
Revisão: Manuela Feitosa
Na vida nós podemos ter algumas certezas: a própria vida, as dificuldades que vamos passar, a morte e, pelo visto, uma outra certeza é que sempre que eu e o Luiz Estrella nos unimos, é para falar sobre a nossa franquia favorita de todas, Xenoblade Chronicles! Mas agora, temos um motivo para torrar a paciência de nossos leitores com mais um texto da franquia; afinal, não é todo dia que uma franquia de JRPG completa quinze anos de existência.
Exato: Há quinze anos, o primeiro jogo de Xenoblade no Wii foi lançado. Anunciado brevemente na E3 de 2009 com o título “Monado: Beginning of the World”, Xenoblade foi um projeto iniciado pelo co-fundador da Monolith Soft, Tetsuya Takahashi. Takahashi teve uma ideia um tanto curiosa que precisou de uma maquete feita por ele e Yasuyuki Honne (diretor da franquia Baten Kaitos) para dar início ao que seria a base do primeiro grande RPG da Monolith para a Nintendo durante a era Wii!

“Há muito tempo, o mundo não era nada além de um mar infinito, coberto por um céu azul, indo tão longe quanto se podia imaginar. Então, dois titãs vieram a existir: o Bionis e o Mechonis”. Estas são as palavras narradas durante a primeira cutscene de Xenoblade, que já nos fazem ter uma ideia do que é esse mundo: um mar infinito onde a única terra habitável são os corpos de dois deuses antigos que pereceram em uma guerra um com o outro, uma guerra esta que se estendeu para os respectivos habitantes de Bionis e Mechonis.
Mas, verdade seja dita, reduzir Xenoblade Chronicles apenas ao conceito inicial de um mundo orgânico/mecânico vasto e totalmente explorável não faz jus ao que essa franquia fornece. O que começou com uma ideia isolada na cabeça de uma pessoa foi, aos poucos, sendo moldada por ela e seus colegas da Monolith Soft para o começo de uma franquia, algo que eu imagino que nem o senhor Takahashi esperava na época.




Xenoblade Chronicles é uma franquia única que mistura uma narrativa que pega aspectos tanto de um anime shonen quanto de filósofos com uma visão sombria da humanidade, como Friedrich Nietzsche e Ernst Jünger, tudo isso enquanto passa uma mensagem que, acima de tudo, te faz ver o lado positivo da humanidade. Me acompanhem neste texto de comemoração, que também servirá para responder a uma pergunta que sempre me fazem: o que é Xenoblade?
O significado de uma espada
É possível que eu já tenha mencionado isso em um texto passado, mas Xenoblade é um nome composto por duas palavras: “xeno” vem da palavra grega xenos, que pode significar “estranho”, “de outro mundo”, ou, dependendo da situação, “especial”, enquanto “blade” é apenas a palavra em inglês para lâmina, o que faz sentido, já que cada Xenoblade principal tem um protagonista espadachim – menos algumas expansões, mas já falarei delas.
Cada jogo da franquia tenta dar o seu próprio significado para “xenos”, seja no ambiente em que se encontram ou no mundo que vivem, como Xenoblade Chronicles 3, que se passa em uma guerra em um mundo que está fadado a lentamente se devorar por eventos que estão aos poucos o destruindo, enquanto o “blade” é mais direto, com cada jogo tendo um uso diferente do termo, seja para uma categoria de arma, uma espada específica ou um grupo inteiro de personagens!

