
Desenvolvedora: WayForward
Publicadora: WayForward
Data de lançamento: 15 de Dezembro, 2022
Preço: US $39.99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela WayForward
Revisão: Marcos Vinícius
2022 foi um ótimo ano para beat ‘em ups 2D, com bons títulos do gênero sendo lançados como Sifu, TMNT: Shredder’s Revenge e até mesmo Shin Nekketsu Koha: Kunio-tachi no Banka – que chega pela primeira vez ao ocidente como River City Girls Zero quase 30 anos desde seu lançamento original no Super Famicom.
River City Girls 2 fecha o ano com estilo, trazendo uma ótima experiência misturada com bom humor e divertida jogabilidade e agora, até quatro pessoas podem descer a porrada em todo mundo que resolver entrar no caminho!
Descendo a porrada em todo mundo para comprar um videogame, quero dizer, salvar a cidade

Antes de começar a jogar River City Girls 2, é importante saber que é melhor ter jogado o jogo original e conseguido atingir ambos os finais. Isso porque, o novo título começa exatamente do mesmo ponto onde o anterior terminou, e quando digo exatamente, quero dizer, na mesma cutscene final do primeiro game, só que agora vemos ela por um novo ângulo, o da vilã final de River City Girls.
Após ter resolvido o mal entendido do primeiro jogo, o quarteto de protagonistas, Misako, Kyoko, Kunio e Riki retornam para sua vida ordinária. Ao chegarem atrasados na escola, os quatros são expulsos por um jovem chamado Ken, que diz que seu pai agora é o dono do local e chuta nossos heróis pela janela. Decidindo que não há nada para fazer, o grupo decide passar um tempo na casa de Kyoko.

Dois meses se passaram e o quarteto passou esse tempo inteiro jogando videogames sem sair de casa, ou se exercitar. Quando a mãe de Kyoko revela que um novo videogame foi lançado, nossos heróis decidem finalmente sair de casa para poder comprar o novo game, contudo, eles logo descobrem que a cidade inteira foi tomada pela Yakuza, que buscam se vingar pelo que as garotas fizeram no primeiro jogo.
Sem escolha, o quarteto decide tomar as rédeas da situação com suas próprias mãos. Assim, Misako, Kyoko, Kunio e Riki unem suas forças com um único objetivo em mente: Comprar o novo game…e expulsar a Yakuza da cidade.

A narrativa de River City Girls 2 continua com o bom humor presente no primeiro jogo. A grande diferença aqui é que ela possui um humor bem mais meta, com várias referências a jargões do mundo dos games ou a outros títulos. Alguns exemplos são bem hilários, como o fato de que os heróis começam do 0 por terem passado muito tempo sentado jogando videogames. Outros fazem piadas com situações que eram únicas dos jogos passados da Technōs, a antiga desenvolvedora dos jogos de River City.
Menciono aqui Miriam, uma das novas personagens, que ao explicar sua backstory, literalmente a história de Double Dragon, menciona que ficava com ambos os irmãos ao mesmo tempo, referenciando o fato de que ao final do primeiro Double Dragon os jogadores precisavam se enfrentar para decidir quem resgataria a jovem.

Todas essas referências, contudo, levam a um ponto que acho importante mencionar em separado. A narrativa de River City Girls 2 pode ser algo bem divertido para quem nunca teve contato com River City, mas para os veteranos da série, e os fãs do material original, a saga Kunio-kun, bem, as coisas podem não ser tão divertidas.
– A parte abaixo é opcional, uma sidequest, então sinta-se livre para ignorá-lo e pular para o próximo tópico se assim desejar
A mistureba de Japão e América que não deu em nada
A franquia Kunio-kun foi criada em 1986 pela falecida Technōs. Seu primeiro jogo, Nekketsu Renegade Kunio-kun foi lançado para os arcades e introduziu como protagonista o jovem delinquente Kunio.
Ambientado no Japão, o jogo possuía bastante referências ao estilo de vida do país naquela década, focado em delinquentes juvenis japoneses que comandavam suas escolas e gangues do submundo.

