesmente viram uma apresentação de PowerPoint. Sim, eu sei que o Nintendo Switch tem um poder reduzido em relação aos dispositivos da maçã, isso não é desculpa para falta de otimização. Também é possível perceber um leve gargalo na transição entre batalhas.
Eu não sei a quem que eu devo a atribuir essa culpa, inclusive, pois em minha pesquisa, a versão mobile também tinha essa tendência de cair em quadros, e as vezes até fechar abruptamente. Felizmente, eu não tive esse problema até agora, mas eu acho que tais problemas poderia ter sido facilmente resolvido se utilizassem mais cutscenes que já foram pré-renderizadas, ou pelo menos otimizar de alguma forma.
Porém, falando nisso, uma das principais mudanças nessa nova versão do Fantasian é a adição de dublagem para as cutscenes e NPCs, coisa que a versão mobile não tinha. Eu honestamente não acreditei até que eu assisti a um vídeo dela para comparar. É incrível o que uma dublagem faz para adicionar imersão, e penso que nesse caso, as cutscenes de Fantasian conseguiram um tcham a mais graças a isso.
Um mundo fantástico, porém imperfeito
Eu achei Fantasian um JRPG bem decente. A Mistwalker claramente sabe o que está fazendo, mas, infelizmente, é um jogo que eu nem gostei nem odiei, e que eu acho difícil recomendá-lo exceto para um subtipo de pessoas — no caso — fãs do trabalho do Sakaguchi que sempre quiseram um jogo nos moldes que ele sempre fez. Desde o começo, eu abaixei bastante minhas expectativas, e se tem uma coisa que eu aprendi em 2024, é que não adianta você ter nomes grandes por trás de seu título: isso não automaticamente faz o jogo ser perfeito.
Eu fico muito feliz que ele tenha saído da prisão do Apple Arcade e esteja chegando a um público mais amplo que, compreensivelmente, pode até querer jogá-lo, mas não quer gastar seu dinheiro suado em um dispositivo iOS apenas para esse objetivo, além de mais uma assinatura em um serviço que, vamos concordar, está praticamente com o pé na cova.
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