
Revisão: Manuela Feitosa
A palavra “xeno” se tornou algo um tanto popular para retratar o desconhecido, e não à toa, ela provém do grego xenos, que significa: algo estranho e/ou inexplicável. E nisso temos uma franquia que consiste de três séries diferentes de jogos não diretamente interligados, mas cujo planejamento foi todo feito pela mesma pessoa.
Xenogears (1998) eventualmente se tornaria a franquia Xenosaga (2001 – 2006), que após encerrar prematuramente, virou um dos pilares de representação de JRPG da Nintendo, Xenoblade Chronicles (2010 – atualmente).



Porém, apesar de existir há tanto tempo, “Xeno” demorou para atrair um público de fato; mas em um ano cheio de acontecimentos estranhos para o mundo dos jogos como foi 2017, a sequência direta de um jogo de Wii iria elevar o conceito de uma franquia que hoje senta-se com cerca de 7 milhões de unidades vendidas apenas no Nintendo Switch, o jogo em questão é Xenoblade Chronicles 2.
Eu sempre escuto comentários de pessoas que tem interesse nesta franquia, mas que nunca jogaram antes: “Por onde eu devo começar Xenoblade”? E ao invés de dar uma resposta chata como falar para “começar pelo primeiro jogo”, pensei em abordar essa pergunta de uma forma onde hajam múltiplas respostas, e enquanto dou minha resposta, dou explicações básicas sobre a franquia.
Um pequeno aviso que, apesar de bem leves para a narrativa geral e parcialmente “spoilados” pelos próprios trailers dos jogos, este texto contará com algumas sessões de spoiler que serão marcadas como tal! Então se vocês desejam seguir essa jornada sem saber de nada antes — o que eu recomendo, vocês podem pular e ignorar algumas partes se assim desejarem.

Acesso rápido aos tópicos
- Sobre a metasérie Xeno
- O que é Xenoblade Charonicles?
- Temas abordados
- Diferenças narrativas entre títulos
- Por onde começar?
Origem da metasérie Xeno — o ciclo de muitas vidas
Uma comparação válida a se fazer com Xenoblade Chronicles é compará-lo com Final Fantasy. Não só o seu criador, Tetsuya Takahashi, trabalhou na Squaresoft na época dos RPGs de SNES / PS1, como o enredo original de Xenogears, o primeiro jogo Xeno, era na verdade um pitch de Takahashi e sua esposa Kaori Tanaka para um possível Final Fantasy VII; a ideia foi negada como um Final Fantasy, mas foi permitida como um jogo isolado.
Xenogears, no entanto, possuía problemas de desenvolvimento sérios já que parte da equipe do jogo foi desviada pela Square para fazer Final Fantasy VIII. Indignado com o seu trabalho e acreditando que ser independente ajudaria, Takahashi e outros funcionários da Square abriram seu próprio estúdio, e ironicamente, como se previsse um ponto de conexão futuro entre os seus jogos, o nome da empresa nova foi Monolith Soft.

Com a criação de uma nova empresa e com o auxílio financeiro da Namco, surgiu Xenosaga, uma continuação espiritual de Xenogears que visava contar os mesmos pontos filosóficos e existenciais do jogo, mas com uma visão bem mais focada na ficção científica acima de tudo, com uma das protagonistas, a KOS-MOS, sendo exatamente isso: um robô! Mas infelizmente Xenosaga caiu no mesmo problema de Xenogears, onde a Namco agora estava parando de financiar os jogos, especialmente agora que fazia parte de um conglomerado (Bandai Namco).
Ironicamente, o que daria a Takahashi mais liberdade criativa foi o acaso. A Nintendo tentando adquirir a Namco em 2006 e sendo impedida pelo governo japonês que temia um “monopólio de RPGs” acabou vendo uma oportunidade quando a Monolith Soft, que já havia trabalhado com eles em dois Baten Kaitos, resolveu se oferecer para uma compra, e então em 2007, a Nintendo se tornou acionista majoritária da Monolith com 97% das ações, transformando-a em um estúdio 1st Party.

Desta fusão saíram muitos jogos, mas foi em 2010 que um projeto interessante de Takahashi sairia: um jogo onde você controla humanos que são pequenos se comparados ao mundo que habitam, mundo esse que é a carcaça de um deus há muito tempo morto! O nome do projeto originalmente era “Monado: Beginning of the World”, com Takahashi querendo se distanciar um pouco do seu passado e suas nomenclaturas, mas o então presidente da Nintendo na época, Satoru Iwata, resolveu conversar com Takahashi e chegaram num nome novo e que prestava homenagem aos seus trabalhos antigos, Xenoblade!

