
Desenvolvedora: Game Freak
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 18 de novembro, 2022
Preço: R$299,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Nintendo.
Revisão: Marcos Vinícius
Chegamos mais uma vez a uma review pós-hype de lançamento da minha franquia favorita do mundo: Pokémon. Vindo de uma série de lançamentos conturbados nos últimos anos, em paralelo com tantas outras frentes de ação como o TCG, Pokémon GO, etc. Mas, vocês com certeza já estão cientes das diversas críticas e problemas no desempenho, além das reações diversas aos novos monstrinhos, novas mecânicas e puxa vida, olha só o tamanho desse mapa!
Lembramos que Pokémon Scarlet e Violet atingiram uma marca incrível de mais de 10 milhões de cópias vendidas em 3 dias desde o seu lançamento, já permitiu de forma inédita o reembolso do pagamento, trouxe uma mecânica que pode mudar o metagame de forma inusitada mas bem interessante, e ainda é o primeiro jogo realmente em mundo aberto da franquia. Mas a que custo?
Sim, são sentimentos mistos, e eu sou um fã de Pokémon no entanto, já posso adiantar que me diverti muito com o jogo, sendo até positivamente surpreendido por um lado, mas por outro fui completamente devastado com o que me parece ser falta de ambição, má administração dos recursos ou mesmo inabilidade dos responsáveis. É difícil dizer.
Enfim, todos esses pontos serão abordados mais à frente, vamos parar de enrolar e vamos pro texto. A ideia vai ser primeiro levantar as críticas negativas, já que esse é o principal ponto que é percebido nos jogos, depois vou SIM enaltecer o que merece, e sigo para assuntos gerais com minhas opiniões pessoais que fogem da parte técnica.
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Ahh, bom, é chato pra caramba ter que dizer isso, mas visto o sucesso de jogabilidade de Pokémon Legends: Arceus, parece que Scarlet & Violet são todas as escolhas ruins que poderiam fazer. Quando você tenta abraçar o mundo, seria legal que tivesse braços grandes o bastante pra isso, mas nossa, a Game Freak realmente errou MUITO nessa medida. Mas vamos aos principais pontos:
- Nada a mais de 20 passos de você é renderizado corretamente, tendo um frameskip absurdo e patético;
- Nada a mais de 50 passos (além de cenários) sequer existe na tela;
- Muitas opções de costumização, mas ir loja por loja é completamente horrível e perdido;
- Navegação no mapa é péssima, pois ele toda vez se ajusta mudando o norte;
- Todas (mas todas mesmo) as áreas são horríveis, as cidades são tristes de minúsculas, pouquíssimos prédios, com quase nenhum NPC para interagir de verdade, ou mesmo sem casas para entrar;
- Dudunsparce é uma ofensa (pegou um dos maiores pedidos dos fãs, rasgou, pisou e cuspiu e fez de palhaço);
- Série de bugs visuais principalmente com os bonecos desaparecendo da tela;
- Crashes frequentes do nada, inclusive online (você pode recuperar seu progresso após um inconveniente crash nesse guia super rápido);
- Não existe uma escolha decente de posicionar a câmera na batalha, sempre fica esquisito. Por exemplo, nas batalhas em dupla contra os Titan Pokémon, eu nunca consegui ver qual é o meu parceiro. Em batalhas em terrenos inclinados e acidentados, tudo fica torto, e não dá pra definir um ângulo decente com os comandos disponíveis. De verdade, foi a coisa que mais me incomodou;
- Mesmo sendo um mundo aberto, tudo parece ser tão vazio, poucas árvores, poucas pedras, texturas que parecem “econômicas”… sempre parece que falta mesmo, foi um conceito incompleto.
Quero discorrer um pouco mais esse último ponto, e é impossível não comparar à Legends: Arceus. Honestamente era muito melhor entregar um mundo semi aberto, que sejam várias áreas bastante grandes, mas que cada uma seja bem feita e rica em detalhes, do que entregar isso do jeito que foi entregue. “Ah mas já tava na hora de Pokémon ser mundo aberto…” é, sim e não. Acho que tudo foi mal marketeado, e poderia ter sido melhor recebido se houvesse honestidade. É frustrante apenas, atrapalha muito o jogo, e eu até entendo que seja um pouco demais para algumas pessoas mais exigentes aturarem. É tipo uma goteira. Não vai encharcar o chão nem afogar ninguém, mas aquele pinga pinga em algum momento vai te deixar maluco.