Quando o jogo foi importado para o ocidente, ele passou por muito mais do que uma simples tradução. Sendo adaptado para a cultura americana, o título virou Renegade. Tal ação foi realizada na época, por medo de fãs ocidentais não conseguirem entender muito bem certos contextos da narrativa e jogabilidade, algo bastante comum naqueles anos, onde ocidentais tinham medo da cultura japonesa não ser bem aceita.

Após um título no Game Boy, a franquia só retornou ao ocidente com o lançamento de Downtown Nekketsu Story no Japão. Assim como foi o caso com Renegade, o título passou por uma adaptação, chegando neste lado do mundo com o nome de River City Ransom. Diferente de Renegade, contudo, o novo nome serviu como base para todos os lançamentos futuros no ocidente.
Após muitos anos exclusivamente no Japão, a série começou a ser lançada no ocidente sobre o nome de River City, porém, manteve seu lore original. Contudo, isso criou um certo problema com o lançamento de River City Ransom: Underground, criado em conjunto com o criador de Kunio-kun.
Underground é uma continuação direta da história apresentada em River City Ransom, ou seja, o lore americano da série. Apesar de ser baseado em Kunio-kun, River City Ransom tem seus próprios personagens, que são versões modificadas dos originais.

Por que estou gastando tempo escrevendo sobre isso? River City Girls 1 e 2 tentam seguir ambos os lores (Japonês e Americano) da franquia. Misturando tudo junto, e adaptando algumas coisas, contudo, os problemas não terminam por aí. Isso porque, no Japão, Kunio-kun possui dois distintos sets de jogos que possuem suas próprias timeline que evitam se interligar.
Nekketsu Kōha Kunio-kun e Downtown Nekketsu são as duas séries de Kunio-kun no Japão. Suas principais diferenças são o fato de a primeira ser predominante jogos beat em up puros (com um único spin-off), enquanto a segunda contém os jogos beat em up com elementos de RPG e os spin-offs. Ambas as séries compartilham personagens, mas suas caracterizações e relacionamento variam nas duas timelines.

Tecnicamente falando, River City Girls está conectado à timeline Nekketsu Kōha. River City Girls 0, que saiu este ano no ocidente, onde Misako e Kyoko fazem sua estreia jogável, é da série Nekketsu. Contudo, o que já estava sendo prenunciado no primeiro título, foi confirmado aqui com a introdução de personagens e elementos narrativos de Downtown Nekketsu.
Como se não bastasse, River City Girls 2 também trouxe alguns elementos narrativos, e personagens, de River City Ransom e Underground. Assim, temos uma mistureba doida de 3 lores diferentes em um único conjunto, ligue isso a confirmação de que a série Double Dragon também foi canonizada neste título e agora temos um verdadeiro crossover de franquias da Technos.

Ah e o próprio River City Girls Zero entra em uma situação complicada aqui. Tendo sido vendido pela WayFoward como uma aventura essencial para se preparar para a história de River City Girls 2, o novo jogo meio que joga essa ideia pela janela. Sim, Zero vai te fazer conhecer os novos vilões, mas o comentário meta de que ele era nada mais do que um videogame jogado pelas heroínas é o que deve ser considerado canônico, pois a dupla não reconhece nenhum dos vilões daquele jogo quando eles são introduzidos aqui.
Obviamente, os dois jogos de River City Girls não seguem nenhuma das continuidades que eu mencionei nos últimos parágrafos. Eles são sua própria aventura particular que possui seu próprio lore. Eu só decidi mencionar este tópico pois é algo que achei extremamente fascinante e como alguém que curte explorar narrativas, quis compartilhar. Também já quis deixar de aviso para caso alguém que tenha jogado River City Ransom queira jogar achando que é relacionado a ele.
Voltemos para o jogo em si
Um Beat em Up com uma pegada mais fighting game

