
Desenvolvedora: TOSE.Co LTD, Namco Tales Studio
Publicadora: Bandai Namco
Gênero: RPG de ação
Data de lançamento: 17 de janeiro de 2025
Preço: R$ 199,50
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Bandai Namco.
Revisão: Davi Dumont Farace
Tales of Graces f Remastered continua com a saga de relançamentos dos jogos da série Tales, que teve início em 2019 com Vesperia Definitive Edition. Originalmente lançado no Wii em 2009, antes de receber uma versão atualizada no PS3 que chegou ao ocidente, a edição remaster marca o retorno do título para uma plataforma da Nintendo, além de marcar o início do que pode ser uma revivida para a série.
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A importância de Tales of Graces

Antes de falar da nova versão de Tales of Graces, deixe-me dar um pouco mais de contexto para o título. Graces é o 10º título criado pelo estúdio principal responsável pela série e foi lançado oficialmente para o Wii no Japão em 2009. O que diferencia o jogo de outros relançamentos da série é que ele foi desenvolvido por um time diferente de seus antecessores.
Desde o lançamento de Tales of Eternia em 2000 para o PlayStation 1, o estúdio responsável pela série, na época conhecido como Wolf Team, foi dividido em dois para produzir jogos. O primeiro grupo trabalhou em Tales of Destiny 2 para o PlayStation 2, enquanto o segundo grupo ficou responsável por Tales of Symphonia de GameCube. Por conta disso, os estúdios ficaram conhecidos pelos fãs como Team Destiny e Team Symphonia.
Apesar de ambos os times trabalharem na série, cada um possuía seus próprios estilos e DNA que eram marcas registradas em seus jogos. Os do Team Symphonia seguiam o estilo de gameplay mais tradicional da série, com um sistema de combate com regras específicas e o sistema de TP que funcionava como um recurso finito similar a MP em outros RPG’s. Já os do Team Symphonia também eram exclusivamente em 3D, com arte feita por Kousuke Fujishima e estavam disponíveis no ocidente. Além de Symphonia, que recebeu um remaster a alguns anos atrás, Tales of Vesperia, o primeiro relançamento da era atual da série, também é outro jogo do time.

Já os jogos do Team Destiny continuaram a ser em 2D e exploravam novas ideias para o sistema de batalha da série. Começando com Destiny 2, os jogos do time decidiram se livrar da “limitação” do TP e experimentar novos elementos para tornar a experiência em algo mais divertido e com um foco em combos estilosos. O resultado culminou no sistema de CC. Os jogos do Team Destiny, além de serem em 2D, possuíam arte feita pela falecida Mutsumi Inomata. Também sofreram em ficar presos no Japão, graças a política na época da Sony e da Namco, com exceção de um único título: Tales of Graces.
Tales of Graces foi desenvolvido pelo Team Destiny e este marcou o primeiro título do time que muitos fãs da série puderam experimentar. Para quem esperava algo mais próximo de Vesperia, o título lançado antes deste, certamente ficou surpreso com as diversas mudanças em gameplay e até na narrativa deste jogo. Graces não apenas foi o primeiro jogo do time no ocidente, como também foi o primeiro e único jogo 3D do Team Destiny. Isso porque o título também marcou o fim de uma era para a série.
Após o lançamento do jogo, a Bandai Namco decidiu reunir os dois times sob um único estúdio, o Tales Studio. Para muitos, isso significou o início de um período ruim para a franquia, com títulos perdendo os elementos únicos que cada time era conhecido, além de se tornarem cada vez mais limitados em conteúdo. Com essa explicação fora do caminho, é hora de falar de Tales of Graces f Remastered.
O conto da amizade que busca a força para proteger

A franquia Tales sempre foi uma série que utiliza bastante tropes de animes japoneses em suas narrativas. Os jogos utilizam arquétipos e outros elementos familiares, trazendo mudanças ou usando-os como exemplos de desconstruções para apresentar sua história. Graces é um dos pontos fora da curva neste quesito, utilizando uma trope extremamente conhecida da cultura japonesa como seu principal ponto narrativo: o poder da amizade.
A narrativa de Tales of Graces f Remastered segue a aventura de Asbel Lhant, o filho mais velho de Aston Lhant, um lorde feudal que controla a cidade de Lhant, que faz parte do reino de Windor. A história começa com um prólogo onde seguimos o protagonista como uma criança. Asbel e seu irmão mais novo, Hubert Lhant, ignoram ordens de seu pai e visitam um monte próximo de sua casa, onde a dupla acaba encontrando uma misteriosa garota.