A franquia nunca iria se chamar Xenoblade; afinal, o título original do jogo remetia unicamente à Monado, mas o nome “Xenoblade” veio de uma ideia que Satoru Iwata, o então CEO da Nintendo na época, deu a Tetsuya Takahashi. O diretor já havia trabalhado em RPGs icônicos para a Squaresoft (Xenogears) e para a Namco (Xenosaga), então Iwata falou que seria uma boa ideia honrar os trabalhos antigos ao mesmo tempo em que apresentava uma franquia nova, então o Xeno foi mantido, com o “blade” sendo adicionado em referência à então espada titular do primeiro jogo.
O interessante a apontar é que apesar de não termos nada confirmado, a ideia de Iwata pode ter acidentalmente causado o fato de Xenoblade se tornar uma franquia, pois os jogos futuros começariam a beber mais da fonte de Gears e Saga, com alguns fãs teorizando que Takahashi finalmente encerraria a base de seu livro “Perfect Works”, mas, infelizmente, com a passagem de Iwata anos antes do lançamento do segundo Xenoblade, nunca saberemos se foi essa interação que causou uma coincidência enorme do que viria a ocorrer.

“O que é Xenoblade?”
Em preparação para o texto de aniversário, eu passei dias diferentes numa espécie de entrevista com diferentes amigos e conhecidos meus que eu sei que têm um certo apego pela franquia Xenoblade, e fiz a seguinte pergunta: “para você(s), o que é Xenoblade Chronicles? O que a franquia representa para você(s)”? Uma pergunta um tanto única, mas que me rendeu respostas diferentes.
Para alguns, Xenoblade ressoou com eles devido à sua narrativa épica e temas filosóficos ou existenciais profundos; para outros, foi a gameplay; para uns, teve o aspecto romântico (ainda estou esperando o meu protagonista LGBT, Monolith, não sejam covardes); e para outros, um pouco de tudo, somando a algo que eu acho interessante da visão que Tetsuya Takahashi, sua esposa, e o resto de sua equipe têm, que é o conceito de passar a tocha adiante.
Todos esses meus amigos e conhecidos caíam em uma mesma faixa etária, algo entre os 20 anos e começo dos 30. Não são tão “velhos”, mas sim relativamente novos se pararmos para olhar. A equipe por trás dos Xenos sempre teve uma certa esperança no futuro, seja em jovens programadores que querem se juntar a uma equipe de desenvolvimento ou a bravos heróis fictícios que não chegaram nem à sua fase adulta. Dá para notar que esse conceito pode ser entendido melhor por pessoas que entram nesse grupo que a equipe gostaria de representar.

Então, respondendo a minha própria pergunta, para mim, Xenoblade é uma esperança no futuro, enquanto ao mesmo tempo é uma narrativa humana que explora sentimentos de amor e outros dramas que a narrativa pode apresentar. Tudo isso em um pacote que oferece uma jogatina o tanto engajante.
Mas se vocês querem ter a própria resposta para isso, se já não tiverem… eu não tenho outra recomendação se não “jogar ou re-jogar Xenoblade”! Ou ler alguns dos meus textos passados sobre a franquia, mas ignorando a minha autopromoção barata, vamos ao próximo tópico:
Carregando o “peso da vida”
[Spoilers menores para cada jogo]
Xenoblade Chronicles para aqueles que veem a franquia pela primeira vez pode parecer muitas coisas, com alguns exemplos que já vi sendo: “confuso em sua gameplay”, “com uma estética anime demais”, ou com “uma história exagerada” – não querendo desmerecer as críticas que Xenoblade recebe, porque vários pontos são válidos, mas eu as vejo de uma forma um tanto “superficial”. Mas é claro, levem esse tópico como eu defendendo a minha franquia favorita, porque não estaria sendo mentira.
Desde o primeiro jogo, e estendendo para as outras iterações da franquia como X, 2, 3 e suas respectivas expansões, a franquia Xenoblade nunca repetiu um mesmo tópico central que a história aborda…

O primeiro jogo apresenta aspectos de como diferentes pessoas de diferentes origens podem aprender a conviver com essas diferenças, mesmo com as dificuldades que acompanham o processo;

O segundo jogo explora temas que envolvem não apenas o amor ao próximo, mas o amor que precisamos sentir por nós mesmos e nossas escolhas;