Pokédex como sempre é um ponto de divisão, pra mim existem alguns destaques muito positivos, mas *******, têm uns trecos ali que chegam a doer. Tenho sempre a sensação de potencial desperdiçado tanto em conceito quanto de execução. Citando exemplo do bicho minecraft que claramente não é um Pokémon. A evolução da aranha simpática Torantula também destrói o conceito da pré-evolução, e ainda vira algo super genérico. Sinto que na média estamos caminhando para uma fusão entre Digimon e Backyardigans — antes que reclamem, eu sou digifan também, mas acho que todos reconhecemos que são conceitos diferentes de mons. Falta muita personalidade, é minha conclusão desde Alola. Ah, o jogo ainda não é dublado, e colocam uma cena de um show de música… e sim, o show é mudo.
3 Narrativas
Agora vamos ao que merece ser falado de positivo, e realmente ficou legal. O primeiro seria o a narrativa. Ela não é profunda nem muito elaborada, mas é agradável o bastante para te prender, até porque são 3, e o final é surpreendente!
A Victory Road, a história da Liga Pokémon, é a padrão, batalhamos em 8 ginásios para chegar na Liga Pokémon, cada um com especialidade em um tipo. Porém, desta vez cada ginásio tem uma mini narrativa, com desafios para chegar ao líder, que podem ser qualquer coisa, desde brincar de pique esconde até descobrir pistas e desvendar qual é o prato favorito do líder ou uma batalha de rap. É divertido e cativante. Ainda sinto falta de times mais cheios e uma competição mais ferrenha, mas têm um certo nível de dificuldade bem aceitável.
A segunda é o Path of Legends, uma história sobre uma espécie de planta conhecida como Erva Mística (em tradução livre) com poderes curativos para quem come, protegida por Pokémon gigantescos. Arven, um colega de escola, está atrás deles por motivos muito nobres, mas secretos a princípio. Ele é uma figura estranha, mas é gente boa. Cada um dos 5 capítulos foca em encontrar o Pokémon Titan (que não costuma estar muito escondido), batalhar com ele sozinho, e depois uma segunda batalha em dupla com o Arven. Lembra muito uma mistura entre Dynamax/Gigantamax e Pokémon Totem, mais voltado para o segundo. É bacana, e a história é sim comovente. No entanto senti falta de uma musiquinha mais envolvente e climática, mas no geral me agradou.
Algumas dessas batalhas são bem difíceis no entanto, pode vir preparado. Vencê-los libera o encontro deles na vida selvagem, e são um bom treinamento para ganhar experiência e testar builds do seu time, fora que a recompensa final é um item essencial para algumas explorações que faremos no futuro, tal como caçar shinies, e também melhora a habilidade de navegação do lendário motoca, habilitando pulo, dash, escalada e natação, por exemplo.

Por fim, temos a história do Team Star, a Operation Starfall, que é muito mais do que parece. No material promocional temos apenas Merlie sendo mostrada, mas os outros 4 são também cheios de personalidade. Cada acampamento funciona da seguinte forma: temos um guarda que é uma batalha normal 1 contra 1, depois uma “auto-battle”, onde jogamos 3 monstrinhos contra grupos dos adversários, e por fim a batalha contra o líder, que também é 1×1, mas o último Pokémon é sempre o carro Revavroom, que também é como um totem de Alola: mais vida, mais forte e enorme. Acho que esse é o capítulo que ao decorrer do jogo te entrega mais lore. Mostra que nem tudo é como é sem motivo, traz até alguma reflexão enquanto lida com o tema bullying.
Comentários gerais
Acho que é interessante falar sobre como foi a jogatina. Pra começar, ela é bem divertida e interessante numa média geral. O fato de ser mundo aberto, mesmo com as limitações acima, dá sim uma ar muito legal pro jogo e uma liberdade inacreditável. Têm muitos lugares para explorar (embora falte o que fazer por lá), então é fácil você sair por aí empolgado, jogar por horas a fio e esquecer que têm uma história principal a seguir.
Ainda nessa mesma linha, a não linearidade das coisas também é bem legal, pois têm várias coisas com nível parecido te deixa ir por aqui ou por ali e depois dar a volta. Ao mesmo tempo, isso é um problema pois os níveis não escalam junto ao seu progresso, então existe uma rota pré definida sim, que não é revelada dentro do jogo, cabe a você estar passeando por uma planície lv 12 e dar 5 passos e se deparar com um Dragonair lv 50. A Enfermeira até te dá uma dica, mas desde o lv 15 que ela está me mandando contra o Titan Pokémon lv 52… Péssima guia turística.