Sem lembrar de seu passado ou quem ela é, Asbel a nomeia de Sophie e jura protegê-la. Além dele e Hubert, também conhecemos a amiga da dupla, Cheria, uma menina doente que é neta do mordomo da família Lhant. Juntos, eles acabam também conhecendo Richard, o príncipe do reino de Windor. E Asbel, Sophie e Richard fazem um pacto de amizade.
A tragédia logo ocorre quando o grupo tenta visitar Richard em Windor e acabam encontrando um monstro misterioso e perigoso nas masmorras locais. Sophie acaba se sacrificando para proteger as crianças e a vida dos quatro mudam da noite para o dia. Richard fica isolado em seu castelo, Hubert é enviado por seu pai para ser adotado por outra família em outro reino, e Asbel, enfurecido por não ter conseguido proteger Sophie e ter perdido seu irmão, abandona Lhant, sua família e Cheria, para se juntar a Academia de Cavaleiros em busca de se tornar um cavaleiro.

Sete anos se passam desde o ocorrido e Asbel está prestes a se formar, mas antes de qualquer celebração, o protagonista recebe a notícia de que seu pai morreu em confronto com o país de Fendel. Com as forças de Fendel a caminho de Lhant, Asbel se vê forçado a retornar para casa e defender seu vilarejo. Junto com Cheria, ele tenta proteger o local e quando tudo parecia estar perdido, Sophie misteriosamente reaparece sem suas memórias e ajuda a salvar a dupla. Hubert também retorna, dessa vez com o exército de Strahta, o reino ao qual ele foi adotado, e após se tornar lorde de Lhant, expulsa Asbel da região.
Ouvindo que Richard fora assassinado, Asbel e Sophie partem para Windor para descobrirem mais sobre isso. Encontrando-o nas masmorras do castelo, Asbel jura que vai lhe ajudar a recuperar seu trono, usurpado por seu tio. Com a ajuda de um duque, Richard consegue recuperar seu trono, mas Asbel percebe que ele está diferente. Sendo enganado pelo príncipe, Asbel parte em uma jornada ao lado de velhos e novos amigos para descobrir o que aconteceu com Richard e salvá-lo de uma ameaça ainda maior.
O principal foco da narrativa de Tales of Graces f Remastered é em Asbel e seu desejo de proteger o que lhe é importante. Traumatizado pelos eventos de sua infância, o jovem coloca para si mesmo a responsabilidade de proteger e salvar a todos, colocando-se um peso extra e, de início, criando um conflito com seus velhos amigos, que ainda estão afetados pelo trágico evento de sete anos atrás.

A narrativa tem suas surpresas e algumas reviravoltas, mas em seu nível mais básico, ela é basicamente sobre os laços de amizade entre as pessoas. Asbel e seu desejo de salvar Richard e Sophie é a força principal de uma boa parte da história, e conflitos internos que poderiam talvez arruinar, ou trazer uma certa mudança na dinâmica do grupo, nunca acontecem, pois os personagens mudam rapidamente para se tornarem amigos.
Honestamente, não é uma das mais interessantes histórias da franquia. Ela é bem simples e mesmo as reviravoltas não são tão surpreendentes a ponto de recontextualizar certos momentos, como é o caso em outras narrativas da série. Tales of Graces f Remastered não é um título que é memorável por conta de sua narrativa, pelo contrário, o que o deixará marcado para aqueles que o jogarem é seu sistema de batalha.
Desembainhar a espada! Ataque!

