Desenvolvedora: TiGAMES
Publicadora: Astrolabe Games, BILIBILI HK
Data de lançamento: 12 de Julho, 2022
Preço: R$ R$ 89,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Astrolabe Games.
Desenvolvido pelo estúdio indie chinês TiGames, um dos maiores méritos de F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch é conseguir casar boas mecânicas em meio a uma história bastante interessante. Digo isso porque não é muito comum jogos Metroidvania apresentarem, de forma competente, certa coerência na sua narrativa. Apesar dos diálogos aqui não serem lá muito inspirados, toda a história dá conta do recado e segura a atenção do jogador.
Retirando o elefante da sala
Antes de entrar nos pormenores da história, no entanto, gostaria – como no jargão popular – de “retirar o elefante da sala”. O título foi lançado no final do ano passado para PC, PS4 e PS5. Nesse sentido, essa versão do Switch possui um downgrade gigantesco, em comparação às demais. Não que o jogo seja feio, mas é nítida a baixa resolução; pop in de texturas; retirada de certos efeitos de luz e sombra nos cenários; e a diminuição do framerate. Até mesmo o design do mapa do jogo foi simplificado. Então, se você é o tipo de gamer matemático que fica contando os pixels do jogo na tela, vai se decepcionar com F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch.
Apesar de perder um pouco de fluidez, o jogo continua ágil, as telas de carregamento são aceitáveis e o conteúdo – em linhas gerais – ainda é o mesmo. Desenvolvido na Unreal Engine 4, confesso que fiquei um pouco apreensivo com a performance. Principalmente, por se tratar de um jogo com visual 3D e progressão 2D. Mas, tirando alguns pequenos problemas de drop in ao avançar muito rápido e erros de hitbox, a experiência foi muito positiva. Aconselho demais que os leitores joguem F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch em modo portátil. A telinha do Switch esconde um pouco as imperfeições, serrilhados e embaçados, mas mantém a jogabilidade tão ágil quanto.
A luta contra os Cães de Ferro
Em F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch acompanhamos a jornada do ex-membro da Resistência, Rayton. Ele é um coelho pelurbano, que utilizava um punho mecânico na luta contra os Cães de Ferro da Legião, na cidade de Torcha. A história nos apresenta um personagem assombrado pelas perdas do passado, que abandonou seu punho mecânico e havia se conformado com o futuro sombrio que o aguardava. Porém, a prisão do seu grande amigo Urso acaba colocando o herói na ativa novamente. E a singela missão de resgate vai, pouco a pouco, se transformando em algo maior.
Todos os personagens são animais peludos com características antropomórficas que vivem num centro urbano, daí o nome “pelurbano”. As melodias e efeitos sonoros são muito bons. Destaque para o jazz tocado na cidade Torcha. Visualmente falando, a cidade tem uma vibe de uma grande metrópole disel-punk, com gangues, construções amontoadas (que indica ser extremamente populosa), aparatos tecnológicos e por aí vai. O interessante é que no que se refere a narrativa, F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch. vai um pouco na contramão do que a subcultura representa. Isso se dá porque os inimigos são criaturas mecânicas que querem subjugar os moradores da cidade e toda história gira em torno da luta contra a mecanização que a Legião quer impor.
Estes, discursivamente, podem ser vistos como representantes dos grandes conglomerados empresariais que, nessas obras, absorvem as funções de governo e regulam o dia a dia. Dessa forma, vigilância e punição são a chave para a manutenção da ordem. Alguns pelurbanos, porém, tentam a todo custo se libertar desse julgo, impedindo a concretização de um futuro distópico, onde as máquinas controlam até os menores aspectos da vida das pessoas. Cada NPC que nos deparamos pelo caminho, com seus dramas e suas histórias, são uma peça importante que nos ajudam a compreender tudo que está acontecendo.
Metroidvania quanto?
F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch é um Metroidvania mais purista. Digo isso porque ele se aproxima muito mais do tipo de exploração que vemos em Metroid, Ori e Hollow Knight, do que a que vemos em Castlevania, Death’s Gambit e Bloodstained: Ritual of the Night. Não há elementos de RPG como pontos de experiência e subidas de nível, apesar de conseguirmos itens (Essências) que melhoram de forma permanente nossa barra de energia (PV), especial (PH) e de itens secundários (PE), além de uma extensa árvore de habilidades.