Em uma pequena nota: apesar dos nomes parecidos e elementos compartilhados em todas as séries, Xenogears, Xenosaga e Xenoblade não são canônicos um com o outro e qualquer conexão e uso de personagens ou designs semelhantes é apenas uma homenagem ou reciclagem de ideias (embora certos aspectos de uma expansão levem tudo a crer que Xenosaga possa eventualmente entrar no canon, mas aí é especulação).
Tendo explicado tudo isso, fica uma dúvida:
O que faz um Xenoblade?
Xenoblade, como franquia, existe há quase quinze anos, surgindo no Wii em junho de 2010 no Japão, em 2011 na Europa e em 2012 para o resto do mundo (parte por conta de uma teimosia da Nintendo of America na questão de localizar os JRPGs lançados no fim da vida do Wii). Mas o que torna Xenoblade tão único ao ponto de justificar esse artigo?
A resposta para isso, ao meu ver, seria sua consistência. Apesar de possuir quatro jogos ao todo, três jogos “principais” e um “Spin-Off” (entraremos em mais detalhes quanto a isso depois) e uma expansão considerável para cada jogo principal do Switch, todos eles têm alguns elementos em comum, que resumindo de uma forma básica são:
- Sistema de combate em tempo real que mistura ação com o uso de ataques por ATB – como Final Fantasy pós-V.
- O uso de filosofias e mensagens profundas em sua história, puxando bastante de filósofos alemães.
- Inspiração em Battle Shounens, tanto pela ação dos jogos quanto por arquétipos como “gritar o nome do ataque”.
- E, principalmente, o uso de vastos mundos com faunas e floras variadas, incentivando a exploração do jogador.




Interfaces super complicadas com um sistema bem complexo que são difíceis de entender inicialmente; tudo isso somado aos personagens gritando o nome dos ataques! Tudo isso pode parecer intimidador, mas uma vez que clica com você, você se sente poderoso enquanto arremessa inimigos ao ar.
Independente de qual Xenoblade você escolher, você vai se deparar com isso, são de certa forma pilares da franquia que se mantiveram até agora. Eles podem até mudar com um próximo Xenoblade ou Xeno-alguma-coisa, mas se formos falar em termos básicos, essa consistência é o que mantém a qualidade de Xenoblade, com cada jogo refinando alguns aspectos do anterior, mas com o anterior ainda tendo um charme que o deixa como o favorito de alguém.
Mas RPGs são considerados bons jogos muito em parte por conta de suas histórias divertidas que fazem o jogador investir naquele universo e em seus personagens, mas será que a franquia se sustenta sobre essas medidas?

Mudar o futuro ao encarar o passado
[Spoilers menores sobre cada jogo da franquia]
Diferente de Final Fantasy, onde a maioria dos jogos não tem ligação direta um com o outro e até se passam em outros universos, Xenoblade Chronicles recicla ideias e conceitos do primeiro jogo constantemente, mas sempre alterando os seus temas e dando viradas na própria narrativa que se diferenciam bastante.
Para resumir os temas de Xenoblade de um jeito que não dê muitos spoilers para quem não jogou, você poderia dizer que: o primeiro jogo se trata de uma luta pessoal para superar preconceitos e lutar por um futuro melhor e sem opressão; enquanto no Xenoblade Chronicles 2 o tema se revolve em amar aos outros e a si mesmo, mesmo após vários erros do passado; e para encerrar, o tema do terceiro Xenoblade seria sobre como a vida sempre corre constantemente, nunca estagnada, e como devemos apreciá-la enquanto a vivemos, afinal, não sabemos até quando irá durar.