Como mencionado anteriormente, Tales of Graces f Remastered é um jogo desenvolvido pelo Team Destiny. O título oferece a tradicional jogabilidade da série com um toque de diferentes elementos que o diferenciam bastante de títulos passados, incluindo os relançamentos anteriores. Oficialmente, seu sistema de batalha é conhecido como Style Shift Linear Motion Battle System (SS-LMBS).
Tales of Graces f Remastered oferece duas grandes mudanças em relação a outros títulos da série. A primeira é o sistema de Chain Capacity, introduzido no remake de Tales of Destiny para o PlayStation 2. CC é um recurso que afeta todas as ações, com exceção de movimentação, e é recarregado sempre que você fica parado. CC é utilizado para ataques normais, especiais, sidestep e o uso do Free Run.
A segunda mudança é exclusiva de Graces e muda completamente os elementos mais fundamentais do sistema de batalha. O tradicional sistema de artes da série sofre uma repaginação com a introdução das A-Artes e B-Artes. Basicamente, os personagens não possuem ataques normais, apenas especiais. As A-Artes são ataques rápidos e que funcionam em um sistema de chain onde a cada aperto do botão de ataque os personagens realizam certos especiais, sendo estes facilmente a principal opção de combos.

Já as B-Arts são similares às tradicionais artes da série. São ataques especiais bem mais poderosos do que as A-Arts e elas até mudam a forma de jogar com certos personagens, como o protagonista Asbel, que usa um estilo de Iai, onde as A-Arts são feitas com a espada em sua bainha e as B-Arts envolvem a lâmina em si.
Sendo um título 3D, o sistema de combate de Tales of Graces f Remastered incentiva a utilização do sidestep para se esquivar dos ataques inimigos. Apesar do Free Run, introduzido na série em Tales of the Abyss, estar presente, o Sidestep é algo muito mais útil, oferecendo até mesmo CC adicional caso a esquiva seja utilizada no momento correto.
O sistema de combate também introduz a mecânica de Eleth Burst, uma barra especial que permanece no canto da tela. Ambos os personagens da party e os inimigos possuem seus próprios segmentos dentro dessa barra, que é preenchida sempre que um dos lados ataca e se defende. Quando cheia, um burst ocorre, onde os personagens entram em um modo similar ao Overlimit de outros títulos, sendo possível realizar ações infinitamente sem precisar se preocupar com CC e até mesmo podendo utilizar as poderosas Mystic Arts.

O sistema de combate de Tales of Graces f Remastered é frenético e incentiva combos. Enquanto tiverem CC disponíveis, os jogadores podem alternar livremente entre as A-Arts e B-Arts, criando assim seus próprios combos. Além disso, com um toque no direcional é possível mudar para outro personagem, permitindo um prolongamento de ações caso assim desejarem. Este é um jogo que incentiva a criatividade dos jogadores, permitindo que batalhas sejam ainda mais divertidas.
Ainda há outras mecânicas, especialmente o sistema Accel introduzido no epílogo jogável do título. Pode parecer muita coisa, mas Tales of Graces f Remastered oferece um rico sistema de tutoriais que podem ser examinados a qualquer momento pelos jogadores. É um título que oferece uma boa chance de aprendizado e incentiva o domínio de suas principais mecânicas para não apenas superar desafios, como também tornar duelos contra bosses em momentos ainda mais memoráveis.
Um conjunto adicional de sistemas e mecânicas que mudam a experiência da franquia

Não é apenas no sistema de batalha que Tales of Graces f Remastered traz mudanças aos elementos clássicos da fórmula da série. O título possui um conjunto adicional de sistemas e mecânicas que mudam a forma como certos elementos funcionam e acabam servindo como um novo jeito de interagir com tais mecânicas.
Títulos, uma mecânica introduzida no primeiro jogo da franquia, Tales of Phantasia, retornam aqui com uma grande mudança. Funcionando como uma espécie de equipamento adicional, os títulos garantem novas habilidades aos personagens, que podem ser em um total de cinco a serem desbloqueadas em cada título. Utilizando SP, adquirido após finalizar os duelos, jogadores podem aumentar o “nível” do título e desbloquear a habilidade para uso.

