
Desenvolvedora: YS Net
Publicadora: ININ Games
Data de lançamento: 10 de Novembro, 2023
Preço: R$ 117,99
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida pela ININ Games.
Revisão: Paulo Cézar
É impossível ser entusiasta de vídeo games e não se deparar de alguma forma com a genialidade de Yu Suzuki; Seja através dos jogos emblemáticos de fliperama que o visionário japonês projetou como Out Run e After Burner; experienciando a arquitetura de hardware que ele ajudou na engenharia enquanto trabalhava na SEGA, ou por tantos jogos que Shenmue influenciou, com sua abordagem cinemática e sua implementação pioneira de Quick Time Events e integração de um relógio em tempo real.
Mas se tem algo enraizado no design característico dessa lenda da indústria, é sua paixão por conceitos simples e loops viciantes, que estruturou o início de sua carreira nos Arcades, e mesmo com o legado de jogos mais elaborados lançados posteriormente, o anseio de manter esse aspecto vivo continua, e o resultado disso hoje é Air Twister.
Welcome to the Fantasy Zone, Get Ready!
Esse mundo psicodélico e fantástico se chama AIR, e a princesa guerreira Arch precisa impedir os alienígenas Needles de causar caos e destruição por toda parte. Os elementos de história e lore estão evidentes na forma como o jogo inicia, com uma cutscene dramática mostrando a invasão, com os soldados leais de Arch sendo abatidos em seus cisnes gigantes, e um tom pesado é imediatamente estabelecido, no entanto, o jogo se mantém minimalista e tem contido o restante do contexto em itens coletáveis que explica melhor as razões do conflito, cada um dos inimigos e personagens que compõem esse universo. É um elemento meio misto de sua apresentação, pois o início é intrigante, mas o jogo se nega em explorar visualmente mais dessa premissa.
Air Twister é um jogo em trilhos (rail shooter), você só pode mover sua personagem ao redor da tela, atirar em seus oponentes e obstáculos para continuar no caminho e, no fim de cada estágio, enfrentar um chefe gigante; Onde a Arch irá juntar forças com um dos animais voadores excêntricos referentes aquela área em particular, seja os supracitados majestosos cisnes, um peixe alado ou até um elefante gênio.

Não é mero clone
As similaridades à Space Harrier são bem evidentes, produzido especificamente como um sucessor espiritual do clássico da SEGA de 85, mas as aparências superficiais são só metade da profundidade mecânica de Air Twister, que tem influência também de Panzer Dragoon com seu sistema de mira em múltiplos alvos ao passar o retículo na formação de inimigos (nesse caso, requer que a própria Arch se desloque no padrão necessário); Poderes equipáveis também são parte da mistura que podem ajudar no seu trajeto, dando vantagens contra chefes e certos tipos de inimigos; mas esses são desbloqueados através de uma extensa árvore de habilidades, que tem múltiplas bifurcações; E, em adição dos poderes, há itens para customizar a princesa e seu companheiro alado, alterando marginalmente seus status.

Diferente de Space Harrier, a ação em Air Twister é bem menos frenética; A intensidade é gradual e a agressividade dos inimigos vai depender tanto da fase, quanto da dificuldade pré-selecionada. Não é um jogo que irá pedir muito de seus reflexos logo de cara, e com o passar do tempo, irá apenas jogar mais coisas para você lidar ao mesmo tempo. Seus tiros também são bem mais lentos do que você pode estar acostumado, mesmo segurando o botão de atirar, o ritmo não é constante.
O que se difere também de Space Harrier é a arte e tom… é certo que ambos são surrealistas, mas enquanto o renomado de 85 é voltado ao cubismo, com o ocasional mamute ciclope, em Air Twister é um sonho lúcido, com cogumelos flutuantes sobre um oceano calmo e céu nublado, ou um deserto cheio de formações rochosas incomuns e carcaças de animais indecifráveis. Nada mais caracteriza a identidade de Air Twister do que sua trilha sonora, o rock opera do artista holandês, Valensia, que traz um toque de Freddie Mercury nas batalhas contra chefes e uma bombástica composição para as fases.

Livre finalmente das garras da Apple
A apresentação toda tem esse ar Belas Artes, mas infelizmente prejudicada com a interface originalmente projetada para uso em celulares, já que o jogo foi lançado primeiro no serviço Apple Arcade em Junho deste ano. A boa notícia é que seus elementos sensíveis ao toque funcionam como na versão de mobile, quando usando o Switch em modo portátil (e isso também vale pro gameplay utilizando apenas o dedo na tela). Uma das coisas que felizmente não fez a transição do iOS para o Switch, é a imensidão de micro transações que aparentemente se infiltraram em todas as partes do jogo; embora os resquícios de sua estrutura ainda estão presentes, com eventos, missões diárias e semanais a fim de manter o jogador engajado a longo prazo.

E nos termos de manter o jogador engajado, vai depender muito da sua afinidade desse tipo de gênero já não tão explorado nos dias de hoje. É um jogo fundamentalmente simples, com modos que alteram a estipulação do seu jogo, poucas fases (12 únicas, com variações), e que foi feito para ser rejogado até a exaustão, não só por causa das suas origens de fliperama e sistema High Score, mas por ter sido lançado primariamente para celular.
Por fim, a localização em Português Brasileiro é bem vinda, já que há tanto material suplementar para ler e descobrir, no entanto, é um pouco inconsistente e certas frases parecem não ter sido revisadas e soam estranhas quando lidas em voz alta. Há também um momento particular no meio da campanha, que um texto em inglês persiste na tela, apesar do jogo estar configurado pro nosso idioma (pode ser que seja corrigido em um patch de lançamento).
Não há dúvidas que houve muito carinho adicionado no título e que foi feito mais por paixão em revisitar uma fórmula clássica do que criar uma nova e estrondosa marca; Os valores de produção são decentemente agradáveis, com seus elementos mais primitivos sendo referências ao seu irmão mais velho dos fliperamas (os mesmos gráficos de Space Harrier são usados em todo santo projétil de inimigos). Mas para a recomendação ao jogador médio querendo descobrir um novo jogo Indie para experimentar da eShop, é onde a hesitação reside. Num tudo, se você já sabe quem é Yu Suzuki e seu legado, pode cair de cabeça no mundo de Air Twister que não irá se arrepender em mais um sucessor espiritual que não atinge as expectativas e não cria sua própria identidade.
Prós:
- Uma personalidade única, excêntrica e cheia de classe;
- Gráficos apesar de baixo orçamento, são agradáveis, especialmente na modelagens da protagonista e os monstros inimigos;
- O fator de replay é imenso, com várias estipulações diferentes e seu sistema de desbloqueio de cosméticos e novos poderes.
Contras:
- O design simples, com sistemas de vida e continues limitados pode ser um imenso obstáculo nos dias de hoje;
- A localização precisava de uma revisão melhor. Muitos dos nuances não transitam muito bem para nosso idioma;
- A interface originalmente projetada para celular é desajeitada na navegação com botões.
Nota final:
6
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