Quanto ao Xenoblade Chronicles X? Bem… o X também possui temas, mas eu não diria que são tão profundos quanto os da trilogia principal; o jogo aborda mais transhumanimo e a esperança de recuperar um lar, mesmo que em uma grande desvantagem do destino.
Notaram um padrão? É o futuro! A franquia brinca com os temas de passado e futuro e como devemos viver o presente para superar ou alterar os mesmos. São temas filosóficos que carregam certa importância para a franquia e que sem eles, Xenoblade não seria Xenoblade.
O que há no fim da sua lâmina?
[Alerta de Spoilers menores, de novo]
Em questão de sua narrativa geral, cada Xenoblade Chronicles é único de seu próprio jeito; um detalhe interessante é que a terminologia “Blade” se refere a uma coisa diferente em cada jogo: no primeiro, Blade se refere à titular Monado, no segundo é uma mecânica de gameplay importante, no terceiro é o nome das diferentes armas (até as que não são lâminas de fato) e no X é uma organização de humanos.
Mas o que cada jogo aborda em sua história? Bom, é isso que eu gostaria de resumir para vocês…
Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Lançado em 2020 para o Switch, é na verdade uma remasterização do jogo de 2010. Na história do jogo, você explora os mundos de Bionis e Mechonis, dois deuses de tamanhos titânicos que jazem imóveis após sua morte, mas cujo habitantes de ambos – Homs e Mechon, respectivamente, se enfrentam constantemente.
Após um ataque na Colônia 9, cidade natal do nosso protagonista da vez, Shulk, o mesmo adquire a lendária espada Monado. Após conseguir a espada, Shulk embarca em uma jornada de vingança com amigos que já eram da Colônia 9 e muitos que ele encontra no caminho, mas talvez a história da luta entre Mechons e Homs seja mais profunda do que inicialmente aparenta ser.
Definitive Edition também possui uma expansão chamada “Future Connected”, que se passa um ano depois da história principal. Servindo como um teaser para o que a franquia apresentaria no futuro, Future Connected também foi um jeito pelo qual a narrativa de Xenoblade usou para encerrar o arco de uma de suas personagens principais, Melia Antiqua.

Xenoblade Chronicles 2
Lançando ainda em 2017 no primeiro ano de vida do Switch, Xenoblade 2 ainda reina no topo como o jogo mais vendido da franquia. Em sua narrativa, você se encontra em Alrest, um mundo onde guerras constantes por território acontecem, já que o território em si são titãs, animais enormes com grandes ecossistemas em suas costas ou dentro de si, mas estes titãs estão morrendo.
Após uma missão de recuperação para um artefato sagrado ser revelada como um grande golpe, nosso protagonista Rex é assassinado por um dos vilões. Mas o artefato em si era na verdade uma “Blade” (seres poderosos que conseguem gerar armas para serem usadas em conjunto com “Drivers, que despertam essas Blades) conhecida como Aegis, seu nome é Pyra; com a promessa que ambos fizeram de ir para Elysium, uma terra firme que possivelmente acabaria com as guerras territoriais e salvaria a humanidade, ambos partem em uma jornada.
A expansão do jogo, lançada em 2018, chama-se “Torna the Golden Country” e se passa quinhentos anos antes do jogo principal. Seguindo a narrativa majoritariamente pelos olhos de Jin, um dos vilões no jogo principal, a expansão gira ao redor da primeira guerra onde Aegis foi usada e no país que gerou o lendário rei heróico Addam, a terra dourada de Torna!

Xenoblade Chronicles 3
O último jogo da franquia principal, que saiu em 2022, serve como uma forma de unir os mundos de Xenoblades 1 e 2, mas também como uma forma para encerrar a narrativa geral. Sua história gira ao redor do cruel mundo de Aionios, onde guerreiros lutam para viver e vivem para lutar num ciclo constante de morte e renascimento dos países de Keves e Agnus.
Pelos olhos do nosso protagonista, Noah, nós o vemos juntos de seus amigos, soldados de Keves, em uma missão que os fazem cruzar com um grupo de três soldados inimigos de Agnus; porém este encontro é atrapalhado quando eles encontram alguém que fala a verdade sobre este mundo, onde eles são forçados a lutar e nascem apenas para viver por míseros dez anos. Após esse choque de realidade inicial, eles são dados o poder de Ouroboros, a única coisa capaz de se opor aos opressores Moebius, e fazem sua jornada para encerrar de vez esse ciclo sem fim.
Cerca de um ano depois, em 2023, saiu uma expansão para o jogo nomeada de “Future Redeemed”, que se passa milênios antes de Xenoblade Chronicles 3, mas que serve como uma forma de explicar o seu mundo, o funcionamento do mesmo, e como fanservice ao colocar Shulk e Rex como personagens jogáveis. Seguindo a história pelos olhos de Matthew, um protagonista novo (e o primeiro protagonista até agora que não usa uma lâmina), esta expansão com certeza não deve ser jogada sem jogar os outros três jogos antes para ser apreciada 100%.