Alguns Pokémon novos são magníficos. Poucos “originais” de Paldea se salvam, mas por exemplo Clodsire e Farigiraf são obras de arte, formas paradoxo e as novas variantes do Taurus é super divertida, os dois Pokémon Megaman-like e os lendários são bem legais, e o lêmure pintor Grafaiai é esquisitinho e divertido, fiquei surpreso de como gostei dele. Ainda assim, é bem difícil fazer um time balanceado, não há muita oferta de Pokémon bons, bonitos e divertidos com movesets compatíveis… até que você lembra da Terastalização (adicionaremos um guia completo em breve sobre como funciona esse nova feature, aguarde!).

Confesso que vi com maus olhos na primeira vez, porque é feio, é meio ridículo pra falar a verdade, uma coroa com o símbolo do elemento não é nada natural, parece uma festa infantil quando colocamos aquele “chapéu” de bexiga/balões/bola dobrada. Novamente o potencial desperdiçado aqui, e nem tô falando de dar uma forma nova para cada bicho não, mesmo que fosse uma ótima ideia, mas às vezes menos é mais. Algo elegante cairia bem melhor aqui, por exemplo só colocar essa textura vitrificada e algo do elemento flutuando ao redor, sei lá, algo menos literal e tosco.
Do ponto de vista de jogo, essa é uma mecânica muito boa. Traz uma nova camada de estratégia, maior amplitude de ações para tomar, mais liberdade de criação de time e de adaptação à situações, além de vir acompanhada de uma música muito divertida e empolgante, até remete a algo da DreamWorks. Agora, seremos justos, mesmo com o frameskip e todo o overworld patético apresentado, os modelos e animações de todos os monstrinhos, da Nemona, Líderes de ginásio e todo resto do elenco são impagáveis de bons, bem detalhados e não chapados como em Sword e Shield. Realmente um excelete trabalho, que daria prazer de ver se o jogo te deixasse. Texturas, cores, feições e emoções, tudo magnífico.
Quanto aos piqueniques, que é o lugar de interagir com seus Pokémon é ok, nada demais. Têm sua utilidade como resultado, mas fazer os sanduíches é um inferno de chato e impreciso, mas é a maneira ideal de manipular seus encontros para caça de monstros selvagens, chocar ovos e ganhar EXP. Podia ser uma opção no menu, itens que você craftaria mesmo dentro de opções em lista igual a maioria dos RPGs, mais uma coisa que era uma boa ideia e ficou mal feita.
Conclusões
—O texto já está enorme, parabéns se você me aturou até aqui. Vou agora tentar resumir.
Sou sim Pokéfag então me diverti com o novo Pokémon. Sim, têm vários problemas que incomodam MUITO, dá pena de ver tanta coisa que poderia ser tão melhor mas que decisões ruins, descaso ou honestamente não sei mais o que dizer além de desrespeito com o consumidor, cliente e fã, estragaram, mas… Jogar com os amigos é legal e traz a sensação de jogar Pokémon.
Embora no momento em que este texto foi ao ar ainda não haja um pronunciamento oficial por parte da Game Freak ou qualquer outro responsável legal pela marca (e os jogos), ao menos parece que está aberta as solicitações de reembolso, o que já é um passo muito além da Nintendo, podendo ser o sinal que eles queriam ver para mudar algo (já que parece que ninguém da The Pokémon Company lê nada na internet).
Prós:
- Uma boa variedade de Pokémon, novos e antigos, alguns muito legais;
- Visualmente mais atraente que Pokémon Sword/Shield, com modelos dos Pokémon refeitos do zero, personagens bem detalhados e cheios de vida;
- Divertido de jogar online com amigos, definitivamente estou jogando Pokémon;
- Terastalizing traz dinamismo às baralhas;
- Narrativas acima da média do que Pokémon costuma oferecer;
- Muitos lugares para explorar.
Contras:
- Toneladas de bugs de diversos tipos, ocasionais crashes que pode comprometer a progressão, e quedas de FPS;
- O jogo está cheio de pop-in, sombras e texturas do cenário carregando na sua cara;
- Alguns novos Pokémon são horroros;
- Dudunsparce é uma piada de mal gosto;
- Mundo vazio, limitado e incompleto;
- Falta de indicação de rota decente;
- Diamante bruto quebrado sem nem polir.