Aqui, temos três tipos de armas: o punho, a broca e o chicote. Cada qual possui sua própria especificidade tanto no combate, quanto na exploração pelos cenários. Com o punho podemos desbloquear portas e passagens; com a broca podemos explorar regiões alagadas; e com o chicote podemos abrir portas eletrificadas e alcançar áreas até então inalcançáveis. Os combates seguem o esquema de combos – bem parecido com Guacamelee! – e cada arma possui uma sequência de golpes diferentes.
Os cenários vão desde centros urbanos a rede de esgotos, montanhas geladas e bases subaquáticas. Temos alguns itens especiais espalhados por eles, como Sementes (que nos garantem recompensas com um certo NPC), Disco de Dados, baús trancados, inúmeras salas escondidas e Cartazes. Esse último, nos permite trocar a Pintura de cada uma das armas de Ray, personalizando-as a nosso bel prazer. O mapa do jogo apesar de não ser muito preciso e não permitir marcar pontos de interesse, apresenta de forma competente itens deixados para trás e rotas não exploradas. O único problema é que os pontos de Fast Travel (metrô e Teletransporte) são escassos, prejudicando o ritmo da exploração.
Dando um up em Rayton
Existem três tipos de ataques básicos: fraco, forte e agarrão. Quando os inimigos ficam atordoados (cor laranja), depois de uma sequência de combos, podemos desferir um golpe de execução, apresentando uma animação bem legal. Além disso, podemos pular e dar um dash (presente desde o início) para sair de situações complicadas. Mais à frente adquirimos a habilidade de aparar golpes – uma espécie de parry – mas que achei mal implementado, pois boa parte das vezes que consegui aplicá-lo, foi sem querer.
Pelos cenários encontramos câmaras – que nos concedem movimentos especiais, como pulos duplos e dash multidirecional – e Terminais que dão acesso à árvore de habilidades de cada arma. Por ela, conseguimos novos combos e golpes especiais que consomem PH. Tais habilidades podem ser desbloqueadas mediante o pagamento de uma quantia em dinheiro (que “cai” dos inimigos quando derrotados) e Disco de Dados. Podemos, inclusive, treinar algumas sequências de combos, com o Mestre Wu, para ficarmos craques na porradaria.
Os combates em F.I.S.T.: Forged in Shadow Torch dão espaço para a criatividade do jogador. Existe a possibilidade de emendar combos matadores fazendo alternância de armas. Mas apesar de ser bem legal e plasticamente bonito, conseguimos avançar tranquilamente usando o básico. Uma coisa que não achei muito divertida, no entanto, foram as batalhas contra os chefões. É tudo muito genérico! Aliás, muitos desses chefes passam a compor o rol de robôs inimigos comuns após serem derrotados. Mas, isso não quer dizer que essas batalhas são totalmente esquecíveis. A luta contra a centopeia na base subaquática, por exemplo, é muito boa.
Tem pulo duplo? É bom!
F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch, apesar do downgrade visual, é uma excelente pedida para os donos do Switch. A história é muito bem construída e tem todo um subtexto que abre brecha para interpretações e paralelos com o mundo real. Ponto positivo para a localização (legendas e menus) para o nosso idioma, que apesar de alguns poucos erros, nos ajuda a entender tudo o que está acontecendo.
A exploração é gostosa e recompensante. Novas armas, itens e habilidades dão as caras no tempo certo, com contexto. Tem pulo duplo, gente! Não tem como ser ruim. Sobre a exploração, aqui cabe um adendo: é a primeira vez que me divirto com uma fase aquática em um jogo. Salvo tudo isso é furry porradeiro, com controles responsivos (personalizáveis) e um desafio muito democrático. Só joguem!
Prós
- Controles responsivos;
- Boa ambientação;
- História competente;
- Legendas PT-BR;
- Exploração gostosa e recompensante.
Contras
- Downgrade gráfico.
Nota:
9
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