Xenoblade Chronicles X
Saindo originalmente em 2015, mas recebendo uma remasterização para o Switch dez anos após o seu lançamento, Xenoblade Chronicles X é o mais próximo que a franquia tem de um spin-off pois segue uma narrativa que (pelo menos até agora, não torne esse comentário datado, Takahashi) é desconexa da série principal, fora algumas referências menores em sua história.
A história do jogo é vista pelos olhos de um avatar que o jogador cria, esse avatar tem amnésia e não se lembra muito das coisas que aconteceram, mas já se depara em um planeta alienígena chamado “Mira”, onde uma mulher de cabelos prateados, Elma, o guia até a cidade de Nova Los Angeles, ou NLA. Em NLA, Elma explica que a nave na qual 20 milhões de humanos usaram para escapar da Terra, que foi destruída por alienígenas, caiu; e é agora seu trabalho como novo membro da organização BLADE encontrar os pods chamados de Lifehold, que guardam as vidas humanas que ainda não foram encontradas.
Diferente dos outros jogos que citei antes, a edição definitiva não aparenta ter uma expansão com nome própria. Ao invés disso, apenas é uma continuação do gancho em que o game original de 2015 se encerrou. Como não temos muito detalhes sobre o que essa continuação da história terá, eu acho válido ao menos comentar que o mundo de Mira é diferente de Bionis, Alrest e Aionios, que são vastos mundos separados por áreas, já que X é o Xenoblade mais “mundo aberto” dos lançados.

E tudo isso é a franquia toda: três jogos principais, três expansões, e um jogo que dá para chamar de “Spin-off”. Não é uma quantidade enorme de jogos, mas já garantem centenas de horas do jogador em seus vastos mundos, e isso não mencionando o New Game + que todos (com exceção do X original) possuem, o que aumenta o valor Replay que o jogo possui.
“Beleza, mas por onde começar?”
Eu enrolei um pouco tentando promover a franquia e explicando a sua profundidade, mas agora chegamos na hora da pergunta principal! E para uma resposta interessante como falei, eu tenho três opções que podem agradar a todos que querem experimentar a franquia, embora algumas das respostas possam enfurecer alguns puritanos da franquia, ao qual eu respondo: relaxa, eu vou recomendar a resposta mais óbvia.
Resposta óbvia essa sendo o simples fato de começar pelo primeiro jogo e ir então prosseguindo (1 > 2 > 3 > até o X, se quiser) se você quer se interessar pela narrativa geral dos jogos, como se interligam, e ir jogando suas respectivas expansões conforme joga os jogos principais. Ao meu ver, é o melhor jeito, mas eu entendo como Xenoblade 1 pode parecer um pouco “datado” em seus sistemas.

O outro método, e ironicamente o que me fez a amar a franquia, é começar ou pelo segundo ou terceiro jogo e ir prosseguindo para os outros (2/3 > 1 > 2/3 ou 2/3 > 2/3 > 1). Os jogos são bem contidos em suas próprias narrativas e personagens, até mesmo o terceiro, então não teria problema ao todo. Mas pelo amor do que é mais sagrado, não jogue Future Redeemed antes de jogar o 1, 2 e 3.
Mas, se você quiser jogar a lógica para longe, e só jogar o jogo legal com os Mechas controláveis. Jogue o X e depois toque nos outros, ou não. Como disse antes, o mesmo é separado o bastante para ter um aproveitamento maior sem jogar os anteriores. X também é a recomendação perfeita para aquele seu amigo que tava viciado em MMOs, mas que quer sair do vício de MMOs, já que é o mais próximo do gênero, apesar de ser um jogo majoritariamente single-player (mas quando sair o X vamos fundar o “Squad NintendoBoy”).

Palavras que talvez te alcancem
Encerrando aqui, sei que Xenoblade é possivelmente uma das piores franquias para se recomendar para alguém, especialmente pessoas que não tem familiaridade com JRPGs; são muitas horas de investimento nos jogos e sei que a mistura de humor que lembra certos animes com momentos mais sérios não é algo que agrada a todos.
Porém, no instante que você começa a dar uma chance para a franquia, seja por conta de seus personagens, sua gameplay, sua narrativa ou céus, até a sua trilha sonora divina, eu creio que Xenoblade tem sim o poder de clicar com mais pessoas, se tiver o alcance certo ao menos!



Realisticamente falando, se você clicou neste artigo, muito provavelmente você já conhece a franquia e já a jogou. Mas acho que toda recomendação para estes jogos é pouca; eles mudaram a minha vida num nível pessoal, então não acharia um exagero ver que poderiam fazer o mesmo com diversas outras pessoas.
Se eu não puder convencer uma única pessoa a jogar Xenoblade, eu não ficarei triste, pois sei que alguma pessoa vai convencer eventualmente. Quem sabe… Pode até ser você, não é mesmo?

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