River City Girls 2 segue o padrão de jogabilidade esperado de um beat em up 2D. Dois botões de ataque, pulo, um para golpes especiais e defesa. A gimmick especial do jogo é a opção de poder recrutar oponentes após causar dor suficiente. Dessa vez, é possível ter dois ajudantes ao mesmo tempo, com cada um sendo chamado para ajudar com um golpe único com um toque de ZL ou ZR. é um sistema similar ao presente em The King Of Fighters 99.
Possuindo elementos de RPG, os personagens começam no nível 1. Derrotar inimigos recompensa jogadores com experiência e dinheiro, que pode ser gasto comprando itens de cura, equipamentos e novos golpes para aumentar ainda mais a lista de movimentos dos personagens.

Graças às novidades em sua jogabilidade, como a adição de um segundo ajudante, River City Girls 2 é um jogo que tenta oferecer uma pegada mais similar a um fighting game. Quando o jogador desbloqueia o moveset inteiro dos personagens, é possível realizar combos extremamente longos. O sistema de defesa também recebeu uma mudança importante, agora é possível realizar um parry no momento exato que um golpe for acertar o seu personagem. Parries deixa o oponente com a guarda aberta, então é algo recompensador que fornece mais opções de ataques aos jogadores.
Uma outra adição interessante é a introdução de ajudantes pagos. Alguns NPCs especiais podem ser encontrados por toda River City, oferecendo sua ajuda por um certo valor. Eles costumam possuir ataques mais poderosos e úteis do que os de oponentes normais, aumentando a variedade de ataques a favor do jogador.

Diferente do original, aqui temos seis personagens jogáveis. De início, apenas quatro estão disponíveis, com os outros dois precisando ser derrotados na história para serem desbloqueados. Cada um possui suas vantagens e desvantagens e a parte legal é que isso significa que o co-op, estendido para quatro pessoas localmente, está disponível desde o ínicio. Algo bom é que é possível alternar o controle deles a qualquer momento, cada um tem seus próprios status e movimentos.
Os duelos contra chefes continuam chamando atenção. Dessa vez, contudo, eles se tornaram mais direto, sem muita interrupção ou momentos de ter que esperar o chefe realizar uma sequência de ação para que você possa atacar. Infelizmente, pude notar que, ao menos na dificuldade normal, a maior parte destes duelos podem ser encarados sem preocupação com vidas se o jogador possuir itens de cura suficientes.
E agora para algo totalmente inesperado

Uma novidade da narrativa de River City Girls 2, é a introdução aleatória de mini-games na jornada. Inicialmente disponível apenas na forma de sidequests, eventualmente a história pede que algum desafio único seja completado para prosseguir. O problema é que não há explicação exata do que deve ser realizado. O jogo simplesmente te coloca no mini-game e você tem alguns segundos para resolvê-lo. Se falhar começa do zero.
Isto é uma bizarrice total, pois alguns mini-games não possuem uma resposta óbvia. Para os jogos que mudam os controles, isso também significa uma adaptação sendo necessária, o que geralmente resulta em falha e tendo que reiniciar o mini-game do início.

Devo elogiar, contudo, como o primeiro mini-game é uma referência a uma série de spin-off famosos da franquia Kunio-kun. A primeira sidequest do game, e introdução aos mini-games, tem o jogador jogando queimada, referenciando assim os spin-offs de Dodgeball de Kunio e seus amigos.
WayForward manda muito bem