Xenoblade Chronicles 3 explora a vida e como sistemas abusivos podem oprimir essa mesma vida e te forçar a moldá-la de uma forma que você não gostaria;

E por fim, Xenoblade Chronicles X e sua expansão da versão definitiva exploram um tema transhumanista interessante. “O que é ser humano” ou “o que torna um humano diferente” são perguntas constantes enquanto o jogo mostra o lado bom e ruim da nossa espécie.
Existe sim um tema que se repete durante a trilogia e é enfatizado em alguns, como o terceiro, mas este é um tópico que eu já explorei em um texto passado: o meu guia de início da franquia, do qual recomendo a leitura de vocês. Porém, apenas acrescentando no primeiro jogo, sua mensagem real é a que mencionei anteriormente, mas um detalhe engraçado é que o jogo não começa dessa forma e vai lentamente se revelando assim, criando essa reviravolta impressionante de uma história sobre vingança que vira uma narrativa de respeito e aceitação.
Às vezes sinto que é impossível chegar ao final de qualquer Xenoblade sem estar embrulhado em lágrimas, seja por finalmente terminar uma árdua jornada para mudar o seu mundo, ou por finalmente se reunir (ou em infelizes casos, se separar) das pessoas que você ama. Tetsuya Takahashi e sua equipe sempre sabem o que fazer para manipular as emoções dos jogadores, e eu sinto que ele pessoalmente me deve pelo menos dois anos de terapia por causa dessa franquia, especialmente pelo final do 3.
É claro, também vale mencionar que cada um destes temas carrega uma mensagem por trás: mensagens contra racismo, abuso de poder e até contra sistemas que abusam das pessoas com o uso de influência e dinheiro são muitas das coisas que desmentem qualquer um que tente argumentar que a série não possua uma mensagem política! Ela está lá, mesmo que você escolha ignorar que ela exista.
É o desejo de mudar o futuro
O meu maior pecado foi não apreciar o primeiro Xenoblade Chronicles como aprecio atualmente, meu primeiro contato (assim como o do redator Luiz Estrella, que me auxiliou com o texto) foi com o segundo jogo, e eventualmente joguei versões diferentes do primeiro, mas sempre tendo aquela sensação estranha de experienciar algo diferente do que a forma como eu conheci. Isso é bem longe da verdade, porém, já que ao rejogar o primeiro Xenoblade no começo deste ano, eu notei a sua importância.
Xenoblade Chronicles ainda no Wii foi um marco impressionante tanto em sua narrativa, para mostrar que a Nintendo poderia sim entregar certos temas maduros em seu storytelling mesmo na sua fase mais “family-friendly”, mas também em apresentar mais variedade no catálogo de JRPGs do Wii; é engraçado pensar que o único motivo pelo qual a identidade “britânica” de Xenoblade existe é porque o pessoal da Nintendo of America não queria de forma alguma lançar o jogo aqui, e isso acabou refletindo nos jogos futuros e suas dublagens em inglês.

Falando de sua gameplay, eu acredito que eu sou muito maldoso em comparar Xenoblade 1 com seus sucessores, apesar de preferir a gameplay deles, um outro redator do site fã da franquia uma vez me falou a seguinte frase: “o jogo essencialmente muda o estilo de gameplay para cada personagem que o jogador controla”, e com essa aproximação eu consegui tirar muito mais proveito da gameplay, especialmente com os sete personagens controláveis diferentes.
Em uma gameplay que demorou cerca de 85h para eu terminar a história principal, pois fiquei enrolando com alguns Unique Monsters, Xenoblade Chronicles 1 (mais especificamente a versão “Definitive Edition” de Switch) é o jogo mais importante da franquia, em retrospecto. Seu estilo único e o que ele significou em seu lançamento original iria criar uma base que seria aprimorada em Xenoblade X, depois no 2º jogo alterada um pouco, e no 3º aperfeiçoada, com uma das melhores gameplays já feitas.