Outro antigo sistema que foi modificado é o Cooking. A mecânica foi removida no jogo, sendo substituída pelo Dualize, um sistema de crafting que permite não apenas a criação de comida, como também outros itens adicionais, incluindo novos equipamentos e gemas que concedem atributos extras aos status dos personagens. O Dualize em si é um sistema que requer um pouco de prática para entender como utilizá-lo ao seu máximo, com o jogo não o explicando muito bem.
Por fim, temos também a introdução do Eleth Mixer, uma ferramenta adicional bastante útil que serve para replicar itens. O Eleth Mixer é usado automaticamente durante a gameplay, dependendo do item escolhido para replicar, podendo ser ativado durante a travessia do mundo ou nas batalhas com as comidas. É uma ótima ferramenta e vai ajudar bastante em certos momentos.
Uma moderna remasterização

Tales of Graces f Remastered é até o momento um dos melhores trabalhos de remasterização da série. A nova versão traz visuais atualizados, que eram bonitos no PS3 e agora ficaram ainda mais, resoluções maiores, quase todo o conteúdo adicional lançado para o PlayStation 3, com exceção de certas roupas de outras IP’s, e dublagem japonesa.
Enquanto visuais ainda são um resquício de sua era, a parte sonora do título ganha um boost com a adição da dublagem japonesa, algo inédito para esta versão de Graces. Além das vozes, a música tema Mamoritai ~White Wishes~, da cantora BoA, também está disponível em suas duas versões.
A trilha sonora do jogo em si é bem razoável, com alguns poucos temas icônicos. Cada região do mundo possui seu próprio tema de batalha, o que ajuda a diferenciá-las, mas de resto não há muito o que comentar nesse ponto.

Continuando com a série de melhorias do remaster, Tales of Graces f Remastered vai um passo além do que apenas atualizar o game para plataformas atuais. Existem muitas atualizações boas que melhoram a experiência, como um marcador de objetivo que ajuda a indicar para onde devemos ir, mas que infelizmente não leva em consideração puzzles que devem ser completados, opção de remover batalhas aleatórias e o Grade Shop disponível desde o ínicio.
O Grade Shop é uma mecânica que incentiva o New Game Plus, fornecendo bônus para gameplays subsequentes. Tais bônus usualmente são coisas para facilitar o replay, como experiência multiplicada, dano extra e afins. Ao se iniciar Graces f Remastered, o Grade Shop aparece oferecendo algumas das opções bônus para adquirirmos, com o jogo concedendo pontos para gastar nele. Não se preocupe, a quantidade de pontos disponível é o suficiente para adquirir tudo que está disponível e com sobras.
Algumas opções adicionais do Grade Shop só estão disponíveis em New Game Plus, mas a adição é muito boa para quem está jogando Graces pela primeira vez. Graças a essas opções, é possível customizar a experiência e jogar o título de uma maneira mais acessível ou até mesmo mais desafiadora, dependendo das opções selecionadas.
Um conto brilhante para o futuro

Com o recente anúncio de um projeto de relançamento de títulos passados da série para plataformas modernas, Tales of Graces f Remastered mostra um futuro promissor para aqueles que desejam conhecer a série Tales. Com ótimas adições, a nova versão oferece a forma definitiva de experimentar um dos clássicos da franquia.
Claro, Graces tem alguns problemas, como sua história simplista e alguns sistemas adicionais um pouco confusos. Fãs acostumados com os títulos 3D anteriores a ele também vão estranhar o sistema de batalha e sua câmera over the shoulder que atrapalha um pouco na hora de realizar certas ações, mas com um pouco de prática será possível dominar facilmente esses pequenos problemas.
Tales of Graces f Remastered é um dos melhores títulos da série e a nova versão só ajuda a melhorar ainda mais a experiência. Além de ser um jogo que vai agradar quem já conhece a franquia, ele também é perfeito para os novatos que desejam entrar no mundo de Tales. Que a Bandai Namco veja o sucesso do relançamento com bons olhos e que isso signifique um possível retorno de outros clássicos da franquia, como talvez, quem sabe, os outros títulos do Team Destiny que são exclusivos do Japão.
Prós:
- Um dos melhores sistemas de batalhas da franquia;
- Ótimos sistemas e mecânicas que se conectam perfeitamente para oferecer uma experiência única na franquia;
- Melhorias do Remaster são muito boas, incluindo o Grade Shop antes do NG+;
- Dublagem em Japonês disponível pela primeira vez no ocidente;
- Uma boa gama de sidequests e outros conteúdos adicionais para encontrar.
Contras:
- História bem simples;
- Sistema de Dualize poderia ter sido explicado melhor e incluir algumas mudanças.
Nota
9