Algo que continua chamando a atenção em River City Girls 2 é a apresentação do título. Visuais e efeitos sonoros sempre foram um ponto alto dos títulos da WayForward e aqui continua sendo verdade. Este é um dos games com spritework mais bonita que eu pude jogar em 2022, com os personagens possuindo muitas animações e cheios de vida.
Inimigos e NPCs dos cenários também são extremamente charmosos. Os cenários são bem detalhados cheios de detalhes únicos que ajudam a distingui-lo de outros games do gênero e continuam a ajudar a WayForward a se destacar entre seus competidores. Cutscenes continuam no formato de quadrinhos bem desenhados, e as interações entre personagens possuem retratos bem desenhados e com pequenos detalhes para passar a emoção utilizada naquele momento.
A trilha sonora reutiliza alguns temas do primeiro River City Girls, mas ela possui temas novos suficientes que conseguem se destacar o bastante. Na verdade, há muita reutilização de assets visuais e sonoros aqui, mas as novas áreas, inimigos e cenários, ajudam a fazer com que River City Girls 2 seja mais do que uma simples expansão. Vale destacar também a introdução de uma dublagem em Japonês, algo novo para os títulos de River City da WayForward.
Não é só bater, também tem que apanhar

Apesar de todos os elogios rasgados até aqui a River City Girls 2, é preciso mencionar seus pontos negativos. Infelizmente, até mesmo um título tão divertido quanto esse sofre com problemas técnicos e outros empecilhos, alguns remanescentes de um lançamento japonês rushado.
River City Girls 2 foi rushado pela Arc System Works, detentora do direitos da série Kunio-kun, que desejava que o game fosse lançado em 2022, e primeiramente no Japão. Isso resultou em um lançamento desastroso, com muitos fãs usando as redes sociais para comentar o estado do jogo, o que forçou a WayForward a preparar um patch.
A versão ocidental do título já vem com esse patch instalado. O que pude sentir foi que o game tem problemas de performance, com lag acontecendo quando muitos inimigos se fazem presentes na tela ao mesmo tempo e tempo de loadings demorados.

O Online, novidade deste game, tem seus problemas. Durante meu teste com um amigo, a conexão sofria demais com lag e os loadings ficavam ainda maiores. O modo também é reduzido apenas para 2 jogadores online, ficando um pouco chato para quem gostaria de jogar com mais pessoas.
A narrativa sofre um pequeno problema que me incomoda, mas é capaz de não acontecer com outros jogadores. Apesar de River City Girls 2 se apresentar com seis personagens jogáveis, e até começar com quatro, a verdade é que a história ainda é exclusiva de Misako e Kyoko. Os personagens extras não aparecem nas cutscenes em formato de quadrinhos e as interações entre eles e npcs são as mesmas falas para todos (com uma ou outra exceção), mudando apenas o dublador. É uma pena pois um dos incentivos do New Game + poderia ser utilizar outro herói e conferir a história por uma nova visão.
Por fim, o último problema que notei é algo mais pessoal. River City Girls 2 é bem mais fácil que seu anterior. Por ele oferecer logo no início os inimigos que antes eram exclusivos de última área – membros da Yakuza – além de ter mais personagens para upar, dinheiro é recompensado de forma bem mais generosa do que no primeiro jogo. Assim, é fácil se entupir de itens de cura e utilizá-los para superar os desafios.
Encerrando com um bang

Como um pacote geral, River City Girls 2 é uma ótima pedida para os fãs de beat ‘em up. Contendo uma história principal bem longa, jogabilidade divertidíssima, multiplayer para até 4 jogadores e uma apresentação legal, o game vai encerrando o ano com chave de ouro. Muitas novidades o tornam uma sequência bem superior ao título de 2019. Side-quests vão ajudar a aumentar ainda mais o tempo gasto aqui, e o New Game Plus oferece incentivos para ser aproveitado, como ajudantes extras vindos diretamente de uma das mais famosas séries de luta da Arc System Works.
Temos alguns problemas de performance, mas isso pode ser resolvido com atualizações. A WayForward colocou bastante coisa neste pacote, até um sistema de dia e noite, algo raro neste gênero. Certamente, ao menos uma jogatina do game vale.
Prós
- Jogabilidade continua divertida;
- Ótima apresentação como sempre;
- Novos personagens são divertidos de se utilizar;
- Muito conteúdo para explorar.
Contras
- Problemas de performance;
- Online tem lag.
Nota:
8
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