Xenoblade Chronicles 1 é o único jogo da trilogia com três versões diferentes, uma no Wii, uma no 3DS e a D.E. do Switch
Ah, e claro, só pela piada… “That’s Dunban over there”!

A importância da franquia
Quando vemos a reação de uma boa parte de canais grandes quanto a Nintendo, poucas vezes vemos eles empolgados ou vibrando para um anúncio relacionado a Xenoblade Chronicles (e relaxem, isso não é uma “alfinetada” a ninguém especificamente, apenas um comentário sobre como a fanbase em geral age), seja nos anúncios do Definitive Edtion ou do 3, que ocorreram em finais de Nintendo Directs, ou a inclusão de Pyra e Mythra como as 9ª e 10ª personagens da DLC – 10ª e 11ª se contarmos a Piranha Plant.

Não vou acusar ninguém de ter os gostos que tem. Como disse anteriormente, Xenoblade é uma franquia um tanto complicada de se recomendar, especialmente em um console da Nintendo que geralmente costuma ter uma base de consumidores que é atraído por coisas mais orientadas à família. Mas é esse o principal motivo que me faz pensar que Xenoblade é importante, acredito que a Nintendo saiba da importância que é ter mais variedade na hora de oferecer jogos variados, e isso inclui JRPGs menores, e é um investimento que tem grandes chances de dar certo a longo prazo.
A Monolith Soft está em uma posição bem alta agora dentro da Nintendo, com três times diferentes com funções que variam a suporte interno da Nintendo, Xenoblade e IPs próprias e um pouco dos dois. Se voltássemos no tempo há vinte e poucos anos para contar ao Takahashi que ele finalmente conseguiria contar uma saga de seis jogos como ele queria desde Xenogears, me pergunto qual seria a reação dele; ou a reação dos outros funcionários da Monolith sabendo que parte deles trabalharia eventualmente em jogos como Zelda, Animal Crossing e até mesmo Mario Kart!

Assuntos inacabados – o que o futuro aguarda
[Esta seção contém spoilers de toda a trilogia e Xenoblade X, fiquem atentos]
Tivemos um bom remaster de um bom jogo da franquia no primeiro quarto do ano, com isso e outras coisas, a equipe por trás de Xenoblade, como Takahashi ou o diretor Koh Kojima já falaram abertamente em entrevistas ou nos artbooks que o futuro da série já está planejado, e o que acompanhamos durante a trilogia principal até o lançamento de Future Redeemed foi meramente o fim de uma saga – ironicamente seguindo o plano de seis jogos que Xenogears tinha, porém com três destes “jogos” sendo expansões.
Enquanto o terceiro jogo termina com os mundos do primeiro e segundo jogos se unindo, X (durante o epílogo exclusivo da Definitive Edition) termina com a possibilidade de explorar mundos maiores e inteiramente novos! Então o caminho para o futuro pode ser assustador, como abrir uma porta que você não sabe o que tem por trás, mas é isso que o torna tão empolgante.
A equipe de Takahashi já está trabalhando em um JRPG novo com foco em mundo aberto, e a Monolith não parece parar tão cedo, com os seus times constantemente trabalhando em um projeto ou enviando funcionários para auxiliar em outros. Não vejo o próximo Xenoblade, seja um quarto jogo ou um segundo X, saindo tão cedo; mas com certeza veremos algo inteiramente construído para o hardware do Nintendo Switch 2, e a magia única que a Monolith tem de tirar o máximo do poder destes consoles.
Com isso em mente: Takahashi, eu estou implorando! Me contrata como um revisor da lore da franquia, eu preciso analisar cada ponto e teoria de forma absurda e conseguir transformar essa narrativa em algo mais confuso que Kingdom Hearts! Mas me contento em só receber a key do próximo jogo junto com o meu colega Estrella.
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